O
artista autêntico e verdadeiro é aquele que consegue revelar o grão de verdade escondido no fundo de cada mentira.
–– Italo
Calvino (1923-1985). |
Quem
ama o cinema sempre confessa amor incondicional por Federico Fellini
e seus filmes – por todos ou por alguns, sejam eles “Amarcord”
(1973), “La Dolce Vita” (1960), “Noites de Cabiria” (1957), “Estrada da Vida” (1954), “Fellini Oito e Meio” (1963) ou qualquer outro das duas dúzias de obras-primas
que ele realizou, muitos deles inseparáveis da música de Nino Rota
ou das melhores performances de Marcello Mastroianni, de Giulietta
Masina, de Anita Ekberg e de outros artistas que se tornariam
interfaces do adjetivo “felliniano”. Exatamente hoje, dia 20 de
janeiro de 2020, Fellini completa seu centenário de nascimento – ou,
dito por palavras, mais fiéis ao espírito de sonhos, poesia,
memórias e realismo que pontuaram sua filmografia especialíssima:
eu me recordo que em 20 de janeiro de 1920, na pequena cidade
italiana de Rimini, situada entre dois rios, às margens do Mar
Adriático, nasceu Federico, filho da dona de casa Ida Barbiani e do
caixeiro-viajante Urbano Fellini.
“Eu não poderia ser diferente do que sou. Se há alguma coisa que sei, é isso”, declara o cineasta na abertura de “Eu, Fellini”, livro da norte-americana Charlotte Chandler que reúne depoimentos do próprio Fellini e de dezenas de amigos, gente de cinema e outros cineastas, da Itália e de outros países. Chandler, também biógrafa de Groucho Marx, Billy Wilder, Alfred Hitchcock, Bette Davis, Marlene Dietrich e Ingrid Bergman, entre outros, começou as entrevistas com Fellini em 1980 e prosseguiu pelos anos seguintes, mas o livro com o relato autobiográfico terminou como publicação póstuma, em 1994, com prefácio de Billy Wilder, lançado no Brasil em 1995 pela Editora Record. Alimentando-se
dos frutos das lembranças e da imaginação barroca de sua terra
natal, Fellini falou ao mundo com seus filmes e segue influenciando
artistas do cinema e de outras áreas. Sua biografia, ou
autobiografia, também está descrita em muitas passagens que filmou, nos
roteiros que escreveu, nos livros que publicou e nas suas saborosas entrevistas, iguarias do conhecimento de todo cinéfilo.
Federico também cultivou a fama de mentiroso, mas talvez sua verve esteja mais próxima da fantasia do que propriamente da mentira. “Cada um vive em seu mundo de fantasias, mas isso não está claro para a maioria dos homens”, ele diz, no primeiro depoimento a Charlotte Chandler. Na apresentação ao livro, ela concorda e destaca que a figura mais importante de todos os filmes de Fellini poucas vezes aparecia pessoalmente, mas estava sempre presente – era o próprio Fellini. “Ele foi o verdadeiro protagonista de todos os seus filmes”, destaca a biógrafa. Quem assistiu a seus filmes percebe este detalhe, da maior importância, registrado nas passagens sobre as descobertas de infância e adolescência na província, as temporadas no colégio religioso de padres salesianos, os dramas condimentados com o trágico e o cômico da família e dos amigos, o horror pelo avanço sempre ameaçador do fascismo, a aventura de fugir de casa com um circo, a compaixão pelas figuras mais pobres e desamparadas, o talento para desenhar e pintar cenários e caricaturas, a fascinação por mulheres de seios enormes, de quadris enormes, de olhos e bocas enormes – a imagem materna metamorfoseada na figura feminina que também é mãe mártir, mãe Roma, mãe loba, mãe pátria, mãe igreja, mãe que acolhe e seduz.
Federico também cultivou a fama de mentiroso, mas talvez sua verve esteja mais próxima da fantasia do que propriamente da mentira. “Cada um vive em seu mundo de fantasias, mas isso não está claro para a maioria dos homens”, ele diz, no primeiro depoimento a Charlotte Chandler. Na apresentação ao livro, ela concorda e destaca que a figura mais importante de todos os filmes de Fellini poucas vezes aparecia pessoalmente, mas estava sempre presente – era o próprio Fellini. “Ele foi o verdadeiro protagonista de todos os seus filmes”, destaca a biógrafa. Quem assistiu a seus filmes percebe este detalhe, da maior importância, registrado nas passagens sobre as descobertas de infância e adolescência na província, as temporadas no colégio religioso de padres salesianos, os dramas condimentados com o trágico e o cômico da família e dos amigos, o horror pelo avanço sempre ameaçador do fascismo, a aventura de fugir de casa com um circo, a compaixão pelas figuras mais pobres e desamparadas, o talento para desenhar e pintar cenários e caricaturas, a fascinação por mulheres de seios enormes, de quadris enormes, de olhos e bocas enormes – a imagem materna metamorfoseada na figura feminina que também é mãe mártir, mãe Roma, mãe loba, mãe pátria, mãe igreja, mãe que acolhe e seduz.
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Forma
poética e emotiva
Prosseguindo
no roteiro biográfico que ele iria reconstruir de forma poética e
emotiva no cinema, Federico, após fugir de casa, aos 19 anos,
terminou fazendo uma parada estratégica na cidade de Florença, onde conseguiu
emprego como revisor de gráfica e como desenhista. Também trabalhou
vendendo bijuterias e ganhou algum dinheiro escrevendo textos de
humor para jornais e revistas antes de, finalmente, decidir pela mudança para Roma,
em 1939, em plena efervescência da Segunda Guerra Mundial, com a cidade agitada e no auge da violência do fascismo comandado pela ditadura totalitária que teve à frente Benito Mussolini e que, naquele ano, havia firmado com Japão e Alemanha a Aliança Militar do Eixo.
Em Roma, em meio à censura fascista, em meio ao caos e às dificuldades de toda ordem decorrentes da guerra, Federico vai trabalhar no rádio, estreando como redator e roteirista de radionovelas, e também publica seus primeiros artigos em revistas na época muito populares, a “Marc'Aurelio”, de humor e sátiras, e a “CineMagazzino”, que trazia reportagens e entrevistas sobre filmes e estrelas de cinema. Os artigos e entrevistas o levam a conhecer roteiristas como Cesare Zavattini e artistas como Aldo Fabrizi, que seriam seus contatos profissionais para as primeiras experiências como colaborador nos estúdios de cinema da Cinecittà, a Hollywood da Itália, inaugurada por Mussolini em 1937. Em 1942, há um encontro da maior importância: Federico conhece a candidata a atriz Giulietta Masina, a partir dali sua musa na arte e na vida, sua primeira e única esposa até os últimos dias, em 1993, quando ele morreu de ataque cardíaco, aos 73 anos, um dia após completar 50 anos de casamento. Giulietta sofreu muito com a perda e viveu pouco tempo sem ele. Morreria seis meses depois, em 1994, também aos 73 anos.
Em Roma, em meio à censura fascista, em meio ao caos e às dificuldades de toda ordem decorrentes da guerra, Federico vai trabalhar no rádio, estreando como redator e roteirista de radionovelas, e também publica seus primeiros artigos em revistas na época muito populares, a “Marc'Aurelio”, de humor e sátiras, e a “CineMagazzino”, que trazia reportagens e entrevistas sobre filmes e estrelas de cinema. Os artigos e entrevistas o levam a conhecer roteiristas como Cesare Zavattini e artistas como Aldo Fabrizi, que seriam seus contatos profissionais para as primeiras experiências como colaborador nos estúdios de cinema da Cinecittà, a Hollywood da Itália, inaugurada por Mussolini em 1937. Em 1942, há um encontro da maior importância: Federico conhece a candidata a atriz Giulietta Masina, a partir dali sua musa na arte e na vida, sua primeira e única esposa até os últimos dias, em 1993, quando ele morreu de ataque cardíaco, aos 73 anos, um dia após completar 50 anos de casamento. Giulietta sofreu muito com a perda e viveu pouco tempo sem ele. Morreria seis meses depois, em 1994, também aos 73 anos.
Na
mesma época em que encontrou sua Giulietta, Federico também
conheceu um cineasta ainda sem prestígio e sem sucesso cuja amizade
e influência mudariam para sempre sua trajetória. O cineasta, a quem
sempre chamaria de “mestre” e que o conduziu no ofício de fazer
filmes, era Roberto Rossellini. Ainda durante a ocupação alemã,
Rosselini ficaria interessado em filmar um roteiro original de
Fellini em locações reais pelas ruas, com câmera em movimento e
com atores amadores. O filme seria “Roma, Cidade Aberta”,
precursor do neorrealismo italiano e dos novos cinemas de vanguarda no mundo inteiro (incluindo o Cinema Novo no Brasil e a Nouvelle Vague na França), sucesso internacional desde seu
lançamento ao final da guerra, em 1945 – uma obra-prima que
consagrou Rossellini e também Anna Magnani, veterana que havia
estreado no tempo do cinema mudo e que sob o roteiro de Fellini e sob a batuta
do mestre Rossellini alcançou pleno reconhecimento como grande
atriz.
Estranho
e familiar
O
que vem a seguir é a criação de um conjunto de filmes que
firmaram posição entre as obras-primas do cinema e as grandes
obras de arte do último século, cambiantes entre um imaginário
muito pessoal, tanto sublime como bizarro, e o amor declarado pelas
formas da cultura mais popular do circo, do teatro de variedades, das
histórias em quadrinhos, das fotonovelas. O fato de Fellini ter
começado desenhando caricaturas talvez seja uma pista importante
para entender seu gosto por personagens em gestos orgulhosos e
situações irônicas, quase sempre risíveis e delicadas,
exuberantes e também grotescas. Muitos já escreveram sobre seus
filmes, seu imaginário, seu exagero em figuras delirantes, seu gosto
pela sátira, pela paródia, sua religiosidade iconoclasta,
mas a poética de Fellini prossegue como enigma e deleite – a
natureza secreta de algo estranho que parece familiar, como descreve
Sigmund Freud naquele célebre estudo publicado no início do século 20.
Diante
de um filme de Fellini, a maioria dos críticos concorda, o mais difícil é descrever uma sinopse,
porque na imensa maioria dos casos o enredo é menos importante do
que a forma e os detalhes de compaixão com os quais se conta aquela história. Um
exercício comparativo interessante seria, talvez, tentar entender o que
há do estilo “felliniano” nos comerciais de publicidade que ele
fez para a TV ou nos roteiros e argumentos para filmes que ele escreveu e não
filmou – alguns transformados em programas de rádio ou de TV, ou
em filmes realizados por outros diretores: por Rossellini, por Osvaldo Valenti, por Mario Mattoli, por Riccardo Freda, por
Pietro Germi, por Eduardo De Fellipo, por Mario Monicelli.
Alguns de seus roteiros não filmados também tiveram destino incomum e ganharam adaptações para o formato de histórias em quadrinhos – como é o caso das versões eróticas feitas por seu amigo Milo Manara nos álbuns “Viaggio a Tulum” (1986) e “Il viaggio di G. Mastorna, detto Fernet” (1992), este último um projeto para cinema acalentado e adiado durante anos, que chegou a ter o título provisório de “La Dolce Morte”. Contam os biógrafos que em 1966, durante o trabalho intensivo para a pré-produção do filme que jamais seria realizado, Fellini experimentou uma sequência insólita de pesadelos e acabou sofrendo um ataque cardíaco. Supersticioso, interpretou que de fato morreria se prosseguisse com o projeto.
Alguns de seus roteiros não filmados também tiveram destino incomum e ganharam adaptações para o formato de histórias em quadrinhos – como é o caso das versões eróticas feitas por seu amigo Milo Manara nos álbuns “Viaggio a Tulum” (1986) e “Il viaggio di G. Mastorna, detto Fernet” (1992), este último um projeto para cinema acalentado e adiado durante anos, que chegou a ter o título provisório de “La Dolce Morte”. Contam os biógrafos que em 1966, durante o trabalho intensivo para a pré-produção do filme que jamais seria realizado, Fellini experimentou uma sequência insólita de pesadelos e acabou sofrendo um ataque cardíaco. Supersticioso, interpretou que de fato morreria se prosseguisse com o projeto.
Memórias de Fellini: acima e abaixo, as versões em álbuns de histórias em quadrinhos criadas por Milo Manara (foto abaixo, com Fellini) para roteiros que foram escritos pelo cineasta e que chegaram à fase de pré-produção, mas não foram filmados. Também abaixo, a capa da primeira edição de 2013, em inglês, do roteiro completo para o filme não realizado mais famoso do cinema italiano, A jornada de G. Mastorna, escrito por Fellini em colaboração com Dino Buzzatti, Brunello Rondi e Bernardino Zapponi |
Estreia
com Giulietta
A
estreia como cineasta, em 1950, foi com Giulietta Masina no elenco do melodrama sobre uma trupe de saltimbancos que apresenta seu
pequeno show de variedades de cidade em cidade, “Mulheres e Luzes”
(Luci del Varietá), em co-direção com Alberto Lattuada, com quem
também divide a autoria do roteiro original. Depois Fellini iria
dirigir “Abismo de um Sonho” (Lo Sceicco Bianco), baseado em uma
fotonovela de Michelangelo Antonioni, contando a história de um
casal ingênuo que se perde em Roma durante a lua de mel. A primeira
palavra que ouvimos no filme é “Roma”, pronunciada na janela de
um trem, próxima a seu destino. A palavra e a cidade seriam uma
constante na maioria dos filmes de sua trajetória, incluindo a
mescla de ficção e documentário batizada como “Roma” e lançada nos cinemas em 1972, retrato nostálgico e anárquico, tão original como peculiar, sobre a cidade e suas principais características, reunindo um mosaico de dimensões imprevisíveis sobre rituais e representações sociais.
Entre
as exceções que não têm Roma como cenário estão a paródia
poética de documentários “Os Palhaços” (I Clows), com o curioso título que reúne as palavras em italiano (“I”) e em inglês (“Clows”), filmada na
França e no interior da Itália, lançada nos cinemas em 1970, e o enredo ilusionista de falso
documentário “E La Nave Va” (1983), com seus personagens emblemáticos a bordo
do luxuoso navio rumo ao funeral de uma lendária cantora de ópera. Outro
filme conduzido fora de Roma, durante as viagens do protagonista, é
“Il Casanova di Fellini” (1976), ambientado nos vários países
da Europa por onde o escritor libertino Giacomo Casanova viveu suas
aventuras na segunda metade do século 18. Há ainda, como exceção,
“Os Boas Vidas” (I Vitelloni), de 1953, em que Roma não é o
cenário, mas surge como o destino almejado entre os jovens amigos
que vivem seus grandes sonhos e pequenos dramas em um lugarejo do interior.
Memórias de Fellini: acima e abaixo, durante
as filmagens de Otto e Mezzo (Fellini Oito e meio),
em fotografias de Tazio Secchiaroli. Também abaixo,
em fotografias de Tazio Secchiaroli. Também abaixo,
na pré-estreia de La Dolce Vita em Roma,
com Anita Ekberg e Marcello Mastroianni;
com Michelangelo Antonioni em 1960, passeando
em Cannes, antes da premiação em que Fellini
recebeu a Palma de Ouro por La Dolce Vita
e Antonioni o Prêmio do Júri por L'Avventura;
com Anita Ekberg e Marcello Mastroianni;
com Michelangelo Antonioni em 1960, passeando
em Cannes, antes da premiação em que Fellini
recebeu a Palma de Ouro por La Dolce Vita
e Antonioni o Prêmio do Júri por L'Avventura;
e com Roberto Rossellini na noite de
premiação em Cannes para La Dolce Vita
premiação em Cannes para La Dolce Vita
A
Cidade Eterna, como dizem com orgulho os italianos, que Fellini
adotou como sua a partir de 1940, também é cenário para os
episódios que ele escreveu e dirigiu para os três filmes de
realização coletiva em sua trajetória, três episódios de curta
duração que em nada saem do tom poético autobiográfico e autoral
de sua filmografia. São eles “Agência Matrimonial” (em “Amores
na Cidade”, de 1953, com episódios de Fellini, Carlo Lizanni, Dino
Risi, Michelangelo Antonioni, Alberto Lattuada, Francesco Maselli e
Cesare Zavattini), “As tentações do Doutor Antônio” (em
“Boccaccio ‘70”, de 1962, com episódios de Fellini, Mario
Monicelli, Luchino Visconti e Vittorio De Sica) e “Toby Dammit”
(em “Histórias Extraordinárias”, de 1968, adaptação de contos
de Edgar Allan Poe, com o título em italiano “Tre Passi nel
Delirio” e episódios de Fellini, Roger Vadim e Louis Malle).
Evocação
comovente e irônica
Outras
exceções em que Roma está ausente são “Estrada da Vida” (La
Strada), de 1954, primeiro grande sucesso de Fellini, com sua trama
que acompanha as andanças mambembes de Gelsomina (Giulietta Masina),
vendida pela mãe para o brutamontes Zampanó (Anthony Quinn), um
artista de circo grosseiro e violento que vive em uma carroça viajando e se apresentando
de vilarejo em vilarejo; e “Amarcord” – título em referência à expressão fonética usada no dialeto da sua terra-natal, “a m' arcord” (eu me recordo), uma evocação
memorialista, tão comovente como irônica, da infância e da
adolescência de alegrias e tristezas passadas com a
família na pequena Rimini, filme em que reminiscências nostálgicas
da história social, da educação escolar e da política da década de 1930, época da terrível ascensão do fascismo na Itália, se misturam à potência da imaginação onírica e encantam narrador e plateia.
Memórias
de Fellini: acima e abaixo, durante
as filmagens de Satyricon, fotografado por Mary Ellen Mark. Abaixo, Fellini e Giulietta Masina com o produtor Dino De Laurentiis comemorando sua premiação no Oscar por Estrada da Vida, em 1957, na primeira vez que foi entregue o Oscar de Filme Estrangeiro e que foi, também, o primeiro Oscar do cinema italiano. Também abaixo, nas três
imagens coloridas,
flagrantes de Fellini
em
ação durante as filmagens de Roma
|
Em
várias entrevistas, Fellini contou que em 1939, quando avisou que iria
para Roma, sua mãe pediu e insistiu que ele fizesse os exames para
estudar direito na universidade. Ele fez a fazer a matrícula, mas nunca chegou a nenhum curso,
nunca teve nenhum diploma universitário nem frequentou nenhuma
escola de formação em cinema. A técnica e os
procedimentos narrativos do cinema ele aprendeu na prática, assistindo filmes e espetáculos de variedades e prestando serviços nos
estúdios da Cinecittà. Quando houve a deposição de Mussolini e teve fim
a ocupação alemã em Roma, Fellini teve a iniciativa de abrir uma pequena loja
chamada Funny Face Shop, onde caricaturas podiam ser produzidas em
dez minutos. Entre os clientes estavam soldados das tropas norte-americanas e dos Aliados que chegaram com as batalhas violentas da guerra e que
precisavam de algo para enviar para casa. Um dia, Roberto
Rossellini decidiu visitar a Funny Face e a amizade com Fellini começou.
Seguindo
orientações do “maestro” Rossellini, Fellini providenciou os
ajustes nos roteiros sobre os cenários de guerra que escreveu para
“Roma, Cidade Aberta” (pelo qual chegaria a ser indicado ao Oscar de melhor roteiro em 1947, junto com Sergio Amidei e outros, em co-autoria), para “Paisá” (1946) e para um dos episódios de “O Amor” (L'Amore, de 1948), “Il
Miracolo” (o outro episódio é “A voz humana”, baseado no monólogo teatral de Jean Cocteau). Em “Il Miracolo”, Fellini também foi o ator principal, com cabelos e barba pintados de louro, no papel de um
vigarista confundido com São José por uma mulher ingênua e muito
religiosa vivida por Anna Magnani. A quarta e última parceria com
Rossellini foi o roteiro de Fellini para “Francisco, o Arauto de
Deus” (Francesco, Giullare di Dio), filme de 1950 sobre São
Francisco de Assis.
A prova dos nove para o cineasta viria também em 1950 com a estreia na direção, em parceria com Lattuada, para quem Fellini havia escrito os roteiros de “Il delitto di Giovanni Episcopo” (1947), “Senza Pietà” (1948) e “Il Mulino del Po” (1949). A partir dali viveria, finalmente, do cinema e para o cinema, com grandes sucessos e pequenos fracassos de público e crítica e uma lista extensa de premiações e de homenagens, incluindo os prêmios mais importantes nos grandes festivais internacionais e a posição de recordista no Oscar como diretor de quatro filmes vencedores na categoria de melhor filme estrangeiro (“Estrada da Vida”, “Noites de Cabíria”, “Fellini Oito e Meio”, “Amarcord”), além de outras 12 indicações, dos prêmios de melhor figurino (para “Casanova” e para “Fellini Oito e Meio”) e do Oscar honorário que receberia em 1993. A dedicação em tempo integral ao cinema nunca foi interrompida e ele continuaria na pré-produção de outros projetos depois de “A Voz da Lua”, seu último filme, lançado em 1990, com sua atmosfera de sonho e fantasia, três anos antes de sua morte. Definitivamente, não é pouco.
A prova dos nove para o cineasta viria também em 1950 com a estreia na direção, em parceria com Lattuada, para quem Fellini havia escrito os roteiros de “Il delitto di Giovanni Episcopo” (1947), “Senza Pietà” (1948) e “Il Mulino del Po” (1949). A partir dali viveria, finalmente, do cinema e para o cinema, com grandes sucessos e pequenos fracassos de público e crítica e uma lista extensa de premiações e de homenagens, incluindo os prêmios mais importantes nos grandes festivais internacionais e a posição de recordista no Oscar como diretor de quatro filmes vencedores na categoria de melhor filme estrangeiro (“Estrada da Vida”, “Noites de Cabíria”, “Fellini Oito e Meio”, “Amarcord”), além de outras 12 indicações, dos prêmios de melhor figurino (para “Casanova” e para “Fellini Oito e Meio”) e do Oscar honorário que receberia em 1993. A dedicação em tempo integral ao cinema nunca foi interrompida e ele continuaria na pré-produção de outros projetos depois de “A Voz da Lua”, seu último filme, lançado em 1990, com sua atmosfera de sonho e fantasia, três anos antes de sua morte. Definitivamente, não é pouco.
por
José Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Memórias
de Fellini.
In: Blog
Semióticas,
20
de janeiro
de
2020.
Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2020/01/memorias-de-fellini.html
(acessado em .../.../...).
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