Quem conduz e arrasta o mundo e os homens
não
são as máquinas, mas sim as ideias.
................................
Victor
Hugo (1802-1885). |
Uma
notícia policial trouxe “O Tico-Tico” de volta no
tempo. As duas primeiras edições da primeira revista em quadrinhos
do Brasil, publicadas em 1905, foram furtadas da Fundação
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. O crime ocorreu em 2011, mas
não foi divulgado na época para não atrapalhar as investigações. Até hoje
as revistas, extremamente raras e consideradas preciosidades do
acervo da FBN, não foram recuperadas. A suspeita da Polícia Federal
é de que o furto tenha sido ação de criminosos que se passaram por
pesquisadores na seção de periódicos da instituição e
simplesmente guardaram as duas edições da publicação em bolsas ou
casacos, saindo sem serem notados.
Marco
inicial das publicações dedicadas às crianças e fetiche confesso,
com suas páginas coloridas, na infância de uma lista interminável
de escritores e de personalidades da cultura brasileira, a revista, que o poeta Carlos
Drummond de Andrade havia definido como “a segunda vida dos meninos do
começo do século 20”, também foi notícia em 2005, ano do seu
centenário, quando “O Tico-Tico” e seus personagens reapareceram, depois de décadas
de esquecimento, em reproduções nas páginas de dois livros especialíssimos que se tornaram obras de referência.
A duas publicações, com
títulos muito parecidos, mas muito diferentes no formato e na abordagem do conteúdo, resgatam uma amostragem do trabalho
magistral de pioneiros das histórias em quadrinhos e das artes
gráficas no Brasil: “O Tico-Tico, Cem Anos de Revista” (Editora
Via Lettera) e “O Tico-Tico: Centenário da Primeira Revista em
Quadrinhos do Brasil” (Opera Graphica). Escrito pelo colecionador de quadrinhos Ezequiel de Azevedo, mineiro de Juiz de Fora e formado em Física pela Universidade de São Paulo (USP), “Cem
Anos de Revista” apresenta e analisa, em 64 páginas com ilustrações
coloridas, as galerias de imagens dos principais quadrinhos, colunas,
adivinhações, páginas para recortar e armar e personagens que
tiveram seu auge de popularidade nas primeiras décadas do século
20, antes de serem defenestrados pela invasão norte-americana do
império Disney e dos super-heróis da Marvel.
Entre estes personagens que passaram de sucesso no imaginário nacional ao
mais completo esquecimento, um dos destaques é o loiro Chiquinho, sucesso absoluto
de popularidade em histórias inéditas publicadas até o fim das edições semanais, em 1957. Principal
chamariz desde o primeiro número de “O Tico-Tico”, Chiquinho
ainda viveria a maior polêmica na trajetória da revista. Depois de
décadas ficaria provado que o Chiquinho, tão brasileirinho, era na
verdade um decalque, copiado por Luís Gomes Loureiro e outros desenhistas, a partir das histórias de um outro
personagem criado pelo norte-americano Richard Fenton Outcault (1863-1928).
As histórias inéditas terminaram em 1957, mas Chiquinho ainda retornaria com algum sucesso nas décadas seguintes, nas compilações do "Almanaque O Tico-Tico". Chiquinho, conforme destaca Ezequiel de Azevedo, tem comprovadamente sua matriz
original em “Buster Brown” (1902), do mesmo Outcault que passou à
história como criador de “Yellow Kid” (1895), que rivaliza na disputa pelo título de primeiro personagem de histórias em quadrinhos com o "Nhô-Quim", criado no Brasil em 1869 pelo italiano naturalizado
brasileiro Angelo Agostini (1843-1906). O argumento dos defensores de "Yellow Kid" é que ele foi o primeiro personagem com histórias narradas com o texto em balões, enquanto o "Nhô-Quim" de Agostini trazia o texto em legendas abaixo de cada quadro das ilustrações.
A polêmica sobre a "adaptação" do personagem de Outcault nas páginas de "O Tico-Tico", aponta Azevedo, só veio à tona depois da Segunda Guerra. Mas o argumento é indefensável: Chiquinho, seu cãozinho Jagunço e a garota Lili têm, no traço dos personagens e nas tramas das aventuras, as mesmas características dos personagens criados por Outcault, batizados pelo autor como Buster Brown, Tige e Mary-Jane. Acontece que o Buster original parou de ser publicado em 1910, enquanto Chiquinho sobreviveu bravamente até dezembro de 1957, recriado em aventuras inéditas pela criatividade dos artistas nacionais de “O Tico-Tico”.
A polêmica sobre a "adaptação" do personagem de Outcault nas páginas de "O Tico-Tico", aponta Azevedo, só veio à tona depois da Segunda Guerra. Mas o argumento é indefensável: Chiquinho, seu cãozinho Jagunço e a garota Lili têm, no traço dos personagens e nas tramas das aventuras, as mesmas características dos personagens criados por Outcault, batizados pelo autor como Buster Brown, Tige e Mary-Jane. Acontece que o Buster original parou de ser publicado em 1910, enquanto Chiquinho sobreviveu bravamente até dezembro de 1957, recriado em aventuras inéditas pela criatividade dos artistas nacionais de “O Tico-Tico”.
Celebridades de outras épocas
Tanto “O Tico-Tico, Cem Anos de Revista” como “O
Tico-Tico: Centenário da Primeira Revista em Quadrinhos do Brasil”,
apresentam a revista às novas gerações e descrevem o sucesso
imediato de personagens originais do Brasil, como Zé Macaco e
Faustina, Kaximbown, Jujuba, Carrapicho, a crioulinha Lamparina e o
trio Reco-Reco, Bolão e Azeitona, entre muitos outros. “O Tico-Tico” também foi uma
publicação pioneira ao apresentar celebridades estrangeiras que
nasceram no começo do século 20 – todas com nomes abrasileirados
pela revista, caso de, entre outros, Little Nemo (“O Pequeno
Nemo”), Popeye (“Brocoió”), Mickey Mouse (“Ratinho Curioso”)
e Felix The Cat (“Gato Maluco”).
O principal destaque do livro de Azevedo são as ilustrações
coloridas e os perfis de colaboradores que marcaram época na
revista, entre eles artistas magistrais como Angelo Agostini. Coube a Agostini a honraria de
ser um dos principais pioneiros dos quadrinhos no Brasil e no mundo.
Seus trabalhos gráficos, que misturavam desenhos e pequenos textos,
surgiram ainda nas últimas décadas do século 19 e teriam um marco
com “As aventuras de Nhô-Quim”, publicadas entre 1869 e 1883.
Nhô-Quim
estreou na historinha ilustrada “Impressões de uma viagem à
Corte”, cujo primeiro capítulo foi publicado na revista “Vida
Fluminense”, em 30 de janeiro de 1869, apresentando o personagem
caipira que se muda para a cidade do Rio de Janeiro e que fica
chocado com as novidades da civilização urbana. Com o sucesso de "Nhô-Quim", no mesmo ano seria publicada a
primeira ilustração apresentando um outro personagem lendário criado por
Agostini: o aventureiro Zé Caipora.
A importância da obra de Agostini é tão grande que, para alguns pesquisadores, Nhô-Quim e Zé Caipora foram o ponto de origem para a criação da revista “O Tico-Tico”. Nhô-Quim também passou a ser o símbolo dos quadrinhos no Brasil e comprova a surpreendente atualidade do trabalho de Agostini, que ainda tem outros méritos de pioneirismo: além de Nhô-Quim rivalizar com Yellow Kid e outros heróis estrangeiros na disputa pelo posto de primeiro dos personagens dos quadrinhos, muitos especialistas defendem que também foi ele o inventor da revista de quadrinhos, pois, em 1886, relançou as aventuras de Zé Caipora em fascículos individuais, encadernados com seis capítulos cada.
Agostini, primeiro entre seus pares
Um gênio da arte da ilustração: Angelo Agostini, pioneiro na criação de personagens e de ousadias gráficas |
A importância da obra de Agostini é tão grande que, para alguns pesquisadores, Nhô-Quim e Zé Caipora foram o ponto de origem para a criação da revista “O Tico-Tico”. Nhô-Quim também passou a ser o símbolo dos quadrinhos no Brasil e comprova a surpreendente atualidade do trabalho de Agostini, que ainda tem outros méritos de pioneirismo: além de Nhô-Quim rivalizar com Yellow Kid e outros heróis estrangeiros na disputa pelo posto de primeiro dos personagens dos quadrinhos, muitos especialistas defendem que também foi ele o inventor da revista de quadrinhos, pois, em 1886, relançou as aventuras de Zé Caipora em fascículos individuais, encadernados com seis capítulos cada.
Agostini, primeiro entre seus pares
Zé
Caipora também consta em outra disputa como o primeiro dos heróis de aventura dos quadrinhos, décadas antes de personagens lendários como "Little Nemo" (1905), Tarzan (1912), Zorro (1920), Jim das Selvas e Flash Gordon (1934), Batman (1939) e super-heróis como Superman (1938), Capitão América e Mulher Maravilha (1941), entre outros. A lista de marcos pioneiros na trajetória de Agostini traz ainda a amada de Zé Caipora, a índia chamada Inaiá, primeira heroína do Brasil e do mundo
com conotações eróticas.
Agostini foi homenageado no ano 2000, com a publicação de um catálogo ilustrado pelo Senado Federal. “Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora: os primeiros quadrinhos brasileiros 1869-1883”, organizado pelo jornalista e pesquisador Athos Eichler Cardoso, traz na íntegra as histórias dos personagens criados por Angelo Agostini, reunindo o que foi publicado nas revistas “Vida Fluminense”, “O Malho” e “Don Quixote”.
Agostini foi homenageado no ano 2000, com a publicação de um catálogo ilustrado pelo Senado Federal. “Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora: os primeiros quadrinhos brasileiros 1869-1883”, organizado pelo jornalista e pesquisador Athos Eichler Cardoso, traz na íntegra as histórias dos personagens criados por Angelo Agostini, reunindo o que foi publicado nas revistas “Vida Fluminense”, “O Malho” e “Don Quixote”.
Por conta da estreia de Nhô-Quim, o dia 30 de janeiro
foi escolhido como data comemorativa das HQs nacionais. Agostini,
sempre atuante na florescente imprensa brasileira, abraçou o
projeto e foi um dos mais ativos mentores da novidade da primeira
revista em quadrinhos: criou o projeto gráfico e o logotipo de “O
Tico-Tico”, além de desenhar as primeiras capas, muitas das
ilustrações e algumas histórias completas, como “História do
Macaco”, “Chico Caçador” e “A História do Pai João”.
J. Carlos, meu amor, e outras tiras
J. Carlos, meu amor, e outras tiras
Além da presença fundamental de Agostini, o livro de
Azevedo também chama atenção para outros nomes da equipe de “O
Tico-Tico” que estiveram entre os principais artistas
nacionais do século passado, caso do carioca J. Carlos, na verdade
José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), considerado nosso maior
caricaturista e também ilustrador, designer gráfico, escultor, escritor, letrista de samba, autor de teatro de revista, inventor das melindrosas e de muitas capas, páginas e personagens de
sucesso em “O Tico-Tico”.
À frente da revista com Agostini desde o primeiro número, J. Carlos foi um de seus principais ilustradores, criando e publicando a série “O talento de Juquinha” e diversos personagens de tiras e histórias completas, entre eles Jujuba e seu pai, Carrapicho, e a impagável negrinha Lamparina, que é considerada sua maior criação nas HQs. Além de Agostini e J. Carlos na linha de frente, também são surpreendentes as criações originais de Luiz Sá, Max Yantok, Alfredo e Oswaldo Storni, Leônidas Freire, Lino Borges, Theo e muitos outros.
À frente da revista com Agostini desde o primeiro número, J. Carlos foi um de seus principais ilustradores, criando e publicando a série “O talento de Juquinha” e diversos personagens de tiras e histórias completas, entre eles Jujuba e seu pai, Carrapicho, e a impagável negrinha Lamparina, que é considerada sua maior criação nas HQs. Além de Agostini e J. Carlos na linha de frente, também são surpreendentes as criações originais de Luiz Sá, Max Yantok, Alfredo e Oswaldo Storni, Leônidas Freire, Lino Borges, Theo e muitos outros.
Os saudosistas mais exigentes, entre os colecionadores e pesquisadores, por certo vão preferir a edição de luxo “O Tico-Tico 100 Anos – Centenário da Primeira Revista de Quadrinhos do Brasil”, organizada pelos professores universitários Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos. O álbum conta com colaboração de especialistas como Álvaro de Moya, Antônio Luiz Cagnin, Diamantino Silva, Sérgio Augusto, Franco de Rosa, Sônia Buyten e Marco Aurélio Lucchetti, que assinam capítulos analíticos e reproduzem depoimentos de grandes nomes da literatura e da imprensa que acompanharam as edições semanais e os famosos “Almanaques Tico-Tico”.
Trajetória no século 20
O livro de Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio alerta sobre a fragilidade de nossa memória cultural e destaca que a pioneira entre as revistas em quadrinhos nacionais
também é citada em muitos poemas, crônicas, contos e romances, contando
entre seus leitores os nomes de ilustres escritores como Carlos Drummond de
Andrade e toda a geração dos modernistas, mais Rui Barbosa, Érico
Veríssimo, Lygia Fagundes Telles, o sociólogo Gilberto Freyre, o folclorista Luiz Câmara Cascudo, o bibliófilo José Mindlin e
centenas de outros, incluindo ainda expoentes da literatura infantil,
dos cartuns e do grafite, numa lista extensa de fãs que tem, entre
outros, de Ruth Rocha a Jaguar e Ziraldo, de Maurício de Souza a Millôr Fernandes e Henfil.
Além de ilustrações primorosas, “O Tico-Tico, Cem Anos de Revista” traz um brinde simplesmente irresistível para os fãs de HQ:
um encarte em fac-símile com a reprodução completa e colorida da
raríssima primeira edição da revista, fundada no Rio de Janeiro
pelo grupo editorial que também editava “O Malho” (lançada em
1902), sob comando do jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva
(1866-1932). Sobre o nome da revista há duas versões: seria uma
referência ao passarinho típico do Brasil ou ainda uma alusão às
escolas Tico-Tico, que apareceram no final do século 19 com a
novidade de receber crianças pequenas para alfabetização.
A primeira edição de “O Tico-Tico” é uma história à parte: por erro de impressão, o dia 11 de outubro de 1905, data de lançamento da revista, foi grafado como quinta, e não como quarta-feira. A nova revista – alertam os estudos de Ezequiel de Azevedo, Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos – foi um sucesso imediato pelo ineditismo e pelas qualidades artísticas de seus colaboradores, mas também graças à logística do grupo “O Malho” e sua equipe de profissionais, incluindo parque gráfico e estrutura de distribuição.
Revistinha
de vovô: a estreia dos heróis
estrangeiros
em O Tico-Tico começa
com Felix
The Cat, rebatizado como
"Gato
Maluco", e Mickey Mouse, que foi
apresentado
como "Ratinho Curioso" |
Disney e super-heróis: ameaça fulminante
Uma curiosidade: esgotado no lançamento, o primeiro número da revista rendeu um lucro que não estava previsto pelos editores, tanto que teve sucessivas reimpressões nos meses seguintes. As novas edições de “O Tico-Tico”, semanais a partir do início de 1906, atingiriam a impressionante tiragem inicial de 30 mil exemplares, chegando muitas vezes em sua trajetória ao número de 100 mil exemplares vendidos, sem contar reimpressões de exemplares antigos e reedições em formato almanaque – um sucesso que poucas vezes iria se repetir na trajetória de outras publicações, mesmo considerando as tiragens e vendagens da atualidade.
Uma curiosidade: esgotado no lançamento, o primeiro número da revista rendeu um lucro que não estava previsto pelos editores, tanto que teve sucessivas reimpressões nos meses seguintes. As novas edições de “O Tico-Tico”, semanais a partir do início de 1906, atingiriam a impressionante tiragem inicial de 30 mil exemplares, chegando muitas vezes em sua trajetória ao número de 100 mil exemplares vendidos, sem contar reimpressões de exemplares antigos e reedições em formato almanaque – um sucesso que poucas vezes iria se repetir na trajetória de outras publicações, mesmo considerando as tiragens e vendagens da atualidade.
“O Tico-Tico”, que custava 200 Réis, trazia o
atrativo de colunas fixas e personagens variados em quatro páginas
coloridas e quatro páginas impressas em vermelho, verde e azul. A
partir da Segunda Guerra, a chegada dos super-heróis
norte-americanos em novas revistas e formatos avançaria como uma
ameaça para o sucesso das edições ingênuas de “O Tico-Tico”.
O último número semanal saiu em 1957, seguido do lançamento de uma
ou outra edição especial, até o final definitivo da revista, em
1977.
Sem nenhum rival
à altura, “O Tico-Tico” seguiria rentável e imbatível até o final da década de 1930, quando outros jornais e revistas
começaram a investir em seções infantis e passaram a importar os
quadrinhos produzidos em escala industrial nos Estados Unidos. O
humor, a novidade dos quadrinhos, o tom brasileiro de personagens e
os joguinhos para preencher ou recortar estavam entre os trunfos
principais da revista, mas havia também as atividades de caráter
didático, que ajudaram a dar prestígio à revista e garantir seu
reconhecimento e importância no meio intelectual.
Já a partir do número 3 começaram a ser narrados em "O Tico-Tico", em forma de quadrinhos, fatos da história do Brasil como “O Descobrimento”, de Leônidas Freire, com ilustrações e legendas, como era comum aos quadrinhos da época. Leônidas também foi o autor de uma série que marcou época, “História Ilustrada – Páginas Relembradas”, publicada em 1910, que abordava o regime de escravidão que vigorou até o final do século 19.
Diversão & educação: fronteiras
Outro trabalho importante na trajetória da revista, pelo que apresentava de inovação em questões pedagógicas, é apontado por Roberto Elísio: trata-se da série em quadrinhos “A vida de Floriano Peixoto”, com texto de A. Plessen e ilustrações de Cícero Valladares. Sobre o caráter didático da revista, há também o depoimento saboroso do poeta Drummond, que em carta a Álvaro de Moya confessa a saudosa lembrança que sentia da revista que o ajudou a aprender a ler e a ver figuras, no lendário ano de 1910.
Segundo
Drummond, a primeira reminiscência literária que o sensibilizou não
foi de um texto de literatura em verso e prosa, mas legendas e
quadrinhos de um personagem de romance – uma versão infantil de
“Robinson
Crusoé”,
de Daniel Defoe (1660–1731), que saiu na revista “O
Tico-Tico”.
A ilha e o náufrago, em "Infância", segundo poema do livro de estreia de Drummond
(“Primeira Poesia”, 1930), fornecem um contraponto marcante à oscilação
entre reminiscências da infância e isolamento existencial, temas dos mais frequentes na obra de Drummond.
O poeta, mineiro de Itabira, também declarou que devia a Robinson Crusoé sua primeira emoção literária,
pois quando este “conseguiu se mandar da ilha”, o menino Carlito
sentiu um nó na garganta, uma emoção produzida por uma personagem
literária, um mito. Queria que o herói continuasse lá, solitário
e dominador, mas não era bem a solidão da ilha que o encantava e
sim a sugestão poética. Para Drummond, menino antigo, “O Tico-Tico” revelou a
literatura.
por
José Antônio Orlando.
Como citar:
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Como citar:
ORLANDO,
José Antônio. Revistinha de vovô. In: Blog
Semióticas,
13 de setembro de 2012. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2012/09/revistinha-de-vovo.html
(acessado em .../.../…).
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Veja também:
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No
meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá
longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
no mato sem fim da fazenda.
E
eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
(Publicado
em “Alguma Poesia”, de 1930, livro de
estreia
do poeta Carlos Drummond de Andrade)