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A
poeira dos arquivos de que muita gente
fala
sem nunca a ter visto ou sentido, esta
poeira
clássica, levanto-a
diariamente.
––
Euclides
da Cunha (1866-1909).
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O fotógrafo e mascate libanês Benjamin Abrahão Botto teria passado à história como amigo, secretário e confidente do mítico Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), o Padim Ciço da devoção popular nordestina, se não tivesse investido numa aventura que por muito pouco lhe custou a vida na década de 1930: enquanto mascateava e prestava serviços itinerantes como fotógrafo lambe-lambe, Benjamin Abrahão foi criando coragem para ir ao encontro do lendário Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião, líder do bando de cangaceiros que espalhava o terror pelo sertão.
A aventura do mascate acabou rendendo as únicas imagens registradas em filme e fotografias de Lampião e seu bando. Mas os objetivos de Abrahão, ao que se sabe, não eram dos mais nobres: a intenção era infiltrar-se entre os cangaceiros para fazer as imagens e angariar fortuna com a venda do filme e das fotografias para jornais e revistas do Brasil e de outros países.
O desfecho da aventura foi um golpe da sorte e do acaso, já que a intimidade com Padim Ciço serviu para salvar a vida do mascate no primeiro encontro com o bando de foras-da-lei. Abrahão sobreviveu à fúria do bando graças à sua iniciativa de caso pensado de invocar o nome do religioso: ele sabia que Lampião era devoto do padre e temeroso respeitador de suas crenças e conselhos.
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O
encontro do mascate Benjamin Abrahão
com o
bando do capitão Virgulino Lampião
em 1936: no
alto e acima, o mascate posa
com o bando, em fotografia
tirada pelo
cangaceiro Juriti. Da esquerda para
a
direita, estão Vila Nova, um não identificado,
Luís
Pedro, Benjamin Abrahão (à frente),
Amoroso, Lampião,
Cacheado (ao fundo),
Maria Bonita, mais um
cujo nome não foi
identificado e Quinta-Feira. Acima
e abaixo,
Lampião e sua Maria Bonita; e o retrato
mais conhecido de Lampião feito por
Benjamin Abrahão também em 1936
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Em Juazeiro do Norte, Benjamin Abrahão havia presenciado o único encontro entre Lampião e Padre Cícero em 1926, ano em que a Coluna Prestes, liderada pelo militar e político Luis Carlos Prestes (1898-1990), percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Na intenção de combater as tropas de Prestes, que seguiam se embrenhando pelos confins do sertão, Padre Cícero e outros líderes regionais convocaram a ajuda das forças de Lampião e seu bando, com a promessa de que em troca todos receberiam anistia por seus crimes e o líder do grupo teria uma patente de capitão.
A versão mais conhecida da história aponta que o bando de Virgulino deixou Juazeiro do Norte sem nunca ter enfrentado a Coluna Prestes. O mascate, na época secretário de Padre Cícero, fez uma única foto do religioso ao lado do chefe dos cangaceiros e, desde então, passou a acalentar os planos da ambição de filmar e fotografar Lampião e seu bando para, de posse das imagens, fazer fama e fortuna.
Mascate e fotógrafo ambulante
Comerciante de tecidos, perfumes, bugigangas e miudezas, Benjamin Abrahão, ao que se sabe, nasceu nos territórios árabes do Líbano, território na época dominado pelo Império Otomano, em 1890, e havia aportado no Brasil em 1915, nas levas de imigrantes dos países árabes que fugiam da guerra e da miséria e que, muitas vezes, ao desembarcar, sequer sabiam que estavam na América do Sul. Sem dinheiro e sem rumo, Benjamin Abrahão primeiro decidiu tentar a sorte em Recife, depois seguiu para Juazeiro, atraído pela oportunidade de ganhar a vida no comércio com a frequência dos romeiros que buscavam Padre Cícero.
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Padre
Cícero aos 80 anos, em 1924, em
fotografia atribuída
a Benjamin Abrahão.
Abaixo, o padre em 1929
ao lado de
Benjamin Abrahão, seu secretário, que mais tarde trocaria
as funções na igreja de
Juazeiro do Norte pela
atividade de
mascate e fotógrafo ambulante
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Letrado e hábil negociante, Abrahão terminou por conseguir, em Juazeiro do Norte, o posto de secretário de Padre Cícero. Exerceu a função por 10 anos consecutivos. Depois, com a morte do líder religioso, em 1934, Abrahão partiu para uma empreitada sem rumo pelo sertão, na tentativa de encontrar o bando. Quando conseguiu chegar ao acampamento onde estavam os cangaceiros, foi salvo pela fé em Padre Cícero. Clamando para não ser morto, apelou para a devoção pelo religioso e conseguiu: teve a vida poupada e recebeu pousada no grupo.
Lampião, vaidoso, ainda permitiu que o mascate registrasse as imagens que imortalizaram o bando de cangaceiros nas estampas de jornais e revistas durante o Estado Novo. As fotografias foram disputadas pela imprensa da época e mobilizaram o público nas principais capitais, enquanto o filme de Abrahão atiçava a curiosidade popular e chegou a ser exibido em Fortaleza. Mas em maio de 1938 o mascate acabou assassinado a facadas – um crime nunca esclarecido – e o filme foi apreendido a mando do presidente Getúlio Vargas.
Imagens lendárias
As únicas imagens do lendário Lampião e seu bando, filmadas pelo mascate libanês, acabaram sendo localizadas no final da década de 1950, quando a instalação da Fundação Getúlio Vargas recuperou para seu acervo os arquivos do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), o órgão de censura do Estado Novo. Depois disso as cenas registradas por Benjamin Abrahão, por duas décadas consideradas perdidas, vieram a público quando foram inseridas em dois documentários que foram exibidos nos cinemas: "Memória do Cangaço", realizado em 1964 com direção e roteiro de Paulo Gil Soares e depoimentos de cangaceiros sobreviventes e policiais que participaram da caçada ao grupo de Lampião; e "A Musa do Cangaço", realizado em 1982 por José Umberto Dias com depoimentos da sobrevivente Dadá, mulher de Corisco.
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No
alto, Lampião com um exemplar do
jornal O Globo e Lampião com Juriti.
Acima, Benjamin Abrahão fotografado
por Juriti,
com Lampião e Maria Bonita;
Maria Bonita, Juriti, Vila Nova e Lampião;
Juriti (ao fundo, à direita),
Nenê (sentada),
Luis Pedro e Maria Bonita. Abaixo, Lampião ao lado de sua Maria Bonita, que foi descrita por Benjamin
Abrahão como uma moça encantadora.
Também abaixo, duas fotografias de Maria Bonita, seguidas por
Dadá e Corisco, um dos conhecidos casais
do bando; Benjamin
Abrahão tomando
notas, junto ao bando e junto a Lampião,
fotografado por Juriti; e
um dos cartazes
que circularam pelo Nordeste do Brasil na década de
1930 oferecendo recompensa
pela captura
de Lampião e seu bando
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As imagens que mostram o verdadeiro Lampião e seus cangaceiros registrados por Benjamin Abrahão também são o ponto de partida para “O Baile Perfumado”, de 1997, longa-metragem de estreia dos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Além de seus méritos inegáveis, que renderam prêmios em festivais no Brasil e em outros países, o filme de Caldas & Ferreira traz como acréscimo esta preciosidade: a íntegra das imagens originais (cerca de 12 minutos) do bando, registradas pelo mascate em suas andanças pelo sertão nordestino, na época em que Lampião imperava e apavorava como Rei do Cangaço.
“O Baile Perfumado” parte das imagens documentais do mascate (interpretado por Duda Mamberti) e faz delas passagem cenográfica em várias sequências, lançando mão das filmagens realizadas na mesma região que na primeira metade do século 20 foi adotada como refúgio pelos bandos de cangaceiros. O roteiro segue as andanças de Abrahão e o dia a dia de Lampião e seus homens nas localidades áridas da caatinga, entre os estados de Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Bahia.
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Benjamin
Abrahão e o bando de Lampião:
abaixo,
Lampião preparando as armas;
a
líder Nenê com Juriti (ao centro)
e
dois
cangaceiros não identificados; duas
fotografias
do grupo acompanhando
o
casal Corisco e Dadá (à esquerda);
e
duas fotografias dos cangaceiros com
Lampião
e Maria Bonita à direita
.
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Paulo Caldas e Lírio Ferreira, que haviam publicado em co-autoria, também em 1997, na Revista Cinemais, um longo ensaio sobre o encontro de Benjamin Abrahão com Padre Cícero e com Lampião (“A modernidade, a tradição e a vaidade de Lampião”), realizaram um filme inspirado em que cenas reconstituídas em forma de ficção dialogam com os registros documentais. As imagens autênticas que foram fotografadas e filmadas por Abrahão na década de 1930 pontuam a narrativa, enquanto a reconstituição realista e ficcional com os atores mostra o contexto da ação do bando, com o estreante Luis Carlos Vasconcelos incorporando em minúcias o que as imagens de época, e os relatos remanescentes, revelam sobre o célebre capitão Virgulino Lampião.
O Baile Perfumado
Alternando com as cenas coloridas da ficção, que em algumas sequências vão perdendo cores para se fundir às imagens da década de 1930, as cenas documentais de Abrahão registram o verdadeiro Rei do Cangaço. Na intimidade, Lampião surge maravilhado com a modernidade das câmeras e das filmagens, tomando uísque, banhando-se em perfume francês e festejando as conquistas das incursões pelas fazendas e pelos vilarejos do sertão nordestino em bailes com Maria Bonita e com os outros casais do bando, daí a origem do título “O Baile Perfumado”.
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Acima e
abaixo, cenas de O Baile Perfumado,
com Luis
Carlos Vasconcelos no papel de
Lampião. Também abaixo, imagens do filme, a capa do lançamento em VHS e DVD e Chico Science com a banda Nação Zumbi, músicos da trilha sonora de O Baile Perfumado
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Na época do lançamento do filme em Belo Horizonte, em agosto de 1997, entrevistei o diretor Lírio Ferreira para o jornal “O Tempo”. Entusiasmado com a acolhida favorável da crítica e do público nos festivais de Gramado e de Brasília e nas capitais onde o filme já estava em cartaz, o diretor comemorava também os convites para uma extensa agenda de exibição em mostras importantes em outros países. Nos próximos meses, o filme iria competir e ganhar prêmios nos festivais internacionais de cinema de Havana e em Nova York, Toronto e Biarritz, entre outros.
“Optamos por uma abordagem que fosse pouco convencional, até porque o cangaço já rendeu alguns grandes clássicos do cinema brasileiro, como os dois filmes do Glauber – 'Deus e o Diabo na Terra do Sol' e 'O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro' – e 'O Cangaceiro', de Lima Barreto”, explicou Lírio Ferreira. Na entrevista, o diretor também anunciou o lançamento do filme em vídeo e a publicação do roteiro, em edição ilustrada, pelas editoras Gryphus e Forense. O lançamento em vídeo quase simultâneo à exibição no cinema, assim como a edição do roteiro, era feitos raros a serem comemorados numa época que hoje é lembrada como a retomada do cinema brasileiro.
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“Esta recepção tão positiva não poderia ter sido melhor. Foi muito além de qualquer expectativa otimista que poderíamos ter, ainda mais que é o primeiro longa-metragem para mim e para o Paulo Caldas na direção e também o primeiro longa para a quase totalidade da equipe e para os atores principais”. Segundo Lírio Ferreira, a figura de Benjamin Abrahão e sua história de aventura e pioneirismo sempre exerceu um fascínio muito forte sobre quem se interessa por cinema, principalmente no Nordeste do Brasil.
Trilha do mangue beat
“Aqui nas cidades do Sudeste são poucos os que conheciam a história do mascate que arriscou a vida para filmar o bando de Lampião", explicou o diretor. "Mas o Benjamin Abrahão sempre foi uma figura mítica para os estudantes de cinema de todos os estados do Nordeste. Talvez pela proximidade geográfica com aqueles cenários da caatinga e do São Francisco, e também pelo envolvimento do Padre Cícero nesta história. Eu e o Paulo Caldas e várias gerações de estudantes do Nordeste crescemos ouvindo as histórias de Lampião, do Padim Ciço. E a existência desse personagem libanês, mascate, que viveu a aventura de se embrenhar sozinhos pelas trilhas do sertão para filmar o bando de cangaceiros precisava virar filme”.
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Foi durante nossa conversa na entrevista que o diretor recebeu por telefone o informe que contabilizava os bons resultados de bilheteria de “O Baile Perfumado” nas primeiras semanas de exibição, depois do lançamento em cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo. Animado com os resultados de bilheteria, segundo ele surpreendentes, Lírio Ferreira ainda enumerou alguns de seus próximos projetos individuais e um próximo e acalentado longa-metragem, que também seria dirigido a quatro mãos em parceria com Paulo Caldas.
“O principal projeto é um roteiro ambicioso, que estamos adiando, mas que promete render um grande filme. Não sei ainda quando começaremos a filmar, mas será uma abordagem de ficção baseada em fatos históricos sobre a invasão holandesa no Brasil, no século 17, que terá um certo parentesco com 'O Baile Perfumado' porque vai reunir a mesma mistura de reconstituição de época em forma de ficção e muita coisa de documentário, culminando com a chegada de Maurício de Nassau aos territórios do Nordeste do Brasil”, revelou Ferreira. Hoje, décadas depois daquela entrevista, tudo indica que o projeto original e grandioso ainda permanece no papel.
Enquadramentos surpreendentes
Em “O Baile Perfumado”, apontado como um dos grandes momentos da retomada do cinema nacional, depois do desastre do Governo Collor e do fechamento da Embrafilme em 1994, merecem destaque questões técnicas como o virtuosismo do roteiro, a edição, os movimentos de câmera e os enquadramentos surpreendentes, às quais a direção de Lírio Ferreira e Paulo Caldas acrescentaram a ousadia de um elenco afinado e muito convincente, sendo que à época quase todos eram estreantes em cinema ou desconhecidos do grande público.
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Outro trunfo do filme está na surpreendente trilha sonora – que se tornaria uma coleção instantânea de clássicos do “mangue beat”, assinada, entre outros, por Chico Science, Fred Zero Quatro e Lúcio Maia, integrantes das bandas Nação Zumbi e Mundo Livre. Foi outra estratégia pouco usual no cinema nacional que trouxe pioneirismo à empreitada do sucesso alcançado por “O Baile Perfumado”: o lançamento da trilha sonora em CD simultaneamente à chegada do filme às salas de exibição em várias capitais.
Depois do filme de ficção que resgatava as imagens originais de Lampião e seu bando feitas pelo mascate libanês no sertão nordestino, Lírio Ferreira e Paulo Caldas continuaram na realização de longas-metragens. Caldas, paraibano de João Pessoa, lançou em 2007 “Deserto Feliz”, pelo qual venceu os prêmios da crítica e do júri popular no Festival de Gramado e foi premiado em festivais no México, Portugal e França, além de ser selecionado para a mostra principal no Festival de Veneza, em 2000, com o documentário “O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas”. Caldas também realizou “O País do Desejo” (2011), ainda inédito, e escreveu o roteiro de “Cinema, aspirinas e urubus” (2005), em parceria com Marcelo Gomes e Karim Aïnouz. Dirigido por Marcelo Gomes, o longa foi selecionado para a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, e venceu o prêmio especial do júri no Festival do Rio.
Lírio Ferreira, pernambucano de Recife, escreveu e dirigiu mais três longas de destaque na safra recente do cinema nacional: “Árido Movie” (2006), sobre um jornalista de São Paulo que retorna à sua cidade-natal no Nordeste para o enterro do pai que foi assassinado; o documentário “Cartola – Música para os Olhos” (2007), com imagens de arquivo e depoimentos sobre a trajetória do sambista Cartola, em co-direção com Hilton Lacerda; e “O Homem que Engarrafava Nuvens” (2009), documentário sobre o compositor cearense Humberto Teixeira, autor de "Asa Branca" e outros grandes sucessos do cancioneiro popular em parceria com Luiz Gonzaga, o aclamado rei do baião e do acordeão. O filme foi produzido pela atriz e cineasta Denise Dumont, filha de Humberto Teixeira, que além de poeta e pesquisador das tradições e dos ritmos musicais nordestinos também foi eleito deputado federal em 1954 e tem, em seu legado, a autoria das leis de direito autoral que ainda hoje estão em vigência no Brasil.
Filmografia do Cangaço
De
“O Cangaceiro”, de Lima Barreto, premiado em Cannes e um dos
grandes sucessos internacionais do cinema brasileiro, até “O
Baile Perfumado”, um total de 22 produções para cinema e TV
tiveram o cangaço como argumento e tema central, incluindo uma
refilmagem de “O Cangaceiro”, feita em 1997 por Aníbal Massaini
Neto; duas obras-primas de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na
Terra do Sol" (1963) e “O Dragão da Maldade contra o
Santo Guerreiro” (1969); e três comédias que levaram ao cinema paródias sobre as aventuras de Lampião e seu bando com os comediantes mais populares da época: uma em 1959,
“Os Três Cangaceiros”, que reuniu Grande Otelo, Ronald Golias e Ankito; outra em 1964, “O Lamparina”, com Amácio Mazzaropi; e outra em
1983, “O Cangaceiro Trapalhão”, com direção de Daniel
Filho, também explorando o sucesso popular de Renato Aragão e sua
trupe do programa de TV “Os Trapalhões”.
Há, também, outras
duas produções que merecem destaque por motivos diversos, entre elas “Faustão”, de 1971, uma das raras incursões do documentarista Eduardo Coutinho pelos domínios da ficção, com um cangaceiro negro, vivido por Eliezer Gomes, e com Anecy Rocha em destaque no elenco; “Lampião e Maria Bonita”, de 1982, com Nelson Xavier e Tânia Alves nos papéis principais (foto abaixo), que inaugurou com grande
sucesso de público e crítica o formato de minissérie na TV Globo com oito
episódios, cada um com 45 minutos, e que também teve uma versão
exibida nos cinemas com duração de 1h52min; e “O Cangaceiro”, uma
co-produção Itália e França de 1969 com Tomas Milian no papel principal e elenco e equipe técnica
internacionais, dirigida pelo italiano Giovanni Fago com filmagens no
Nordeste do Brasil e lançada nos cinemas brasileiros como “Rebelião
dos Brutos”.
Na
lista de produções entre filmes brasileiros que têm o cangaço como tema há, também, três
documentários que tiveram lançamento nos cinemas. Um deles, “O
último dia de Lampião”, realizado em 1975 por Maurice Capovilla,
reconstitui a morte de Lampião, de Maria Bonita e de 11 cangaceiros na
fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Os outros dois documentários, assim como acontece em “O Baile Perfumado”, apresentam
partes das sequências filmadas na década de 1930 por Benjamin
Abrahão com o bando de Lampião: “Memória do Cangaço”, realizado em 1964 por Paulo Gil Soares, e “A Musa do Cangaço”,
realizado em 1982 por José Umberto Dias.
As imagens do filme de Benjamin Abrahão também aparecem em “Sermões, A História de Antônio Vieira”, filme de 1989 de Júlio Bressane, mas como elas somente ilustram uma sequência do filme, que não é uma abordagem específica nem sobre Lampião nem sobre o cangaço, o filme de Bressane não foi incluído nesta filmografia. Também não foi incluído na lista, porque teve lançamento depois de "O Baile Perfumado", o caso notável de "O Auto da Compadecida", filme de 2000 de Guel Arraes, sucesso de público e de crítica, baseado na peça teatral de mesmo título, de 1955, de Ariano Suassuna, que tem a presença de cangaceiros como elemento central na trama. O filme foi uma adaptação de formato da minissérie exibida pela Rede Globo em 1999.
Confira, abaixo, a lista completa de filmes em longa-metragem sobre o cangaço realizados no Brasil em meio
século, de 1953 a 1997:
1.
“O Cangaceiro” (1953)
direção de Lima Barreto
2.
“Os Três Cangaceiros” (1959)
direção de Victor Lima
3.
“A Morte Comanda o
Cangaço” (1960)
direção de Carlos Coimbra e Walter Guimarães Motta
4 “Lampião, o Rei
do Cangaço” (1962)
direção de Carlos Coimbra
5. “Três Cabras de Lampião” (1962)
direção de Aurélio Teixeira
6.
“Deus e o Diabo
na Terra do Sol” (1963)
direção de Glauber Rocha
7.
“O
Lamparina” (1963)
direção de Glauco Mirko Laurelli
8.
“Memória do Cangaço” (1964)
direção de Paulo Gil Soares
9.
“Entre o Amor e o
Cangaço” (1965) direção de Aurélio Teixeira
10.
“Cangaceiros de
Lampião” (1967) direção de Carlos Coimbra
11.
“Maria Bonita,
Rainha do Cangaço” (1968)
direção de Miguel Borges
12. “Corisco, o Diabo Loiro” (1969)
direção de Carlos Coimbra
13. “O Cangaceiro (Rebelião dos Brutos)” (1969)
direção de Giovanni Fago
14. “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1969)
direção de Glauber Rocha
15.
“Quelé
do Pajeú” (1970)
direção de Anselmo Duarte
16. “Meu nome é Lampião” (1970)
direção de Mozael Silveira
17. “Faustão” (1971)
direção de Eduardo Coutinho
18. “O último dia de Lampião” (1975)
direção de Maurice Capovilla
19. “Lampião e Maria Bonita” (1982)
direção de Paulo Afonso Grisolli e Luis Antônio Piá
20.
“O Cangaceiro
Trapalhão” (1983)
direção de Daniel Filho
21.
“Corisco e
Dadá” (1996)
direção de Rosemberg Cariry
22.
“O
Cangaceiro” (1997)
direção de Aníbal Massaini Neto
23.
“O Baile
Perfumado” (1997)
direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira
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Lírio
Ferreira, Luiz Carlos Vasconcelos e Paulo Caldas
durante
as filmagens de Baile
Perfumado.
Abaixo,
Vasconcelos como Lampião em cena do filme e
mais
duas imagens originais
do
bando de cangaceiros
registradas em 1936 por Benjamin
Abrahão
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Seu blog é muito bom e esta página sobre Lampião me deixou emocionada. Meu avô tinha na parede do quarto um quadro com esta foto que abre sua página e uma frase que era mais ou menos assim: Quando cubro um macaco na mira do meu rifle, ele morre porque Deus quer; se Deus não quisesse, eu errava o alvo...
ResponderExcluirTriste e cruel, mas retrata uma sabedoria popular que está se perdendo para sempre, que o tempo está substituindo por referências estrangeiras completamente descaracterizadas. Vem daí a urgência e a importância de valorizar trabalhos científicos e jornalísticos como este que você apresenta no blog.
Parabéns, José Antonio Orlando. Além de resgatar a história e de reunir imagens que comovem a gente, você vai fundo na entrevista com o diretor e no contexto do cangaço. E ainda traz uma lista de filmografia que eu, que sempre fui apaixonada pelo assunto, nunca tinha visto.
Cada página do seu blog parece uma monografia, muitas monografias... Virei sua fã incondicional. Beijos!
Adoro essa história e o filme do Lírio Ferreira e do Paulo Caldas é um dos meus preferidos no cinema nacional. Sem contar a trilha sonora dele só com coisas bacanas do mangue beat. E você contou a história de um jeito que eu ainda não tinha entendido, mesmo tendo assistido O Baile Perfumado várias vezes. Parabéns, José, seu blog é um show!
ResponderExcluirMarcelo Vidal
José, PARABÉNS!!!
ResponderExcluirLer você é sempre um prazer, seus textos são viagens, cada linha, cada imagem são pontos de parada, hora de colocar na mochila a mais valiosa das bagagens, cultura.
Encantada sou, pela leveza e clareza com que escreves.
Do Líbano ao Sertãotu vais como um pescador, cada rede jogada uma informação traduzida em poéticas linhas e imagens, nos dando assim a possibilidade de navegar pelo comércio, pelo cangaço, pela igreja, pela fotografia e pelo cinema, enfim pela HISTÓRIA. Abraços e muita LUZ!!!!
Benilde
Nossa... que história mais bonita. Esse seu blog Semióticas é um show José Orlando. Juro que fiquei emocionado com o texto e as imagens. Parabéns, mestre!
ResponderExcluirFiquei muito feliz quando vi que um amigo meu no Facebook compartilhou uma foto do seu blog. Acessei e descobri que seu blog é um espetáculo. Por incrível coincidência, estou desenvolvendo meu mestrado sobre as fotos e o filme do Benjamin Abrahão e seu post aqui no blog, perfeito, acrescenta informações inportantes ao que eu já tenho pesquisado.
ResponderExcluirEntre outras, sabia do filme do Caldas e do Lírio Ferreira, mas não sabia do texto que eles publicaram e que você cita como “A modernidade, a tradição e a vaidade de Lampião”. Sabe onde posso encontrar o texto ou a revista em que ele foi publicado? Acabei de enviar meus contatos para seu e-mail e aguardo retorno. Aqui na escola temos a possibilidade de enviarmos um convite para uma conferência sua aqui no Recife. Você aceita?
Parabéns, José, seu blog é muito muito bom. Estamos aqui morrendo de inveja...
Paulo Reis
Muita bagagem hein mestre....agora sobre o espirirot oportunista do fotografo libanes...ah, isso e de qlq fotografo ne! Pois alem de querermos capturar o olhar que ninguém viu, também queremos ganhar dinheiro...queremos que muitas pessoas vejam o que o sequestrador de imagens viu. E isso me lembra da sua primeira sugestão para a minha leitura sobre a signo fotografico...falo da Cãmara Clara que começa com a foto do filho ou sobrinho de napoleão (nao me lembro ao certo) que disse Barthes: vejo os olhos de quem viu o imperador!! Abraços.
ResponderExcluirDomingo (03) no metrópoles da TV cultura, assisti uma reportagens sobre o libanês e suas aventuras na busca de fotografar os cangaceiros. Apresentaram também, um livro iconografia do cangaço. Bacana essa história. Parabéns
ResponderExcluirMaterial nota 10. Tudo perfeito, bem fundamentado, muito bem escrito, bonito. Seu blog é um show!
ResponderExcluirRodrigo Veríssimo
ola gostei da matéria pude conhecer um pouco da vida de lampião o qual ouso falar desde pequeninho gostei.
ResponderExcluirMinha bisavó Hercília conheceu o famoso fotógrafo Benjamin e sabe porque ele foi assassinado a facadas? Pelo fato de espalhar comentários maldosos e contrariando os milagres que ocorreram na presença do Pe Cícero, referindo a eles como armações, mesmo alguns sendo feitos sem sua permissão, mas o padre não desmascarava e mantia a farsa como verdadeira.
ResponderExcluirEsse blog é simplesmente incrível!
ResponderExcluirQue maravilha, José! Este seu Semióticas é um show em todas as páginas. Que bom que te encontrei, meu querido. Virei sua fã desde a primeira visita. Este seu estudo sobre Lampião, o cangaço e o fotógrafo Benjamin, vale por um livro e por um curso inteiro. Enviei e-mail para você. Espero muito que você autorize a publicação. Parabéns!!!
ResponderExcluirDenise Guimarães
Cheguei até aqui porque cliquei em um link sobre Yoná Magalhães que vi no Facebook e preciso dizer que foi uma descoberta ma-ra-vi-lho-sa!!!
ResponderExcluirEste ensaio sobre Lampião no Cinema é de tirar o fôlego, pelas informações, pelo texto impecável, pela pesquisa e pelas imagens lindas. Mas não é o único. Pelo que estou vendo, tudo por aqui é simplesmente incrível!
Parabéns, José Antonio Orlando. Este Semióticas é simplesmente genial.
Ganhou mais uma fã de carteirinha!
Jéssica Maria Alves
Parabéns pelo alto nível. Vale por uma aula de cinema e jornalismo. Imagens maravilhosas, um achado, editadas com cuidado de trabalho científico, e sua filmografia do cangaço é perfeita. Seu blog Semióticas ganhou mais um fã de carteirinha.
ResponderExcluirCarlos Francisco Martinez
Encontrei com muita alegria este seu estudo maravilhoso sobre as imagens de Lampião e seu bando de cangaceiros. Foi através do Pinterest e foi uma surpresa. Eu havia visitado muitas outras vezes este blog Semióticas, sempre completo em tudo, mas este estudo por algum motivo eu não tinha visto.
ResponderExcluirMe encanta a forma como você escreve, o cuidado com as informações e a beleza das imagens que você seleciona. Parece um audiovisual, parece literatura, tudo de alto nível. Parabéns de novo por este e por todos os artigos que você compartilha. Muito obrigado. Ricardo Martinez
Passeando hoje pelas postagens deliciosas deste blog Semióticas eu descobri hoje este conteúdo maravilhoso sobre Lampião e o Cangaço, imagens incríveis e seu texto espetacular e literário. Riqueza de informações e prazer imenso com tanta beleza. Imagens da terra de meus avós. Emoções fortes aqui. Só agradeço.
ResponderExcluirJesse Gadelha
Olá, professor. Outra vez foi uma felicidade e uma alegria encontrar esta postagem maravilhosa do blog Semióticas que resgata esta história incrível que eu não conhecia. Com estas imagens lindas e com seu texto impecável, tive a sensação de que estava assistindo um documentário bacana. Bom demais!
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar.
Diego de Alcântara
Achei um primor esta postagem sobre Lampião e sobre o Cangaço no cinema. Também é um primor tudo o mais que estou encontrando neste maravilhoso blog Semióticas. Parabéns pelo alto nível.
ResponderExcluirBella Almeida