|
Provavelmente todos os seres orgânicos que já viveram
nesta
terra descenderam de uma única forma primordial,
na qual
a vida foi primeiramente soprada pelo Criador.
––
Charles
Darwin, "A origem das espécies" (1859).
|
O
aumento do desmatamento
na Amazônia
colocou mais de 200 espécies e subespécies de animais e pássaros
em risco maior de extinção, segundo a União
Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês).
Os dados pessimistas, que fazem parte do
relatório de atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas
em todo o planeta, foram apresentados em Hyderabad, na Índia, onde
aconteceu a 11ª Conferência das Nações Unidas
sobre Diversidade Biológica (COP11), megaevento que reuniu Chefes de
Estado e ministros de 170 países, incluindo o Brasil, para avaliar o
progresso em direção às metas para proteger a vida na Terra.
Entre
os relatórios internacionais impactantes apresentados em Hyderabad
está a lista de espécies declaradas oficialmente extintas neste
começo de século e de milênio. São 10 espécies, incluindo dois
pássaros da Amazônia brasileira, o João-de-barba-grisalha
(Synallaxis kollari) e o Chororó-do-rio-branco (Cercomacra
carbonaria),
e o lendário Demônio da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). A
única esperança para evitar a completa extinção é que, pelo fato
de terem sumido da natureza há pouco tempo, alguns espécimes possam
ter sobrevivido em zoológicos, centros de pesquisa ou locais ermos pelo mundo
afora.
A
conferência das Nações Unidas, concebida para proteger os recursos
naturais do planeta, começou com o impacto das listas de espécies em
extinção e muitos apelos para assegurar que a biodiversidade não se torne
uma vítima da crise financeira global. Segundo a Agência Brasil, os
delegados brasileiros e de outros países que participam da reunião
de cúpula da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos
tratados resultantes da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de
Janeiro, alertam que o mundo tem apenas uma década para evitar uma
extinção generalizada das espécies, que também representa uma
ameaça real e terrível para a Humanidade.
|
|
|
Lista vermelha da extinção: no alto,
nativos do Zimbawe, na África, posam
com um crocodilo
gigante caçado pela
tribo no início de 2012 (AP Photo).
Acima, registro de queimada em setembro
de 2012 na Amazônia e mais um massacre
que tem se tornado corriqueiro: uma
carga clandestina de mais de 400 filhotes
de papagaios de uma subespécie
desconhecida, a maior parte morta durante a viagem, apreendida pela polícia em outubro de 2012 em um veículo no interior de São Paulo.
Abaixo, uma revoada de periquitos na Amazônia fotografada em janeiro de 2012 por Tim Laman para a edição internacional da revista National Geographic. Também abaixo, uma estatística recente publicada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (em inglês, IUCN)
.
|
Os
números, compilados a cada quatro anos pela União
Internacional pela Conservação da Natureza, são
impressionantes: quase a metade das espécies de anfíbios, um terço
dos corais, um quarto dos mamíferos, um quinto de todas as plantas e
13% das aves do planeta correm risco de extinção, segundo a “Lista
Vermelha” das espécies ameaçadas. A relação incluiu 402
espécies na categoria "ameaçado de extinção",
totalizando 20.219. A lista completa tem 65.518 espécies,
considerando outras categorias, como "quase ameaçado" e
"extinto".
A
última conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB), celebrada em Nagoya, no Japão, havia adotado em 2010 um plano
mundial para reverter a perda da biodiversidade até 2020. Mas, desde
então, tem sido difícil para os comitês e emissários da ONU
levantar centenas de bilhões de dólares necessários para
financiamentos. Especialmente nos dias atuais, em que os países
desenvolvidos estão às voltas com quadros de crise econômica.
Criticamente
ameaçados
Entre as
muitas espécies da Amazônia incluídas na “lista vermelha” está
o Chororó-do-rio-branco
(Cercomacra
carbonaria),
marcado como “próximo da extinção”. De acordo com a associação
internacional BirdLife, a espécie ocupa áreas muito pequenas entre
o Brasil e a Guiana. As maiores ameaças são a construção de novas
estradas em seus habitats para servir à economia de gado e soja. De
acordo com projeções atuais, estes habitats terão desaparecido
completamente em 20 anos.
O BirdLife
também rebaixou o João-de-barba-grisalha (Synallaxis
kollari),
da mesma região de Rio Branco, na Amazônia, de “ameaçado” para
“criticamente ameaçado.” A organização afirma que o pássaro
tem apenas 206 quilômetros quadrados de habitat adequado e eles
podem encolher 83,5% nos próximos 11 anos. O relatório culpa o
enfraquecimento do Código
Florestal
do Brasil pela taxa de desflorestamento na
Amazônia e em todo o território brasileiro.
|
Dois
pássaros brasileiros na
lista
vermelha criada pelo
BirdLife,
que indica situação
irreversível
de extinção. Acima, o
Chororó-do-rio-branco.
No alto,
o João-de-barba-grisalha. Abaixo, um flagrante feito pelo fotógrafo Chico Ribeiro sobre a destruição e o impacto do criminoso Agronegócio para exportação nas áreas do Pantanal, na região centro-oeste do Brasil, que perdeu mais de 75% de suas águas e suas nascentes nos últimos anos
|
|
|
A “lista
vermelha” do BirdLife cobre mais de 10 mil espécies de pássaros
no mundo, 197 dos quais aparecem como “criticamente ameaçadas”.
Além disso, 389 aparecem como ameaçadas, 727 como vulneráveis e
800 como “quase ameaçadas”. Apenas uma espécie da lista
melhorou sua condição na atualização: um dos pássaros mais raros
do mundo, o Pomarea
(Pomarea dimidiata), avançou de
“ameaçado” para “vulnerável”. Endêmico nas Ilhas Cook, no
Pacífico Sul, tinha apenas 35 indivíduos em 1983. Esforços de
conservação, incluindo programas de criação em cativeiro e
remoção de predadores, aumentaram a população para 380
indivíduos.
Origem
das espécies
Na
época em que o termo "ecologia" foi descrito pelo biólogo
alemão Ernst Haeckel (1834–1919) no seu livro “Generelle
Morphologie der Organismen” (1866), para designar o estudo das
relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, o mundo
natural considerado estático e sem mudanças desde a criação
original já havia sido questionado pelo estudo genial do naturalista
britânico Charles
Robert Darwin (1809–1882). A teoria de Darwin ainda hoje soa como revolucionária, mas ele conseguiu convencer a comunidade científica da ocorrência
da evolução ao reunir algumas hipóteses para explicar seu raciocínio sobre como o processo aconteceu durante milhares de milhões de anos. Segundo Darwin, a evolução, ao passo da seleção natural, deu origem à diversidade de espécies vegetais e animais pelos quatro cantos do planeta Terra.
|
Charles
Darwin e o percurso da viagem
de
pesquisa no século 19, a bordo do barco
inglês HMS Beagle. Abaixo,
iguana no
parque dedicado
à memória de
Charles
Darwin nas Ilhas Galápagos,
no
Oceano Pacífico, território do
Equador, fotografada
por David Braun
|
Em
seu livro de 1859, "A Origem das Espécies” (em inglês, On
the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The
Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), Darwin
introduziu ideias que, em sua época e no século seguinte, levariam
a comunidade científica a perceber que as novas descobertas do
naturalista acabavam com a importante distinção entre homem e
animais. Em paralelo a outras revoluções científicas em curso em seu tempo, o naturalista inglês marcou um capítulo dos mais fundamentais na civilização contemporânea.
Mais
de 150 anos depois da publicação dos estudos revolucionários de Darwin, a lista
atualizada de animais definitivamente extintos coloca em evidência o
maior desafio que se impõe em nossos dias à espécie humana: a
preservação da vida no planeta Terra. A lista de animais e plantas
ameaçados de extinção é extensa e potencialmente infinita, ainda
que mídia e opinião pública concentrem alguma referência somente em
baleias, ursos polares e pandas. Veja, na listagem abaixo,
alguns tristes registros de espécies que entraram para a “lista
vermelha” da extinção.
Extintos no século 20
Rinoceronte Negro – Subespécie que teve por habitat Camarões, na África
Ocidental, o Rinoceronte Negro Africano (Diceros bicornis
longipes) foi oficialmente declarado extinto em 2011. O motivo: caça
implacável para a venda de seus chifres no mercado negro. Aos
chifres são atribuídas propriedades terapêuticas e afrodisíacas,
embora não haja comprovação científica.
Tartaruga Gigante de Galápagos – Última
das tartarugas gigantes (subespécie
Chelonoidis nigra abingdon)
que dão nome às Ilhas Galápagos, do Equador, o mundialmente famoso
Jorge
Solitário
morreu em junho de 2012, aos 100 anos de idade. Outras espécies de
tartaruga da ilha também estão sob risco, devido à baixa taxa de
crescimento da população, a maturidade sexual tardia e o endemismo
da espécie.
|
|
|
Tigres
ou Lobos da Tasmânia em
fotografias
do Zoológico de Hobart,
Austrália,
datadas da década de
1930.
Acima, exemplar mumificado
atualmente
em exibição na
Universidade
de Sidney
Tigre da Tasmânia – Nativo
da Austrália e da Nova Guiné, o Tilacino (Thylacinus cynocephalus), mas conhecido como Tigre ou Lobo da Tasmânia
(não confundir com o Diabo da Tasmânia ou Demônio da Tasmânia, animal feroz retratado como Taz no
desenho animado da TV, que é parente dos ursos e que também está
ameaçado de extinção) é considerado o maior marsupial conhecido
dos tempos modernos. Foi extinto pela ação indiscriminada de
caçadores e perda de habitat devido à ocupação humana. O animal
tinha locomoção firme e um tanto esquisita, impossibilitando-o de
correr em alta velocidade. Podia também realizar um salto bípede,
de uma forma similar à do canguru. Os últimos exemplares morreram no
Zoológico de Hobart, na Austrália, em 1936, mas apesar de ser
oficialmente classificado como extinto, ainda há relatos de
avistamentos em áreas mais isoladas da Austrália.
|
|
|
|
Bucardo – A subespécie de cabra Bucardo (Capra
pyrenaicatem) tem uma das histórias mais interessantes entre os
animais extintos, uma vez que foi a primeira espécie a ser
“ressuscitada” por meio de clonagem, em 2003, morrendo apenas
sete minutos depois de seu nascimento por insuficiência pulmonar.
Era natural da cordilheira dos Pireneus, entre Andorra, França e
Espanha. Sua população foi reduzida devido a uma perseguição
lenta, mas contínua. No final da década de 1980, a população foi
estimada entre 6 e 14 indivíduos. O último a nascer naturalmente
morreu em 6 de janeiro de 2000, aos 13 anos.
|
|
Pardal Marinho – Subespécie
não migratória encontrada no sul da Flórida, nas salinas naturais
de Merritt Island e ao longo do rio St. Johns. O último Pardal
Marinho
(Ammodramus
maritimus nigrescens) morreu
em 17 de junho de 1987, mas só em 1990 o animal foi declarado
oficialmente extinto. A população começou a declinar em 1940,
quando as autoridades locais passaram a pulverizar a região
pantanosa com pesticida, para controle dos mosquitos. O veneno
contaminou a cadeia alimentar das aves, que gradativamente entraram
em extinção.
|
|
Foca-monge do Caribe – Espécie descoberta por Cristóvão Colombo em sua
segunda viagem à América, em 1494, a Foca-monge do Caribe
foi declarada oficialmente extinta em 1952. Sobre ela escreveu
Colombo: “Descobri um tipo maravilhoso de foca. São médias,
tímidas e aparentemente têm boa pele, o que dá pra fazer casacos”.
Daí em diante, o animal foi explorado como fonte de alimento (sua
banha também era usada para iluminação e lubrificação) e para o
comércio de peles. Desapareceu completamente a partir de 1952.
|
|
Huias – Nativas da Nova Zelândia, essas aves de plumagem preta,
com a ponta das asas e cauda branca, papos laterais de cor laranja,
foram extintas pela caça desenfreada. O exotismo das Huias (as
fêmeas tinham bicos longos e curvados enquanto nos machos eles eram
radicalmente curtos) e de outras espécies locais levaram os
exploradores britânicos a fomentar a crença de que toda a flora e a
fauna da colônia neozelandesa eram ruins e deveriam ser substituídas
por variedades dos países europeus. O último registro visual
confirmado de uma Huia ocorreu no final da década de 1970.
.
|
Caça ao tigre: lazer e aventura
para a "nobreza" e a aristocracia
da Europa, em suas viagens pelas
colônias do Oriente, foi uma prática
incentivada e celebrada desde meados do século 19
|
Tigres de Java – Subespécie imponente, o maior dos felinos vivia
na ilha de Java, na Indonésia. No início do século 19, eram tão temidos que tornaram a ilha um tabu para navegadores e colonizadores do Ocidente. Com
o aumento da população humana e com queimadas fora de controle, a maior parte da ilha tornou-se área
de cultivo, resultando em uma redução grave no habitat natural dos animais. Para se livrar do perigo, os homens caçavam os tigres. Os safáris de matanças, com o passar do tempo, seriam transformados em programa requintado de lazer e aventura para a aristocracia da Europa na ilha e nas demais colônias do Oriente. O
último Tigre de Java foi caçado e morto no final do ano de 1972.
por José Antônio Orlando.
Como
citar: