O
primeiro mérito da pintura em um quadro é
ser uma festa
para
os olhos.
– Eugène
Delacroix (1798-1863).
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Um
brasileiro é o grande destaque na exposição de inauguração da
primeira fundação dedicada aos primórdios do cinema. A Fundação
Jerôme Seydoux-Pathé, aberta ao público a partir desta semana em
Paris, França, traz um nome brasileiro como artista principal em meio a
um dos mais importantes acervos mundiais de filmes desde a invenção
do cinema, no final do século 19, incluindo câmeras, fotografias,
cartazes, maquetes e milhares de documentos sobre a história da
indústria cinematográfica.
O
brasileiro em destaque é Cândido Aragonez de Faria
(1849-1911), nascido em Sergipe e considerado internacionalmente como
um dos mais representativos artistas da charge e dos cartazes dos
primeiros tempos do cinema. Na exposição inaugural da Fundação
Jerôme Seydoux-Pathé – que está sendo chamada pela imprensa
internacional de “templo dos filmes mudos” – Cândido Aragonez
de Faria é o nome em primeiro plano, com as centenas de belíssimas
ilustrações e cartazes que ele criou para filmes produzidos no
final do século 19 e começo do século 20.
O
artista sergipano, que a exposição em Paris apresenta como
“referência fundamental do Primeiro Cinema”, deixou sua
cidade-natal, Laranjeira, e seguiu com a família em meados do século
19 para o Rio de Janeiro, onde estudou na Academia Imperial de Belas
Artes. Em 1882, decidiu tentar a sorte na França e, em Paris,
tornou-se o principal ilustrador da Pathé, na época em que a
exibição dos filmes passava das feiras populares e circos para os
primeiros prédios de teatros dedicados exclusivamente às sessões
de cinema.
A
maior parte das ilustrações e cartazes criados por Cândido
Aragonez de Faria, agora apresentados na exposição que inaugura a Fundação Jerôme Seydoux-Pathé, foi produzida de forma
artesanal, em litografias sobre pedra e em surpreendentes nuances de policromia. Dos últimos
anos do século 19 até o ano de sua morte, em 1911, o artista
sergipano foi o principal artista plástico ligado ao cinema e o
principal ilustrador contratado pela Pathé – considerada a mais
importante empresa cinematográfica do mundo, com produção de mais
de 10 mil filmes de 1896 aos dias de hoje.
A Pathé, mais antigas das empresas de produção de filmes e equipamentos de cinema ainda em atividade, com todo o seu acervo de mais de 120 anos, foram comprados na década de 1990 pela família Seydoux. O acervo foi transformado na fundação que, a partir desta semana, estará aberta à visitação, com direito a uma sala de cinema para projeção de filmes mudos e acompanhamento permanente, ao vivo, de um pianista, da mesma forma como aconteciam as projeções nas primeiras décadas do século 20.
A Pathé, mais antigas das empresas de produção de filmes e equipamentos de cinema ainda em atividade, com todo o seu acervo de mais de 120 anos, foram comprados na década de 1990 pela família Seydoux. O acervo foi transformado na fundação que, a partir desta semana, estará aberta à visitação, com direito a uma sala de cinema para projeção de filmes mudos e acompanhamento permanente, ao vivo, de um pianista, da mesma forma como aconteciam as projeções nas primeiras décadas do século 20.
Um
artista na trajetória da imprensa
Pouco
conhecido no Brasil, Cândido Aragonez de Faria foi também um nome
fundamental para a trajetória da imprensa – no Brasil, na
Argentina e na França. Antes de seguir para Paris, Cândido e o
irmão, Adolfo (que também seguiria para Paris, trilhando uma
carreira bem-sucedida com um estúdio de fotografia), investiram em
um ousado empreendimento jornalístico: no Rio de Janeiro, fundaram
uma revista de caricatura e sátira que marcou época na década de
1870 – “O Mosquito”. Em 1878, Cândido deixa “O Mosquito”
aos cuidados do irmão e vai para Porto Alegre, onde também funda
outros dois importantes jornais ilustrados: “Diabrete” e
“Fígaro”.
Nos
três empreendimentos, Cândido Aragonez de Faria conquistou sucesso
de público, mas também muitas dívidas e muitos desafetos políticos. Por conta
das dívidas e dos desafetos, depois de um ano no Rio Grande do Sul,
Cândido vai para a Argentina e, em Buenos Aires, trabalha como
ilustrador e técnico de artes gráficas em vários jornais e revistas.
Em
1882, aos 33 anos, ele toma uma decisão radical: deixar Buenos Aires para tentar a sorte na Europa, fixando residência na França e abrindo seu próprio estúdio de mestre de ofício em
Paris – o Ateliê Faria, que conseguiu enfrentar e superar a forte
concorrência de outros artistas e seus tradicionais estúdios de
produção, entre eles, alguns dos grandes pioneiros da Arte Moderna como Henri de
Toulouse-Lautrec (1864–1901), mestre da pintura, da litografia e
das técnicas mais avançadas para o design gráfico dos cartazes
publicitários.
Das
artes gráficas ao Cinema
Com
seu ateliê em Paris, Cândido Aragonez de Faria passou a conquistar
uma clientela fiel e, gradativamente, estabelece seu prestígio com a
prestação de serviços em desenho, ilustrações e artes gráficas.
Sua clientela em Paris vai incluir charges e caricaturas sob
encomenda para jornais e revistas, ilustrações para livros,
impressão de partituras e de programas para óperas, concertos e
peças de teatro, criação e impressão de cartazes publicitários
em geral e, finalmente, ilustrações e cartazes surpreendentes para os espetáculos
de cinema dos irmãos Auguste e Louis Lumière.
Menos de um ano depois da invenção do Cinematógrafo e das primeiras projeções dos filmes pelos irmãos Lumière, em 1895, nos cafés parisienses, começaram a surgir em Paris e em outras grandes cidades de vários países os concorrentes que arriscavam-se no promissor negócio da produção e exibição de filmes. Entre a clientela de Cândido Aragonez de Faria, nesta época, também estavam os vários artistas que trocaram os palcos de teatro e de shows de variedades pela novidade do Cinematógrafo, como Georges Méliès (1861-1938), e empresários como os irmãos Pathé – Charles, Émile, Theóphile e Jacques.
Admirador
do trabalho em artes gráficas do brasileiro, Charles Pathé passa a ser
um dos mais assíduos clientes do Atelier Faria. Para não perder o artista para a concorrência que proliferava, o empresário decide então oferecer um
contrato de exclusividade para que o atelier do brasileiro passe a atender apenas às encomendas de ilustrações e impressão para os investimentos de sua companhia, a Société Pathé Frères, que concentrava todos os esforços e recursos financeiros na produção e exibição dos espetáculos de cinema.
A partir de 1902, quando a Pathé se torna a principal indústria de produção cinematográfica da Europa, assim como a maior produtora fonográfica do mundo, Cândido Aragonez de Faria é contratado com exclusividade por Charles Pathé para criar todos os cartazes, folhetos e material publicitário que acompanhariam os filmes e equipamentos produzidos pela companhia. É este acervo criado pelo artista brasileiro, com centenas de belas ilustrações e cartazes adotados como modelo para a divulgação dos filmes no mundo inteiro, que está atualmente em destaque em Paris na exposição de inauguração da Fundação Jerôme Seydoux-Pathé.
A partir de 1902, quando a Pathé se torna a principal indústria de produção cinematográfica da Europa, assim como a maior produtora fonográfica do mundo, Cândido Aragonez de Faria é contratado com exclusividade por Charles Pathé para criar todos os cartazes, folhetos e material publicitário que acompanhariam os filmes e equipamentos produzidos pela companhia. É este acervo criado pelo artista brasileiro, com centenas de belas ilustrações e cartazes adotados como modelo para a divulgação dos filmes no mundo inteiro, que está atualmente em destaque em Paris na exposição de inauguração da Fundação Jerôme Seydoux-Pathé.
por
José Antônio Orlando.
Como citar:
ORLANDO,
José Antônio. Cândido Aragonez de Faria e o Cinema. In: Blog
Semióticas,
22 de setembro de 2014. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2014/09/candido-aragonez-de-faria-e-o-cinema.html
(acessado
em .../.../…).
Para visitar a exposição da Fundação Jerôme Seydoux-Pathé, clique aqui.