Uma
revista investigativa, irreverente, iconoclasta, corajosa,
revolucionou o mundo do jornalismo brasileiro em plena época da
ditadura militar. Lançada em 1966 pela editora Abril, “Realidade”
circulou provocando impacto até janeiro de 1976 e trouxe parâmetros
de qualidade poucas vezes vistos na imprensa brasileira: pautas
ousadas em abordagens criativas, matérias mais elaboradas, escritas
em primeira pessoa, com fotografias, ilustrações e projeto gráfico
surpreendentes que fizeram história. A
trajetória da revista e suas principais reportagens – que
marcaram o jornalismo feito no Brasil e influenciaram as mudanças
que levariam ao fim do regime militar – acaba de receber um tributo
de primeira linha: o livro “Realidade Re-vista”, publicado pela Realejo Edições.
Escrito em parceria pelos veteranos José Hamilton Ribeiro e
José Carlos Marão, que faziam parte da extraordinária equipe de
jornalistas que criou a revista, o livro reconstitui a história lendária da revista “Realidade”, publicação que ainda hoje permanece como exemplo e como lição de jornalismo transformador –
um
autêntico contraponto à triste e muitas vezes lamentável atualidade da imprensa no Brasil,
cada vez mais questionável e mais distante das normas da ética e da
honestidade que deveriam ser balizas e condições essenciais para
sua própria existência.
Jovens,
mas com experiência profissional de qualidade
inquestionável, José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão vinham
de passagens em veículos na época importantes como a revista “O
Cruzeiro” e o jornal “Folha de S.Paulo”. Nascidos no interior
de São Paulo, no novo livro os veteranos Ribeiro, nascido em agosto
de 1935, e Marão, em janeiro de 1941, se definem como “caipiras,
com muito orgulho” e fazem questão de destacar, cada um a seu
modo, que a história de "Realidade" permanece como lição
de jornalismo transformador.
"Os
estudantes que hoje procuram os profissionais de 'Realidade' como
fonte para seus trabalhos acadêmicos não se dão conta de que muito
do comportamento atual, como a liberdade para namorar ou 'ficar', o
desprezo pelo tabu da virgindade, a igualdade de direitos da mulher,
a possibilidade de casar, descasar, casar de novo; começou a
despontar como mudança de comportamento naquele período",
destaca Marão.
"O
lugar da revesta 'Realidade' é entre os inovadores, assim como o 'Jornal do
Brasil' na época de sua reforma, na década de 1950, e sem dúvida o
'Jornal da Tarde', de São Paulo, mas feito por mineiros",
aponta Marão, lembrando que durante décadas esses três projetos
gráficos e editoriais determinaram a qualidade da imprensa no
Brasil.
"Só recentemente é que houve um ou outro projeto inovador, mesmo assim nenhum deles com o impacto que 'Realidade' provocou”, reconhece Marão. Ele confessa nostalgia pelos tempos do que ele chama de "jornalismo de heróis" e diz que agora se aposentou. A única vantagem de sua nova condição, ele confessa, é que conseguiu realizar o velho sonho de voltar a morar no interior. José Hamilton Ribeiro, por sua vez, continua na ativa e reconhecido pelo público, por conta de seu trabalho como repórter de TV, atualmente na equipe do "Globo Rural".
"Só recentemente é que houve um ou outro projeto inovador, mesmo assim nenhum deles com o impacto que 'Realidade' provocou”, reconhece Marão. Ele confessa nostalgia pelos tempos do que ele chama de "jornalismo de heróis" e diz que agora se aposentou. A única vantagem de sua nova condição, ele confessa, é que conseguiu realizar o velho sonho de voltar a morar no interior. José Hamilton Ribeiro, por sua vez, continua na ativa e reconhecido pelo público, por conta de seu trabalho como repórter de TV, atualmente na equipe do "Globo Rural".
O
projeto do livro, explica José Carlos Marão, começou a partir
das muitas conversas entre ele, José Hamilton e outros veteranos que trabalharam na revista 'Realidade'. "Acabei lembrando que as matérias selecionadas para
publicação no livro deveriam ser situadas dentro de seu contexto
histórico, social e político. Do contrário, o leitor jovem não ia
entender nada. Então surgiu o caminho de mostrar em detalhes como a
revista era feita, naquela época, naquela situação política e
econômica", completa.
Um resgate histórico
O
resgate histórico de “Realidade” não é o primeiro trabalho
conjunto dos dois autores. Em 1988, Ribeiro escreveu o livro
“Jornalistas (1937-1997)”, que contava a história de 60 anos de
imprensa no Brasil e foi editado por Marão. Ribeiro recorda que os
dois ficaram anos sem se ver, mas a cada reencontro retomavam a
conversa da vírgula onde tinham parado. Das conversas, nasceu o
projeto do novo livro.
José
Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão, mantendo o estado de espírito
das redações de outras épocas e da amizade que dura mais de 50
anos, até hoje discordam e brigam muito – conforme revela e
reconhece Ribeiro na entrevista, contando que ele e o amigo
discutiram até o limite durante o processo de elaboração e edição
do livro “Realidade Re-vista”.
No
livro, a dupla de veteranos resgata através de fac-símiles duas
dúzias de reportagens históricas, republicando-as com saborosos e
surpreendentes comentários de bastidores. O relato de Ribeiro e
Marão também brinda o leitor com uma abordagem inédita sobre a
criação, os percalços da vida e da morte da publicação que ainda
hoje muitos pesquisadores apontam como uma das maiores e mais
importantes utopias que o jornalismo no Brasil já realizou.
O
resgate histórico aponta uma seleção de abordagens surpreendente,
ainda mais se considerado o contexto de censura e repressão imposto
pelo regime militar. Um perfil pioneiro de Chico Xavier, uma matéria
escrita a quatro mãos com Chico Buarque, o cinema de Glauber Rocha,
denúncias, erros grosseiros de políticos e das autoridades,
eleições desencontradas, a aventura dos jangadeiros e da gente
simples do interior, a gritaria e os aplausos do auge dos concursos
de miss, o movimento silenciado de estudantes e operários, os
exilados, o olhar brasileiro na apuração do que acontecia pelo
mundo afora.
"Realidade"
renovou a arte da reportagem, questionou e derrubou tabus, provocou e
revelou um país praticamente desconhecido e entrou para a história.
Como lembra o relato emocionado e emocionante de Ribeiro e Marão,
criatividade na pauta, liberdade na apuração e ousadia na edição
marcaram a presença de “Realidade” no imaginário nacional.
Realidade, número 8, novembro de 1966: reportagem de Narciso Kalili pela primeira vez usou a expressão MPB. Na capa da edição, uma fotografia de David Drew Zingg: de pé, Rubinho do
Zimbo Trio, Jair Rodrigues, Nara Leão e Paulinho da Viola; sentados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Toquinho e Magro do MPB4; no chão, Caetano
Veloso. Na reportagem "Os novos donos do samba", outra fotografia de David Drew Zingg reuniu Paulinho da Viola, Chico Buarque, Gilberto Gil, Nara Leão e Toquinho. Abaixo, uma reunião da geração de diretores do Cinema Novo na mesa do bar, fotografados em 1967 por David Drew Zingg para outra reportagem histórica de Realidade: a partir da frente, à esquerda, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Joaquim Pedro de Andrade, Walter Lima Jr., Zelito Viana, Luiz Carlos Barreto, Glauber Rocha e Leon Hirszman. também abaixo, Leila
Diniz e Paulo José fotografados em 1966 para uma reportagem de
Realidade nas filmagens de “Todas as mulheres do mundo”, com o co-roteirista Eduardo Prado e o diretor Domingos de Oliveira |
Em
436 páginas de memórias e de análise crítica, os dois autores e testemunhas oculares da história
desvendam os métodos revolucionários utilizados pela equipe de
redação da revista. Ribeiro e Marão não apenas descrevem, mas
também analisam as técnicas de cada expediente a partir de uma
privilegiada visão dos bastidores de algumas das principais
matérias, incluindo casos saborosos no "off" de muitas
reportagens e edições.
A
emoção que caracterizava cada número da revista – em oposição
à maior parte das notícias tradicionais, baseadas no senso comum,
tão comuns naquelas época e também no jornalismo atual – pode
ser traduzida à perfeição com o episódio da Guerra do Vietnã.
Hoje reconhecido como 'príncipe dos repórteres', José Hamilton
Ribeiro foi correspondente de guerra, em 1968, e em uma de suas
reportagens durante essa cobertura, perdeu uma perna, despedaçada na
explosão de uma mina. O episódio ele transformou em livro, "O
Gosto da Guerra", publicado em 1969. Mas o acidente no Vietnã
não deteve o repórter e ele continua ainda hoje a exercer seu
notório talento de jornalista.
Páginas de Realidade: o repórter
José Hamilton Ribeiro em 1968,
fotografado no local do acidente
por Kei Shimamoto e no hospital
militar da base dos EUA durante sua
cobertura na Guerra do Vietnã
|
Segundo o que os autores José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão revelam,
na apresentação ao livro, o fim do projeto “Realidade”
veio em função de divergências internas entre a equipe e algumas
disposições negativas da empresa, que tolhiam, de alguma forma, a autonomia
que a equipe vinha tendo até dezembro de 1968. Mas e a imprensa
brasileira da atualidade? Está melhor ou pior do que há tempos
passados?
“Acredito
que em muitos aspectos a imprensa brasileira nos dias de hoje está
melhor, mas sempre tem aquelas exceções que envergonham a gente e
provocam irritação em quem tem um mínimo de bom-senso”,
reconhece Marão. “É preciso sim reconhecer que a imprensa hoje
está mais profissionalizada. No entanto, não tem dado muito espaço
para a criatividade e a inovação, o que é uma pena e sinal de o
atual modelo consagrado como grande imprensa vai ficar esgotado, mais
dia, menos dia”.
Confira, abaixo, alguns trechos da entrevista que fiz por telefone, para um jornal de Belo Horizonte, com o jornalista
José Hamilton Ribeiro.
Qual
o lugar da revista “Realidade” na história da imprensa e do
jornalismo no Brasil?
José
Hamilton Ribeiro – A 'Realidade' foi resultado de um
conjunto de circunstâncias históricas que inclui a revolução
comportamental de jovens, mulheres, padres, Beatles, hippies,
estudantes, tudo a nível mundial, na década de 1960. No plano
local, um governo militar ditatorial, mas ainda sem censura à
imprensa e Ato-5. Havia um anseio de mudanças generalizado e uma
editora (Abril) que estava bancando a aposta de se tornar uma grande
editora jornalística e uma equipe com boa experiência jornalística,
mas ainda jovem (média de idade, 30 anos) com muita energia e
ambição. Aí desembocou no que deu, difícil apartar uma
peculiaridade.
Na
sua avaliação, 'Realidade' teve outros veículos de imprensa como
antecedentes? Penso na revista 'O Cruzeiro', nos melhores tempos do
'Jornal do Brasil', no final dos anos 1950...
Foram
capítulos importantes, sem dúvida, mas a 'Realidade' era outra
coisa. No começo dos anos 1960, a Editora Abril era ainda “um
escritório” que coordenava a publicação de revistas traduzidas
que incluía títulos de quadrinhos, fotonovelas, corte e costura,
cama, mesa e banho... Com 'Cláudia', entre as femininas (dirigida
por Luís Carta), e '4 Rodas', masculina (dirigida por Mino Carta,
irmão de Luís), a Editora Abril passava a ter redação de
jornalistas e não mais só de tradutores. E '4 Rodas', sob a direção
de Mino, foi o laboratório de texto e de exercício jornalístico
que iria desembocar em 'Realidade', primeiro, e a seguir em 'Veja' e
depois em revistas que se contam hoje quase às centenas. É
importante também você destacar que 'Realidade' não se baseou em
outra publicação do exterior, como era praxe na Abril, então. E
até o nome foi uma busca errática, muita gente pensando e dizendo:
mas isso é nome de revista?
Foi
um período muito breve e intenso... É possível destacar uma fase,
ou uma sequência de edições, como o auge de 'Realidade'?
Há
um período de ouro, sim, que é o tempo da revista que vai do seu
nascimento, em abril de 1966, ao AI-5, em dezembro de 1968... não
tendo obrigatoriamente de uma coisa ter a ver com a outra, ou só com
essa outra... (risos) Um sucesso editorial que marcou época e fez
história, sem dúvida, mas 'Realidade' deu lucro financeiro?
'Realidade' foi um 'case' de sucesso editorial. Nas contas da Abril,
se ela vendesse 80 mil exemplares, estava muito bom. Vendeu 500 mil
em menos de 6 meses. Por certo, foi uma coisa que chamou atenção
dos jornalistas brasileiros, principalmente, a meu ver, por causa da
qualidade do texto.
A
revolução trazida pela "Realidade" foi mais importante
que a reforma dos jornais na década de 1950, liderada pela gestão
da condessa Pereira Carneiro no "Jornal do Brasil"?
Pergunta
difícil... Mas, de certo modo, é possível afirmar que sim. Digo,
simplificando, que a reforma dos jornais brasileiros, capitaneada por
jornalistas cariocas, no fim dos anos 1940 e nos anos de 1950,
repetiu-se, agora no campo das revistas, com 'Realidade'. A reforma
dos jornais cariocas criou e implantou o “copy-desk” – que
reescrevia eventuais textos ruins dos repórteres. "Realidade"
criou (a benção, Sérgio de Souza!) o editor de texto, um
profissional mais refinado, mais sensível, e que é capaz de
melhorar o texto do repórter sem desfigurá-lo.
Páginas de Realidade: as mandingas do futebol brasileiro na edição número 4.
Abaixo: duas reportagens sobre Chico Buarque, a primeira com o cantor e compositor na janela, em 1966, na época do lançamento de seu álbum de estreia, que teve "A Banda" como uma das canções de sucesso; e na capa de fevereiro de 1972, quando Chico retornava do exílio na Itália, por imposição da ditadura militar. Também abaixo, uma amostra da publicidade em Realidade, com lances criativos de humor que indicavam revolução nos costumes e nos hábitos de consumo dos brasileiros; um flagrante do passeio na praia, em 1970, de Carlos Vereza, Renata Sorrah, Dina Sfat e Djenane Machado, estrelas da novela polêmica das 22 horas "Assim na Terra como no Céu", de Dias Gomes, em produção da TV Globo; e uma retrospectiva das primeiras capas de 'Realidade' em reportagem especial publicada na edição número 20 da revista |
Na
mesma época de 'Realidade' estava surgindo nos Estados Unidos o 'new
journalism', mais literário, mais elaborado. 'Realidade' foi então
precursora também dessa qualidade do texto, além do design inovador
e do conteúdo em reportagens?
Sim, bem lembrado! Você está muito correto neste comentário porque, num
certo sentido, o texto da revista 'Realidade' tinha sim esta 'qualidade
literária', assim mesmo, entre aspas, quer dizer, era um texto que
dava prazer de ler, como um bom texto de literatura. Deve-se isso, em
boa medida, ao exercício da edição de texto criada pelo Sérgio de
Souza, com riqueza de imagens e de vocabulário e a busca da palavra
apropriada. No raciocínio jornalístico, ou literário, chega uma
hora que o texto pede uma palavra, e tem de ser aquela palavra.
Qualquer outra, soaria chocho...
Além
da qualidade literária, do atrativo das fotografias e das pautas fora do lugar comum, 'Realidade' também oferecia ao leitor um jornalismo de
alta qualidade...
Isso
mesmo. 'Realidade' fazia a 'grande reportagem', que você sabe, pouco
tem a ver com reportagem grande. Pesquisa, pensamento, trabalho e
vivência na busca de um pouco de profundidade e compromisso, até
onde sabe Deus, com a verdade. Enfim, jornalismo investigativo, de
longo curso, sério, desvendando questões sérias e informando com a maior responsabilidade social. Quando é que o Brasil deixou de ter isso? Será
que deixou?
O
senhor acredita que o livro conseguiu traduzir a história toda?
Espero que o senhor tome meu comentário como elogio, porque quando
li, tive a impressão de que estava lendo uma reportagem muito bem
feita sobre a 'Realidade'...
Ah,
então é porque você é um leitor atento... (risos). Boa definição,
esta, de ser uma reportagem... metalinguagem, não é? Em
'Realidade', fui repórter. Em certo momento, virei redator-chefe,
mas como coisa provisória que acabou sendo definitiva. Depois da
revista, voltei a ser repórter. O livro “Realidade Re-Vista”,
além de ser bom livro em si – e digo isso com tranquilidade, na
medida em que seu autor principal não sou eu, mas sim José Carlos
Marão – nasceu de uma certa demanda. De tempos em tempos, nem sei
por que, os remanescentes de 'Realidade' são procurados por jovens
jornalistas, estudantes de jornalismo e de História, sociólogos
iniciantes, em busca de informações da revista. Agora estão à
mão, no livro.
E
a imprensa brasileira hoje? Está melhor ou pior do que há tempos
passados?
Pergunta
difícil de responder... No Brasil há espaço para uma revista de
reportagens bem feitas, com texto cuidado, com pauta criativa? O que
a gente vê é que tem cada uma por aí... Será que ainda haverá
espaço para uma revista com “qualidade literária”, que possa garantir algum prazer na leitura? Em matéria de jornalismo, e não só de
jornalismo, o Brasil de hoje em dia está acostumado com coisa ruim.
Estamos vivendo talvez uma das épocas mais medíocres deste país.
Assim, quando surgir, no jornalismo, uma coisa boa, vai ser fácil o
povo acostumar. Se está acostumado com o que é ruim, na hora que
surgir o bom o povo vai correndo.
por
José Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Páginas de Realidade. In: Blog
Semióticas,
30 de setembro de 2011. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2011/08/paginas-de-realidade.html
(acessado
em .../.../...).
. Páginas
de Realidade: no alto, Leila Diniz
na
capa em uma entrevista que fez história,
na
edição número 61 de Realidade, publicada
em
1971. Acima, fotografia publicada em
junho
de 1968 mostra as atrizes Tônia Carrero,
Eva
Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e
Cacilda Becker na linha de frente da Passeata
dos
Cem Mil, que parou o Rio de Janeiro
em
plena ditadura militar. Organizada pelo
movimento estudantil,
a passeata desafiou
a
repressão e contou com a participação de
artistas
e intelectuais que levavam faixas
e
gritavam as palavras de ordem
Abaixo
a Ditadura. O Povo no poder
|