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6 de fevereiro de 2015

Inéditas de Bob Marley






O reggae tem a mesma raiz, o mesmo calor e o mesmo
ritmo do samba. Sim, nós estamos muito próximos.

(Bob Marley no Rio de Janeiro, 19 de março de 1980).  



Primeiro grande astro da cultura pop saído do Terceiro Mundo e o mais conhecido músico do reggae de todos os tempos, Bob Marley completaria hoje seu 70° aniversário. Para comemorar a data, seus fãs recebem um presente inédito, em versões Blu-Ray, CD e DVD: “Easy Skanking in Boston '78”, com a íntegra daquele que é considerado um dos melhores shows da história do reggae. Som e imagens foram gravados ao vivo em 8 de junho de 1978 e apresentam grandes sucessos de Bob Marley em versões que não haviam sido lançadas nem em vinil nem em CD, incluindo “No Woman, No Cry”, “I Shot the Sheriff”, “Get Up, Stand Up” e duas canções que foram apresentadas somente naquela noite no Orpheum Theatre de Boston, em Massachusetts, Estados Unidos – “Slave Driver” e “The Heathen”, que até agora permaneciam com a aura de inéditas.

São 13 canções em 70 minutos, na versão CD, e oito canções em 48 minutos na versão DVD (com imagens gravadas por um cinegrafista amador no palco, muito próximo do cantor e da banda). Imagens e canções inéditas do show em Boston são os primeiros lançamentos deste 70º aniversário, mas a família do músico já anunciou uma variedade de lançamentos e eventos de comemoração. Em um calendário que teve sua prévia de divulgação com o lançamento de um novo site oficial, o legado do Rei do Reggae será lembrado pela apresentação de novas versões de material raro, entre elas uma edição de luxo, também em Blu-Ray, CD e DVD, de seu trabalho mais memorável, “Legend” – álbum com uma coletânea dos grandes sucessos de Bob Marley com a banda The Wailers que, desde o lançamento, em maio de 1984, vendeu oficialmente mais de 20 milhões de cópias e está entre os mais vendidos da história da indústria fonográfica.

















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Inéditas de Bob Marley: no alto e acima,
fotografado por Esther Anderson nas
praias da Jamaica, em 1973. Também acima,
a capa do mais recente álbum, uma fotografia
do encarte e uma prévia da versão em DVD
do show realizado em Boston, EUAem
1978e que ainda permanecia inédito.

Abaixo, Bob Marley & The Wailers no palco
do Crystal Palace Park, em Londres, em
fotografias de Pete Still, em junho de 1980,
durante a Uprising Tour















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Uma câmera na mão



As cenas do show de 1978 em Boston, agora divulgadas no DVD e site oficial de Bob Marley, impressionam pela qualidade de imagem e som. A íntegra do show foi filmada com uma câmera na mão por um fã que Marley permitiu, na última hora, que pudesse subir ao palco. O resultado é notável porque consegue captar imagens do ídolo e seus músicos bem de perto, com sequências de closes e de movimentos de câmera impressionantes, a apenas alguns metros de distância, levando, a quem assiste hoje às imagens, à possibilidade de experimentar a intimidade do que acontecia no palco durante o show. 
 
Bob Marley e The Wailers, em junho de 1978, estavam na turnê internacional para divulgação do álbum “Kaya”, 11° dos 14 discos de estúdio de Marley, lançado em março daquele ano. Mas o repertório deste “Easy Skanking in Boston '78”, apresentado no Boston Music Hall, vai muito além das 10 faixas do disco, que emplacou os sucessos “Is This Love” e “Sun is Shining”, além da faixa-título. Completam as imagens de Bob Marley e banda, além de cenas da plateia, animações produzidas pela dupla S77 e Matt Reed, que realizaram videoclipes premiados para artistas como Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers e Cee Lo Green.








AcimaBob Marley em 1978 com a formação
completa do The Wailers e com a esposa
Rita Marley (de vermelho) e as integrantes
do I Threes; e em 1967 (ao centro), quando
se uniu a Bunny Wailer e Peter Tosh para
formar The Wailers. A partir do alto
da página, Bob Marley na praia de
Hellshire, na Jamaica, fotografado
em 1973 por Esther Anderson; a capa
do novo álbum, Easy Skanking in
Boston '78; e no palco do Crystal Palace
Concert Bowl, em Londres, em junho
de 1980, com The Wailers I Threes.

Abaixo, o artista no jardim de sua casa em
Kingston, Jamaica, fotografado em março de
1976 por David Burnett para uma reportagem
da revista Time; e duas cenas de Marley,
documentário de 2012 de Kevin Macdonald





















Um dos poucos latino-americanos no Hall da Fama do Rock and Roll, Bob Marley mantém sua grande importância não apenas como o homem que colocou o Reggae no mapa global, mas também como o estadista que mudou a história de sua terra natal, a ilha da Jamaica. Quando chegou à condição de ídolo internacional da música, ele investiu seu prestígio para construir a união entre as mais radicais facções políticas de seu país, que naquela época estava às portas de uma guerra civil.



Status de mito



Com sua morte precoce, aos 36 anos, vítima de câncer, em 11 de maio de 1981, alcançou uma invejável estatura de mito, talvez só comparável, no universo da música, a John Lennon ou Elvis Presley, com equivalente popularidade internacional e também com forte apelo comercial – como comprova a extensa lista de relançamentos permanentes de sua obra, atualizada com a impressionante safra de material inédito que tem chegado ao mercado nos últimos anos. Desde 2010, foram 10 lançamentos com versões inéditas e remixes em CD e DVD, incluindo a gravação completa do último show de Bob Marley, que aconteceu em setembro de 1980 em Pittsburgh, Pensilvânia (EUA) lançada em 2011, na versão em CD, com o álbum duplo “Live Forever”.




 




Acima, a capa da edição de luxo de
Legend, com faixas inéditas, lançamento
de 2015, e Live Forever, álbum de 2011
com a íntegra do último show, em Pittsburgh,
Pensilvânia, em setembro de 1980. Abaixo,
as imagens que causaram polêmica em 1974,
com Bob Marley no ritual de Cannabis
 em Kings Place, Londres, fotografado
por Dennis Morris













Houve, também, em 2012, o lançamento do documentário “Marley”, dirigido por Kevin Macdonald, que traz o músico em cenas do dia a dia e nos palcos, com surpreendentes depoimentos até então inéditos sobre a música, a família (especialmente sobre Rita Marley, sua esposa e companheira de palco de 1966 até a morte, mãe de quatro de seus 12 filhos, dois deles adotados), a paixão pelo futebol e a complexidade de suas crenças sobre as questões de política e religião.

Mais de 30 anos depois de sua morte, Bob Marley permanece como um dos nomes mais conhecidos no mundo inteiro, mas na Jamaica, sua terra natal, seu status de mito é insuperável. Desde sua morte, a data de seu aniversário, dia 6 de fevereiro, foi decretada como feriado nacional – e sua filosofia de vida, sintetizada no Movimento Rastafari e no culto à Cannabis, temas da maioria de suas canções, firmaram raízes definitivas dentro e também fora da Jamaica. 





























Acima, Bob Marley com Chico Buarque,
na única vez que o músico jamaicano esteve
no Brasil, em março de 1980. Bob Marley,
com outros músicos e Chris Blackwell, diretor
da Island Records, vieram ao Brasil para a
inauguração das atividades do selo alemão
Ariola. Bob Marley e The Wailer não puderam
subir aos palcos, porque a ditadura militar liberou
os passaportes, mas não autorizou os shows não
concedeu vistos de trabalho. Apesar da censura
sem fundamento, Marley e banda não resistiram
à paixão pelo futebol. No Rio de Janeiro, eles
encontraram Chico Buarque e outros artistas
para jogar uma partida em um quintal na Barra
da Tijuca. No grupo, de pé, o músico da banda
The Wailers, Junior Marvin, o cantor e
compositor Toquinho e o jornalista João Luiz
de Albuquerque. Agachados, Jacob Miller (da
banda Inner Circle), Chico Buarque, o craque
Paulo César Caju e Bob Marley.

Abaixo, Bob Marley fazendo exercícios com
a bola de futebol antes do show no estádio de
Bruxelas, Bélgica, em maio de 1977, fotografado
por David Burnett; brincando com o filho
Ziggy Marley, durante temporada na Suécia,
em 1971; e em dois momentos da turnê
Kaya: desembarcando em sua primeira
viagem à Espanha, em 1978, onde faria um
show lendário na Plaza de Toros, em Ibiza;
no palco, no show em Pittsburgh,
em setembro de 1978, fotografado
pelo dinamarquês Jan Persson






















Além da permanência firme de suas canções, que soam como matriz e referência do Reggae desde suas primeiras gravações nos anos 1960, e mais ainda desde "Catch a Fire", de 1973, primeiro disco depois do contrato com a gravadora Island Records de Chris Blackwell, que apresentou sua música ao mundo, a filosofia de vida de Bob Marley e seus ensinamentos também parecem a cada dia mais atuais – como se vê em seu depoimento, emocionado, que encerra o documentário de 2012 de Kevin Macdonald:

“Se todos nos unirmos e dermos as mãos, quem sacará as armas?", defende o músico, repetindo sua militância por mensagens de paz e de união, como sempre fez em todos os shows e em todas as entrevistas, sem exceção. "Eu só tenho uma ambição: que a humanidade viva unida. Negros, brancos, orientais, todos juntos, unidos”. No dia 11 de maio de 1981, em um hospital nos Estados Unidos, em Miami, Flórida, Bob Marley morreu. Mas aquela ambição da utopia humanista e pacífica sonhada por ele continua a ser, ainda hoje, sem nenhuma dúvida, o sonho dos justos.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Inéditas de Bob Marley. In: Blog Semióticas, 6 de fevereiro de 2015. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2015/02/bau-de-ineditas-de-bob-marley.html (acessado em .../.../...). 



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Acima e abaixo, Bob Marley no palco, com

The Wailers, Rita Marley e o coro das I Threes

no show em maio de 1976 no Santa Barbara Bowl,

na California, em fotos de Jeffrey Mayer.


Também abaixo, a imagem de Bob Marley

no cartaz de formas tipográficas criado

por Alyssa Almeida em 2014










 

 






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