O inglês Jimmy Nelson apresentou ao público em livro e em seu site na Internet um acervo fascinante: centenas de fotografias que registram as
tribos mais remotas nos cinco continentes do Planeta Terra. São
imagens estranhas e belíssimas do projeto “Before They Pass Away”
(Antes que desapareçam), iniciado pelo fotógrafo com a meta
de visitar tribos e povos isolados nos confins que mantêm suas tradições com pouco ou nenhum contato com a “civilização” do
resto do mundo.
“Em 2009 eu decidi colocar em prática um antigo
sonho de visitar as tribos mais isoladas em todos os continentes para registrar cenas de
suas vidas cotidianas, suas tradições milenares, participar de seus
rituais e alertar para o perigo de que o mundo 'civilizado' pode levar muito em breve todos estes povos indígenas e suas maravilhosas culturas à extinção”,
relata o fotógrafo na apresentação do projeto.
As belas e surpreendentes fotografias da primeira etapa de "Before They Pass Away", registro das 13
excursões de Jimmy Nelson e sua equipe às tribos mais isoladas em 44
países, foram reunidas por ele em um site aberto ao público e em um livro – na verdade um luxuoso
catálogo fotográfico de 464 páginas, 500 imagens e textos em
inglês, alemão e francês. O livro está à venda exclusivamente na Amazon e no
site do fotógrafo (veja links no final deste texto). A próxima
etapa do projeto, segundo Jimmy Nelson, é transformar os registros em um
documentário para cinema.
Histórico de massacres
“Meu objetivo, desde o início do projeto, foi
criar através das fotografias um documento estético ambicioso que
pudesse resistir ao teste do tempo. O resultado é que acabei por
reunir um grande acervo de registros insubstituíveis de um mundo que
está desaparecendo muito rapidamente”, explica o fotógrafo. Desde o início de 2009, Jimmy Nelson e sua equipe de poucas pessoas passaram períodos de pelo menos duas semanas em cada
uma das diferentes tribos fotografadas e o projeto prossegue em novas etapas, sem previsão para ser concluído..
A meta inicial do fotógrafo para esta primeira parte do projeto era registrar 31
tribos, mas no total foram visitadas 29. Duas das tribos, situadas na
Amazônia do Brasil, por causa da legislação em vigor não puderam
ser visitadas pelo fotógrafo e sua equipe: elas estão localizadas no Vale do Javari, uma extensa região de mata fechada e de difícil acesso onde se concentra o maior número de tribos isoladas do mundo, incluindo um número não identificado de povos que nunca tiveram nenhum contato com não-indígenas. Em cada uma das tribos
contactadas nos 44 países, as fotos de Jimmy Nelson revelam belezas e surpresas que incluem
os cenários naturais incomuns e as antigas tradições pouco
conhecidas – como os elementos culturais de vestimentas, animais
exóticos domesticados, alimentação, cerimônias festivas e rituais religiosos.
O fotógrafo explica que ninguém sabe ao certo quantas
tribos isoladas ainda existem atualmente no Planeta Terra. Os informes oficiais
indicam que há pelo menos 150 – a maioria delas situada em regiões inacessíveis da
Amazônia no Brasil e nas centenas de ilhas pouco conhecidas dos oceanos Índico e Pacífico, especialmente na região de
Nova Guiné. Também há registros de tribos isoladas no Peru e em
todos os países da área da floresta amazônica, assim como nas
regiões de montanhas mais distantes de áreas urbanas da Índia, da Malásia e da África Central.
No Brasil, os levantamentos oficiais da Funai (Fundação Nacional do Índio) identificaram nos
últimos anos pelo menos 114 povos indígenas isolados nas regiões Norte e
Centro-Oeste, sendo que apenas 28 foram contactados e identificados. Entre os restantes, está uma maioria de povos não-contactados,
realmente desconhecidos de qualquer estudo ou de missões de reconhecimento de território, e também os “isolados voluntariamente”,
aqueles que resistem a qualquer aproximação devido a contatos
violentos no passado que resultaram em massacres de tribos inteiras. Pouco se sabe sobre estes grupos isolados: não é possível estimar os números da população de cada tribo nem a qual grupo linguístico pertencem, e sua existência tem apenas registros de objetos encontrados ou de raros avistamentos.
O perigo mortal do contato
Mas nem só de elogios foi a recepção do projeto de Jimmy Nelson. Entidades como a Survival Internacional, que tem sede em Londres e atua na defesa dos direitos das populações indígenas, alertam que os contatos com as tribos isoladas sempre representam um perigo mortal, pela violência do próprio contato ou por consequências imprevisíveis como a propagação de doenças “civilizadas”: um simples vírus que provoca uma gripe sem gravidade pode dizimar tribos inteiras em poucos dias.
Há também quem acuse Jimmy Nelson de buscar promoção pessoal repetindo o trabalho já realizado por outros fotógrafos, como o brasileiro Sebastião Salgado. As críticas partem de um argumento que pode ser facilmente constatado, porque os mesmos povos e as mesmas regiões isoladas do planeta que Sebastião Salgado vem fotografando há mais de uma década para o projeto Gênesis, em impecável preto-e-branco, agora surgem fotografados em cores vibrantes no projeto de Jimmy Nelson.
Alheio a todas as críticas e às polêmicas, Jimmy Nelson anuncia em seu site que o projeto "Before They Pass Away" vai continuar e que já estão sendo planejadas novas expedições às regiões mais inóspitas da Terra. Um detalhe interessante é o equipamento usado por Jimmy Nelson: uma antiga câmera 4 X 5 e negativos de grande formato que estão há décadas fora do mercado e que a maioria dos profissionais considera obsoletos.
“O ser humano é muito parecido em qualquer lugar, nas cidades, nas montanhas, nos campos de gelo, na selva, ao longo dos rios e nos vales silenciosos que se perdem de vista no horizonte”, explica o fotógrafo, relatando que em muitos casos ele sabia que estava diante dos últimos membros de cada tribo. “Meu trabalho pode contribuir para que o mundo nunca esqueça no futuro a forma como as coisas eram”, conclui.
por José Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Tribos
do fim do mundo.
In: Blog
Semióticas,
15
de janeiro
de 2014.
Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2014/01/tribos-do-fim-do-mundo.html
(acessado em .../.../...).
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