Em um de seus muito conhecidos ensaios sobre a literatura do escritor de língua alemã nascido na cidade Praga, no antigo Império Austro-Húngaro, Franz Kafka (1883-1924), o professor e crítico literário Harold Bloom questiona: O que confere a Kafka uma autoridade espiritual tão única? A resposta, para Bloom e para qualquer leitor atento que conheça a obra em questão, alcança pontos de muita complexidade. Basta lembrar que poucos escritores tiveram seu nome transformado em adjetivo com tanta propriedade. "Kafkiano", na língua portuguesa, passou a designar algo surreal, muito complicado ou labiríntico, características marcantes da escrita deste genial escritor, laureado como cânone moderno ao lado de nomes como Marcel Proust e James Joyce: uma escrita de textos breves em que afloram o tom exasperado, atencioso ao menor detalhe, em temas que vão da alienação à perseguição implacável, do gnosticismo à religiosidade cifrada em dogmas teológicos.
Um estilo, enfim, que segundo os especialistas na obra do autor de "A Metamorfose" (1915) e "O Processo" (1925), ao retratar indivíduos preocupados com o pesadelo de um mundo impessoal e burocrático, expõe em profundidade os medos e as questões existenciais mais profundas de cada um de nós e de todos, incluindo, especialmente, o próprio Kafka, nascido em uma família judaica de classe média e falante do alemão, em uma época em que os moradores de Praga, na atual República Tcheca, em sua imensa maioria, falavam tcheco. Kafka, com sua angústia perante a realidade de seu tempo e também sua solidão interior, publicou apenas alguns poucos contos em vida, não terminou nenhum de seus romances e queimou cerca de 90% de seus escritos. O pouco que restou, incluindo obras como "O Processo", "O Castelo" e "O Desaparecido", foi publicado postumamente por iniciativa de seu amigo Max Brod, que não respeitou a vontade relatada a ele por Kafka, que era de ter todos os seus manuscritos destruídos.
Denso, filosófico, simbólico, mas também inaugurando na literatura uma mistura insólita entre o horrível e o absurdo, entre o cômico e o melancólico, que nenhum autor havia antes experimentado, mas que outros adotaram depois dele, o sentido quase sempre mítico e surpreendente dos textos de Kafka tem parentesco direto com as parábolas, aquele gênero sempre associado aos evangelhos bíblicos do Novo Testamento. Tal como as narrativas alegóricas de fundo religioso, baseadas em comparações e em formas diversas de analogias, as histórias e situações imaginadas por Kafka têm, sempre, um fim didático, baseadas em confrontos de crônicas de costumes ou observações analíticas sobre questões só na aparência simples ou insignificantes.
O leitor brasileiro, que muito provavelmente, assim como eu, conhece a obra do autor tcheco pelas traduções para o português feitas por Modesto Carone, que a partir de "A Metamorfose", livro publicado pela Editora Brasiliense em 1983, traduziu até 2002 a obra completa de Kafka, agora tem mais uma possibilidade de mergulhar nesta obra emblemática. Muitos já haviam percebido o parentesco da literatura personalíssima de Kafka com as parábolas de tradições ancestrais, mas coube ao alemão Nikolaus Heidelbach a iniciativa de selecionar e ilustrar uma série delas, distribuídas na obra do autor de "A Metamorfose": em cada parábola selecionada, cada relato é sucinto, e em cada um dos pequenos fragmentos a simples e aparente normalidade da existência definitivamente sucumbe, em certo momento, diante do inadiável desespero da sobrevivência.
Ao longe, o cantar de um galo
A
seleção de Kafka segundo Heidelbach chegou às livrarias com o
título "Oportunidade para um Pequeno Desespero" (Editora
Martins Fontes). São 26 textos, organizados e ilustrados por
Heidelbach, que têm sabor de inéditos mesmo para o leitor
brasileiro mais dedicado à obra breve e fundamental de Kafka. Com um
senso de humor ferino, os desenhos de Heidelbach traduzem e dialogam
com as parábolas em seus pequenos lances que traduzem grandezas
cifradas.
Nikolaus
Heidelbach selecionou as histórias do livro entre os diários,
cartas e textos diversos de Franz Kafka, a partir de uma frase –– que
dá título ao livro e foi extraída do romance "O Castelo"
(1926), quando o personagem K. encontra-se sozinho na rua com os pés
afundados na neve, entre um castelo e uma aldeia desconhecidos, e
pensa, com uma fina ironia que questiona e ao mesmo tempo coloca em
cheque o sentido tétrico da narrativa: "Oportunidade para um
pequeno desespero".
A citação não vem reproduzida na edição, mas surge indiretamente na forma de epígrafe –– "Se alguém tem uma pele amarelada, não tem escolha a não ser mantê-la, mas não precisa, como Frieda, ainda por cima, vestir uma blusa bem decotada cor de creme, de forma que os nossos olhos transbordem de tanto amarelo (?). Em algum lugar um senhor até imitou o canto de um galo".
Entre os 26 textos, há "Cinco Amigos", que trata com humor a falta de sentido das relações humanas, como bem define o narrador: "E qual é o sentido, afinal, dessa contínua comunhão, também entre nós cinco não há sentido, mas agora já estamos juntos e vamos permanecer assim". Outras vertentes do humor, com lances de absurdo e de literatura fantástica, surgem no surpreendente "A Ponte", no qual um homem percebe o que é uma ponte e espera pelo seu próprio fim: da construção da muralha da China, o mecanismo burocrático é transportado para uma terra distante e, dessa forma, evidencia sua desumanidade.
Histórias mais absurdas
Nascido
em uma família da classe média judia e falante da língua alemã,
durante os tempos de crise do antigo Império Austro-Húngaro, Franz
Kafka deixou alguns poucos textos escritos, obras na maioria
incompletas, longes da versão final que pretendia um dia concluir.
Publicadas depois de sua morte, estas poucas obras fizeram dele uma
referência como um dos maiores escritores da Literatura Universal.
Autor
de novelas, romances e coletâneas de contos, Kafka escreveu também
a turbulenta "Carta ao Pai" (1919), com mais de 100
páginas, e centenas de páginas de diários. Muitas das obras hoje
conhecidas de Kafka ele não concluiu, especialmente as narrativas
longas, entre elas os romances "América" e "O
Castelo" e alguns capítulos de "O Processo" –
romance escrito sem ordem cronológica e sobre o qual, como em vários
outros casos, pairam controvérsias questionando se a edição
oficial é mesmo a definitiva.
Em "A Metamorfose", seu texto mais conhecido, Kafka narra o caso de um homem que acorda transformado num gigantesco inseto. Em "O Processo", um certo Josef K. é julgado e condenado por um crime que ele mesmo ignora. Em "O Castelo", o agrimensor K. não consegue ter acesso aos senhores que o contrataram, enquanto "Na Colônia Penal" (1914) fala sobre uma máquina que tem o poder de executar sentenças.
No sistema jurídico arbitrário de "Na Colônia Penal", apenas imaginado por Kafka, no qual o acusado não tem direito à defesa, um instrumento de tortura escreve, lentamente, sobre a pele do corpo do condenado, a sentença do crime que, muitas vezes, nem mesmo ele sabe que cometeu. Kafka antecipa, em muitas décadas, um termo que a Teoria Geral do Direito só iria incorporar em meados dos anos 1970: o "Lawfare", palavra-valise formada por "law" (lei) e "warfare" (guerra), podendo ser traduzida em português como "guerra jurídica", ou uma guerra em que a lei e manobras jurídico-legais são usadas como arma contra um adversário para fins de perseguição política.
No sistema jurídico arbitrário de "Na Colônia Penal", apenas imaginado por Kafka, no qual o acusado não tem direito à defesa, um instrumento de tortura escreve, lentamente, sobre a pele do corpo do condenado, a sentença do crime que, muitas vezes, nem mesmo ele sabe que cometeu. Kafka antecipa, em muitas décadas, um termo que a Teoria Geral do Direito só iria incorporar em meados dos anos 1970: o "Lawfare", palavra-valise formada por "law" (lei) e "warfare" (guerra), podendo ser traduzida em português como "guerra jurídica", ou uma guerra em que a lei e manobras jurídico-legais são usadas como arma contra um adversário para fins de perseguição política.
Como sempre, em Kafka, no território de "Na Colônia Penal" não há sinal algum de redenção. Trata-se, na verdade, de uma história absurda sobre uma Colônia que usa esta máquina para torturar e matar pessoas, sem que estas sequer saibam o porquê de sua morte. Para a maior parte dos críticos e pesquisadores de literatura, os protagonistas das narrativas de Kafka são projeções dele mesmo e de sua incapacidade de adaptação na vida social e nos estudos.
Pesadelos burocráticos
Autor
de uma literatura personalíssima que quase não encontra paralelos
com obras produzidas nos séculos anteriores – e que deu origem ao
adjetivo “kafkiano”, aplicado quando o que está em jogo são
perseguições e situações características dos escritos do autor, Kafka retrata, talvez invariavelmente, indivíduos comuns preocupados com os pesadelos avassaladores de um mundo
impessoal, injusto e burocrático. Um mundo que domina, que oprime, sem critério e sem justificativa.
O mais velho de seis filhos de um pai descrito pelo biógrafo Stanley Corngold (em "Introdução à Metamorfose", 1972) como “um grande negociante egoísta e arrogante", e pelo próprio filho como "um verdadeiro kavka ("gralha", em tcheco) nos quesitos força, saúde, apetite, sonoridade vocal, resistência e conhecimento da natureza humana" (em "Carta ao Pai"), Kafka atingiu pouca ou nenhuma fama, nem prestígio, com seus livros, na maioria editados postumamente. Em cada texto, o autor abarca à perfeição o conceito de “literatura moderna” e expõe seus medos, sua angústia perante o mundo, sua solidão e sua relação problemática com a família e os círculos sociais de sua época. Morreu em junho de 1924 num sanatório perto de Viena, onde se internou com tuberculose.
Desde então, seu legado único, incompleto, pessimista – resgatado e publicado pelo amigo Max Brod – exerce enorme influência na literatura e na cultura em geral, com adaptações para o cinema e outras mídias e como referência para outros escritores, artistas de áreas diversas e também músicos, como comprova o trabalho singular do cantor, compositor e instrumentista Otto em videoclipes, no show, nas canções e na concepção do CD intitulado “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”.
O artista intranquilo
"Certa
manhã, quando Gregório Samsa acordou, após um sono intranquilo,
achou-se em sua cama convertido em monstruoso inseto". O músico pernambucano Otto
tomou emprestada esta frase célebre, que abre o livro "A Metamorfose", uma das obras mais conhecidas de Franz Kafka, para batizar um dos melhores CDs da safra recente produzida no
Brasil, o impecável "Certa Manhã Acordei de Sonhos
Intranquilos".
O
quarto álbum de estúdio do cantor, compositor e percussionista
pernambucano – lançado no apagar das luzes de 2009, pelo selo
Arterial Music, reunindo dez canções, oito delas inéditas, com
sonoridade dançante e belas letras cheias de melancolia – consumiu
cinco anos de trabalho do músico. Mas todo o esforço foi recompensado com a aclamação pelo público que acompanha a trajetória de Otto, além do histórico de prêmios que conquistou e dos elogios
unânimes dos críticos mais renitentes, no Brasil e no exterior.
"Deu sim muito trabalho e muita aporrinhação, mas o resultado eu acho que traduz um pouco do meu melhor", explica Otto, com muita calma e muito bem-humurado, do Rio de Janeiro, na entrevista que fiz com ele por telefone, para um jornal de Belo Horizonte. A entrevista foi feita em uma data das mais emblemáticas do calendário político brasileiro: a tarde do feriado do dia sete de setembro. Lembro a ele da data especial e do simbolismo que ela representa, assim que começamos a entrevista.
"Sim, engraçado que hoje é mesmo dia sete de setembro, isso mesmo, o dia em que Dom Pedro gritou que era independência ou morte", ele constata, meio que achando graça de sua distração com o calendário. "Mas agora tem também o 11 de setembro, que virou uma outra data emblemática no mundo inteiro. Há muito tempo que penso nesta data do 11 de setembro para um show que seja mesmo marcante, que chegue para ficar na cabeça das pessoas como uma lembrança boa, porque as lembranças boas é o que movem a vida da gente", ele diz.
Não por acaso, Otto escolheu outra data cabalística como cláusula prevista em contrato para o lançamento do próximo disco. "Dia 11 do 11 de 2011 é a data marcada e assinada para a estreia do próximo show e para o lançamento do próximo CD, que vai trazer canções inéditas sobre garotas, máquinas e amores", ele conta, antecipando detalhes mirabolantes, ideias e planos – "alguns impossíveis para agora, mas gravados na ponta do lápis para uma próxima", ele diz - para a produção do próximo trabalho.
Um cenário que lembra a Lua
"Será
um disco experimental, diferente, com uma mistura de sons e de
ritmos, umas coisas de sons espaciais e muitas referências ao Pink
Floyd, que eu amo de paixão, e ao filme 'Farenheit 451', de François Truffaut, que é uma coisa que mexeu muito e ainda mexe muito comigo, mais
a presença luxuosa de um bando de músicos que eu acho que são de primeira linha",
destaca Otto.
"Já
está tudo acertado", ele diz. "Ah, e tem também a
participação muito especial de dois mestres que são o Naná Vasconcelos e
uns remixes de passagens de som do Fela Kuti, os dois vão estar presentes no espírito do disco, meu grande mestre pernambucano, pioneiro em misturar
percussão com mil coisas, e meu mestre africano, pioneiro da música que a gente chama hoje de afrobeat".
"Já tenho até a foto da capa do próximo CD na cabeça: será um cenário que lembra a lua, com um trono africano e eu e os músicos montados em trajes da tradição tribal. Tem também um verso que está me perseguindo e que deve conduzir as composições que ainda estão por vir. O verso é assim: há um lado da cama que existe entre nós" – ele recita, cantarolando o improviso ao telefone e explicando o parentesco intrincado das novas ideias com outros discos, outras canções, outros filmes e livros.
Enquanto o próximo disco vai fervilhando na cabeça do artista, o último CD segue rajetória de sucesso, com turnê de Otto e banda pelo Brasil e outros países e elogios na imprensa internacional – entre eles o aval do sisudo "The New York Times", que rasgou elogios em longa matéria especial e chamou Otto de "Moby do sertão" – em referência ao festejado artistas da cena eletrônica dos EUA.
O Moby do sertão
Como
se não bastasse, o CD "Certa Manhã Acordei de Sonhos
Intranquilos" – que traz projeto gráfico
surpreendente e fotos na capa e encarte de Cafi e Talita Miranda que
registram Otto na Floresta da Tijuca – também emplacou
simultaneamente duas canções com sucesso em trilhas de novelas que
disputaram a audiência no mesmo horário. Coisa rara. Otto emplacou
"Crua" como um dos principais temas musicais em "Passione",
da Rede Globo, e "Naquela Mesa", na trilha de "Ribeirão do
Tempo", da Rede Record.
"Este
disco, com este título que no princípio todo mundo achava
esquisito, é de certa forma minha evolução", ele diz. "Do
primeiro CD, 'Samba pra Burro', posso dizer que é o que mais gosto,
porque era uma carta de intenções. Os seguintes, incluindo o
'Condom Black' e o 'Sem Gravidade', também acho bons, fortes. Mas
este atingiu um ponto legal, porque é um disco difícil,
sofisticado, literário, que está provando que é possível sim,
tocar as pessoas e emocionar e divertir e fazer pensar sem abrir
concessões e sem explorar o mais fácil, o previsível. E também
não pode ser impaciente”, ele diz, citando a sabedoria da
literatura de Kafka:
"Tem
uma passagem muito bonita do Kafka que eu li e que ficou na minha
cabeça. Ele fala que talvez exista apenas um pecado capital, que é
a impaciência. Muito louco isso. O Kafka escreveu que foi por causa
da impaciência que fomos expulsos do Paraíso. E depois diz que é
por causa da impaciência que não podemos voltar”.
por José Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Parábolas de Kafka. In: Blog
Semióticas,
21 de julho de 2011. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2011/07/parabolas-de-kafka.html
(acessado em .../.../…).
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Ótimo texto. Kafka realmente é um gênio. E o cd do Otto é prova incontestável da sua (ótima) influência. Acabei de chegar de um show dele, em Garanhuns/PE. É virtuoso! Parabéns pelas postagens, professor!
ResponderExcluirOh, meu caro Jorge. Deve ter sido uma viagem das boas um show do Otto na terra natal. Bacana. Muito grato pelos elogios e pelo comentário que reforça meus argumentos. Kafka e Otto, quem diria... Abração para ti!
ResponderExcluirJosé Orlando, muito legal o seu blog. Vai ficar entre os meus favoritos.Um grande abraço. Fred
ResponderExcluirMeu caro Frederico. Vindo de você, o elogio pode ser tomado pelo autor como uma honra, privilêgio. Tomara, então, que eu seja mesmo merecedor. Valeu. Abração!
ResponderExcluirMuito interessante o texto José Orlando. Gosto muito de ensaios que criam elos e nos levam a referências e universos distintos. Tenho uma amiga que ama Kafka, e uma outra, por sinal, carioca, apixonada por Otto. Sempre me indicaram ambos, mas ainda não parei para consumi-los!
ResponderExcluirEspero que continue postando materiais ricos, como os que tem publicado, em seu blog!
Caro professor, recebi indicação de seu ex-aluno do Curso de Design Gráfico da Fumec Victor Fioravante. Estou gostando bastante da qualidade dos textos do blog. Sou estagiário em revisão de textos, e os seus, segundo os temas e a pegada acadêmica do blog, são impecáveis. Participo de alguns grupos de estudos e de um suplemento literário (ainda em estado de feto), mas, pelo que vi em duas postagens, peço que me informe quais são suas publicações, as quais serão de grande apoio para várias daquelas atividades.
ResponderExcluirUma questão: na área de Letras, especificamente na de estudos literários, há um debate que, pelo menos na minha curta jornada desde o início da graduação (2007) até hoje, suscita polêmicas e desentendimentos complicadíssimos, ainda mais quando acrescentamos linguistas (de variadas linhas) na história. Trata-se da natureza do texto literário e de como ele precisa/deve(ria)/exige/pode (...) ser abordado. Eu poderia resumir os posicionamentos ideológicos a respeito em três grandes grupos:
1. AUTONONIA TOTAL: o texto literário é igual a si mesmo, e sua natureza/abordagem independe de dados históricos e dados biográficos do autor.
2. DEPENDÊNCIA TOTAL: o texto literário só pode (no sentido de possibilidade, não de permissão) ser (mais) adequadamente compreendido se levarmos em conta o contexto sociocultural que lhe engendrou, bem como os dados biográficos do autor.
3. AUTONOMIA PARCIAL: o texto literário nem é totalmente autônomo nem totalmente dependente [dos citados dados e contexto], mas sua compreensão pode (no sentido de possibilidade, não de permissão) ser complementada se levarmos em conta o contexto sociocultural que lhe engendrou, bem como os dados biográficos do autor.
Diante disso, professor, pergunto: qual seria a posição (se ela existe) dos estudos em semiótica acerca dessa polêmica? Como eles lidam com isso?
Agradeço a oportunidade de conhecer seu trabalho e aguardo as informações referentes a possíveis publicações suas e aguardo também a resposta para a supracitada pergunta.
Parabéns pela qualidade.
(rogervsc@gmail.com)
Kafka é, sem duvida, o mais importante autor do século XX. Ele nos mostra que as rupturas mais radicais no edifico da realidade nao foram resultado das inovacoes tecnicas da vanguardas, mas se deram dentro da forma e da evolucao do romance desde o fim do naturalismo. Em outras palavras, ele reiventou o realismo sem precisar torcer, como Joyce ou Guimaraes, a camada morfica, mas simplesmente mudando de lugar os fundamentos do predio, la esta aparentemente um predio, parece um edificio solido, no detalhe ele e realista, mas o conjunto e pura fantasmagoria. Parabens pelo trabalho paciente de tecer o moderno historico, Orlando, voce esta construindo uma plataforma muito consistente e duradoura. Uma mensagem que tem mandei foi enfolida pelo facebook, mas em resumo eu dizia que nos, eu e voce, esperamos passar o momento "novidadeiro" e "modernoso" do blog, juystamente pois agora que ele nao e mais modo, e possivel oferecer algo de qualidade, pois exisge uma demanda inercial enorme por isto e voce descobriu uma mina de ouro. Voce confirmou minha tese. E justamente quando o publico mais novidaderio migra para outras formas, que voce pode aproveitar melhor a estrutura desta plataforma. O seu caso e o que se chama em alemao de volltreffer, tiro certeiro. abracao do Jose
ResponderExcluirVirtuoso! Simples assim!
ResponderExcluirParabéns mestre!
Um grande abraço!
Ludmilla
Adorei o Blog e o texto está excepcional!
ResponderExcluirGosto muito de Kafka, Carta ao Pai é uma obra primorosa.
Utilizei esse potente romancista em minha dissetação de mestrado, em particular O Artista da Fome, Carta ao Pai e Na Colônia Penal.
O paralelo que você fez entre Kafka e Otto foi genial, os dois são de fato seres intranquilos. Parabéns!
Venho aqui mais vezes!
Abçs,
Ana.
Ah, você conhece um livro organizado pelo Edson Passetti, chamado "Kafka e Foucault sem medos"
ResponderExcluirImpecável!
Abçs,
Ana.
Olá, Ana. Adorei suas mensagens...
ResponderExcluirE sim, conheço o livro ("Kafka, Foucault, sem medos") e assinaria com orgulho embaixo de cada um dos artigos reunidos pelo Edson Passetti. Tanto Kafka quanto Foucault, nos domínios distintos da literatura de ficção e da filosofia, desestabilizam a sociedade de formalidades em que o Estado é o guardião da igualdade jurídica em nome de uma pretensa (e até hoje inatingível) igualdade social. As abordagens dos ensaios são especialmente felizes e creio que sobre a maioria delas também pairam os ensinamentos de outro mestre, Thoureau (da “desobediência civil”), com o alerta de que a ameaça do uso da força física sobre cada desobediente não garante acesso à uniformidade para todos...
As ideias de Kafka, Foucault, Thoureau e outros mestres libertários precisam ser propagadas para acenar com uma promessa de felicidade para o coletivo e para repelir todo autoritarismo e covardia...
Mil beijos para você!
Obrigada pela visita no blog, que tem a pretenção de ser apenas um espaço de alegrias e inquietações.
ResponderExcluirNão li ainda Thoureau, vou buscar. Valeu pela indicação!
Coma sua postagem, lembrei de La Boétie "O discurso da servidão voluntária", absolutamente necessário para pensarmos a servidão incondicional de uns sobre os outros, ou de muitos sobre um.
No Brasil, Edson Passetti realmente é um desobediente qualificadíssimo.
Saúde!
Forte abraço,
Nunca tinha visto um blog como o seu. Tem uma profundidade incrível mas também alcança a cultura pop, é inteligente e seduz a gente com a beleza das imagens e da edição. Parabéns, José Antonio Orlando. Este Semióticas é simplesmente genial! Virei sua fã de carteirinha!
ResponderExcluirAline de Albuquerque
Tive um trauma de infância quando minha mãe me levou para assistir uma montagem adulta de "Josephina, a Cantora" e chorei de medo. Fiquei muitas noites sem dormir. Muitos anos depois, na escola, "A Metamorfose" foi leitura obrigatória e também tive calafrios de imaginar que eu estivesse na pele daquele sujeito transformado ao acordar no repugnante inseto. Agora curto o Otto e descobri o verdadeiro sentido da literatura do Kafka nesta página do seu blog. Parabéns. Amei cada palavra e cada imagem e a entrevista genial com o grande Otto. Acho até que estou curado...
ResponderExcluirParabéns pelo blog. Realmente, é um espetáculo. Gostei de tudo. Mas esta página reunindo Kafka com Otto está de outro mundo. Show! Virei fã. Abraços para você, meu querido José! - Matheus Magalhães
ResponderExcluirBela entrevista e belo artigo sobre a grande arte de Franz Kafka.
ResponderExcluirConfesso que fiquei com muita surpresa e muito feliz por ter encontrado seu site em um link do Facebook. Um dos melhores sites que já visitei. Só esta citação da entrevista com o Otto já valeria pelo site inteiro, mesmo que o Semióticas não tivesse tantas e tantas matérias sensacionais, cada uma melhor que a outra:
"Tem uma passagem muito bonita do Kafka que eu li e que ficou na minha cabeça. Ele fala que talvez exista apenas um pecado capital, que é a impaciência. Muito louco isso. O Kafka escreveu que foi por causa da impaciência que fomos expulsos do Paraíso. E depois diz que é por causa da impaciência que não podemos voltar"
Agradeço muito por compartilhar e mando um beijo. Virei sua fã.
Sandra Santos Oliveira
Registro aqui meus parabéns por este belo blog Semióticas. Tudo do mais alto nível. É o melhor blog que já encontrei em muitos anos de pesquisa. Parabéns mesmo. Estou encantada com tudo e com esta página sobre Kafka mais ainda!!!
ResponderExcluirPatrícia Lopes
Que beleza de site e que beleza de matéria. Agradeço por você compartilhar imagens tão belas e textos tão sábios. Agradeço por você me apresentar coisas tão maravilhosas como este disco do Otto que eu não conhecia. Só agora descobri e simplesmente amei. Ai que sensacional que é tudo aqui em Semióticas!!!
ResponderExcluirTaci Nascimento
Mais uma das minhas paixões mereceu um ensaio brilhante neste blog Semióticas maravilhoso. Amo Kafka e aqui descobri informações preciosas sobre ele, sem contar estas imagens deslumbrantes e a presença de Otto, que também é o máximo. Que texto! Só agradeço, feliz. Allison de Rezende
ResponderExcluirUma beleza de artigo, texto impecável, imagens maravilhosas. Você conseguiu resumir de forma encantada o estranhamento e os mistérios sedutores da literatura de Kafka. E fazer o paralelo com o disco do Otto foi o pulo do gato. Amei tudo. Parabéns pela postagem e pelo blog Semióticas que é excelente em tudo.
ResponderExcluirNice Silva Pinheiro
Esta mensagem é para agradecer por você compartilhar conteúdos tão bacanas. Sou um amante da cultura brasileira e da cultura em geral, da literatura e da música. Talvez por isso esta e outras postagens me deixaram emocionado, me trouxeram novas ideias e confirmaram muitas crenças que tenho comigo. Aprendi muito.
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar conteúdos tão preciosos e tão necessários hoje e sempre. Parabéns pelo alto nível.
Itamar Rodrigues