Mostrando postagens com marcador estêncil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador estêncil. Mostrar todas as postagens

31 de julho de 2016

A retrospectiva de Banksy












Sinal dos tempos: as obras do misterioso grafiteiro Banksy, do qual ninguém conhece a verdadeira identidade, saíram das ruas e agora ganham destaque em leilões internacionais e retrospectivas nos grandes museus da Europa. Duas das maiores mostras já realizadas reunindo centenas de obras originais de Banksy estão abertas ao público em museus do Reino Unido e da Itália e, a partir de setembro, seguirão para outros países. O prestígio de Banksy no mercado internacional de arte ficou mais do que comprovado quando a tradicional casa de leilões Sotheby's, de Londres, reuniu pela primeira vez 70 peças originais do artista em junho de 2014, entre obras famosas e outras menos conhecidas, e todas foram vendidas por preços de até 840 mil dólares, ou mais de 3 milhões de reais. Uma das peças mais disputadas de Banksy foi o quadro "Vandalised Oil (Choppers)", comprado pelo cantor inglês Robbie Williams.

Os valores que as obras de Banksy têm alcançado são cada vez mais altos, mas como as vendas são realizadas sempre à revelia do artista, estes valores nem sempre são divulgados. Um dos recordes para uma única peça original de Banksy foi alcançado em um leilão em Nova York, em 2008, quando uma obra de Damien Hirst que sofreu uma intervenção de Banksy foi vendida por 970 mil libras, ou aproximadamente 5 milhões de reais. Além das principais casas de leilões de Nova York e da Sotheby's de Londres, museus mais tradicionais e importantes galerias de arte já haviam exibido antes uma ou outra obra do grafiteiro, mas agora centenas de obras originais do artista estão reunidas itinerantes em grandes exposições (veja os links para visitas virtuais no final deste artigo). 

No Reino Unido, a mostra foi aberta no museu municipal de Bristol, cidade que se supõe ser a terra natal de Banksy – já que lá suas primeiras obras surgiram grafitadas no final da década de 1980. Todas as instalações do prédio do museu, que abriga em seu acervo peças valiosas que vão de múmias egípcias a obras-primas de mestres da História da Arte de vários países, ficaram fechadas durante semanas para que Banksy, em pessoa e em total anonimato, pudesse preparar a exposição em parceria com Kate Brindley, diretora do Bristol City Museum. Na mostra estão obras inéditas, produzidas por Banksy especialmente para o evento, incluindo novos grafites, esculturas e instalações completas, e uma seleção dos trabalhos mais conhecidos do artista.










Banksy no Museu: a partir do alto e abaixo,
grafites originais de Banksy reunidos na exposição
Guerra, Capitalismo e Liberdade em cartaz
no Palácio Cipolla, no centro de Roma. Também
abaixo, o quadro "Vandalised Oil (Choppers",
comprado pelo cantor Robbie Williams em um
leilão da Casa Sotheby's de Londres. Todas as
obras da mostra vêm de coleções particulares


 














Em Roma, a exposição retrospectiva da arte de rua de Banksy está aberta no luxuoso Palácio Cipolla, principal espaço do Museo Fondazione Roma, destacado no roteiro de galerias de arte e museus porque possui no acervo de exposição permanente obras-primas de mestres da arte na Europa como Rembrandt, Van Gogh e Velázquez, entre outros. Com três módulos temáticos intitulados “Guerra”, “Capitalismo” e “Liberdade”, estão reunidas no Palácio Cipolla um total de 177 obras originais, todas muito conhecidas do público que acompanha o trabalho do misterioso artista, entre elas os grafites que mostram a menina com um balão em forma de coração e aquele com um manifestante encapuzado lançando em protesto um ramo de flores.



Corajoso, didático, provocador



As duas maiores retrospectivas já reunidas sobre a arte de Banksy foram saudadas como grande acontecimento pela imprensa internacional – com o contraponto de que a exposição na Inglaterra foi organizada por Banksy ele mesmo, enquanto a retrospectiva do museu na Itália não teve nem participação do artista nem sua autorização oficial. Todas as obras da exposição em Roma pertencem a coleções particulares e todas vêm das ruas de Londres, incluindo grafites, estêncils com tinta aerosol, pinturas em óleo sobre tela, placas de metal e madeira, serigrafias em materiais diversos, objetos e esculturas – tudo com certificado de autenticidade em documentos expedidos pelo Pest Control, autoridade de limpeza urbana e controle sanitário da capital britânica que desde a década de 1990 remove das ruas e também autentica obras de Banksy.










Banksy no Museu: acima, grafites
de Banksy reunidos em Roma no 
Palácio Cipolla e o cartaz original
ilustrado pela célebre imagem do
grafiteiro encapuzado. Abaixo, o
beijo do casal anônimo diante do
grafite Tank, na exposição em Roma,
e dois grafites originais de Banksy que
foram removidos das ruas e depois
reproduzidos em serigrafias leiloadas
pela Sotheby's de Londres



















Em Roma, os curadores do Palácio Cipolla, Stefano Antonelli, Francesca Mezzano e Acoris Andipa, anunciam na apresentação da mostra e em entrevistas que Banksy representa hoje o que há de mais corajoso, mais político e mais provocador na arte do novo século – elogios que seriam impensáveis ou que poderiam soar como sacrilégio na década de 1990, quando a Street Art em geral e a arte de Banksy em particular soavam como contravenção e não como destaque ou expressão legítima, celebrada e muito valorizada, da Arte Contemporânea.

Em entrevista ao jornal “Corriere della Sera”, o curador Stefano Antonelli também elogia as qualidades “didáticas” das obras de Banksy e a simplicidade apenas aparente de suas mensagens que conseguem provocar a consciência e o senso crítico de todos os públicos. Segundo Antonelli, Banksy traz sempre, em cada obra, um alerta que nos faz pensar e lembrar que a guerra é algo muito errado, que o capitalismo sem regras tem provocado grandes desastres e que a liberdade nem sempre é respeitada como queríamos ou havíamos imaginado.










Banksy no Museu: acima e abaixo,
as obras originais reunidas no Bristol
City Museum, Inglaterra, em exposição
que foi coordenada pelo próprio Banksy.
Também abaixo, a pedra que Banksy fixou
na parede do British Museum durante uma
exposição de Arte Rupestre. Somente dias
depois a peça foi descoberta pelos funcionários.
Agora, o museu decidiu apresentar a peça de
Banksy em exposição permanente.

Na última imagem abaixo, um dos primeiros
grafites de Banksy nas ruas de Bristol, que surgiu
no final da década de 1980. Na placa que
o macaco segura está a mensagem:

"Pode rir agora, mas um dia estaremos no comando"






















Grafite & ação política



Elevado à condição de celebridade internacional e contraditoriamente conseguindo manter sua verdadeira identidade em segredo guardado a sete chaves, na melhor tradição dos super-heróis, Banksy permanece em ação com sua ousadia imprevisível. Na abertura da exposição do Bristol City Museum, foi entrevistado por telefone pela BBC pela primeira vez e fez ironias sobre sua nova condição de artista muito valorizado no mercado e disputado por grandes museus e imponentes galerias de arte.

Sobre a exposição que ele mesmo organizou em Bristol, Banksy declarou na entrevista à BBC: “Estou feliz porque esta é a primeira vez em Bristol que não estou sendo procurado e processado por vandalismo. Também é a primeira vez que o dinheiro dos impostos que os contribuintes pagam está sendo usado para patrocinar a exibição de minhas imagens e não para raspá-las das paredes.”



















Na mesma semana da abertura da exposição no museu municipal de Bristol, no começo de junho, crianças, funcionários e pais de alunos de uma escola primária da cidade ganharam um presente de Banksy. O novo grafite – intrigante e, como sempre, “incendiário” – surgiu no muro da escola pública Bridge Farm em agradecimento depois que os alunos decidiram dar o nome do misterioso artista a um dos pavilhões. Banksy não para. As causas, e o tema dos grafites de Banksy, sempre envolvem arte e política, mesmo se às vezes a mensagem política não é de fácil percepção pela maioria, à primeira vista. É o caso da série de murais que ele criou em Londres e em Los Angeles, em 2014, sobre o tema da "guerra às drogas", uma batalha de governos de vários países que provoca muita violência e poucos resultados. 



A causa dos refugiados



Há, também, os empreendimentos de fôlego que vão além dos grafites, como ocorreu em Londres, em agosto de 2015, quando Banksy inaugurou um parque temático grandioso e chocante chamado “Dismaland”, uma sátira à Disneylândia e, segundo ele mesmo avisou, “inadequado para crianças”. Foi um sucesso completo de público, com lotação esgotada em todos os horários, mas em dezembro Banksy surpreendeu de novo: retirou todas as suas obras do parque e transformou o espaço em abrigo para refugiados.

Ao mesmo tempo em que transformava “Dismaland” em abrigo para refugiados e moradores de rua, Banksy criou mais dois grafites políticos para denunciar a situação caótica do maior campo de segregação de refugiados na Europa, situado na cidade de Calais, no noroeste da França – que reúne mais de 4 mil pessoas vindas de países como Síria, Iraque, Afeganistão e Marrocos, todos à espera da oportunidade de cruzar o Canal da Mancha para entrar no Reino Unido. Em um grafite em Calais, Banksy mostra uma imagem do fundador da Apple, Steve Jobs, morto em 2011, carregando nas costas uma sacola de plástico preto e, nas mãos, um computador original da Apple. A referência é direta: Jobs é filho de um imigrante sírio que fugiu para os EUA depois da Segunda Guerra Mundial. 














Atualidades de Banksy: acima, grafite
do artista no muro da escola em Bristol,
em agradecimento à homenagem que
recebeu dos alunos; e uma das instalações
do parque Dismaland, uma sátira de
Banksy ao "mundo cor-de-rosa" e falso
da Disneylândia. Abaixo, a causa dos
refugiados na referência a Steve Jobs,
que era filho de imigrantes da Síria;
a menina de Os Miseráveis, com a
bandeira da França ao fundo, a chorar
com o gás lacrimogêneo; e um grafite
em Londres, de 2014, com o tema de
enfrentamento à repressão policial
que se convencionou chamar
de "guerra às drogas".

Também abaixo, um grafite em tom
marxista de convocação pela
união dos trabalhadores do mundo
inteiro, na exposição em Bristol; e a
fachada principal do museu na Inglaterra














 
Um outro grafite recente de Banksy, criado no começo de 2016, também faz referência aos milhares de refugiados em Calais: numa parede de esquina, a poucos metros da Embaixada da França em Londres, a imagem grafitada evoca o romance de Victor Hugo, “Os Miseráveis”, um clássico da Literatura Universal que denuncia a miséria na conturbada França depois da revolução de 1789. Banksy inspirou-se na menina do cartaz de um musical de sucesso, baseado em “Os Miseráveis”, e desenhou a criança a chorar, sob uma nuvem de gás lacrimogêneo, com a bandeira francesa no fundo.

Ao lado do grafite, um código que podia ser lido por smartphones conduzia a um vídeo do YouTube, intitulado “Os assaltos policiais na selva de Calais, 5 e 6 de janeiro”. O vídeo, que permanece no YouTube (ver aqui), mostra a violência de ações policiais das autoridade francesas contra o campo de refugiados no início de 2016 – quando os milhares de refugiados, abrigados em condições sofríveis, são atacados durante a noite com bombas de gás, canhões de água e balas de borracha. O grafite de Banksy foi imediatamente coberto com tapumes de madeira pelas autoridades de Londres.


por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. A retrospectiva de Banksy. In: Blog Semióticas, 31 de julho de 2016. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2016/07/a-retrospectiva-de-banksy.html (acessado em .../.../...).



Para visitar o site oficial de Banksy,  clique aqui.
















7 de março de 2015

A imitação de Banksy









Quem se interessa por Arte e Política conhece bem as criações de Banksy, o misterioso artista do grafite, do qual ninguém sabe a verdadeira identidade. Sabe-se apenas que Banksy é um pseudônimo. E é exatamente esta contradição que alimenta a aura de mistério sobre ele – uma celebridade que se mantém no anonimato desde quando surgiram seus primeiros trabalhos, no final da década de 1980, nas ruas e muros da cidade de Bristol, na Inglaterra, que se supõe ser sua terra natal.

Depois de Bristol, os polêmicos grafites de Banksy passaram às ruas de Londres e, hoje, estão espalhados por várias cidades e países – inspirando muitas reflexões e muitos outros artistas a seguir pela mesma trilha do inconformismo e da contestação. Mais de duas décadas depois da estreia de Banksy, o mistério continua, na melhor tradição das histórias de super-heróis que lutam para salvar o planeta, mas permanecem no anonimato (veja também Semióticas: A guerra de Banksy).

Com o passar do tempo, o artista do grafite em sua identidade secreta, tal e qual os super-heróis da ficção que atuam para salvar o planeta Terra, tem deixado a marca ideológica e estética de sua irreverência em paredes de cidades do mundo inteiro, de Londres, Paris e Nova York à América Latina, à Palestina, ao muro de Israel e até nos confins da África. Mas, afinal, trata-se do trabalho real de um só artista ou trabalho coletivo de muitos, que se apropriaram da ideia original? Eis uma fronteira cada vez mais e mais difícil de ser demarcada.









A imitação de Banksy: no alto,
Show me the Monet (Me mostre
o Monet), a clássica pintura de
Claude Monet de 1907 sobre a
ponte na Lagoa das Ninféias, nos
jardins de Giverny, França, em
releitura crítica no grafite de
Banksy. Acima, crianças da África
em grafites recentes assinados por
Banksy em Bristol, Inglaterra,
que se supõe ser a terra natal do
artista. Abaixo, uma releitura para
Der Kuss (O beijo), pintura de
Gustav Klimt de 1907, grafitada
nas ruínas de Damasco, capital
da Síria, por Tammam Azzam,
artista local que também é
conhecido como Banksy da Siria






 .

 

Arte multimídia



Além de ter se tornado nos últimos anos o artista mais importante do grafite, Banksy também investe em outras mídias: seus vídeos e vinhetas têm milhões de acessos no Youtube e ele também mantém um site oficial, onde publica seus grafites, suas esculturas e trabalhos de design gráfico, sempre com seu característico tom satírico e provocador. Seu primeiro filme de longa metragem, “Exit Through the Gift Shop” (Saindo da loja de presentes), fez sucesso assim que estreou, em 2010, no prestigiado Sundance Film Festival, foi exibido em cinemas da Inglaterra e outros países e, no ano seguinte, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário.








A imitação de Banksy: abaixo, 
o satírico Mãe e filho, no grafite
original de Banksy e na recriação
que foi produzida pelo fotógrafo
Nick Stern. Acima, duas amostras
da arte polêmica do mais misterioso
dos grafiteiros apresentadas nos
muros em Nova York em 2013









Entre as recentes novidades do misterioso Banksy também está uma denúncia de genocídio: um filme e novos grafites de seu retorno à Faixa de Gaza, no Oriente Médio, território habitado por palestinos e bombardeado com frequência pelas tropas do Estado de Israel. Banksy deixou grafites nas ruínas de Gaza e registrou em um documentário o resultado da ação militar dos israelenses, que além de destruir e matar, sob o pretexto de combate ao “terrorismo”, ainda impedem a entrada de alimentos, de ajuda humanitária e de cimento para a reconstrução das casas.

No filme sobre o martírio imposto por Israel aos palestinos, tão impactante quanto breve (tem cerca de dois minutos de duração), intitulado “Make This The Year You Discover a New Destination” (Faça deste o ano em que você descobre um novo destino), Banksy usa a linguagem estereotipada dos anúncios publicitários de agências de viagens para mostrar o cenário terrível da miséria e da destruição em Gaza. Comove e impressiona – como acontece com a maior parte da arte que Banksy produz. 








A imitação de Banksy: no alto, o
cartaz original do primeiro filme de
Banksy, o documentário Exit
Through the Gift Shop (Saindo
da loja de presentes). Acima, grafite
recente de Banksy na Faixa de Gaza,
em cena do curta-metragem Make
This The Year You Discover a New
Destination (Faça deste o ano em
que você descobre um novo destino)





 


Guerra e Spray



Pontuado por comentários mordazes sobre os absurdos da sociedade contemporânea, o consumismo, as guerras e o conformismo, o trabalho polêmico e contestador de Banksy alcançou em prestígio e importância a arte de rua dos pioneiros Keith Haring (1958-1990) e Jean-Michel Basquiat (1960-1988) – que no final dos anos 1970 e na década de 1980 passaram dos muros e prédios públicos de Nova York para as galerias de arte e os grandes museus. Banksy não autoriza a comercialização de sua obra, mas alguns de seus trabalhos foram “sequestrados” das ruas e depois leiloados, também passando a fazer parte do acervo de museus e colecionadores endinheirados.

Em seu primeiro e único livro publicado, o autobiográfico “Guerra e Spray”, Banksy não reconhece influências dos hoje célebres Keith Haring e Jean-Michel Basquiat, que se tornaram nomes valiosos e disputados no mercado internacional de arte. Para ele, seus precursores são as inscrições de protestos anônimos nas paredes de Roma, na Antiguidade, e as palavras de ordem poéticas e subversivas dos ativistas de maio de 1968, na França – além de nomes do movimento punk e da cena “underground” que vieram antes dele, entre eles os parisienses Blek Le Rat (pseudônimo de Xavier Prou) e Speedy Graphito (pseudônimo de Olivier Rizzo) e o inglês Robert Del Naja, também conhecido como 3D, criador da banda Massive Attack.









Imitação de Banksy: Atirando flores,
um dos grafites mais conhecidos de
Banksy, reproduzido na capa de seu
até agora único livro, Guerra e Spray,
e a recriação de Nick Stern. Abaixo,
o garoto com a arma pesada, na
recriação de Stern e no original de
Banksy grafitado nas ruas de Londres;
a Mona Lisa armada com bazuca;
e a garota que dá um abraço na bomba.

Também abaixo, um abraço no grafite em
Paris assinado por Jef Aérosol, pseudônimo
do artista de rua Jean-François Perroy, que
tem a arte de Banksy como referência e desde
a década de 1980 espalha mensagens contra
toda forma de ódio e preconceito. E arte de
Banksy apresentada nas ruas de Londres
e na versão fotográfica segundo Nick Stern
em duas obras que também já se tornaram
clássicos da arte de rua: o Cristo
crucificado e consumista,
e o homem primitivo se alimentando
dos lanches McDonald's em embalagens
descartáveis de plástico e de isopor


















Enumerar os precursores de Banksy é mais fácil do que apontar a extensa relação dos nomes que ele influencia pelo mundo afora – inclusive no Brasil, onde o misterioso grafiteiro é referência confessa para nomes de destaque como Nunca (pseudônimo de Francisco Rodrigues da Silva), Eduardo Kobra e os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, mais conhecidos como Osgêmeos. Na lista dos artistas de rua que fizeram parcerias com Banksy ou que reconhecem sua influência direta também estão os ingleses Mr. Brainwash, Hopare, David Walker e D*Face; os italianos Pixel Pancho e Alice Pasquini; os franceses Jef Aérosol, Brusk e C215; os espanhóis Neko, 3ttman e Suso 33; os cubanos JR e José Parlá; os australianos Loui Jover e Be Free; o artista da Síria, Tammam Azzam; Mark Samsonovich, de Nova York; e os artistas anônimos do coletivo parisiense Meme IRL, entre muitos e muitos outros em vários países.

Entre os súditos incondicionais que Banksy tem conquistado pelo mundo afora também está o fotógrafo inglês Nick Stern. Depois de viajar pelos países da Europa, África, Ásia e Américas atuando como repórter fotográfico para a BBC e a CNN, Nick Stern passou a homenagear a arte de Banksy com um projeto que já recebeu vários prêmios e elogios até do misterioso grafiteiro: com a série fotográfica intitulada “You Are Not Banksy”, Stern recriou dezenas de grafites de Banksy usando atores e uma minuciosa produção para reproduzir cada detalhe das obras originais.




 



.


.


Banksy em terceira dimensão



Em breve entrevista que fiz com Nick Stern por e-mail, concedida através de seu site oficial, o fotógrafo falou de sua admiração pela arte contestadora de Banksy e explicou que sua iniciativa de recriação em terceira dimensão de alguns dos grafites mais conhecidos do artista surgiu em 2011, durante a série de violentas manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas de Londres, sua cidade natal. A ideia, segundo Stern, veio por acaso e foi logo colocada em prática, aproveitando a popularidade dos grafites de Banksy entre a maior parte do público de seu país.

Eu estava cobrindo as manifestações em Londres e, em determinado momento, fotografei um jovem usando capuz que lançava uma pedra contra os policiais. Aquilo me lembrou imediatamente daquele grafite de Banksy em que um manifestante atira não pedras ou bombas, mas um buquê de flores”, recordou Stern. “Então eu pensei que seria um projeto interessante se eu recriasse uma cena de tumulto com as pessoas atirando flores em vez de coquetéis molotov. Essa ideia evoluiu depois para as recriações que fiz de alguns dos grafites de Banksy”.









A imitação de Banksy: o beijo às
escondidas dos policiais, registro de
Banksy em Brighton, Inglaterra, e
a versão fotográfica de Nick Stern.

Abaixo, duas cenas irônicas e indiscretas:
o soldado da Guarda Real Britânica
fazendo xixi sem cerimônia e os 
dois militares pegos em flagrante
 enquanto grafitavam o símbolo da
Paz – na versão original criada por
Banksy e na releitura de Stern














Observando as recriações dos grafites polêmicos pelas fotografias de Nick Stern e a proliferação de postagens sobre o mais misterioso dos grafiteiros no Facebook, no Twitter e em tantos sites na Internet, fiquei pensando na repercussão das homenagens – e na dimensão globalizada da popularidade crescente que a obra contestadora de Banksy alcança entre as pessoas comuns e entre outros artistas, incluindo os famosos e os anônimos.

A influência de Banksy, afinal, confirma que o grafite deixou de ser uma atividade proibida, improvisada nas ruas, registrada às escondidas em muros e fachadas, para ganhar cada vez mais prestígio e destaque. Com tudo isso, a grande vantagem é que a arte do grafite deixa de ser confundida pelos leigos com pichação e vandalismo e vai conquistando mais espaço para, quem sabe, mudar as pessoas e a atitude que elas têm diante da vida e do mundo ao redor.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. A imitação de Banksy. In: Blog Semióticas, 7 de março de 2015. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2015/03/a-imitacao-de-banksy.html (acessado em .../.../...).









Para visitar o site oficial de Banksy,  clique aqui.












A imitação de Banksy: acima, as
obras de Arte & Política estampadas
nos grafites originais de Banksy e nas
versões fotográficas de Nick Stern
para A menina e o soldado e para
a denúncia de tortura comandada
oficialmente pelo governo dos EUA
em O prisioneiro de Guantánamo.

Abaixo, a recriação de Nick Stern para
Slave Labour, denúncia de Banksy sobre
o trabalho escravo e o trabalho infantil
explorado por fábricas terceirizadas que
produziram enfeites e lembranças para as
Olimpíadas realizadas em 2012 em Londres






Outras páginas de Semióticas