Um
dos nomes fundamentais da música e da indústria fonográfica no Brasil, André
Haidar Midani acredita que a criatividade na música está em
franco declínio e que a indústria do disco chegou, definitivamente, ao fim. Nascido na Síria, em 25 de setembro de 1932, e criado na
França desde os três anos de idade, Midani é considerado um Midas
da música: foi o descobridor da maior parte dos principais artistas
do mercado brasileiro desde o final dos anos 1950.
No Brasil, a trajetória de André Midani tem destaque em capítulos da maior importância: no final da década de 1950, trabalhando na gravadora Odeon,
participou do nascimento da Bossa Nova; em 1967, contratado pela gravadora Philips, deu impulso aos músicos da Tropicália; ainda na Philips, na década de 1970 contratou e lançou o maior elenco da música popular brasileira; em 1977, fundou a filial brasileira da Warner e lançou os primeiros
trabalhos da geração do rock nacional e dos nomes que surgiram nos anos 1980.
Durante sua passagem por Belo Horizonte, onde participou como convidado especial da programação do festival Eletronika, André Midani concedeu esta entrevista no Espaço 104, na Praça da Estação, depois de um bate-papo com a plateia do festival sobre as mutações do mercado fonográfico e sobre a atualidade da música no Brasil.
.Durante sua passagem por Belo Horizonte, onde participou como convidado especial da programação do festival Eletronika, André Midani concedeu esta entrevista no Espaço 104, na Praça da Estação, depois de um bate-papo com a plateia do festival sobre as mutações do mercado fonográfico e sobre a atualidade da música no Brasil.
Com
um senso de humor muito peculiar e visão privilegiada sobre o cenário da
música e da produção cultural, André Midani abre a entrevista
lembrando da infância, passada em Paris. Conta que sofreu na pele os
tempos difíceis da Segunda Guerra. Viveu entocado num porão, passou
fome e frio. Sua carreira profissional começou por um golpe de sorte
em 1952, ainda na França, como funcionário da gravadora Decca.
Ciente
da importância de sua trajetória para a música brasileira, Midani
registrou seus percalços e sucessos na sua autobiografia, “Música,
Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download”, publicada em 2009 pela
Nova Fronteira. Mas como o livro enfrentou impedimentos judiciais de
toda natureza, por conta da franqueza do autor e dos muitos nomes e
casos citados, o próprio Midani tomou uma iniciativa das mais
ousadas: reproduziu a íntegra do texto em seu site oficial
e
liberou todo o conteúdo de textos e imagens para download público
e gratuito. O livro está disponível no endereço
www.andremidani.net/2012/03/musica-idolos-e-poder.html.
Em
1955, André Midani deixou a família em Paris e emigrou para o Brasil, fugindo da convocação
para lutar na guerra dos franceses contra a Argélia. Em terras
brasileiras, conseguiu o primeiro emprego na indústria fonográfica porque falava francês e português com fluência, e desde então atuou em momentos marcantes da música do Brasil, em mais de
50 anos, destacando-se numa profissão que naquela época ainda não
existia: descobridor de talentos e gestor de carreiras e de projetos
fonográficos.
Um som perfeito, eterno
Apaixonado
por jazz e por bateria desde a juventude, nunca chegou a ser artista.
No final da década de 1950, já morando no Brasil, conseguiu emprego primeiro na Odeon Records e depois na Capitol Records. Foi aí que o fotógrafo Chico
Pereira apresentou a ele um grupo de jovens músicos da zona sul carioca, amigos dos
filhos: eram Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lyra e Roberto
Menescal. Pouco depois, Dorival Caymmi lhe apresentou João Gilberto.
"Eu
não descobri a Bossa Nova. Na verdade, eu a encontrei", ironiza
Midani. Sobre João Gilberto, ele diz que ficou especialmente
impressionado quando ouviu aquela voz e aquela batida revolucionária
de violão. Desde a primeira vez. Então, ficou atento e acabou
conhecendo João Gilberto nas praias do Rio de Janeiro. Em seguida,
fez o possível para que João pudesse gravar com total liberdade criativa o compacto com as
faixas “Chega de Saudade” e “Bim Bom”. “Como
toda coisa que é mesmo revolucionária, foi um choque, mas depois
você vai se acostumando. O João Gilberto inventou um som perfeito,
eterno. Os critérios que ele coloca na música dele são
absolutamente geniais, não é uma coisa de moda, que vai passar. É
algo definitivo que passa a ser uma referência para todos,
universal”, destaca.
Anos depois, na virada dos anos 1960 para 1970, Midani comandava as duas grandes gravadoras em atuação no Brasil: a Philips (que reunia os grandes nomes do que convencionou chamar de Música Popular Brasileira, incluindo de Elis Regina, Tom Jobim e Chico Buarque a Caetano, Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Jorge Ben, Raul Seixas e Wilson Simonal) e a Polydor, com artistas de sucesso popular como Tim Maia, Odair José e Evaldo Braga, entre outros. Midani atuava como uma espécie de Robin Hood: usava a renda que ganhava com os campeões de vendas para investir em artistas que vendiam menos.
Quanto
à Tropicália, Midani reconhece com toda modéstia que não teve
participação na invenção do movimento: "Não os descobri, só
dei espaço para Gal, Caetano, Bethânia, Gil, Chico Buarque, Tim
Maia, Jorge Ben, Os Mutantes, Elis Regina, Roberto Carlos, Paulinho
da Viola, Belchior, Raul Seixas e tantos outros na principal empresa
brasileira de discos. Eram os tempos difíceis da censura da ditadura militar, mas fiz como faz um jardineiro que tira o mato e as
ervas daninhas para as melhores plantas crescerem", recorda,
contando casos engraçados e situações surpreendentes dos primeiros
encontros com cada um daqueles iniciantes que se tornariam grandes nomes da música do Brasil.
Memórias de André Midani no Brasil: no alto, Caetano Veloso com Gal Costa e Maria Bethânia fotografados em 1975 por Antonio Guerreiro em seu lendário Studium, no Catete, Rio de Janeiro; a capa do álbum a capa do álbum Tropicália, de 1968, marco inaugural do movimento; a capa do antológico Doces Bárbaros, turnê de shows que reuniu nos anos 1970 Caetano, Gilberto Gil, Gal e Bethânia; e um encontro de Caetano, Midani e Gil. Abaixo, Caetano, Bethânia e João Gilberto em cena de Brasil, documentário de 1981 com roteiro e direção de Rogério Sganzerla; Caetano no palco, no início dos anos 1970, ao retornar ao Brasil depois do exílio imposto para ditadura militar; e Raul Seixas em 1973, na época da gravação do álbum "Krig-ha, Bandolo!", outra aposta arriscada de André Midani que se tornou grande sucesso de público e crítica |
Mentor dos grandes festivais
Como
se não bastasse, Midani também foi um dos mentores dos grandes
festivais de música que tomaram o Brasil na segunda metade da década
de 1960 e, a partir da década de 1970, tornou-se executivo da Odeon,
da WEA e da Philips/Phonogram (depois, Polygram do Brasil e Universal Music). Convidado
para montar a Warner no Brasil, apostou no rock nacional no início dos anos
1980, contratando bandas que fariam história. Em 1990, é
transferido para Nova Iorque, onde assume a presidência da Warner
para a América Latina.
Volta
ao Brasil em 2002, para trabalhar em projetos como a ONG Viva Rio. No
mesmo ano em que lançou sua autobiografia, "Música, Ídolos e
Poder - Do Vinil ao Download", ele foi eleito pela revista
"Billboard" uma das 90 personalidades da história da
indústria fonográfica mundial. Durante a entrevista, arrisco uma provacação irônica e pergunto sobre
o filme "O Homem que Matou o Facínora", de John Ford, no
qual o herói diz que, se a lenda é maior que homem, publique a
lenda.
Memórias: André Midani no escritório da gravadora Continental, no começo da década de 1970, época em que contratou os Novos Baianos. Abaixo, a capa do álbum lendário de 1972, Acabou Chorare, e os Novos Baianos logo após o lançamento do álbum, no sítio que tinha o apelido de Cantinho do Vovô, no Rio de Janeiro: a partir da esquerda, Baby e Pepeu com a filha Sarah, Bolacha, Charles Negrita, Galvão, Dadi (de chapéu, olhando para trás), Baixinho e Marilinha com a filha Buchinha na janela, Gato Felix (no chão, de chapéu, com a filha Ciça), Moraes Moreira, Paulinho com Gil no colo, Marilona com Davi Moraes no colo, e dois amigos não identificados. Também abaixo, Belchior, outra aposta de André Midani em meados dos anos 1970 |
Confrontado
com a máxima do filme de John Ford, André Midani sorri e faz um exercício
de modéstia. "No meu caso, a lenda é cada vez mais exagerada,
cada vez mais fantasiosa que a realidade", ironiza, fazendo
pausas para lembrar de um ou outro nome, um ou outro acontecimento
que foi definitivo na sua trajetória de vida e na trajetória dos
artistas com os quais convive e conviveu no passado. "A lenda
vive na imaginação das pessoas, mas no meu caso a lenda não é
melhor que o homem".
Segundo
Midani, ele nunca teve intenção de cultivar nem essa nem nenhuma
outra lenda. "Ao invés de incorporar essa lenda que você
associa com o filme de John Ford, prefiro lembrar aquele ditado
popular que diz que onde tem fumaça tem fogo (risos). Sempre tive
muita sorte, isso eu não posso negar. Fui eleito para conviver com a
música e com a amizade de tantos artistas maravilhosos ao longo de
tanto tempo”.
O Brasil é Carmen Miranda e Bossa Nova
Enquanto
se diz "brasileiro de carteirinha", André Midani reconhece
que somente a sorte pode explicar sua trajetória de tantos sucessos,
desde que decidiu trocar a França pelo Brasil, há seis décadas.
"Só posso ser muito grato pela vida ter me concedido tanta
sorte e por ter permitido que eu descobrisse ainda jovem este país
tão maravilhoso que é o Brasil".
Confira,
a seguir, os principais trechos da entrevista em que a principal
lenda do mercado fonográfico brasileiro recorda sua trajetória e
tece comentários espirituosos sobre personalidades do primeiro time,
como Carmen Miranda e os medalhões da Bossa Nova e da Tropicália.
Quais
são as suas recordações mais antigas sobre música?
André
Midani – Se eu puxar pela memória, preciso reconhecer que
todas as minhas lembranças mais antigas têm alguma relação com música.
Lembro do dia em que um tio meu chegou em casa com um gramofone.
Chamou a criançada, botou o disco com uma canção muito popular na
época, "La Mer", do cantor e compositor francês Charles
Trenet. Foi inesquecível. Para mim, que tinha menos de dez anos, foi
uma experiência tão forte que não consigo lembrar de nada da minha infância
antes disso.
E
a mudança da França para o Brasil, em 1955, como foi?
Minha
única referência sobre o Brasil era a figura maravilhosa de Carmen
Miranda. Tudo o mais era mistério, tudo era diferente do que eu
conhecia. Talvez por isso, o começo foi muito, muito difícil. Penei
bastante por uns dois anos, trabalhando como apontador de estoque e
vendedor. Mas depois a vida me deu em dobro. Acho mesmo que tirei a
sorte grande, por todas as experiências que tive e por todas as
pessoas tão especiais que conheci. A vida me apresentou todos os
grandes nomes da Bossa Nova, me apresentou João Gilberto e tantas
outras pessoas, artistas geniais, tantas oportunidades incríveis…
O
Brasil daquele tempo era outro…
Sim,
era um outro país, muito mais simples, muito mais sonhador, com
características muito diferentes. Era um país ainda desconhecido,
que impressionava o mundo por seu exotismo tremendo. Mas é preciso
reconhecer que, no imaginário internacional, até hoje o Brasil é
Carmen Miranda e Bossa Nova.
Carmen Miranda e o Bando da Lua: acima, a estrela em Nova York, durante a longa temporada de shows na Broadway, na década de 1945, que rendeu a Carmen na imprensa o título de "a mulher que salvou a Broadway". No alto, Carmen em cenas de "Romance carioca" (Nancy goes to Rio), filme de 1950 com roteiro de Sidney Sheldon e direção de Robert Z. Leonard; e a estrela com seus músicos brasileiros em Hollywood, em 1941, durante as filmagens de Uma Noite no Rio (That Night in Rio), comédia musical de 1941 com cenários do Rio de Janeiro recriados em estúdio com direção de Irving Cummings. Abaixo, Carmen Miranda em sua casa em Beverly Hills, nos anos 1940, em rara fotografia em que aparece com os cabelos soltos e sem a caracterização de baiana que marcou sua carreira |
Mas
Carmen veio muito antes e representa quase o avesso da Bossa Nova…
Você
tem toda razão. Podemos dizer que Carmen Miranda era colorida,
dançante, enquanto a Bossa Nova era em preto e branco, com suas
canções de harmonias minimalistas, seus temas de nostalgia e de
melancolia. Carmen foi o contrário disso, era festa e carnaval. A
Bossa Nova era mais introspectiva.
Carmen Miranda ainda tem alguma importância hoje ou ficou no passado?
Carmen
ainda é genial e se mantém como uma referência cultural muito forte no Brasil e em outros países. Talvez no mundo inteiro. Além de grande cantora, grande dançarina, atriz,
comediante e designer, muito antes desta palavra começar a ser
usada, ela também foi pioneira no que hoje chamamos de marketing.
Era uma artista completa, encantadora, que manipulava muito bem a
mídia e que usou seu talento para se manter no auge durante
décadas.
Sim,
Carmen Miranda era a extroversão em pessoa, gentilmente
carnavalesca, muito engraçada e conquistou o mundo a partir de
Hollywood. Engraçado como a Bossa Nova era o contrário, era a total
introversão. Mas também fez um sucesso estrondoso no mundo inteiro,
a partir do sucesso inicial nos Estados Unidos. Quanto a Carmen, acho
que infelizmente ainda hoje ela é muito mal compreendida no Brasil,
depois de tanto tempo.
Como
André Midani chegou à Bossa Nova?
Quando
penso na Bossa Nova, penso em um quarteto da maior importância: João
Gilberto em primeiro lugar, Tom Jobim, Newton Mendonça e, logo
depois, João Donato. Estes quatro personagens foram os mais
essenciais para o que chamamos de Bossa Nova. Claro que tem outros
nomes que contribuíram muito, tem os precursores do movimento, os
destaques das gerações que vieram depois, o sucesso de Astrud
Gilberto no exterior, tem Elis Regina e as outras cantoras... Mas sem
o trabalho criativo daquele quarteto inicial, sem João Gilberto, Tom
Jobim, Newton Mendonça e João Donato, a Bossa Nova não teria
existido com tanta força e qualidade.
Memórias de André Midani no Brasil:
no alto, João Donato e João
Gilberto
em 1957, passeando e proseando em Copacabana, antes da Bossa Nova. Acima, João Donato e André Midani em 1972. Abaixo, Gilberto Gil e seu violão nas ruas de Londres, em 1969, durante a temporada que passou no exílio, com Caetano Veloso, por imposição da ditadura militar; Tom Jobim e Elis Regina no estúdio, em 1974, durante a gravação da canção Águas de Março; e Chico Buarque com Caetano Veloso no palco, em 1979, apresentando as canções do álbum "Chico e Caetano, juntos e ao vivo", gravado em 1972 no Teatro Castro Alves, em Salvador, logo após o retorno de Caetano do seu exílio em Londres, por imposição da ditadura militar |
Além
da Bossa Nova, você também tem importância fundamental na
Tropicália, no que passou a ser chamado de MPB e também no sucesso
dos principais nomes do rock nacional, a partir dos anos 1980…
Sim,
é isso mesmo. Confesso que vivi (risos). E sobrevivi, para contar
minha versão dessas histórias, todas maravilhosas. Cada um destes
movimentos teve suas idiossincrasias, seus mitos. Na Tropicália, a
grande questão foi o pensamento anárquico, talvez por isso Carmen
Miranda, que morreu em 1955, tenha ressurgido com tanta força no
movimento, depois de ter sido escorraçada durante uma década pela
Bossa Nova.
Para
os tropicalistas, Carmen trazia o frescor de misturar cultura de
massas com a autêntica cultura popular brasileira. Com a Tropicália,
Carmen ajudou pela segunda vez a deixar a música e a cultura do
Brasil menos introvertida. Por isso ela ainda é tão importante e
marcante. Essa proposta de extroversão e festa também voltaria com
força com Rita Lee nos Mutantes e depois na carreira solo da Rita,
nos Secos & Molhados e em muitos e muitas. Nos anos 1980, o
espírito de festa e carnaval que Carmen inventou voltaria à MPB com
as melhores bandas do rock Brasil.
Memórias
de André Midani: no
alto,
o
mais famoso anúncio publicitário da
MPB,
publicado em 1973 em jornais e
revistas
para divulgar o Phono
73,
festival
realizado
em São Paulo, em maio de 1973,
no
Palácio de Convenções do Anhembi, e
produzido
pela Philips/Phonogram que, sob o
comando
de André
Midani, detinha,
na época,
contrato com
a maioria das estrelas da música
brasileira.
O Phono
73 também
teve, segundo
Midani,
o intuito de denunciar ao público a
ditadura
militar e a censura no Brasil. Nas fotos, nos bastidores do Phono 73, Gilberto Gil com Chico Buarque; e Gal Costa, Nara Leão, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Odair José, fotografados por Antonio Guerreiro. Acima, Rita Lee com
André Midani
em 1972 e com Os
Mutantes, em uma de suas últimas fotos na formação original do grupo. Abaixo, Os Mutantes (com Rita Lee em primeiro plano), Caetano Veloso e Gilberto Gil no palco da boate carioca Sucata, em outubro de 1968, na estreia da conturbada temporada de shows que terminou com a prisão de Caetano e Gil e com o exílio dos dois em Londres; no fundo do palco havia uma bandeira, obra do artista plástico Hélio Oiticica, com a inscrição "Seja Marginal, Seja Herói". Baptista e Sérgio Dias Baptista com Rita Lee na foto da capa do primeiro álbum de Os Mutantes, em 1968; e na fotografia no topo do Edifício Copan, em São Paulo, produzida para estampar a capa do álbum estreia, mas que permaneceu inédita até 1999, quando foi capa do álbum Os Mutantes, coletânea lançada pelo selo Luak Bop nos EUA depois da mediação feita por André Midani entre Rita, Arnaldo e Sérgio Dias |
E
a crise do mercado fonográfico? Posso dizer que André Midani concorda que a indústria
do disco chegou ao fim?
Chegou
ao fim, definitivamente, sem nenhuma dúvida. Estamos assistindo a
seus últimos momentos. O mercado da música já está caminhando em outras direções e todas elas, ou a maioria delas, têm relação com as plataformas da internet. E há também um fato incontestável: a criatividade musical está em declínio, no
Brasil e no mundo inteiro. Quase tudo o que aparece é relançamento,
ou remix de algo antigo, ou uma releitura, ou um plágio descarado, ou mais um cover sem nada
a acrescentar... Basta lembrar que o último instrumento musical, que
é a guitarra elétrica, foi inventado há mais de 60 anos.
Atualmente,
com a facilidade para se reproduzir cópias de CDs e DVDs, com os
mais de 18 milhões de sites musicais disponibilizando discos
inteiros na Internet, não há futuro para a indústria tradicional.
É o fim de uma época, mas ainda não sabemos direito o que está
por vir. Temos sinais das novidades, mas ainda não sabemos como será
a transformação com o passar do tempo.
E
a música que se faz hoje no Brasil, é melhor ou pior do que nas
últimas décadas?
Difícil
responder a sua pergunta, porque hoje tem de tudo. Você, que é um
especialista e um pesquisador bem informado, pelo que estou vendo, sabe que o novo e o antigo hoje
estão disponíveis ao mesmo tempo e que pouca gente sabe diferenciar
entre o que vale e o que não vale a pena. No fundo, tem alguma coisa
interessante aqui e ali, mas também tem muito lixo, muita coisa lamentável e completamente
descartável.
Hoje
temos menos qualidade, mas ainda assim temos novidades que merecem
atenção. Das mais recentes, gosto muito da Céu, gosto do Otto, da Fernanda Takai, da Maria Gadú... e de muitas outras e outros talentos que vão surgindo por este meu Brasil afora. Tem uma lista bem interessante, mas não vou citar todos os nomes porque com certeza cometeria a injustiça de esquecer de flar de algum nome importante.
Ah, eu preciso confessar que tenho me rendido cada vez mais à música eletrônica porque tem coisas muito surpreendentes aparecendo. Já ouviu os tangos eletrônicos em
remixes? Acho que é lá que está o futuro.
por José
Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Um toque de Midani. In: Blog
Semióticas,
5 de agosto de 2011. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2011/08/um-toque-de-midani.html
(acessado em .../.../...).
Nossa! Lindas fotos da sereia dourada "Carmem Miranda".Como ela é contemporanea, da liberdade feminina ao figurino, pegando a identidade brasileira e trazendo para a arte.
ResponderExcluirJose Miguel Wisnik ja questiona a muito tempo o fim da canção, Midani fala do fim do disco.
Outro momento, outros ritmos;a injeção tecnoeletronica na música.Nos anos 60, 70, a vida foi ritmada por canções,tinha uma importância cultural.Agora estamos com essa experiência em nossos ouvidos,nos fazendo correr atras de músicas boas.
Oi Zé! Quanto tempo não te vejo, meu amigo. Mas fiquei impressionado com o seu blog. Uau! Que beleza. Engraçado, nem te conto: encontrei a página por acaso no google, procurando uma referência sobre a Realidade para indicar aos alunos daqui. Achei seu blog e foi uma alegria sem tamanho. Estou enviando uma mensagem com o link do blog sobre a monografia – Revista Palavra, que você conheceu tão bem, ou melhor, que eu. Fiquei emocionado com a página de Alice e estou lendo e relendo a entrevista do Midani. Estou no aguardo de sua mensagem. Você está no Facebook? Me acrescenta na sua lista? Parabéns, Zé, e muito obrigado por dividir estas pérolas.
ResponderExcluirOi José Antônio! Adorei o que escreveu sobre André Midani. Já tinha ouvido meu pai comentar sobre ele, mas nada tão aprofundado. Muito me impressionou o amor dele pela música.E esse amor me fez refletir: ele é um estrangeiro que além de amar a nossa música, é um profundo conhecedor e portanto um excelente profissional. Já a maioria dos brasileiros não conhece praticamente nada da MPB (com exceção daquelas obras que fizeram parte da trilha sonora de alguma novela global). Com o advento da internet a coisa piorou porque gratuitamente temos acesso a uma enormidade de lixo, que alguns chamam de música. Sinceramente sou um pouco descrente, tenho perdido as esperanças no que tange a um novo movimento, um novo ídolo ou algo parecido. No Facebook tenho conhecido muitos músicos desconhecidos da mídia ou até mesmo daqueles que gostam da boa música. Vejo que esse pequeno grupo de músicos que se preocupa em estudar, pesquisar e com isso tenta desesperadamente compor algo novo. Será que esses músicos conseguirão? E se conseguirem, será que a mídia os receberia? Ao meu ver esses poucos são bravos guerreiros que não têm a menor garantia de que farão sucesso e mesmo assim insistem com garras e dentes afiados.E acho que você tem um papel fundamental. Além de grande conhecedor, desse e de outros assuntos, informa de modo divino aqueles que estão buscando tais conhecimentos. Mais uma vez parabenizo pelo texto maravilhoso e por investir de forma tão bela na cultura e na arte. São suma não hem?! Beijos!
ResponderExcluirzé antônio, adorei o teu blog, e em especial esse post sobre o midani, muito bem documentado, bem escrito e bem editado. a entrevista é preciosa. parabéns, abração.
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Midani é uma leitura essencial para quem admira a música brasileira! è emocionante a sua história vivida na 2ª guerra Mundial e como ele se envolveu com mais variados talentos da nossa música. Sem seu empenho como produtor a música brasileira com certeza não seria a mesma. Para quem gosta indico outros 2 livros sobre a música brasileira: Ouvindo estrelas do Mazolla e Noites Tropicais do Nelson Motta. Acrescento nesta postagem que a música independente tem surgido com propostas interesssantes. Cito como exemplos a banda Móveis Coloniais de Acajú e a cantora Marina Machado. Mas ainda tenho a impressão que a nossa música têm mais a oferecer.
ResponderExcluirComo sempre uma matéria impecável. Que delícia rever coisas do passado com essa linguagem moderna e limpa. Parabéns mais uma vez. Seu blog é um prazer de leitura.
ResponderExcluirMeu querido José Orlando. Seu blog é mais que um blog – seria mais correto chamá-lo de revista eletrônica, concorda?
ResponderExcluirEste post especialmente, sobre a trajetória da música brasileira, me trouxe à lembrança uma frase famosa do mestre Tom Jobim que tenho certeza que você conhece: O Brasil não é para principiantes.
Entre tantas páginas legais que encontrei por aqui, esta sobre a importância do André Midani me pareceu mais reluzente, porque faz pensar no passado e no futuro do país do carnaval...
Parabéns e vida longa, continue assim, nota 10, para acender um toque de cultura e inquietação nos milhares de leitores que já passaram por aqui. Seu blog Semióticas é uma lição: o Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza – porque a pobreza não aguenta mais ser explorada...
Francamente, estou muito impressionado com seu blog, José. Cheguei até aqui por uma indicação do Gilberto Gil sobre esta entrevista com o André Midani. É mesmo uma entrevista preciosa, uma raridade entre tanta bobagem que se publica por aí, mas não é a única preciosidade aqui neste espaço. Todas as outras entrevista, páginas, edições, são de primeira! Há muito tempo não encontro um material tão bom e tão variado. Chamar este seu Semióticas de blog é muito pouco... Enviei uma proposta para seu e-mail. Aguardo retorno.
ResponderExcluirE parabéns, meu caro. Não é todo dia que aparece um trabalho iluminado como o seu...
Abraços, muito obrigado por proporcionar textos e imagens tão inspirados e boa sorte, sempre.
Luis Augusto de Carvalho
Ufa, que delícia!!!
ResponderExcluirMais uma vez e com toda a tua peculiar leveza tu vais de A a Z nesta entrevista com Midani.
Concordo com o Luis Agusto, isto aqui não apenas um blog, é um lugar de disseminação de culturaS.
Mais um vez... obrigada por compartilhar tão lindas leituras e re-leituras!!!
O anônimo ai de cima sou eu, Benilde.
ExcluirAbraços
Zé, eu viajo no seu blog... cada dia uma surpresa... pena que às vezes me falta tempo pra poder apreciar mais e mais suas matérias.
ResponderExcluirEste blog Semióticas me surpreende mais a cada visita que faço. Tenho feito visitas diárias e encontro sempre cada matéria melhor que a outra. Este perfil e entrevista com André Midani é impressionante e até agora é minha página preferida do blog, mas ainda tenho muitas outras para ler e quem sabe uma das 50 que faltam possa superar as melhores impressões. Já tinha ouvido este nome em algum lugar, só que esta página do seu blog apresenta o personagem e traz junto toda a história da MPB no último século. Parabéns, José. E muito obrigado por compartilhar tantas pérolas.
ResponderExcluirDenilson de Souza
Esse blog é de uma preciosidade ímpar,cultura indiscutivelmente maravilhosa!!!!!
ResponderExcluirEstou muito impressionado com este blog Semióticas. Nem sei qual das páginas e entrevistas é melhor. Cada uma mais linda e mais inteligente que a outra. E são muitas. Esta entrevista com o André Midani é para quem gosta de música ler e reler e reler com toda a atenção do mundo. Mas há outros textos e fotos nas outras páginas que também são de tirar o chapéu. Parabéns a você, José AntÔnio Orlando. Virei seu fã e leitor. Agradeço!
ResponderExcluirColega,
ResponderExcluirParabéns pelo blog, pertinente e necessário. Desta ótima entrevista, destaco o que o Midani disse sobre a Carmen Miranda. O Caetano, quando lançou Foreign Sound, disse que queria fazer algo na interseção Brasil-EUA, "aquela coisa meio brega que toca em elevador, sabe?", disse na coletiva. E achei interessante, mas ainda estava meio incomodado com o disco. Depois que li a biografia da Carmen, ficou tudo bem mais claro. Era ela a desbravadora desse meio de campo aí. E a baixinha era atrevidamente genial.
abraço
Que coisas mais incrível que é este Semióticas, professor! Cheguei aqui agora e já sou fã totalmente. Tudo do mais alto nível, fotos lindas, textos chocantes. Parabéns, parabéns. Agradeço muito.
ResponderExcluirEdson Rezende Alencar
Um toque de mestre. Muitos parabéns por esta beleza de blog. O melhor de todos.
ResponderExcluirJúlio Cézar Guimarães
Preciso registrar aqui que esta matéria sobre André Midani, maravilhosa entrevista, me deixou emocionada. Agradeço por você compartilhar aqui beleza e sabedoria. Este blog Semióticas é um espetáculo completo. Merece todos os prêmios, merece muitos elogios. Agradeço demais. Beijos. Maria Júlia Mattos
ResponderExcluirQue delícia encontrar uma entrevista tão saborosa com o genial André Midani e com imagens tão lindas e referências completas. Este blog Semióticas é mesmo uma maravilha, visitei agora outras matérias daqui e tudo é lindo e sofisticado. Uma amiga me recomendou hoje cedo dizendo que eu iria amar. Ela acertou. Amei, amei. Parabéns pelo alto nível.
ResponderExcluirAna Teresa de Souza
Parabéns por tudo neste blog Semióticas que é um espetáculo e parabéns por esta entrevista muito saborosa e muito sensacional com o Mestre André Midani. Virei fã deste blog já nesta primeira visita. Tenho muitas outras matérias para ler aqui. Muito obrigado por compartilhar. Alex de Sousa
ResponderExcluirExcelente conteúdo. Esta sua postagem, seu belo texto e a entrevista, conseguiram traduzir um tema complexo, a relação de André Midani com a música popular no Brasil, para o leigo interessado sem mutilar as ideias centrais e sem cair em juízos de valor sobre pontos superficiais, como é muito comum na imprensa brasileira em geral.
ResponderExcluirAs imagens são um capítulo à parte, especialmente saborosas. Parabéns pelo alto nível.
Cristina Ferreira
Muito obrigada por compartilhar esta beleza. Aprendi muito com esta sua entrevista com o figurão da MPB André Midani e estas imagens lindas, todas identificadas, me levaram a uma viagem no tempo. Parabéns pelo alto nível. Suas postagens valem por uma aula completa.
ResponderExcluirLiana Mendes