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8 de novembro de 2025

O fotolivro de Victor Hugo

 



Desde sua invenção, a fotografia patrocinou a expansão dos

limites do visível sobre o invisível, do revelado sobre o oculto.

–– Mauricio Lissovsky em “A máquina de esperar” (2009).   




Autor de grandes clássicos da literatura universal como “Os Miseráveis” e “O Corcunda de Notre-Dame”, romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, ativista pelos direitos humanos e senador de importante atuação na França, Victor Hugo (1802-1885) poderia também ter sido o primeiro autor de um fotolivro. Contudo, o seu projeto para “As Contemplações”, reunindo uma fotografia para cada poema, terminou rejeitado pela casa editorial Hetzel. Depois de anos de adiamentos, “As Contemplações” seria finalmente publicado em 1856, com 92 poemas que fizeram história, mas sem as fotografias selecionadas pelo autor. Sem a publicação do projeto original de Victor Hugo, as honrarias pelo primeiro livro com fotografias ficaram com o escritor e cientista inglês Henry Fox Talbot.

Também creditado como um dos inventores da fotografia, Talbot passou à condição de pioneiro como autor de “The Pensil of Nature” (O Lápis da Natureza), publicado em seis volumes, entre 1844 e 1846, pela casa editorial Longman, Brown, Green & Longmans de Londres, e celebrado por ser o primeiro livro a incluir reproduções fotográficas coladas em suas páginasO livro de Talbot não era uma obra de literatura e sim uma publicação científica que apresentava questões práticas do processo fotográfico e abordava seu potencial artístico, incluindo 24 fotografias, e não desenhos e gravuras, que eram as únicas possibilidades de ilustração para uma obra impressa até então. Cada uma das fotografias, incluindo retratos, reproduções de obras de arte e imagens da natureza, era acompanhada por textos explicativos com detalhes sobre a técnica e sobre as diversas aplicações possíveis para o aparato fotográfico.

Na mesma época da publicação do livro de Talbot, uma fotógrafa, Anna Atkins, também em Londres, conseguiu realizar um trabalho editorial que também foi uma proeza na pesquisa científica, nas artes gráficas e na história da fotografia. Com espécimes que ela mesma coletou ou recebeu de outros pesquisadores, Atkins produziu placas de fotografias colocando algas úmidas sobre papel fotossensibilizado, no processo conhecido como cianótipo, inventado em 1842 por John Herschel. O livro de Atkins, “Photographs of British Algae” (Fotografias de Algas Britânicas), teve edição artesanal em composições de manuscritos feitos por ela sobre cada uma das 307 imagens de algas em cianótipos.










O fotolivro de Victor Hugo: no alto e acima,
retrato do escritor feito em 1853 por seu filho,
Charles Hugo; e a nova edição de “Les Contemplations”,
agora ilustrada, com os poemas acompanhados de um
álbum de fotografias, conforme o projeto original que
não foi concretizado na primeira edição, em 1856.

Abaixo, as capas de “The Photobook: A History”,
publicados por Gerry Badger e Martin Parr em
três volumes, que fizeram uma retrospectiva
histórica e firmaram o conceito de “fotolivro”









Os livros com fotografias tiveram uma extensa trajetória de evolução técnica e aperfeiçoamentos desde os experimentos iniciais de Fox Talbot e Anna Atkins. Em 2005, tal trajetória, que remonta aos primórdios da fotografia, teve uma importante retrospectiva apresentada pelo trabalho de uma dupla de fotógrafos e pesquisadores, Gerry Badger e Martin Parr, autores de “The Photobook: A History” (Phaidon Press), em três volumes ilustrados, lançados respectivamente em 2005, 2006 e 2014. Além de popularizar o termo fotolivro (photobook), para o que antes era chamado de “livro de fotografia”, “livro de fotógrafo” ou “livro de artista”, o inventário de Badger e Parr define o conceito como “um tipo específico de livro de fotografia, no qual imagens prevalecem sobre o texto, e o trabalho conjunto do fotógrafo, do editor e do designer gráfico ajudam a construir uma narrativa visual”.


Origens do fotolivro



Gerry Badger e Martin Parr
não citam o projeto original de Victor Hugo que não se concretizou, mas destacam o papel pioneiro de Anna Atkins e William Fox Talbot, enumerando e descrevendo a trajetória de centenas de fotolivros que marcaram época e tiveram uma importância fundamental desde o surgimento dos processos fotográficos, nas primeiras décadas do século 19. Do inventário de Badger e Parr constam obras marcantes da história da fotografia e das artes gráficas, seja com fotografias coladas nas páginas e encadernadas como livro, seja com fotografias incorporadas ao processo de impressão do livro. Nos três volumes amplamente ilustrados de “The Photobook: A History” estão listadas, descritas e contextualizadas obras surpreendentes, tanto as que alcançaram notoriedade como aquelas que somente são conhecidas por especialistas.






O fotolivro de Victor Hugo: acima,
Vista da Janela em Le Gras” (em francês,
Point de vue du Gras), incluída na nova edição de
Les Contemplations” e considerada a fotografia
permanente mais antiga do mundo,
criada pelo
inventor francês Joseph Nicéphore Niépce, entre
1826 e 1827, no processo que Niépce batizou de
heliografia” e que abriu caminho para o
desenvolvimento da fotografia moderna.

Abaixo, as capas originais de dois fotolivros que
redefiniram o formato e são considerados referências:
American Photographs” (1938), de Walker Evans,
publicado com ensaio escrito por Lincoln Kirsten;
e “The Americans” (1958), de Robert Frank,
publicado com ensaio escrito por Jack Kerouac







No acervo reunido por Badger e Parr estão, em destaque, fotolivros que exerceram grande influência na fotografia, na literatura e nas artes em geral. "Talvez seja importante esclarecer que a criação do fotolivro é uma arte literária e narrativa que está situada entre o filme e o romance" – ressalta Gerry Badger. Alguns dos fotolivros em relevo na lista são Street Life in London” (1878), parceria do jornalista Adolphe Smith com o fotógrafo John Thomson; “Animal Locomotion” (1887), de Eadweard Muybridge; The Royal Mummies” (1912), de Grafton Elliot Smith; “Men at Work” (1932), de Lewis Hine;Paris de Nuit” (1933), com fotografias de Brassaï, pseudônimo de Gyula Halász, e texto de Paul Morand; “Facies Dolorosa” (1934), de Hans Killian; American Photographs” (1938), com fotografias de Walker Evans e ensaio de Lincoln Kirsten, e “Let Us Now Praise Famous Men” (1941), parceria entre Walker Evans e o escritor James Agee. Um terceiro fotolivro de Walker Evans na lista é “Many Are Called”, publicado em 1966, também com texto de James Agee, reunindo fotografias feitas nas décadas de 1930 e 1940 no Metrô de Nova York, com uma câmera escondida, sem que os passageiros soubessem que estavam sendo fotografados.

Também são destacados na lista de Gerry Badger e Martin Parr os fotolivros Soviet Photography” (1939), de Aleksandr Rodchenko e outros fotógrafos e artistas; Caribean Crossroads” (1941), com texto de Lewis Richardson e fotografias de Charles Rotkin; “The Sweet Flypaper of Life” (1955), poemas de Langston Hughes com fotografias de Roy DeCarava; “The Family of Man” (1955), com curadoria de Edward Steichen; “New York” (1956), de William Klein; “Hiroshima” (1958), de Ken Domon; e The Americans” (1958), com fotografias de Robert Frank e texto de apresentação de Jack Kerouac. A partir da década de 1960, avanços das artes gráficas e técnicas de impressão vão popularizar as edições, com Gerry Badger destacando que carreiras importantes foram impulsionadas por fotolivros de sucesso – caso, entre muitos outros, dos norte-americanos Alec Soth e Ryan McGinley, ou da espanhola Cristina de Middel.






O fotolivro de Victor Hugo: poesia em
diálogo com os primeiros fotógrafos. Acima,
Paisagem com nuvens”, fotografia de 1856 de
Roger Fenton. Abaixo, “A Lavadeira”, fotografia
de 1840 de Louis Adolphe Humbert de Molard;
e Tempo dos ventos”, fotografia de
1902 de Heinrich Kühn














Gerry Badger, na apresentação a “The Photobook: A History”, também inclui diversas referências à América latina. Do Brasil, são citados Mario Cravo Neto, Miguel Rio Branco e Sebastião Salgado, entre outros, com especial atenção a “Amazônia” (1978), de Claudia Andujar e George Love, que ele define como “mescla singular de política e pessoalidade”. Outros destaques são “Paranoia” (1963), com a poesia de Roberto Piva e as paisagens urbanas nas fotografias de Wesley Duke Lee; e “Bares Cariocas” (1980), de Luiz Alphonsus, com registros de um olhar afetuoso sobre os bares de bairros do Rio de Janeiro. Badger elogia a forma pela qual os fotolivros são capazes de transportar pelo olhar para uma viagem. “Nunca estive na Amazônia, nem no Rio nem na Bahia”, confessa. “Mas esses fotógrafos do Brasil me levam até esses locais (…) de um modo particular – complexo, intrigante e criativo”.


Álbum de Contemplações


O projeto de Victor Hugo de reunir no mesmo livro uma seleção de poemas em diálogo com uma coleção de fotografias finalmente está concretizado – por iniciativa de duas pesquisadoras, Florence Naugrette e Hélène Orain Pascali. Em uma nova edição de “As Contemplações”, elas acrescentam 120 imagens fotográficas, todas produzidas nos primórdios da fotografia por contemporâneos do escritor. O ponto de partida foi um exemplar da primeira edição do livro, no arquivo privado que pertenceu ao autor, que mantinha entre suas páginas uma seleção de 34 fotografias, com anotações e correspondências entre poemas e cada uma das imagens, estabelecidas, ao que se sabe, pelo próprio Victor Hugo, talvez como uma lembrança nostálgica sobre o projeto que não pôde ser concretizado na época, mas enriquecendo, na presença das imagens, o espectro das interpretações literárias.





O fotolivro de Victor Hugo: acima,
Fotografia de imagem da retina de um vaga-lume”
imagem de 1890 de Sigmund Exner. Abaixo,
Genebra, céu nublado acima do lago
e da cidade”
, fotografia de 1890 de
Gabriel Loppé
; e um eclipse solar visto
no dia 10 de janeiro de 1889 no alto do
Monte Santa Lucia, ao norte da Califórnia,
em fotografia de
Carleton Watkins







Dois ensaios das organizadoras contextualizam a nova edição do livro de Victor Hugo. Em “Contemplações”, Hélène Pascali, historiadora da arte, vai pontuar como o nascimento da fotografia provoca o surgimento de um novo olhar sobre o mundo e sobre as imagens do real. Em Como um Álbum”, Florence Naugrette, professora de Literatura na Sourbonne, confirma que o projeto original de Victor Hugo teria um impacto de grandes proporções em sua época porque seria o primeiro álbum de fotografias, uma experiência sem precedentes em uma época em que a fotografia era uma grande novidade. Especialista na literatura de Victor Hugo, ela também revela que sempre considerou os poemas deste livro como imagens estáticas apresentadas e descritas em preto e branco.

No diálogo que se estabelece entre os poemas e as fotografias, as questões de tempo e memória remetem ao trajeto biográfico do autor e também à história social: paisagens, cenas e personagens citados nos versos evocam, de maneira quase inevitável, imagens fotográficas em suas referências a tons da neve, das nuvens, do céu noturno, dos pássaros voando ao longe, do mármore e de detalhes da construção das casas, da areia da praia, das árvores imóveis ou agitadas pelos ventos e dos dias nublados de inverno. A própria estrutura do livro lembra um álbum de fotografias, traçado no itinerário de cada poema, que vêm legendados com data e lugar, como se fossem um diário de viagem. Folheando o álbum, cada poema e cada imagem torna-se um convite para seguir os passos do autor entre caminhadas, pensamentos, sentimentos, lembranças, busca metafísica e alguma esperança – como se lê em um poema sem título de 1855:


Je ne vois que l’abîme, et la mer, et les cieux,
Et les nuages noirs qui vont silencieux;
Mon toit, la nuit, frissonne, et l’ouragan le mêle
Aux souffles effrénés de l’onde et de la grêle.

(“Écrit en 1855”, Jersey, janvier 1855.)

Vejo somente o abismo, e o mar, e os céus,
E nuvens negras que
passam em silêncio;
M
eu telhado, à noite, estremece, e o furacão o mistura
Com os sopros frenéticos das ondas e do granizo.

(“Escrito em 1855”, Jersey, janeiro de 1855).






O fotolivro de Victor Hugo: acima,
Sol e nevoeiro”, fotografia de 1898 de
Léonard Misonne. Abaixo, Roman Campagna”,
um estudo de nuvens na área rural de Roma, Itália,
em fotografia de 1855 de Carlo Baldassarre.

Também abaixo, Victor Hugo em 1853, durante
seu exílio na Ilha de Jersey, contemplando
o oceano, no alto da rocha conhecida como
“Le Rocher des Proscrits” (A Rocha dos Proscritos),
em Jersey, fotografado por seu filho Charles Hugo
e seu amigo Auguste Vacquerie











Evolução da técnica


Victor Hugo foi eleito para a Academia Francesa aos 37 anos, em 1839, ano do anúncio oficial da invenção da fotografia com os equipamentos e técnicas de Louis Daguerre, batizados de Daguerreótipos. O escritor, porém, era entusiasta da fotografia desde que tomou conhecimento das experiências de Nicéphore Niépce, que fez os primeiros registros de imagens a partir de 1826. Victor Hugo também se dedicou ao desenho e à pintura, mas sempre se confessou um apaixonado pela fotografia, que ele chamava de "imagens pintadas pelo sol e pela luz". Mesmo depois da edição incompleta de "Les Meditations", ele continuou acompanhando com muito interesse a evolução da técnica e dos processo fotográficos pelos anos e décadas seguintes.

Florence Naugrette e Hélène Pascali seguiram as pistas com registros deste interesse especial de Victor Hugo pela fotografia e, nos mais de três anos de pesquisas para a seleção das imagens que agora acompanham os poemas, investigaram as correspondências temáticas no acervo do escritor e em coleções privadas e públicas, em museus da França e de outros países. No dossiê de imprensa distribuído para o lançamento do livro, Florence Naugrette ressalta que a relação de Victor Hugo com a fotografia se dava intensamente na vida cotidiana, tanto que ele sempre esteve muito próximo de fotógrafos em sua época e cultivou uma forte amizade com Nadar, para muitos o maior fotógrafo do século 19.

“É possível localizar diversas referências ao retrato e à fotografia na obra de Victor Hugo”, ela destaca, “mas na coleção de poemas reunidos nestas ‘Contemplações’ a questão imagética e fotográfica está mais evidente, tanto na busca de palavras e de figuras para redescobrir a experiência como nas confissões sobre a importância de ouvir a natureza, maravilhar-se, buscar o significado, cultivar e traduzir. Palavra e imagem aqui estão em diálogo para expressar um mesmo sentido, o que é surpreendente, principalmente se considerarmos que todos os poemas, e todo o projeto original de Victor Hugo para o livro, foram criados à luz da invenção da fotografia e ainda nos primórdios dos processos fotográficos”.





Na versão final do livro “As Contemplações de Victor Hugo ilustradas pelos primórdios da fotografia” (Les Contemplations de Victor Hugo illustrées par les débuts de la photographie), lançamento da Editions Diane de Selliers, em capa dura e 400 páginas, os 92 poemas são contemplados com 120 fotografias, produzidas em datas que vão de 1826 a 1910 e selecionadas por Florence Naugrette e Hélène Pascali do acervo de 85 fotógrafos, todos apresentados com perfil biográfico. O resultado é um inventário inédito sobre nomes de importância no início da história da fotografia e uma retrospectiva surpreendente que alcança das experiências dos pioneiros ao aperfeiçoamento dos equipamentos e ao domínio da técnica, seja na aplicação de princípios estéticos, com evoluções de enquadramento, de foco, de iluminação e de contraste, seja nas intervenções nos processos de impressão, levando a imagem fotográfica a um campo de autonomia e de independência, em relação às outras artes, para o registro instantâneo de fragmentos da realidade.


por José Antônio Orlando.

Como citar:

ORLANDO, José Antônio. O fotolivro de Victor Hugo. In: Blog Semióticasde novembro de 2025. Disponível em: https://semioticas1.blogspot.com/2025/11/o-fotolivro-de-victor-hugo.html (acesso em .../.../…).



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O fotolivro de Victor Hugo: acima,
Avenida no inverno”, fotografia de 1893
de
Alfred Stieglitz. Abaixo, “O alto da montanha”,
fotografia de 1860 dos irmãos
Louis-Auguste Bisson
e Auguste-Rosalie Bisson





27 de março de 2024

Retratos clandestinos de Helen Levitt

 




A natureza humana é quase inacreditavelmente maleável.

– Margaret Mead (1901-1978).  
 

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Durante grande parte dos quase dois séculos da história da fotografia, as mulheres tiveram pouco espaço no trabalho por trás das câmeras, mas com o passar do tempo foram expandindo seus papéis e experimentando cada vez mais os diversos aspectos do aparato fotográfico. Atualmente, qualquer seleção ou recorte sobre a história da fotografia tem, necessariamente, destaque para mulheres que atuaram ou atuam nas variadas frentes dos registros fotográficos no passado ou no presente. Desde os primeiros tempos da imagem fotográfica, a presença feminina no domínio da técnica esteve presente, porém mais como exceção do que como regra, como se comprova nos poucos registros existentes sobre as pioneiras no ofício da fotografia.

Entre estas pioneiras estão nomes como Constance Fox Talbot (1811-1880), primeira mulher a fazer uma fotografia, em 1843, na Inglaterra, atuando em parceria com o marido, William Henry Fox Talbot (1800-1877), creditado como um dos inventores dos processos fotográficos. Há, também, mulheres que atuaram solitárias no ofício nos primórdios da fotografia, enfrentando toda espécie de preconceito e dificuldades, caso de Ann Cooke (1796-1870), primeira mulher a abrir um estúdio de retratos fotográficos para produzir daguerreótipos, também na Inglaterra, em 1845; além de Jane Nina Wigley (1806-1883), atuante como fotógrafa em seu estúdio em Londres, a partir de 1847. Os manuais de fotografia citam ainda uma francesa, Antonieta DeCorrevont, como a primeira mulher a abrir seu próprio estúdio de fotografias em Munique, Alemanha, em 1843, mas os dados biográficos sobre ela são escassos.

Entre as mulheres que tiveram atuação marcante na fotografia no século 19, ou que nasceram no Oitocentos e atuaram na fotografia, alcançaram destaque Anna Atkins (1799-1871), Julia Margaret Cameron (1815-1879), Shima Ryü (1823-1900), Gertrude Käsebier (1852-1934), Frances Johnston (1864-1952), Alice Austen (1866-1952), Lady Ottoline Morrell (1873-1938), Harriet Chalmers Adams (1875-1937), Imogen Cunningham (1883-1976), Hannah Höch (1889-1978), Florence Henri (1893-1952), Marianne Brandt (1893-1983), Claude Cahun (1894-1954), Lucia Moholy (1894-1989), Varvara Stepanova (1894-1958), Dorothea Lange (1895-1965), Gertrude Fehr (1895-1996), Louise Dahl-Wolfe (1895-1989), Thérèse Le Prat (1895-1966), Ergy Landau (1896-1967), Tina Modotti (1896-1942), Alma Lavenson (1897-1989), Germaine Krull (1897-1985), Berenice Abbott (1898-1991), Ilse Bing (1899-1998) e Yvonne Chevalier (1899-1982), entre outras que também realizaram trabalhos importantes de forma pioneira nos primeiros tempos da fotografia, mas que permaneceram no anonimato, por preconceito ou porque, por motivos diversos, não tiveram seus nomes registrados pela história oficial.








Retratos clandestinos de Helen Levitt: no alto, crianças 
dançando nas ruas de Nova York, fotografia de 1940.
Acima, mãe e filha (1939) e a família na janela (1940).
Abaixo, Helen Levitt em autorretrato (circa de 1950)
e duas meninas brincando com giz na calçada (1940).
Todas as fotografias reproduzidas nesta página estão
no catálogo da exposição “Helen Levitt: in the street”,
apresentada na Photoghapher’s Gallery de Londres







No Brasil, de acordo com o Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro – Fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910), de Boris Kossoy, publicado pelo Instituto Moreira Salles em 2002, entre centenas de fotógrafos que atuaram no Brasil até 1910 também há algumas mulheres que tiveram um papel pioneiro da maior importância, entre elas Fanny Volk, que atuou no Paraná; Hermina de Carvalho Menna da Costa, em Pernambuco; Leocadia Amoretti e Madame Lavenue, no Rio de Janeiro; Madame Reeckel, no Rio Grande do Sul; Maria Brasilina de Magalhães Faria, no Espírito Santo; Maria Izabel da Rocha, em Sergipe; e Roza Augusta, na Paraíba. Em São Paulo, Gioconda Rizzo (1897-2004), descendente de italianos, foi uma das primeiras mulheres a atuar como fotógrafa e primeira a abrir um estúdio fotográfico, a Photo Femina, em 1914; e Elvira Leopardi Pastore (1876-1972), casada com Vicenzo Pastore (1865-1918), ambos italianos, dividia com o marido todas as etapas do trabalho no estúdio fotográfico que abriram em São Paulo em 1900. 

A presença e a importância de mulheres na fotografia têm aumento qualitativo e quantitativo no decorrer do século 20, incluindo a presença inédita de mulheres fazendo cobertura fotográfica em campos de batalha e nos cenários de guerra, com destaque, durante a Guerra Civil Espanhola, na década de 1930, para a alemã Gerda Taro (1910-1937), para a húngara Kati Horna (1912-2000) e para Margaret Michaelis (1902-1985), de origem polonesa, nascida em Dzieditz, na época cidade do império Austro-Húngaro. Na Segunda Guerra Mundial, tiveram destaque como fotógrafas as norte-americanas Margaret Bourke-White (1904-1971), Lee Miller (1907-1977), Dickey Chapelle (1915-1965) e Constance Stuart Larrabee (1914-2000), inglesa radicada na África do Sul.


No mesmo período da Segunda Guerra, também alcançam destaque nos registros sobre batalhas, sobre as vítimas e o avanço das tropas pelo menos cinco fotojornalistas da União Soviética, Natalia Bode (1914-1996), Olga Ignatovitch (1905-1984), Olga Lander (1909-1996), Elizaveta Mikulina (1903-1983) e Galina Sanko (1904-1981). Mulheres também surgem no papel de fotógrafas nos movimentos de vanguarda da arte moderna, nas primeiras décadas do século passado, registrando paisagens e temas abstratos, nudez, cenas urbanas, retratos de famosos e de anônimos, muitas delas com premiações importantes e destaque na imprensa, espaços que antes eram restritos quase exclusivamente para os homens.







Retratos clandestinos de Helen Levitt: meninas
e meninos em grupo nas ruas de Nova York em
fotografias de Helen Levitt na década de 1980,
em 1982 (acima) e 1986 (abaixo)








 
Mulheres no fotojornalismo

Na galeria de mulheres que têm papel pioneiro no fotojornalismo ou atuando na fotografia em movimentos de vanguarda, na primeira metade do século 20, estão em destaque, entre outras, Barbara Morgan (1900-1992), May Mirin (1900-1997), Rogi André (1900-1970), Florence Arquin (1900-1974), Lisette Model (1901-1983), Lola Alvarez Bravo (1903-1993), Grete Stern (1904-1999), Dorothy Norman (1905-1997), Katt Both (1905-1985), Ellen Auerbach (1906-2004), Nina Leen (1906-1995), Dora Maar (1907-1997), Marion Palfi (1907-1978), Anna Riwkin-Brick (1908-1970), Gisèle Freund (1908-2000), Hedda Morrison (1908-1991), Edith Gérin (1910-1997), Eva Besnyo (1910-2003) e Gita Lenz (1910-2011).

Completam a lista Ruth Gruber (1911-2016), Eve Arnold (1912-2012), Annemarie Heinrich (1912-2005), Reva Brooks (1913-2004), Emmy Andriesse (1914-1953), Gitel Steed (1914-1977), Yvette Troispoux (1914-2007), Lilian Bassman (1917-2012), Maya Deren (1917-1961), Janine Niépce (1921-2007), Ruth Orkin (1921-1985), Lisa Larsen (1922–1959), Henriette Grindat (1923-1986), Inge Morath (1923-2002), Diane Arbus (1923-1971), Dorothy Bohm (1924-2023), Lisetta Carmi (1924-2022), Sabine Weiss (1924-2021) e Dominique Darbois (1925-2014). No período posterior à Segunda Guerra e na cena contemporânea, há um aumento considerável de mulheres atuando na fotografia, em estilos e temáticas variadas, por motivos diversos que incluem a liberalização dos costumes e uma maior facilidade no acesso a equipamentos técnicos. 

Desde as últimas décadas do século 20 e neste novo século, a lista de fotógrafas que ganham destaque internacional no fotojornalismo ou em áreas específicas de atuação, em diversos países, torna-se potencialmente extensa, incluindo nomes como Paz Errázuriz, María García, Margery Lewis, Caroline Hebbe, Irina Ionesco, Rineke Dijkstra, Roni Horn, Mary Ellen Mark, Markéta Luskacová, Sophie Calle, Shirin Neshat, Lorna Simpson, Nan Goldin, Jo Spence, Annie Griffiths, Vivien Maier, Graciela Iturbide, Lourdes Grobet, Candida Höfer, Cindy Sherman, Barbara Davidson, Jill Krementz, Annie Leibovitz, Kiki Smith, Carrie Mae Weems, Carol Guzy, Pennie Smith, Ami Vitale, Leila Alaoui, Ouka Leele, Bettina Rheims, Catherine Leroy, Susan Meiselas, Chloe Dewe Mathews, Helen Zout, Francesca Woodman, Donna Ferrato, Sibylle Bergemann, Ellen von Unwerth, Anja Niedringhaus, Malekeh Nayiny, Gohar Dashti, Shadi Ghadirian, Tahmineh Monzavi, Cristina de Middel, Gauri Gill ou Sally Mann, entre outras, sendo que a maioria permanece em plena atividade.

Há também uma galeria de grandes fotógrafas que atuam ou atuaram no Brasil desde as primeiras décadas do século 20 até a cena contemporânea. Entre os nomes de maior destaque estão Hildegard Rosenthal e Claudia Andujar (nascidas na Suíça), Gertrudes Altschul e Alice Brill (nascidas na Alemanha), Maureen Bisilliat (nascida na Inglaterra), Madalena Schwartz e Judith Munk (nascidas na Hungria), Stefania Bril (nascida na Polônia), Alice Kanji, Hermínia Borges, Lélia Wanick Salgado, Dulce Carneiro, Jacqueline Joner, Avani Stein, Marisa Alvarez Lima, Nair Benedicto, Amélia Toledo, Vania Toledo, Thereza Eugênia, Cristina Granato, Rosa Gauditano, Regina Vater, Anna Mariani, Elvira Alegre, Alice Martins, Adriana Zehbrauskas, Paula Sampaio, Mônica Maia, Luisa Dörr, Rosângela Rennó e mais uma lista de veteranas e nomes das novas gerações.








Retratos clandestinos de Helen Levitt: no alto,
duas crianças na janela, fotografia de 1939.
Acima, crianças brincando na calçada (1940).
Abaixo, a família (1945) e casal improvável (1941)








Uma poesia visual


Na legião de mulheres atuando como fotógrafas, um dos destaques inevitáveis é a norte-americana Helen Levitt (1913-2009), com seu trabalho com a câmera nas ruas que atravessou todo o século 20, em todas as frentes e temáticas da fotografia de arte e do fotojornalismo. Descendente de imigrantes judeus russos, Helen Levitt nasceu em Nova York – cidade que, com seus personagens anôninos, foi cenário da maioria de suas fotografias de 1930 até sua aposentadoria, no final da década de 1990, o que levou uma crítica exigente e sofisticada como Susan Sontag, sua admiradora de longa data, a definir as imagens de Helen Levitt como “uma poesia visual sobre Nova York”.

Neste século 21, depois que Helen Levitt morreu, aos 95 anos, em 2009, grandes retrospectivas temáticas sobre sua obra foram organizadas no Festival PhotoEspaña em Madri e também na Fundação Cartier-Bresson em Paris, no Sprengel Museum em Hannover, no Albertina Museum em Viena, no Fotografiemuseum de Amsterdã e no Festival Internacional de Fotografia de Arles (no sul da França), entre outras exposições importantes que tiveram as imagens de Levitt como tema. A retrospectiva mais abrangente, que cobre toda a pauta temática de sua trajetória de 70 anos dedicados à fotografia, foi aberta em 2022 na Photographer’s Gallery de Londres, nomeada “Helen Levitt: in the street”.







Retratos clandestinos de Helen Levitt: no alto,
as amigas, fotografia de 1941. Acima, os irmãos (1944).
Abaixo, um gato (1945) e retrato de Walker Evans (1940)









De todos os aspectos que sobressaem quando se observa um conjunto de fotografias de Helen Levitt, o lúdico talvez seja o mais marcante – ainda que o grande fotógrafo das questões sociais nos Estados Unidos, Walker Evans (1903-1975), seja reconhecido por ela como sua maior influência. O lúdico e o poético nas imagens de Helen Levitt, contudo, talvez tenha uma relação mais direta com as fotografias humanistas de outros mestres, como os franceses Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e Robert Doisneau (1912-1994).


Consciência de classe


O fato de Helen Levitt creditar Walker Evans como sua maior influência vem, por certo, de coincidências biográficas: quando circulavam as primeiras fotografias de Evans mostrando cenas dramáticas e extremamente realistas de agricultores pobres do sul dos Estados Unidos, no período da Grande Depressão, Levitt começava a trabalhar com fotografia, como assistente em um estúdio comercial instalado no Bronx, em Nova York. Walker Evans, naquele período, havia sido contratado pela Farm Security Administration, agência federal criada pelo governo do presidente Franklin Roosevelt, e suas fotografias publicadas por vários jornais e revistas causavam uma grande comoção.

Na mesma época, no começo dos anos 1930, a jovem Helen Levitt participava de vários grupos de ativistas e sindicalistas, sendo que um dos principais líderes sindicais em Nova York, Sid Grossman, também fotógrafo e fundador da cooperativa Photo League, fez um apelo público para que jornalistas e fotógrafos tivessem mais atenção para os problemas e as reivindicações dos trabalhadores e dos movimentos sociais como consciência de classe. A fotógrafa destacou este apelo de Grossman em uma de suas raras entrevistas, concedida à National Public Radio. Um trecho da entrevista está reproduzido no catálogo da exposição “Helen Levitt: in the street”.

“Eu decidi que deveria tirar fotos de pessoas da classe trabalhadora e assim dar minha contribuição verdadeira para apoiar os movimentos sociais que estavam se organizando”, afirmou Levitt. Ela era descrita por seus parceiros de trabalho como uma pessoa extremamente gentil e simpática com todos em seu convívio, mas muito tímida, com poucos amigos, uma mulher solitária que nunca se casou e morou a vida inteira em Nova York, no mesmo apartamento em Greenwich Village, com curtos intervalos de uma temporada que passou no México, entre 1940 e 1941, e outra em viagem pela Europa, no final da década de 1950, depois que conseguiu uma bolsa de financiamento da Fundação Guggenheim.









Retratos clandestinos de Helen Levitt: acima,
crianças no Halloween (1940) e fumantes (1940).
Abaixo, o bebê rindo muito no carrinho (1940)
e à procura de um táxi urgentemente (1982)








Temática das ruas


Na retrospectiva que ocupou todos os salões e corredores dos dois andares da Photographer’s Gallery de Londres, centenas de fotografias que Helen Levitt produziu, durante mais de 70 anos, com sua câmera Leica de 35 mm, foram selecionadas em torno de três núcleos temáticos: as ruas, as cenas do metrô e as experiências com os filmes coloridos, nas quais ela foi uma das pioneiras entre fotojornalistas. Na temática das ruas, pela qual ela é mais amplamente conhecida, estão registrados personagens e cenários de sua vizinhança em Nova York, incluindo o Lower East Side de Manhattan, o Bronx e o perímetro espanhol do Harlem. Na maioria das imagens, as crianças são o centro da atenção de Helen Levitt, em flagrantes poéticos de jogos e brincadeiras e também distraídas, observando algo que está fora do enquadramento da fotografia, como se a fotógrafa estivesse em atitude clandestina e sua presença não fosse notada pelos personagens em cena.









Retratos clandestinos de Helen Levitt
no alto, Helen Levitt no metrô em 1938, em
fotografia de Walker Evans. Acima e abaixo,
retratos no metrô feitos por Helen Levitt
nos anos de 1978, 1973, 1975 e 1978.


No final da página, Amigas saindo de férias (1973),
A loja de doces (1971), A cabine telefônica (1988),
Fumante na cabine telefônica (1980),
Na esquina de calção azul (1981) e
A menina procura algo (1980)









A citada influência marcante de Walker Evans torna-se mais evidente com as fotografias feitas por Helen Levitt no metrô de Nova York. São personagens anônimos, que remetem às célebres fotografias que Evans capturou no mesmo cenário, quando viajava quase diariamente no metrô, vestindo um sobretudo sob o qual ocultava sua câmera Contax de 35 mm, entre fevereiro de 1936 e janeiro de 1941. As fotografias de Evans no metrô (Veja mais em: Semióticas – Homens ilustres), que foram apresentadas em uma exposição que marcou época, no pós-guerra, e depois publicadas no fotolivro Many are called (Muitos são chamados), reeditado em 2004 pela Yale University Press, também influenciaram o jovem Stanley Kubrick, que trabalhou durante anos como fotojornalista em Nova York antes de se tornar cineasta (Veja mais em: Semióticas – Kubrick no Metrô).

Helen Levitt teve a oportunidade de acompanhar, em 1938, algumas viagens de trabalho de seu mentor Walker Evans fotografando anônimos no metrô de Nova York e, nos anos e nas décadas seguintes, repetiu por diversas vezes a experiência de fotografar os passageiros, também em anonimato, com seu próprio estilo e seu equipamento mais modesto. Uma seleção destas fotografias foi apresentada pela primeira vez em 1991, em uma exposição no MoMA, Museu de Arte Moderna de Nova York, e em 2017 foi reunida no fotolivro Manhattan Transit: The Subway Photographs of Helen Levitt (‎Walther König Editions).






Retratos clandestinos de Helen Levitt:
acima, o primeiro fotolivro publicado pela
fotógrafa, “A Way of Seeing” (Viking Press,
1965). Abaixo, três edições póstumas que
incluíram seleções de fotografia inéditas:
Helen Levitt, Lírica Urbana” (Editora
La Fabrica, 2010); “
One, Two, Three, More”
(Power House Books, 2017); e Helen Levitt”
(Kehrer Publishing, 2018)









Na trajetória de Helen Levitt também estão os fotolivros. O primeiro deles foi “A Way of Seeing” (uma forma de ver), com uma seleção de fotografias de Helen Levitt tendo como tema central crianças pobres nas ruas e espaços públicos de Nova York, publicado em 1965, pela Viking Press, com ensaio de James Agee, parceiro habitual nas reportagens, ensaios fotográficos e fotolivros que Walker Evans publicou. A partir da década de 1960, as exposições de Helen Levitt em grandes museus também passaram a contar com catálogos no formato fotolivro.

Nas duas últimas décadas, três publicações póstumas também trouxeram
retrospectivas do acervo da fotógrafa que incluíram seleções de imagens que permaneciam inéditas e tiveram primeira exibição pública em exposições e fotolivros – Helen Levitt, Lírica Urbana”, catálogo da exposição na PhotoEspanha 2010 (Editora La Fabrica); “One, Two, Three, More” (Power House Books, 2017), que resgata o acervo da primeira exposição solo da fotógrafa, realizada em 1943 no Museum of Modern Art de Nova York (MoMA); e Helen Levitt” (Kehrer Publishing, 2018), catálogo da exposição no Museu Albertina de Viena, Áustria.







Retratos clandestinos de Helen Levitt:
no alto, Meninos em East Harlem, Nova York, 1940.
Acima, um registro feito no México, em 1940,
Duas mulheres, um homem, um menino.

Abaixo, Uma esquina em Nova York, 1959






A experiência da cor

 

No terceiro grupo temático da exposição “In the street”, onde estão amostragens das experiências de Helen Levitt com as fotografias coloridas, produzidas a partir da década de 1950, também estão selecionadas as imagens que provocam com mais intensidade o senso de humor e algum estranhamento do observador. Algumas cenas têm mesmo um certo apelo surrealista, ainda que sejam registros poéticos, em sua maioria, sobre a vida de pessoas comuns e anônimas que a fotógrafa, depois de décadas de trabalho diário, continuava a encontrar nas ruas. Há crianças brincando, casais de namorados, maridos e esposas, mães com seus filhos, mulheres indo e vindo, gente idosa e solitária, pessoas caminhando ou paradas, distraídas, observando algo que está além da moldura que o recorte da fotografia circunscreve.

Em uma de suas fotografias coloridas, uma mulher de vestido azul florido está de costas, usando um telefone público, e ocupa quase todo o espaço da cabine, em uma esquina de Nova York, enquanto duas crianças, possivelmente seus filhos, estão espremidas contra as paredes de vidro, uma de cada lado. Parece que cada fotografia de Helen Levitt conta toda uma história repleta de detalhes sobre personagens pelos quais temos uma simpatia imediata. A maioria de suas imagens coloridas, para as quais ela dedicou muito trabalho e atenção com a técnica em seus últimos anos de atuação, nunca foi publicada em livro, mas esteve presente nas retrospectivas que celebraram, nos últimos anos, seu olhar personalíssimo que conquistou legiões de seguidores na arte da fotografia.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Retratos clandestinos de Helen Levitt. In: Blog Semióticas, 27 de março de 2024. Disponível em: https://semioticas1.blogspot.com/2024/03/retratos-clandestinos-de-helen-levitt.html (acessado em .../.../…).



 
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