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11 de outubro de 2021

Um novo Superman

 





Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo

que deve ser superado. Que fizestes para superá-lo?

................ Friedrich Nietzsche, “Assim Falou Zaratustra” (1883).


As histórias de super-heróis são uma criação do século 20, mas personagens com poderes extraordinários têm uma longa tradição desde as mitologias da Antiguidade Clássica. No século 20, o primeiro da lista é Superman, criação da década de 1930 de dois estudantes de Cleveland, Ohio (EUA): o norte-americano Jerome Siegel, mais conhecido pelo apelido Jerry Siegel, e seu amigo canadense Joseph “Joe” Shuster. Superman foi criado e recriado diversas vezes pela dupla a partir de 1933, em publicações de pequenas tiragens que investiam no gênero da ficção científica, até estrear para o grande público em 1938, com o lançamento da revista em quadrinhos “Action Comics”. O sucesso foi tão grande que a revista alcançou rapidamente tiragens superiores a 500 mil exemplares e, no ano seguinte, o personagem ganharia uma revista exclusiva com o nome “Superman”.

Desde a estreia, Superman passou por várias transformações, mas mantendo sua identidade secreta disfarçado como Clark Kent, um tímido jornalista, ganhando novos superpoderes e até desenvolvendo a capacidade de voar, em 1941, para apoiar as tropas dos Aliados na luta contra o Eixo de nazistas e fascistas durante a Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra começaram suas primeiras versões em filmes curtos para cinema e depois para a TV, aumentando a popularidade e o alcance do personagem alienígena – sim, alienígena, porque ele nasceu no fictício planeta Krypton, mas está sempre em ação para combater vilões e bandidos e salvar a espécie humana e o planeta Terra. A mudança mais recente e mais radical nesta trajetória agora foi lançada pela DC Comics com um novo Superman: Jonathan Kent, filho de Clark Kent e da jornalista Lois Lane, um ativista do meio ambiente que discute política e tem um relacionamento amoroso com um amigo.






Um novo Superman: no alto, Jonathan Kent, o filho
de Clark Kent e Lois Lane, dá um beijo inesperado
em seu amigo jornalista, Jay Nakamura. Acima, a capa
original da primeira edição da revista "Action Comics",
que marca a primeira aparição do Superman, em 1938.

Abaixo, a mais antiga imagem do Superman, em uma
história criada para uma revista de ficção científica
da qual resta apenas uma página, que é a capa.
Também abaixo, uma página de "Superman: Son
of Kal-El"
, lançamento da DC Comics com uma
atualização do super-herói que agora combate
incêndios florestais causados pelas mudanças
climáticas, impede tiroteios em escolas de
ensino médio e protesta contra a deportação
de refugiados em Metrópolis










Como era de se esperar, a mudança, apresentada pela DC Comics com o lançamento de “O Filho de Kal-El” (“Son of Kal-El”), foi recebida com muitos elogios e algumas críticas furiosas. As críticas, como sempre, vêm dos conservadores, dos fundamentalistas que usam a religião como plataforma para interesses políticos e dos fãs saudosistas que se sentem traídos com a atualização do personagem para os novos tempos. Contudo, a salvação do planeta e as questões políticas fazem parte do enredo das histórias do Superman desde sempre, motivo pelo qual as críticas recaem mesmo é na orientação sexual do novo personagem. No site oficial da DC Comics, Tom Taylor e John Timms, roteirista e desenhista da nova série, explicam que é uma questão natural a opção sexual do novo Superman – que desde a estreia é um ativista do meio ambiente que discute questões de política e combate incêndios florestais causados pelas mudanças climáticas, impede tiroteios em escolas do ensino médio e protesta contra a deportação de refugiados em Metrópolis.


Símbolo de esperança e justiça


“A ideia de substituir Clark Kent por outro salvador, outro homem branco, parecia uma oportunidade perdida, porque desde o início pensávamos que o novo Superman merecia enfrentar novos problemas do mundo real”, escreveu Tom Taylor no site oficial da DC Comics. “Eu sempre disse que todo mundo precisa de heróis e todo mundo merece ver a si mesmo em seus heróis. O símbolo do Superman sempre representou esperança, verdade e justiça. Hoje, este símbolo é mais plural porque mais pessoas são representadas pelo super-herói mais poderoso dos quadrinhos”, concluiu. Assim como seu pai Clark Kent se envolveu com Lois Lane, repórter do seu local de trabalho, a redação do jornal “Planeta Diário”, o jovem Jonathan, chamado de Jon Kent, herdou os superpoderes paternos e também se apaixona por um repórter, Jay Nakamura. O primeiro beijo entre o novo Superman e seu melhor amigo não demorou a acontecer.






Um novo Superman: acima, página de
"Superman: Son of Kal-El" em que
Jonathan Kent leva o amigo Jay para
conhecer sua casa e seus pais, Lois Lane
e Clark Kent. Abaixo, os quadrinhos com
as declarações amorosas entre os amigos
 













Superman: Filho de Kal-El” provocou a maior repercussão sobre o personagem em muitos anos. Nem mesmo os filmes recentes do Homem de Aço tiveram tantos comentários, postagens e engajamentos de amor ou de ódio nas redes sociais. Mas não foi sua primeira renovação. Desde sua criação, Superman vive de ressurgimentos e de períodos de ostracismo na cultura das mídias, apesar de nunca ter perdido seu papel de protagonista da cultura pop. Entre as superproduções que adaptaram o personagem das histórias em quadrinhos estão a primeira série de TV, “As aventuras de Superman”, precedida pelo filme de sucesso “Superman and the Mole Man” (no Brasil, “Super-Homem contra o Homem Topeira”). A série, com George Reeves no papel-título, estreou em 1952 e foi produzida até 1958. Foi a primeira versão, mas não foi a mais marcante. A versão mais celebrada, e por muito tempo considerada como versão definitiva do Superman estrearia nos cinemas em 1978: "Superman – O filme”, com direção de Richard Donner e com Christopher Reeve no papel principal.

O Superman com Christopher Reeve foi um raro sucesso de público e crítica, conquistando Oscars (melhor montagem, melhor edição, melhor mixagem de som) e reunindo um elenco de estrelas: Marlon Brando como Jor-El, Gene Hackman como Lex Luthor e Margot Kidder como Lois Lane, entre outros. O sucesso do filme renderia mais três sequências nos anos seguintes, mas nenhuma delas alcançou os resultados do primeiro filme. O personagem retornaria em seguida com duas novas séries de TV: em 1993, estreava “Lois & Clark, As novas aventuras do Superman”, com Teri Hatcher e Dean Cain; e em 2001, “Smallville”, que teve 10 temporadas até 2011, com Tom Welling no papel do jovem Superman em suas aventuras na cidade do interior do Kansas. Em 2006 haveria um novo filme, “Superman Returns”, com direção de Brian Singer, Brandon Rouch como Superman, Kate Bosworth como Lois Lane e Kevin Spacey como Lex Luthor.









Um novo Superman: acima, Christopher Reeve, astro da
performance de 1978 no cinema, sucesso de público e de
crítica; e Henry Cavill, a nova identidade visual do herói.

Abaixo, James Cain e Teri Hatcher na série de TV
"Lois & Clark"; e o casal Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch
na nova série, "Superman & Lois", estreia de 2021











O capítulo seguinte de Superman no cinema foi com Henry Cavill como protagonista, com produção da Warner para o universo DC Comics. O primeiro filme foi “Homem de Aço”, em 2013, com direção de Zack Snyder. Depois vieram “Batman e Superman, A origem da Justiça”, em 2016, e “Liga da Justiça”, em 2017, ambos com Zack Snyder na direção. Superman teve ainda pequenas aparições em outros filmes de super-heróis da DC Comics, antes de ganhar uma nova série de TV em 2021, com produção da Warner e prevista para durar três temporadas, cada uma com 15 episódios: “Superman & Lois”, com Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch. Na série, Clark Kent e Lois Lane deixam Metrópolis para tentar viver como pessoas comuns em Smalville com os dois filhos adolescentes, os gêmeos Jordan e Jonathan (Alexander Garfin e Jordan Elsass). Mas o clima de paz e tranquilidade em Smallville dura pouco e Superman novamente é convocado para salvar o planeta.


Mudanças de enredo


Superman não é o único personagem dos quadrinhos tradicionais a passar por mudanças de enredo e de sexualidade. Também pela DC Comics, empresa que desde a década de 1930 vem se mantendo como grande conglomerado de editoras e de direitos autorais de diversos personagens (a sigla “DC” é uma referência à primeira editora de Superman, a “Detective Comics”), estão acontecendo transformações no universo de Batman, que já havia sido recriado nos anos 1980 no “Cavaleiro das Trevas” de Frank Miller. Talvez o segundo super-herói mais popular entre todos, rivalizando com Superman, o primeiro, desde que foi criado em 1939 por Bill Finger e Bob Kane para a revista “Detective Comics”, Batman tem a diferença de não contar com superpoderes, mas carrega desde a origem a atitude de ter sempre com ele um ajudante adolescente, o que já gerou muita controvérsia.

Batman também tem uma trajetória de muitas mudanças. A mais recente, também tentando se aproximar da diversidade das minorias e das questões sociais mais urgentes, traz o novo ajudante de Batman, Tim Drake, também declarando sentimentos românticos e eróticos por um amigo. Tim Drake é o terceiro Robin com maior importância depois do primeiro, Dick Grayson, que ficou mais de quatro décadas ao lado de Batman, desde que surgiu em 1940. Antes de Tim Drake, houve outros adolescentes atuando como Robin, o Garoto Prodígio, mas com pouca importância e sempre substituídos em diversas ocasiões. O principal, depois de Dick Grayson, se chamava Jason Todd, mas assim como Grayson ele também ficou adulto e abandonou o milionário Bruce Wayne (a identidade secreta de Batman) para seguir trajetória como herói independente: Dick Grayson assumiu a identidade de Asa Noturna; Jason Todd ressurgiu como Capuz Vermelho.







Um novo Superman: acima, uma redefinição
do universo da DC Comics com o lançamento
de "Crise Final", reunindo na mesma história
Superman e Batman. Abaixo, o cartaz do
filme "Batman v Superman", lançado em 2016,
com direção de Zack Snyder e Ben Affleck no
papel de Batman e Henry Cavill como Superman.
Também abaixo, a dupla Burt Ward e Adam West
na série de TV "Batman e Robin", lançada em 1966

 









Popularidade contra preconceitos


Nesses novos tempos, há também novas mudanças em curso para atualização dos temas dos enredos e da sexualidade de outros personagens do universo de super-heróis, tanto na DC Comics como em sua concorrente Marvel Comics, que detém os direitos sobre outra imensa galeria que inclui Homem-Aranha, Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Thor, Viúva Negra e X-Men, entre muitos outros. No final das contas, as novidades sempre trazem maior popularidade para todos os envolvidos, ampliam as vendas em diversas mídias e, também, ajudam a quebrar preconceitos. No universo dos super-heróis, estes novos tempos chegam com décadas de atraso, desde o jogo duro da censura e da autocensura que surgiu na década de 1950, ao mesmo tempo em que começou a censura política criada pelo Macarthismo – os tribunais instalados nos EUA para a repressão política aos comunistas. Na onda do Macarthismo, os temas políticos e a sexualidade dos super-heróis também passaram a ser omitidos ou ostensivamente proibidos.

Ainda na década de 1950, houve o caso célebre e muito influente do livro “Seduction of the Innocent”, lançado em 1954 pelo psiquiatra Fredric Wertham, que levantou acusações e preocupações moralistas sobre sexo e violência nas histórias em quadrinhos, especialmente com os super-heróis, sugerindo uma ligação direta de causa e consequência entre a leitura de quadrinhos e a delinquência juvenil. Um dos capítulos do livro de Wertham descrevia a saga de Batman e Robin como “um sonho de desejo sexual de dois homossexais vivendo juntos e compartilhando experiências”. Em outro capítulo, a força e a independência da Mulher Maravilha a caracterizavam como lésbica. A imensa repercussão do livro levou à criação de audiências judiciais e comissões parlamentares de investigação pelo Congresso dos EUA e teve como resultado a criação de um código de censura, o Comics Code Authority (Código dos Quadrinhos), que definiu padrões sobre o que as histórias em quadrinhos podiam ou não representar.







Um novo Superman: acima, a capa da
primeira edição de "Son of Kal-El", lançamento
de 2021. Abaixo, dois momentos radicais na
trajetória do super-herói: o casamento com
Lois Lane, em 1996, e a primeira aparição
de Jonathan Kent, o filho e herdeiro dos
superpoderes de Clark Kent, em 2015.

Também abaixo, a capa e duas páginas
do livro de 1954 de Fredric Wertham
que influenciou na criação dos códigos
de censura às histórias em quadrinhos;
e as páginas com o beijo dos super-heróis
da Marvel que o prefeito do Rio de Janeiro,
ligado à seita neopentecostal de Edir Macedo,
tentou censurar na Bienal do Livro de 2019.
No final da página, uma retrospectiva da
evolução do Superman desde a primeira
edição de 1938 e uma vista da cidade
fictícia de Metrópolis como ela surgiu
no início da década de 1950









          



 

Códigos de Censura


O Código dos Quadrinhos modificou o conteúdo das revistas, transformando a sexualidade em tema tabu, modificando as tramas e a psicologia de vários personagens e alterando até mesmo as cores e as palavras apresentadas. As revistas que adotavam o código passavam a trazer um selo de identificação na capa e algumas publicações foram banidas do mercado porque recusavam as restrições. O código influenciou a criação de modelos de censura semelhantes em vários países, inclusive no Brasil, que depois da instalação da ditadura militar em 1964 teve a criação de um “Código de Ética” pelas quatro principais editoras: Abril, Rio Gráfica Editora (sigla RGE), Editora Brasil América Limitada (sigla EBAL) e O Cruzeiro (Diários Associados de Assis Chateaubriand). As editoras instituíram um selo similar ao norte-americano que indicava “aprovado pelo Código de Ética” e era estampado na capa das revistas. O selo teve vigência no Brasil até a redemocratização na década de 1980.

Os beijos entre personagens de mesmo sexo nas histórias em quadrinhos também tiveram um episódio revelador com destaque na imprensa em setembro de 2019, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Na época, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que é “bispo” da seita neopentecostal Universal do Reino de Deus, criada por seu tio, Edir Macedo, usou o cargo para mandar recolher o álbum gráfico “Vingadores, a cruzada das crianças”, publicação da Editora Salvat, porque na opinião dele o livro tinha “conteúdo inadequado” e “impróprio para menores”. A atitude autoritária do bispo-prefeito, no entanto, não encontrou respaldo jurídico e a proibição terminou não sendo cumprida. A história criada por Allan Heinberg e Jim Cheng, que faz parte do universo da Marvel Comics, abordava a equipe dos Jovens Vingadores e destacava dois personagens masculinos, Wiccano e Hulkling, que na época eram namorados e que se casaram na edição de agosto de 2020.












Um herói mitológico


Um novo Superman que tem um relacionamento amoroso com o melhor amigo, contudo, é algo inédito e muito surpreendente, mesmo para os padrões menos conservadores. Afinal, não se trata de um herói pouco conhecido ou de figuras caricatas que somente têm fãs em grupos específicos e restritos. Trata-se do primeiro super-herói, o mais popular e mais poderoso entre todos. A novidade surge como algo que ninguém poderia prever na linha do tempo original do Superman – que teve início na década de 1930, quando ele chega à Terra ainda bebê e é adotado por um casal de fazendeiros que não teve filhos. Depois ele cresce descobrindo seus poderes, frequenta a escola como se fosse um ser humano comum e, ao se tornar adulto, vai trabalhar como jornalista na cidade grande, onde, escondido em sua identidade secreta, conhece seu grande amor Lois Lane.

Houve muitas mudanças nas características do personagem e no contexto em que ele é apresentado, em quase 100 anos, ao mesmo tempo em que houve poucas alterações em sua vida íntima e pessoal. A existência e o sentido da existência de Superman foram tema de muitos estudos teóricos e filosóficos, com destaque para as abordagens de Coulton Waugh (“The Comics”, 1947), Mircea Eliade (“Mito e Realidade”, 1963), Umberto Eco (“O Mito do Superman”, 1963) e Glen Weldon (“Superman: Uma biografia não autorizada", 2013), que discutem sua presença na indústria cultural como versão moderna dos heróis mitológicos ou folclóricos. A primeira grande metamorfose aconteceu em 1996, quando ele se casou com Lois Lane. A segunda, na passagem de 2015 para 2016, com a apresentação de Jonathan Kent como filho e herdeiro dos superpoderes de Clark Kent e o incentivo para que o filho se tornasse o novo Superman. Embora Jon Kent não seja o primeiro herói LGBTQ, e com certeza não será o último, sua presença é um sinal importante das grandes mudanças, nos quadrinhos e fora deles, que ainda estão para acontecer.


por José Antônio Orlando.


Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Um novo Superman. In: Blog Semióticas, 11 de outubro de 2021. Disponível no link https://semioticas1.blogspot.com/2021/10/um-novo-superman.html  (acessado em .../.../…).


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5 de fevereiro de 2019

O pintor Jack Kerouac







E foi exatamente assim que toda minha experiência na
estrada de fato começou, e as coisas que estavam por
vir são fantásticas demais para não serem contadas.

––  Jack Kerouac, “On the Road” (1957).   


O principal avatar da Geração Beat, que desafiou as convenções morais e sociais mais conservadoras do american way of life” com um coquetel de álcool, sexo, poesia, jazz e alucinógenos para uma alternativa menos materialista e mais espiritualizada de enfrentar a vida, volta ao destaque mais de 50 anos depois de sua morte –– não apenas pela literatura que o consagrou, mas também por um de seus talentos incomuns que poucos conheceram quando ele estava vivo: Jack Kerouac, autor de pinturas, desenhos e ilustrações em técnica mista. Uma seleção com 80 de suas obras originais, em vários formatos e materiais, na maioria inéditas, foi reunida para uma exposição apresentada pela primeira vez em um prestigiado espaço de arte na Itália, o Museo MAGA d'Arte Moderna de Gallarate na Lombardia, próximo a Milão, região onde o escritor viveu por um período em meados dos anos 1960, e agora surge publicada no catálogo “Kerouac: Beat Painting”, lançamento da casa editorial Skira com textos e organização pelos curadores do museu italiano Sandrina Bandera, Alessandro Castiglioni e Emma Zanella.

A força da arte de Kerouac, para além de sua literatura, já encontrou transposições para o cinema, para a música, para as artes cênicas e para histórias em quadrinhos, mas seu caráter de composição visual feita pelo próprio autor é a última faceta a ser revelada ao público. Basta alguma observação atenta sobre as imagens produzidas pelo Kerouac pintor e desenhista para perceber que ele transportou para as artes plásticas muito da composição sofisticada, experimental, surpreendente, sedutora, que ele imprimiu à criação literária em seus romances em prosa poética, contos, novelas, diários, relatos confessionais, correspondências, livros de poema e haikai. Descrito por biógrafos como um de seus principais interesses e talentos, o acervo de artes plásticas que Kerouac produziu, e que por diversos motivos não divulgou, ficaria restrito a seus herdeiros indiretos e permaneceu inédito e escondido em caixas, armários e gavetas até recentemente nos Estados Unidos na sua cidade natal, Lowell, em Massachusetts.






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O pintor Jack Kerouac: no alto, em Nova York,
1958, fotografado por Jerry Yulsman. Acima,
em foto do documento de identidade em 1943 e
fotografado no estúdio de Tom Palumbo em 1956.

Abaixo, a capa do catálogo Kerouac: Beat Painting
e Kerouac em Nova York, em 1957, com a namorada
Joyce Johnson, fotografados por Jerry Yulsman



















Antes da exposição mais abrangente apresentada no museu italiano e agora com a maior parte do acervo editado em catálogo pela Skira, as pinturas e desenhos de Kerouac apareceram reunidas pela primeira vez em 2004, em “Departed Angels: Jack Kerouac, the lost paintings” (Anjos que partiram: Jack Kerouac, as pinturas perdidas), um catálogo de 200 páginas organizado por Ed Adler e publicado pela Da Capo Press, editora de Boston, Massachusetts. Outras pinturas e desenhos também foram divulgados de forma pontual em fragmentos e amostras que ilustram algumas de suas obras literárias e também como parte integrante em três grandes mostras retrospectivas sobre a arte e a literatura da Geração Beat apresentadas na última década nos Estados Unidos (pelo Whitney Museum em Nova York), na França (pelo Centro Pompidou em Paris) e na Alemanha (pelo Centro de Arte e Mídia ZKM em Karlsruhe).

No Brasil também houve uma mostra abrangente sobre a Geração Beat organizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil e apresentada em 2016 em Brasília e em 2017 em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas foi uma mostra de filmes, um evento com foco em fotografias e em uma extensa e variada programação de cinebiografias, documentários, adaptações para cinema de obras da Geração Beat e produções audiovisuais que estabelecem diálogos com a literatura do movimento ou que tiveram atuações ou narração dos seus mais célebres autores, incluindo Kerouac, Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, William S. Burroughs, Michael McClure, Neal Cassady, Rose de Prima, Carl Solomon e Gregory Corso, entre outros.



Aura questionadora e libertária



A coleção de pinturas, desenhos e esboços deixados por Kerouac veio à tona depois da morte de seu último cunhado e amigo de infância na cidade de Lowell, John Stampas, aos 84 anos, em 2017. A irmã de John, Stella Stampas, que morreu há alguns anos e também tinha sido amiga de infância de Kerouac em sua cidade natal, se tornaria a terceira esposa do escritor quando ele retornou em 1966 da última temporada na Europa e foi morar com a mãe. O casamento durou pouco tempo, assim como os casamentos anteriores de Kerouac: o primeiro, com Edie Parker, durou de 1944 a 1948; o segundo, com Joan Haverty, durou menos de um ano, entre 1950 e 1951; e Kerouac também viveu alguns meses com Joyce Johnson entre 1957 e 1958.

Kerouac estava desiludido, muito doente e com muitas dívidas quando foi morar de novo com sua mãe em seus últimos anos de vida. A mãe, Gabrielle-Ange Lévesque, uma católica fervorosa e fundamentalista, aproveitou a oportunidade para isolar Kerouac do mundo, impedindo qualquer contato com seus amigos e seus editores. Os biógrafos não sabem quase nada sobre este período nem sobre o último casamento, arranjado pela mãe com Stella Stampas, que pagou algumas dívidas e fugiu com o escritor e sua mãe para a Flórida, onde conseguiram cortar os contatos de Kerouac com tudo e com todos. Depois da morte do autor, aos 47 anos, em 21 de outubro de 1969, Stella, a última esposa, ficou com as caixas de arquivos de papéis, rascunhos, fotografias, diários, correspondências e textos inéditos, além das pinturas e desenhos. Com a morte de Stella e de John, os herdeiros negociaram a concessão de direitos para a exposição no museu italiano e para a publicação do acervo pela casa editorial Skira.








O pintor Jack Kerouac: no alto, a capa do
catálogo Departed Angels, publicado em 2004.
Acima, pintura em óleo sobre tela criada por
Kerouac no final da década de 1950, sem título,
identificada no catálogo da casa editorial
Skira como Woman with guitar.

Abaixo, pintura sem título do mesmo período;
Sacred Heart (Sagrado coração), pintura sem
data em óleo sobre papel. Também abaixo, o
desenho original de Kerouac para a capa de
On the Road um dos mapas em desenho a
caneta feito no diário de Kerouac para traçar,
cidade por cidade, o trajeto de uma viagem que
ele fez de carona de julho a outubro de 1948
e que, uma década depois, surgiria como
modelo para a jornada de aventuras de
Sal Paradise e Dean Moriartya dupla
lendária de protagonistas de On the Road




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Kerouac_cover_on_the_road.jpg



               



O catálogo inclui também, além de pinturas em óleo sobre tela e aquarelas, alguns desenhos feitos por Kerouac nos rascunhos e originais de seus textos, entre eles a ilustração feita a lápis e caneta de um autorretrato diante de uma estrada infinita que ele projetou para capa do romance “On the Road”, sua obra mais célebre, traduzido no Brasil como “Pé na Estrada” e adaptado para o cinema por Walter Salles com roteiro do porto-riquenho José Rivera, mesmo roteirista da adaptação de Salles para os diários do jovem Che Guevara em “Diários de Motocicleta”, filme de 2004. Kerouac sonhou com uma adaptação para o cinema com Marlon Brando e chegou a escrever uma carta para o ator, mas nunca teve resposta. No final da década de 1970, Francis Ford Coppola comprou os direitos para a adaptação, mas o projeto seria anunciado e cancelado por diversas vezes.

Somente em 2010 o projeto para transformar “On the Road” em filme teve início sob a direção de Walter Salles. Contando com a co-produção da American Zoetrope de Coppola, o filme finalmente estreou em 2012 na competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes. Consagrado como “Bíblia dos hippies”, obra de referências lendárias na biografia de astros e estrelas de primeira grandeza da literatura, da música e do cinema como Bob Dylan, John Lennon, Jim Morrison, Janis Joplin, Lou Reed, David Bowie, Patti Smith, Kurt Cobain, Francis Ford Coppola, Gus Van Sant, Terry Gilliam, Wim Wenders, Jim Jarmusch, Oliver Stone ou David Lynch, entre muitos outros, e elevado à categoria de leitura obrigatória para gerações e gerações desde a primeira edição em 1957, passando pelo movimento estudantil, pela onda da contracultura, pela liberação feminista e o movimento pelos direitos dos homossexuais, “On the Road” saiu editado sem a capa planejada pelo autor, mas foi um sucesso estrondoso desde que chegou às livrarias em lançamento da pequena Viking Press. Até mesmo as críticas negativas, que classificavam o livro como “imoral” e 
má influência”, foram transformadas em um ingrediente a mais de publicidade espontânea para iluminar e expandir sua aura mística de obra questionadora, rebelde, libertária.

A publicação veio depois de sete anos de tentativas frustradas de apresentação em editoras, período em que o autor viajava com o original datilografado guardado na mochila. O original também é lendário pela gênese de ter sido escrito na forma de “escrita automática”, à maneira dos surrealistas franceses e do estilo be-bop dos músicos de jazz, na base do improviso criativo, sem parar para pensar ou reformular frases, totalmente datilografado em apenas três semanas em um rolo quilométrico de texto colado página a página com fita adesiva. Assim como seus textos fragmentados em diversas formas narrativas, a composição visual de Kerouac em pinturas e cores inclui referências a retratos distorcidos de pessoas que ele conhecia ou admirava, seus colegas escritores e músicos ainda anônimos, e também famosos como a atriz Joan Crawford ou o escritor Truman Capote. Há também muitas imagens de figuras nuas, eróticas, formas abstratas, paisagens incertas, crucifixos e outros signos relacionados ao sagrado do catolicismo em que ele foi criado e às crenças e ensinamentos identificados por sua aproximação com o budismo.






      


O pintor Jack Kerouac: no alto, pintura em
óleo sobre tela sem data identificada como
Woman (Joan Rawshanks) in blue with black hat,
inspirada em uma filmagem com a estrela
Joan Crawford que Kerouac assistiu por acaso
nas ruas de Los Angeles, em 1952. Acima,
William Burroughs e Jack Kerouac no outono
de 1953, declamando poemas, fotografados por
Allen Ginsberg em seu apartamento, em Nova York.

Abaixo, Truman Capote, pintura de 1959; e quatro
obras com temática religiosa: 1) uma pintura
em óleo sobre tela também de 1959 que
retrata o cardeal Giovanni Montini vestido
como papa, quatro anos antes do cardeal se tornar
o Papa Paulo VI; 2) uma aquarela datada de 1959
com o título Old Angel Midnight Over Lowell 
(Velho Anjo da Meia-Noite sobre Lowell);
3) um desenho com giz de cera colorido sobre
papel com o tema da crucificação de Cristo,
feito por Kerouac para sua sobrinha na década
de 1960; e 4) um desenho em grafite sobre
papel com data de 1956 que também tem
a crucificação como tema.

Também abaixo, Kerouac apresentando seus
poemas em um sarau no Artist's Studioem
Nova York, 1959, em fotos de Fred W. McDarrah;
e uma amostra de três de suas pinturas 
em óleo
sobre tela, todas sem data sem título, a primeira
identificada como Sunset scene; os dois amigos
inseparáveis que cruzam os Estados Unidos
viajando de carro, Sal Paradise (interpretado por
Sam Riley) Dean Moriarty (Garrett Hedlund),
em cena da versão no cinema de Walter Salles
para On The Road; Kerouac na praia de Tangier,
no Marrocos, em 1957, e com Peter Orlovsky,
amigos inseparáveis, na mesma viagem ao
Marrocos, fotografados por
Allen Ginsberg;
Kerouac com o fotógrafo Robert Frank
em Nova York, em 1959, fotografados
por John Cohen
e Kerouac caminhando
n
o Central Parkem Nova York, também
em 1959, fotografado por Robert Frank














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Expressionismo abstrato



Uma das referências ao sagrado chama atenção do observador: uma pintura em cores expressionistas e sombrias da época da publicação de “On the Road” traça um retrato do cardeal italiano Giovanni Montini, que anos depois, em 1963, se tornaria o papa Paulo VI. Kerouac nunca o conheceu, mas uma vez disse que viu a imagem do cardeal em trajes de papa durante ou depois de uma alucinação com mescalina ou LSD, e segundo informa o texto de apresentação Sandrina Bandera, ele teve como modelo para a pintura a óleo tão somente uma fotografia publicada pela revista “Time”. Entre outras revelações ou possibilidades, o leitor que conhece a literatura de Kerouac também vai perceber, nas imagens, algumas cenas que sugerem identificação com suas tramas e seus personagens –– caso da pintura nomeada como “Mulher de azul com chapéu preto”, uma figura andrógina, ambígua, fumando um cigarro, que traz à memória de imediato Joan Rawshanks, de seu romance de publicação póstuma “Visões de Cody”, que tem aquele célebre aviso do narrador ao leitor: “Estou escrevendo este livro porque vamos todos morrer...”

Escrito entre 1951 e 1952 e considerado pelo autor sua obra-prima, “Visões de Cody” seguiria inacabado, com apenas uma edição de fragmentos em pequena tiragem de 750 exemplares feita em 1960 pela New Directions, editora consagrada à Geração Beat em Nova York e fundamental para a promoção dos autores ligados ao movimento, assim como a livraria e editora City Lights, fundada em 1953, em San Francisco, por Lawrence Ferlinghetti. Como parte do espólio de Kerouac, “Visões de Cody” só foi publicado na íntegra em 1973, revelando sua dimensão como estudo em tom autobiográfico sobre o herói de “On the Road”, Dean Moriarty, que neste livro é chamado de Cody Pomeray. Joan Rawshanks, que tem uma seção inteira em destaque no livro, teve inspiração, segundo Kerouac, na lembrança de uma noite quente e sufocante de 1952 em San Francisco em que ele assistiu, por acaso, a estrela Joan Crawford, a “vamp”, “femme fatale” de Hollywood, filmando nas ruas as cenas de um thriller criminal e “noir’ que depois do lançamentos nos cinemas se tornaria, para surpresa geral, um retumbante fracasso de público e de crítica, “This woman is dangerous” (Essa mulher é perigosa).




























Seria equivocado ler essas obras de arte usando o método tradicional de um crítico de arte”, escreve Sandrina Bandera, destacando a coragem do trabalho do escritor que mesmo com o sucesso avassalador alcançando com “On the Road” ousou enveredar por outras searas como a música jazzística, os pinceis, as telas, as formas abstratas e as paletas de cores. “Porque Kerouac não era totalmente um artista plástico e nem somente um escritor. É preciso antes considerar que ele foi e continua sendo um fenômeno pop-cultural importante e que estas pinturas e desenhos agora são uma parte essencial daquela entidade potente reconhecida como Jack Kerouac. São como os membros de um único corpo girando em seu próprio eixo, tão dinâmicos que precisam de uma abundância de ferramentas diferentes para se expressar”.



Uma jornada poética



Enquanto relata as fontes de pesquisa para o trabalho de curadoria da primeira exposição no museu italiano e para a edição do catálogo, que incluiu, além do acervo dos herdeiros de Kerouac, obras cedidas por colecionadores como os irmãos Arminio e Paolo Ciolli, Sandrina Bandera revela as relações que alguns biógrafos estabelecem entre a dedicação do autor às artes plásticas e as mais diversas referências encontradas nas obras de literatura que ele produziu. Estudo e também inspiração, suas experiências sucessivas e simultâneas com uma ou outra forma de expressão são tentativas permanentes de testar seus limites, destaca a curadora, assim como têm significados muito especiais ao apontar suas relações com autores que influenciaram muito sua obra, com artistas plásticos e fotógrafos que conheceu e com os quais travou relações de amizade ou com os mestres da história da arte europeia que muito admirava, todos com um lugar decisivo no percurso de sua formação. No acervo das pinturas e desenhos que produziu, a diversidade de técnicas mistas, aquarelas, óleo sobre tela, acrílico sobre madeira ou formas com lápis, caneta e tinta na mesma obra revelam que seu campo de influências foi muito amplo. 








O pintor Jack Kerouac: acima, pintura d1960
em óleo sobre tela intitulada The slouch hat
(Chapéu descuidado) e The silly eye (portrait
of William Burroughs), pintura de 1959.
Abaixo, Kerouac fotografado por John Cohen
na noite de Nova York, em 1959, com a artista
plástica Dody Muller, que foi sua amante
durante anos, e com o músico David Amham;
e duas obras marcantes do artista Kerouac:
Raven (Corvo), pintura em óleo sobre tela,
sem data; e um desenho a lápis e caneta sem
data identificado como Retrato de Dody Muller
pelos curadores da mostra e do catálogo.

Também abaixo, pintura em óleo sobre papel
com o detalhe da mão escolhida para estampar
a capa do catálogo editado pela Skira,
seguido de desenho a lápis sobre papel e
aquarela sobre papel, ambos sem título e sem data;
e um visitante anônimo em uma exposição na
Biblioteca Pública de San Francisco, Califórnia,
observa os rolos originais de manuscritos de
"On The Road", em fotografia de 2006 de
Justin Sullivan. Na última imagem,
Allen Ginsberg e Bob Dylan leem poemas
diante do túmulo de Jack Keroauc no
Edson Cemetery na cidade de Lowell,
fotografados por Ken Regan em 1975












Desta formação plural e dispersa também fazem parte: o círculo de amigos da Geração Beat que o escritor conquistou nas temporadas de aventuras e viagens permanentes de costa a costa, de Nova York a San Francisco (a mais conhecida delas com seu maior parceiro, Neal Cassady, uma amizade que surgiu nos tempos de estudante na Universidade de Columbia e foi o ponto de partida que gerou “On the Road”); as primeiras viagens internacionais de Kerouac engajado na Marinha; as paixões amorosas sucessivas, tão intensas como passageiras; as surpresas com as descobertas das invenções dos surrealistas franceses das décadas de 1920 e 1930; a dedicação tardia à cultura italiana; a aproximação afetiva e criativa com o fotógrafo e cineasta Robert Frank e, em maior ou menor grau de intimidade, com os mais destacados expoentes do expressionismo abstrato de Nova York, incluindo, entre outros mentores, Jackson Pollock, Willem de Kooning, Stanley Twardowicz, Larry Rivers, Franz Kline, Adolph Gotlieb, Philipe Guston, Clyfford Still e, principalmente, Dody Muller, que permaneceu sua amante durante anos.

Para quem conhece o universo literário de Kerouac (“um índio, norte-americano e bretão”, como definiu certa vez seu parceiro Allen Ginsberg), e de seus conterrâneos e contemporâneos da Geração Beat, as cenas e sugestões de suas pinturas e desenhos parecem mesmo completar, com confidências nas ilustrações, seus textos de poesia e prosa poética, pois as imagens estão em cruzamento constante com seus escritos. É assim, também, a conclusão de Sandrina Bandera, que escreve –– “as pinturas em seu conjunto reconstroem uma narrativa na qual as obras escritas e as incursões na arte figurativa coincidiram perfeitamente em diferentes aspectos para construir a mesma jornada poética”. A literatura de Kerouac, que alcançou destaque e importância universal na segunda metade do século 20, assim como suas obras em artes plásticas agora encadeadas, no fim das contas revelam e confirmam que tanto a palavra escrita, como a composição imagética de formas e de cores, são apenas maneiras complementares e simultâneas para expressar e para experimentar as complexidades diversas, talvez infinitas, das formas de tradução e de registro às quais damos o nome genérico e abrangente de linguagem.



por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. O pintor Jack Kerouac. In: Blog Semióticas, 5 de fevereiro de 2019. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2019/02/o-pintor-jack-kerouac.html (acessado em .../.../...).



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