Sinal
dos tempos: as obras do misterioso grafiteiro Banksy, do qual ninguém
conhece a verdadeira identidade, saíram das ruas e agora ganham destaque em leilões internacionais e retrospectivas nos grandes museus da Europa. Duas das maiores mostras
já realizadas reunindo centenas de obras originais de Banksy estão
abertas ao público em museus do Reino Unido e da Itália e, a partir
de setembro, seguirão para outros países. O prestígio de Banksy no mercado internacional de arte ficou mais do que comprovado quando a tradicional casa de leilões Sotheby's, de Londres, reuniu pela primeira vez 70 peças originais do artista em junho de 2014, entre obras famosas e outras menos conhecidas, e todas foram vendidas por preços de até 840 mil dólares, ou mais de 3 milhões de reais. Uma das peças mais disputadas de Banksy foi o quadro "Vandalised Oil (Choppers)", comprado pelo cantor inglês Robbie Williams.
Os valores que as obras de Banksy têm alcançado são cada vez mais altos, mas como as vendas são realizadas sempre à revelia do artista, estes valores nem sempre são divulgados. Um dos recordes para uma única peça original de Banksy foi alcançado em um leilão em Nova York, em 2008, quando uma obra de Damien Hirst que sofreu uma intervenção de Banksy foi vendida por 970 mil libras, ou aproximadamente 5 milhões de reais. Além das principais casas de leilões de Nova York e da Sotheby's de Londres, museus mais tradicionais e importantes galerias de arte já haviam exibido antes uma ou outra obra do grafiteiro, mas agora centenas de obras originais do artista estão reunidas itinerantes em grandes exposições (veja os links para visitas virtuais no final deste artigo).
Os valores que as obras de Banksy têm alcançado são cada vez mais altos, mas como as vendas são realizadas sempre à revelia do artista, estes valores nem sempre são divulgados. Um dos recordes para uma única peça original de Banksy foi alcançado em um leilão em Nova York, em 2008, quando uma obra de Damien Hirst que sofreu uma intervenção de Banksy foi vendida por 970 mil libras, ou aproximadamente 5 milhões de reais. Além das principais casas de leilões de Nova York e da Sotheby's de Londres, museus mais tradicionais e importantes galerias de arte já haviam exibido antes uma ou outra obra do grafiteiro, mas agora centenas de obras originais do artista estão reunidas itinerantes em grandes exposições (veja os links para visitas virtuais no final deste artigo).
No
Reino Unido, a mostra foi aberta no museu municipal de Bristol,
cidade que se supõe ser a terra natal de Banksy – já que lá suas
primeiras obras surgiram grafitadas no final da década de 1980.
Todas as instalações do prédio do museu, que abriga em seu acervo
peças valiosas que vão de múmias egípcias a obras-primas de
mestres da História da Arte de vários países, ficaram fechadas
durante semanas para que Banksy, em pessoa e em total anonimato,
pudesse preparar a exposição em parceria com Kate Brindley,
diretora do Bristol City Museum. Na mostra estão obras inéditas,
produzidas por Banksy especialmente para o evento, incluindo novos grafites, esculturas e instalações completas, e uma seleção
dos trabalhos mais conhecidos do artista.
Em
Roma, a exposição retrospectiva da arte de rua de Banksy está
aberta no luxuoso Palácio Cipolla, principal espaço do Museo
Fondazione Roma, destacado no roteiro de galerias de arte e museus
porque possui no acervo de exposição permanente obras-primas de
mestres da arte na Europa como Rembrandt, Van Gogh e Velázquez,
entre outros. Com três módulos temáticos intitulados “Guerra”,
“Capitalismo” e “Liberdade”, estão reunidas no Palácio
Cipolla um total de 177 obras originais, todas muito conhecidas do
público que acompanha o trabalho do misterioso artista, entre elas
os grafites que mostram a menina com um balão em forma de coração
e aquele com um manifestante encapuzado lançando em protesto um ramo
de flores.
Corajoso,
didático, provocador
As
duas maiores retrospectivas já reunidas sobre a arte de Banksy foram
saudadas como grande acontecimento pela imprensa internacional –
com o contraponto de que a exposição na Inglaterra foi organizada
por Banksy ele mesmo, enquanto a retrospectiva do museu na Itália
não teve nem participação do artista nem sua autorização
oficial. Todas as obras da exposição em Roma pertencem a coleções
particulares e todas vêm das ruas de Londres, incluindo grafites,
estêncils com tinta aerosol, pinturas em óleo sobre tela, placas de metal e madeira, serigrafias
em materiais diversos, objetos e esculturas – tudo com certificado de
autenticidade em documentos expedidos pelo Pest Control, autoridade
de limpeza urbana e controle sanitário da capital britânica que
desde a década de 1990 remove das ruas e também autentica obras de Banksy.
Em
Roma, os curadores do Palácio Cipolla, Stefano Antonelli, Francesca
Mezzano e Acoris Andipa, anunciam na apresentação da mostra e em
entrevistas que Banksy representa hoje o que há de mais corajoso,
mais político e mais provocador na arte do novo século – elogios
que seriam impensáveis ou que poderiam soar como sacrilégio na
década de 1990, quando a Street Art em geral e a arte de Banksy em
particular soavam como contravenção e não como destaque ou
expressão legítima, celebrada e muito valorizada, da Arte
Contemporânea.
Em
entrevista ao jornal “Corriere della Sera”, o curador Stefano
Antonelli também elogia as qualidades “didáticas” das obras de
Banksy e a simplicidade apenas aparente de suas mensagens que
conseguem provocar a consciência e o senso crítico de todos os
públicos. Segundo Antonelli, Banksy traz sempre, em cada obra, um
alerta que nos faz pensar e lembrar que a guerra é algo muito
errado, que o capitalismo sem regras tem provocado grandes desastres
e que a liberdade nem sempre é respeitada como queríamos ou
havíamos imaginado.
Banksy
no Museu: acima e abaixo,
as obras
originais reunidas no Bristol
City
Museum, Inglaterra, em exposição
que foi
coordenada pelo próprio Banksy. Também abaixo, a pedra que Banksy fixou na parede do British Museum durante uma exposição de Arte Rupestre. Somente dias depois a peça foi descoberta pelos funcionários. Agora, o museu decidiu apresentar a peça de Banksy em exposição permanente. Na última imagem abaixo, um dos primeiros grafites de Banksy nas ruas de Bristol, que surgiu no final da década de 1980. Na placa que o macaco segura está a mensagem: "Pode rir agora, mas um dia estaremos no comando" |
Grafite & ação política
Elevado
à condição de celebridade internacional e contraditoriamente
conseguindo manter sua verdadeira identidade em segredo guardado a
sete chaves, na melhor tradição dos super-heróis, Banksy permanece
em ação com sua ousadia imprevisível. Na abertura da exposição
do Bristol City Museum, foi entrevistado por telefone pela BBC pela
primeira vez e fez ironias sobre sua nova condição de artista muito
valorizado no mercado e disputado por grandes museus e imponentes
galerias de arte.
Sobre
a exposição que ele mesmo organizou em Bristol, Banksy declarou na
entrevista à BBC: “Estou feliz porque esta é a primeira vez em
Bristol que não estou sendo procurado e processado por vandalismo.
Também é a primeira vez que o dinheiro dos impostos que os
contribuintes pagam está sendo usado para patrocinar a exibição de
minhas imagens e não para raspá-las das paredes.”
Na mesma semana da abertura da exposição no museu
municipal de Bristol, no começo de junho, crianças, funcionários e
pais de alunos de uma escola primária da cidade ganharam um presente
de Banksy. O novo grafite – intrigante e, como sempre,
“incendiário” – surgiu no muro da escola pública Bridge Farm
em agradecimento depois que os alunos decidiram dar o nome do
misterioso artista a um dos pavilhões. Banksy não para. As causas, e o tema dos grafites de Banksy, sempre envolvem arte e política, mesmo se às vezes a mensagem política não é de fácil percepção pela maioria, à primeira vista. É o caso da série de murais que ele criou em Londres e em Los Angeles, em 2014, sobre o tema da "guerra às drogas", uma batalha de governos de vários países que provoca muita violência e poucos resultados.
A causa dos refugiados
Há, também, os empreendimentos de fôlego que vão além dos grafites, como ocorreu em Londres,
em agosto de 2015, quando Banksy inaugurou um parque temático grandioso e chocante
chamado “Dismaland”, uma sátira à Disneylândia e, segundo ele
mesmo avisou, “inadequado para crianças”. Foi um sucesso completo de público, com lotação esgotada em todos os horários, mas em dezembro Banksy
surpreendeu de novo: retirou todas as suas obras do parque e
transformou o espaço em abrigo para refugiados.
Ao
mesmo tempo em que transformava “Dismaland” em abrigo para
refugiados e moradores de rua, Banksy criou mais dois grafites
políticos para denunciar a situação caótica do maior campo de
segregação de refugiados na Europa, situado na cidade de Calais, no noroeste da
França – que reúne mais de 4 mil pessoas vindas de países como
Síria, Iraque, Afeganistão e Marrocos, todos à espera da
oportunidade de cruzar o Canal da Mancha para entrar no Reino Unido.
Em um grafite em Calais, Banksy mostra uma imagem do fundador da
Apple, Steve Jobs, morto em 2011, carregando nas costas uma sacola de
plástico preto e, nas mãos, um computador original da Apple. A
referência é direta: Jobs é filho de um imigrante sírio que fugiu
para os EUA depois da Segunda Guerra Mundial.
Atualidades
de Banksy: acima, grafite
do artista
no muro da escola em Bristol,
em
agradecimento à homenagem que
recebeu
dos alunos; e uma das instalações
do parque
Dismaland, uma sátira de
Banksy ao
"mundo cor-de-rosa" e falso
da
Disneylândia. Abaixo, a causa dos
refugiados
na referência a Steve Jobs,
que era
filho de imigrantes da Síria;
a menina
de Os Miseráveis,
com a
bandeira
da França ao fundo, a chorar
com o gás
lacrimogêneo; e um grafite em Londres, de 2014, com o tema de enfrentamento à repressão policial que se convencionou chamar de "guerra às drogas". Também abaixo, um grafite em tom marxista de convocação pela
união
dos trabalhadores do mundo
inteiro,
na exposição em Bristol; e a
fachada
principal do museu na Inglaterra |
Um
outro grafite recente de Banksy, criado no começo de 2016, também
faz referência aos milhares de refugiados em Calais: numa parede de
esquina, a poucos metros da Embaixada da França em Londres, a imagem
grafitada evoca o romance de Victor Hugo, “Os Miseráveis”, um
clássico da Literatura Universal que denuncia a miséria na
conturbada França depois da revolução de 1789. Banksy inspirou-se
na menina do cartaz de um musical de sucesso, baseado em “Os
Miseráveis”, e desenhou a criança a chorar, sob uma nuvem de gás
lacrimogêneo, com a bandeira francesa no fundo.
Ao
lado do grafite, um código que podia ser lido por smartphones
conduzia a um vídeo do YouTube, intitulado “Os assaltos policiais
na selva de Calais, 5 e 6 de janeiro”. O vídeo, que permanece no
YouTube (ver aqui), mostra a violência de ações policiais das
autoridade francesas contra o campo de refugiados no início de 2016
– quando os milhares de refugiados, abrigados em condições
sofríveis, são atacados durante a noite com bombas de gás, canhões
de água e balas de borracha. O grafite de Banksy foi imediatamente
coberto com tapumes de madeira pelas autoridades de Londres.
por
José Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. A retrospectiva de Banksy. In: Blog
Semióticas,
31 de julho de 2016. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2016/07/a-retrospectiva-de-banksy.html
(acessado
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