Encontrei-me
com Minas Gerais através
da
pintura de Carlos Bracher. É o maior
elogio
que, de coração, lhe posso fazer.
––
Carlos
Drummond de Andrade, 1979.
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Considerado por unanimidade um dos grandes artistas plásticos em atividade no Brasil, o pintor, desenhista, escultor e poeta Carlos Bracher apresenta mais um trabalho de excelência: o livro "Ouro Preto – Olhar Poético", com texto e aquarelas de sua autoria. Partindo das referências históricas desde as origens de Vila Rica e de personalidades emblemáticas do século 18 como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, além de Tiradentes, Marília de Dirceu, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e outros heróis e poetas da Inconfidência, Bracher apresenta um roteiro poético sobre a cidade que, em suas palavras, deu origem à "civilização mineira".
Mineiro de Juiz de Fora, expoente de uma família de artistas, Bracher escolheu Ouro Preto para viver desde 1971. "Eu conhecia Ouro Preto de passeios e temporadas. A partir do Carnaval de 1971 fui morar na cidade e desde então, com a vivência e as experiências do dia a dia, a minha paixão por Ouro Preto tem sido cada vez mais avassaladora", confessa.
"Ouro Preto – Olhar Poético" é o segundo livro que Bracher publica. O primeiro, dedicado a Brasília ("Bracher – Brasília"), foi lançado em setembro de 2006 reunindo uma seleção de textos e 66 quadros sobre os cenários mais conhecidos da Capital Federal. "Na verdade este livro sobre Ouro Preto foi o primeiro que escrevi”, ele explica, em entrevista por telefone. “Foi concluído no primeiro semestre de 2006, mas por diversas razões o livro sobre Brasília saiu primeiro e o projeto sobre Ouro Preto ficou adiado, primeiro por um motivo, depois por outro”.
O livro propõe uma visita a Ouro Preto numa perspectiva que alcança muito além da história e do conjunto arquitetônico, levando o leitor a passear pelos logradouros, museus, igrejas, contando casos da cidade, do “renascimento” ocasionado pelas visitas dos modernistas na década de 1920 e do estilo que encanta turistas e pesquisadores. “São muitos detalhes para publicar um livro de qualidade. A própria edição é demorada, cheia de detalhes e revisões, e tem também a questão do patrocínio, que é sempre um complicador", revela o artista.
Barroco em roteiro amoroso
Nas páginas de "Ouro Preto – Olhar Poético", Carlos Bracher apresenta um roteiro amoroso que remonta à Vila Rica de 300 anos no passado, com seus personagens históricos e outros mais recentes – como Dona Olímpia, Bené da Flauta, os artesãos – e cenários, fotografias, imagens de Rugendas, referências culinárias e um leque de questões culturais. O projeto, ele explica, nasceu de uma proposta que pretendia uma “síntese amorosa”.
"Posso dizer que é uma síntese amorosa sobre o sentimento das coisas encantadas", destaca. A Ouro Preto de Carlos Bracher se desnuda em personagens, artistas, poetas e sonhadores, propondo uma viagem por imagens da história e cenas retratadas em aquarelas que ele produziu ao longo do tempo. Entre outros personagens da trajetória da cidade, presentes no livro, Bracher define o Aleijadinho:
"Donde vinha a força daquele homem? Do mutilado com seus ferrões presos às mãos paralíticas, ferros invioláveis da dor, da excrescência máxima da feiúra do corpo a transitar a intangível beleza revertida, de alguém a dialogar com o divino da encarnação, transfigurando chagas em cantaria, suplício em poesia. Aleijadinho detinha a real senha da pulsação, os vórtices fecundos e a entrega devocional dos desígnios definitivos do que seja, em verdade, arte".
A sequência de aquarelas com cenários de igrejas, ladeiras, casarios e a Praça Tiradentes é intercalada com textos breves em linguagem poética. Bracher recria o passado – com traços e palavras em busca dos enigmas encobertos e das raízes profundas que fizeram da antiga Vila Rica e da moderna Ouro Preto as matrizes do pensamento artístico e libertário da identidade nacional.
Mestres de primeira grandeza
Mestres de primeira grandeza
Aos 72 anos e depois de seis décadas de vida dedicada às artes plásticas, Bracher está entre os brasileiros que mais tiveram exposições de seus trabalhos no exterior, com dezenas de mostras individuais em importantes museus e palácios em Paris, Roma, Milão, Londres, Madri, Haia, Moscou, Bruxelas, Basileia, Frankfurt, Praga, Estocolmo, Miami, Tóquio, Pequim, entre outras cidades do mundo.
Atualmente, e até o final deste ano, sua obra está em uma exposição de retrospectiva na Suíça, terra de seus antepassados, com uma seleção feita pelo próprio artista de 48 pinturas entre as mais de 10 mil que já produziu. A retrospectiva, que já foi apresentada na Rússia e em vários países da Europa, depois da Suíça tem um itinerário extenso que inclui Itália, França e Suécia. Otimista, absorto pela verdade da obra de arte e encantado pelos cenários barrocos de Ouro Preto, Bracher faz do novo livro uma declaração de amor à cidade que desde 1971 adotou como sua.
Atualmente, e até o final deste ano, sua obra está em uma exposição de retrospectiva na Suíça, terra de seus antepassados, com uma seleção feita pelo próprio artista de 48 pinturas entre as mais de 10 mil que já produziu. A retrospectiva, que já foi apresentada na Rússia e em vários países da Europa, depois da Suíça tem um itinerário extenso que inclui Itália, França e Suécia. Otimista, absorto pela verdade da obra de arte e encantado pelos cenários barrocos de Ouro Preto, Bracher faz do novo livro uma declaração de amor à cidade que desde 1971 adotou como sua.
Uma conversa com Carlos Bracher é um encadeamento sem fim de lembranças e de ideias inspiradas sobre o tempo presente. No pouco tempo da entrevista ao telefone, ele descreve os passos de composição do livro e recorda momentos importantes de sua formação, os mestres que conheceu e com os quais conviveu e outros que ele tem como referência, mesmo sem ter encontrado pessoalmente, como é o caso de Alberto da Veiga Guignard, pintor sempre lembrado por suas paisagens mineiras e professor que nasceu em 1896 em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, que viveu muitos anos no exterior e que, de volta ao Brasil, acabou adotando Ouro Preto como sua cidade até sua morte em 1962. "Guignard é encantador", resume Carlos Bracher.
Bracher também reconhece que sua formação teve início num ambiente familiar propício para a arte. Ele conta com orgulho que foi desde a infância, em Juiz de Fora, que a literatura, as artes plásticas e a música nortearam sua trajetória. A dedicação à arte, que o levaria às primeiras experiências do reconhecimento ainda na década de 1950, iria ultrapassar em pouco tempo as fronteiras de sua cidade-natal. Além dos primeiros estudos em Juiz de Fora, Bracher também teve a sorte, como ele diz, de ter sido aluno em sua temporada em Belo Horizonte de Fayga Ostrower (1920–2001) e de Inimá de Paula (1918–1999), entre outros mestres de primeira grandeza.
Já em 1967, Bracher conquistava a premiação máxima de pintura no país, com o "Prêmio de Viagem ao Estrangeiro", do Salão Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, pelo qual permaneceu por dois anos na Europa participando de cursos e oficinas de aperfeiçoamento em pintura. Em 1968, outro destaque surpreendente: o Prêmio Revelação do Ano, concedido pelo “Jornal do Brasil”. Os fatos marcantes de sua carreira são muitos, enumerados no decorrer das últimas décadas, entre eles a grande retrospectiva "Pintura Sempre", em 1989, com curadoria de Olívio Tavares de Araújo, no MASP de São Paulo.
A família do artista
A família do artista
Fiel ao uso de telas, tintas, pincéis e cores, sem nunca ter se filiado aos movimentos de vanguarda que se aproximaram de outros suportes e outras tecnologias, Bracher também destaca com orgulho em sua trajetória a série de 100 quadros que realizou, entre 1990 e 1992, para comemorar o centenário da morte do pintor Van Gogh (1853-1890) – que teve exposições em diversas galerias e museus no Brasil e no exterior, assim como outras séries e seleções temáticas das obras que produziu.
Filho do pintor, professor e compositor Waldemar Bracher e irmão dos artistas plásticos Nívea e Décio Bracher, casado com Fani Bracher, outro nome de destaque na pintura brasileira contemporânea, e pai de duas filhas, Blima e Larissa, Carlos Bracher defende que a obra de arte é, desde sempre, o melhor que o ser humano pode produzir.
“A arte e a cultura formam um conjunto que distingue o ser humano de todos os outros seres do planeta”, ele diz, quando questionado sobre o valor e a importância da obra de arte no mundo atual. “Sem a obra de arte o ser humano não seria em nada diferente dos outros animais. A arte é a descoberta do mais humano que existe em nós mesmos”, conclui.
por José Antônio Orlando.
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Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Bracher barroco. In: Blog
Semióticas,
9 de março de 2012. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2012/03/bracher-barroco.html
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