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2 de dezembro de 2025

Surrealismo na fotografia

 





Todos agem “como se fossem anjos”, todos possuem

tanto “como se fossem ricos” e todos vivem “como se

fossem livres”. Não há nenhum vestígio real, contudo,

de anjos, de riqueza e de liberdade. Apenas imagens.

                                                           –– Walter Benjamin, “O Surrealismo” (1929).  




Movimento estético e artístico que provocou impacto na busca pela liberação das expressões do inconsciente, dos sonhos, da irracionalidade e das distorções da realidade, o Surrealismo também teve importância como ação política e ideológica antiautoritária e antifascista, além de representar uma linha de força fundamental nos grupos de vanguarda da Arte Moderna contra o conservadorismo. Com seu centro irradiador situado inicialmente na França, especialmente em Paris, o movimento rapidamente se espalhou pelo mundo em suas mais diversas formas de expressão, levando os domínios da arte, da literatura e do cinema “até os limites extremos do possível” – como aponta o alemão Walter Benjamin no ensaio “O surrealismo: o último instantâneo da inteligência europeia”.

Na língua francesa, o prefixo “sur” sempre existiu com acepções em “acima”, “sobre” ou “além”, mas o termo “sur-realismo” só foi publicado pela primeira vez em 1917 pelo escritor e crítico de arte Guillaume Apollinaire. Em um artigo, e em sua peça teatral “As tetas de Tirésias”, considerada uma obra precursora do surrealismo, Apollinaire escreveu: “Quando o homem quis imitar o caminhar, criou a roda, que não se assemelha a uma perna. Assim, criou o surrealismo sem se dar conta”. Em outubro de 1924, sete anos depois do primeiro registro na referência pioneira de Apollinaire, o escritor e poeta André Breton publicou o “Manifesto Surrealista”, marco fundador do movimento – e definiu o Surrealismo como "automatismo psíquico puro pelo qual se destina a expressar o verdadeiro funcionamento do pensamento e dos sonhos, livre de qualquer controle ou preocupação com a razão ou a moral".










Surrealismo na fotografia: no alto da página,
Uns sobem e outros descem (Unos suben y outros
bajan, 1940), fotografia de Lola Álvarez Bravo.
Acima, mais duas fotos de Lola Álvarez Bravo,
Homem-rã (Hombre rana, 1949) e Olho (Ojo, 1950).

Abaixo, Jean Cocteau em fotografia de Julien Clergue
durante as filmagens de O testamento de Orfeu
(Le testament d’Orphee), filme de 1959 com direção,
roteiro e atuação de Cocteau no papel central.
Todas as imagens fazem parte do catálogo da
exposição Surrealism na Throckmorton Fine Art,
exceto quando indicado nas legendas









Um século depois do marco inaugural do manifesto de André Breton, um olhar em retrospectiva consegue estabelecer as características difusas e marcantes desta visão artística que explora as dimensões mais eletrizantes da imaginação humana. Nas celebrações do centenário e da herança do movimento, um dos destaques vem da Throckmorton Fine Art, de Nova York, com uma exposição sobre o impacto do movimento na fotografia, reunindo fotógrafos que atuaram na Europa, nos EUA e no México nos anos 1920 e nas décadas seguintes. No acervo selecionado estão obras que moldaram as formas e a estética do Surrealismo na fotografia e que levantam questões sobre a natureza da realidade e da identidade individual de cada fotógrafo selecionado – retomando abordagens sobre o estilo e as características do movimento surrealista que provocam polêmica desde o tempo em que a fotografia como técnica e como meio de expressão era questionada em seu estatuto de arte e muitas vezes considerada uma arte menor.


Imagens de sonho


O uso de técnicas que na época eram consideradas inovadoras e radicais, como o automatismo psíquico, as associações livres e a colagem para explorar o mundos dos sonhos e dos desejos, surgiram anunciadas como estratégias no primeiro manifesto de André Breton. Nos anos seguintes, viriam outros manifestos também escritos por Breton, “Surrealismo e Pintura”, de 1928, e “Segundo Manifesto do Surrealismo”, de 1930. Um terceiro documento, “Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente”, foi coescrito por Breton, Diego Rivera e Leon Trotsky no México, em 1938, e publicado com grande repercussão na França, na revista Partisan Review. Trotsky, liderança importante da Revolução Russa de 1917, havia sido expulso do Partido Comunista da União Soviética e estava exilado no México desde 1936, acolhido pelo casal Diego Rivera e Frida Kahlo.

Desde então, o movimento surrealista se espalhou pelo mundo como tendência e influência para artistas das áreas mais variadas. O impacto do Surrealismo também foi sentido no Brasil, onde os ideais do movimento prosperaram na primeira geração dos modernistas da Semana de 1922, com destaque na literatura de Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Limaou na arte de Tarsila do Amaral, Ismael Nery, Flávio de Carvalho e Cícero Dias, entre outros, além da presença incontornável de Maria Martins, parceira de Marcel Duchamp e primeira mulher a despontar como expoente nos círculos surrealistas de Paris.






Surrealismo na fotografia: na imagem acima,
Ruínas com forma masculina
(Ruins and Male Form,
década de 1920), fotografia
s e colagem de Lionel Wendt.

Abaixo,
Torre do Rockfeller Center nº 14
(Rockefeller Center Tower nº 14), fotografia
de 1932 de
Rosa Covarrubias. Também abaixo,
Cartografia interior nº 23 e nº 21, fotografias com
intervenções e colagens de 1995 e 1996, no estilo
surrealista, por Tatiana Parcero







Nomeada como “Surrealismo: Mais de um século unindo os reinos dos sonhos e da realidade” (Surrealism: Over a Century Merging the Realms of Dreams and Reality), a mostra na galeria Throckmorton Fine Art, com curadoria da historiadora María Míllan, reúne 50 fotografias ampliadas, a maioria delas em preto e branco, de 25 artistas que abraçaram os ideais surrealistas para produzir imagens que expressam elementos do acaso e um forte simbolismo na composição. Em comum a todos eles, um método de trabalho para criar representações inesperadas por meio da fotografia. É um acervo valioso, mas trata-se tão somente de uma amostragem: quem tem algum repertório sobre o movimento irá perceber, pela lista de fotografias selecionadas, que nem todos os nomes do primeiro time do Surrealismo na fotografia estão representados na mostra.

Entre os nomes de destaque histórico do movimento que atuaram na fotografia, Man Ray (1890-1976), Claude Cahun (1894-1954) e Hans Bellmer (1902-1975) talvez sejam as ausências mais marcantes da mostra, ainda que isso não diminua seu alcance e sua importância como retrospectiva, porque a curadoria consegue contemplar um conjunto coerente de obras e
autores. Como o Surrealismo sempre foi inerentemente político, desde seus primórdios como movimento de protesto e de combate ao fascismo, ao autoritarismo e ao conservadorismo, o acervo selecionado não exclui o potencial da estética surrealista como arma política para romper barreiras – entre temáticas, entre gêneros e entre linguagens. É o que a fotografia surrealista representa: ao contrário da atuação centrada exclusivamente na produção fotográfica, o que fotógrafos com ideais surrealistas estabelecem são possibilidades criativas de intercâmbio da fotografia com formas de expressão das artes plásticas, das artes cênicas, da literatura, do cinema – aproximando flagrantes do real, por meio do aparato fotográfico, ao inesperado, ao impossível e às formas do inconsciente.









Limites extremos


Pelas fotografias selecionadas, é possível perceber que a linguagem e o espírito do movimento surrealista se estendem para muito além dos nomes que os manuais de história da arte enumera como artistas canônicos, alcançando também fotógrafos que adotaram abordagens lúdicas e experimentais inspiradas nos ideais estéticos do Surrealismo. Na fotografia, tais ideais formam um arsenal que funciona como ferramentas de composição, potencializado com base no próprio aparato dos equipamentos, que a linguagem fotográfica nas primeira décadas do século 20 ainda navegava na transição entre as possibilidades do meio como documentação e como autoexpressão. Na aproximação com o Surrealismo, novas diretrizes surgiam na busca pelos limites extremos da técnica em variações de dupla exposição, negativos sobrepostos, fotomontagens, solarização e polarização, uso de lentes especiais, de iluminação incomum, de perspectivas distorcidas em enquadramentos surpreendentes ou até mesmo recorrendo a adereços absurdos com o objetivo de proporcionar resultados de efeitos dramáticos.

Outra característica marcante no acervo selecionado pela Throckmorton Fine Art está no número expressivo de mulheres no espectro da fotografia surrealista. Dos 25 artistas presentes na exposição, mais da metade são mulheres, com destaque para Dora Maar, Kati Horna, Stella Snead, Tina Modotti, Berenice Abbott, Germaine Krull, Lola Álvarez Bravo, Mariana Yampolsky, Imogen Cunningham, Graciela Iturbide, María García e Francesca Woodman. Também marcam presença na exposição composições inesperadas na forma e no enquadramento de objetos inanimados por Edward Weston; nas distorções do corpo por André Kertész; nos flagrantes irônicos de Henri Cartier-Bresson; e nas encenações mirabolantes de Philippe Halsman.







Surrealismo na fotografia: na imagem acima,
fotografia de Berenice Abbott da década de 1920,
As mãos de Jean Cocteau, da série Rostos de 1920
(
Jean Cocteau's Handsfrom, Faces of the 20's Portfolio).

Abaixo, fotografia sem título de 1962 de Kati Horna,
da série Oda a la necrofilia, Cuidad de México.

Também abaixo, duas fotografias de Henri Cartier-Bresson:
um retrato de 1930 
do escritor André Peyre próximo a um
cartaz publicitário; e um flagrante em fotografia de
1933 em uma rua de Valência, Espanha













Poder da imaginação


Para o senso comum, que faz com frequência uma associação direta do Surrealismo com as provocações de mestres como Salvador Dalí e René Magritte nas artes plásticas, Luis Buñuel no cinema ou Antonin Artaud no teatro, talvez possam parecer pouco expressivas as pequenas variações sobre imagens cotidianas em algumas fotografias selecionadas. Tais variações, no entanto, não podem ser separadas da estética surrealista se questionam a ditadura da razão e valores burgueses como pátria, família, religião, trabalho, ou se fazem um elogio subversivo ao poder da imaginação – porque, no primeiro manifesto, Breton declarava sua crença na possibilidade de reduzir dois estados tão contraditórios, sonho e realidade, a uma espécie de síntese de uma realidade absoluta, uma sobre-realidade (ou surrealidade).














Uma importante alteração no Surrealismo surge no final da década de 1930, com a Segunda Guerra Mundial explodindo em países da Europa. Neste cenário, os Estados Unidos e outros países do continente americano atraem uma onda de artistas e intelectuais europeus que fugiam das zonas de guerra. Há, também, um evento catalisador realizado na Cidade do México em 1940: a Exposição Internacional do Surrealismo, organizada por André Breton, que marca um momento crucial para o envolvimento e a contribuição da América Latina para o estilo e para os ideais surrealistas. Embora o movimento surrealista seja amplamente considerado europeu, obras de artistas e fotógrafos do México e de outros países latino-americanos também passam a destacar a relação do Surrealismo com a produção cultural dos povos do continente que abrigou, desde sempre, tanto tradições como imaginação criativa inclinadas para o maravilhoso e o fantástico – como confirma a ascensão do realismo mágico na literatura e nas artes plásticas.


Fronteiras da realidade


As imagens violentas e chocantes dos campos de batalha na Segunda Guerra podem receber a nomeação de surrealistas, pelo impacto que provocaram, já que o termo passou a ser incorporado como adjetivo na linguagem cotidiana para se referir ao que é estranho ou surpreendente, fora do comum, mas o movimento de forma geral teve o seu desfecho no pós-guerra. O fim do surrealismo como uma força vital está ligado a uma exposição, “Le Surrealisme en 1947”, concebida e realizada por André Breton e Marcel Duchamp com o objetivo anunciado de marcar o retorno do movimento surrealista a Paris após a guerra. O objetivo, no entanto, não se concretizou. A exposição, na verdade, demonstrou que a geração mais jovem, incluindo artistas como Francis Bacon, Alan Davie, Eduardo Paolozzi e Richard Hamilton, estava se movendo em direções diferentes com outros ideais.







Surrealismo na fotografia: na imagem acima,
Adelaido, El Conquistador
, fotografia de 1951
de
Héctor García. Abaixo, Dançarina satírica
(Satiric Dancer), uma fotografia de 1926
de
André Kertész.

No final da página, o encontro lendário de
Leon Trotsky, Diego Rivera e André Breton
no México, 
fotografado por Fritz Bach em junho
de 1938, na época em que os três escreveram, em
parceria, o Manifesto por uma Arte Revolucionária
Independente
, publicado pela revista Partisan Review.

Também no final da página, mais duas fotografias do
catálogo da exposição
na Throckmorton Fine Art:
Três marionetes em um cenário de navio
(Three Puppets in a Ship Setting), fotografia
de 1929 de
Tina Modotti; e Nu em abstração
(Nude Abstraction), fotografia de 1953 de
Weegee









Um século após seu surgimento, o Surrealismo continua a existir, como estilo e como referência, não somente na fotografia, mas em todos os domínios da criação artística, no mundo inteiro, em grande parte como citação às obras dos pioneiros do movimento nas décadas de 1920 e 1930. Seu legado e influência se mantêm inegáveis sempre que estão em cena imagens com sugestões oníricas e inesperadas, fantásticas, bizarras ou grotescas, que nos levam a reavaliar nosso olhar sobre a realidade e a vida cotidiana. O acervo selecionado na exposição atual, com uma gama significativa de imagens de fotógrafos pioneiros, tem grande valor como retrospectiva não só porque promove uma revisão das conquistas do Surrealismo na fotografia, mas porque reafirma a importância, urgente e contínua, de examinarmos as fronteiras entre a realidade e as representações da realidade.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Surrealismo na fotografia. In: Blog Semióticas, 2 de dezembro de 2025. Disponível em: https://semioticas1.blogspot.com/2025/12/surrealismo-na-fotografia.html (acesso em .../.../…).



Para visitar a exposição na  Throckmorton Fine Art,  clique aqui.













19 de outubro de 2022

Alice surrealista





E de que serve um livro", pensou Alice, "sem figuras nem diálogos?"

–– Lewis Carroll, “Alice no país das maravilhas”....






Desde suas primeiras edições em 1865, a obra-prima de Lewis Carroll “Alice no país das maravilhas” (“Alice in Wonderland”), e sua continuação publicada em 1871 “Alice através do espelho” (“Through the looking-glass and What Alice found there”), conseguiram conquistar leitores entusiasmados de todas as idades e capturar corações e mentes. Os dois livros, com Alice caindo na toca do coelho ou do outro lado do espelho, viajando por lugares estranhos, carregados de ironias e provocações, onde uma bebida pode fazer você encolher, um cogumelo pode fazer você crescer, onde flores, animais e cartas do baralho falam, e onde poucos têm coragem de resistir ao poder autoritário e insano, são constantemente tomados como referência e influência para adaptações, releituras e traduções intersemióticas, com conteúdos mais ou menos imprevisíveis, que vão das formas literárias tradicionais a versões para outras artes e mídias (veja também “Semióticas – Alice vai ao futuro”  e  “Semióticas – Alice volta ao futuro”).

A galeria dos que têm as aventuras de Alice como fonte de inspiração é quase infinita e permanece em alta, incluindo de Walt Disney e Salvador Dalí a muitos e muitos escritores e artistas de estilos e gêneros diversos, além de cineastas, estilistas de moda, designers, fotógrafos, grafiteiros e performers em geral. As aventuras da Alice de Lewis Carroll (o nome do autor é, na verdade, um anagrama do nome real da personagem, Alice Liddell, um pseudônimo que foi criado pelo matemático e pastor anglicano Charles Lutwidge Dodgson para assinar suas obras de literatura) tornaram-se, desde a origem, quase um sinônimo para “nonsense”, a expressão do estilo na literatura e nas artes que denota algo sem sentido, sem nexo, sem lógica ou sem coerência, como a verbalização de um “absurdo”, ainda que a lógica muito sofisticada de “Alice no país das maravilhas” e de “Alice através do espelho” contenha uma variedade de enigmas cognitivos e jogos de linguagem que estão bem longe dqualquer ausência de sentido.





Alice surrealista: no alto da página, Alice
na mesa do chá com o Chapeleiro Louco e
a Lebre Maluca, uma ilustração original de
John Tenniel de 1865 para o livro de Lewis Carroll.
Tenniel, um conhecido ilustrador e caricaturista da
época, foi contratado por Carroll para refazer seus
desenhos criados junto com o manuscrito.

Acima, a pequena Alice Pleasance Liddell
aos seis anos, em 1858, fotografada por
Lewis Carroll. Alice era uma das filhas de
Henry Liddell, reitor da Christ Church,
em Oxford, e Carroll ficou encantado quando
a conheceu, tanto que assinou o livro não com
seu nome original, Charles Lutwidge Dodgson,
mas com o pseudônimo que passou a adotar,
Lewis Carroll, um anagrama para Alice Liddell.

Abaixo, duas pinturas surrealistas de Max Ernst
inspiradas em "Alice no país das maravilhas" e em
"Alice através do espelho": "Alice" e "The stolen mirror"
(O espelho roubado), ambas de 1941. Max Ernst criou
diversas obras baseadas na literatura de Lewis Carroll
que fazem alusão direta a Alice no período entre
as décadas de 1930 e 1970 






  

Limites da lógica


Tal expressão nos limites da lógica, tão transgressora e tão próxima das fronteiras do fantástico e do onírico, representada com maestria pela literatura de Lewis Carrol, foi apropriada também com muita atenção pela geração de escritores e artistas do surrealismo. Seja atravessando o espelho ou quebrando as regras de Wonderland, Alice, e as galerias de personagens extraordinários que ela encontra, conseguiram atrair, de forma definitiva, o olhar fascinado dos surrealistas mais radicais. Todos, ou a maioria deles, perseguiram com curiosidade os passos de Alice, revivendo as perplexidades e os questionamentos inconformados da menina diante do mundo sobrenatural que atrai e encanta.

O que Alice encontrou, depois que sua atenção é despertada pela visão incomum e muito estranha de um coelho branco com um relógio de bolso, foi um mundo subterrâneo mágico, uma realidade de fábula com criaturas da aristocracia, todas enlouquecidas, frustradas com tudo, e todos a questionar a lógica e os hábitos mais tradicionais da vida cotidiana. Ao final do turbilhão de aventuras da primeira viagem, Alice desperta do que pode ter sido um sonho, mas embarca novamente para o mundo mágico ao atravessar o espelho e entrar em outro jogo absurdo apresentado em um imenso tabuleiro.






Alice surrealista: acima, uma obra-prima da
história da arte, 
“O jardim das delícias terrenas”,
um tríptico dobrável com pintura em óleo sobre
madeira, criado em 1504 por Hieronymus Bosch.
Abaixo, o coelho branco na ilustração original de
John Tiennel criada em 1865 para a primeira
edição do livro de Lewis Carroll








Há quem aponte uma relação inevitável entre aquele mundo que Alice encontra com “O jardim das delícias terrenas”, um tríptico dobrável com pintura em óleo sobre madeira, obra de 1504 de Hieronymus Bosch, pseudônimo de Jeroen van Aken, artista nascido no Ducado de Brabante, situado ao sul da Holanda e ao norte da Bélgica. Na obra de Bosch, a primeira tábua representa o Gênesis e o Paraíso; a terceira representa o Inferno. A composição, aparentemente caótica, com múltiplas cenas simultâneas, algumas bizarras, pontuadas de simbolismos, muitas vezes é interpretada como metáfora de outra realidade, mais profunda e complexa, que está escondida entre as figuras representadas.

As histórias de Alice criadas por Lewis Carroll também mantêm uma profunda ligação com o fascínio da Era Vitoriana com realidades alternativas, paradoxos e questões de identidade, como se pode notar em outras produções literárias da mesma época – como é o caso exemplar de “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, publicado em 1890. A ideia fantástica de atravessar um espelho para entrar em outro mundo explora a preocupação vitoriana com os limites – sejam eles entre a infância e a idade adulta, a realidade e a fantasia, ou o material e o espiritual. No caso de Alice, o espelho serve como um portal para um mundo que é familiar e estranho, onde a lógica leva à construção de realidades paralelas e à exploração lúdica da psique humana.

Hoje o que se percebe é que, na verdade, o enredo, as criaturas e a protagonista das histórias de Alice fizeram de Lewis Carroll um importante precursor do que viria a ser o surrealismo, atravessando as fronteiras do dadaísmo e dos demais movimentos de vanguarda dos primeiros tempos da arte moderna. O surrealismo, a seu modo, adotou Alice, apresentando ou promovendo sua atualidade para um público mais sofisticado e mais avançado no repertório do mundo das artes e da literatura. Com a aproximação, a curiosidade de Alice tornou-se uma espécie de sinônimo para as investigações estéticas e existenciais em torno de surrealistas e dadaístas, assim como para os que vieram depois deles.











Alice surrealista: acima, uma página do manuscrito
original de Lewis Carroll com um de seus desenhos no
rascunho, depois refeitos por John Tenniel ("a lagarta")
para a primeira edição do livro em 1865.

Abaixo, 
duas pinturas surrealistas de Dorothea Tanning
inspiradas na 
Alice de Lewis Carroll: "Eine Kleine
N
achtmusik" (Um pouco de música noturna),
de 1943, em alusão aos diálogos de Alice
com as flores (o título da obra é uma referência
à célebre serenata de Mozart); e "Birthday"
(Aniversário), de 1942, com uma Alice adulta
vagando pelo corredor de portas no que supõe
ser um "desaniversário" 










O melhor da infância


A aproximação entre a Alice de Carroll e os surrealistas não é apenas uma possibilidade anacrônica, que se percebe somente na atualidade, ou evidenciada por analogias entre o País das Maravilhas e as criações históricas daqueles artistas: tal aproximação está presente desde o marco fundador do movimento, com as citações feitas por André Breton no primeiro “Manifesto do Surrealismo”, de 1924, no qual a principal liderança dos surrealistas valoriza, de forma nostálgica, um sentimento de admiração pelo lúdico do universo infantil que remete ao real maravilhoso que a criança Alice vai descobrindo em sua aventura no novo mundo.

Nas palavras do manifesto de Breton: “A maior parte dos exemplos que a literatura poderia me fornecer estão contaminados com coisas fúteis e vazias pela simples razão de serem dirigidas às crianças, que desde muito cedo são cortadas do maravilhoso (…). Por isso o espírito livre que ousa mergulhar no surrealismo revive, com exaltação, a melhor parte de sua infância”. Breton também destaca que das recordações da infância, repletas de encantos, vêm os sentimentos mais fecundos para a arte e para a literatura, e que talvez seja a infância o que mais se aproxima de uma vida verdadeira.






Alice surrealista: acima, Alice Liddell fotografada
em 1860 por Lewis Carroll. Abaixo, três versões
para a mesma passagem das aventuras de
Alice, quando ela enfrenta uma chuva de
cartas do baralho: a versão de John Tenniel,
publicada em 1971 em "Alice através do espelho";
uma colagem de 1930 de Max Ernst; e uma
pintura de 1955 de
Piero Fornasetti







      




Experiências lúdicas e oníricas


André Breton retornaria outras vezes à literatura de Lewis Carrol e ao mundo de Alice, uma delas encontrando no País das Maravilhas (Wonderland) o argumento para caracterizar a qualidade das imagens pictóricas em geral, conforme ele reconhece em “Surrealismo e Pintura”, de 1928. No ensaio, ao se referir à obra cubista de Pablo Picasso, Breton ressalta que as imagens do mestre espanhol abordam um continente que nos levam diretamente a um “país das maravilhas”. São estas referências fundadoras, na origem do movimento, que incentivaram e levaram outros surrealistas a também buscarem experiências lúdicas e oníricas, não conformistas e libertárias, repletas de citações e referências à Alice criada por Lewis Carroll.

Alguns deles não ficaram apenas nas citações e partiram para paráfrases ou mesmo para recriações explícitas, tanto nos domínios da pintura e do desenho como na escultura, no teatro, no cinema, na fotografia, na prosa e na poesia. Entre os expoentes do surrealismo que têm criações na década de 1930 baseadas de forma explícita na Alice de Carroll estão Picasso, Salvador Dalí, Luis Buñuel, Louis Aragon, Antonin Artaud, Max Ernst, Marcel Duchamp, Maria Martins, Dorothea Tanning, Remedios Varo, Leonora Carrington, Man Ray, Georges Bataille e outros. No período da Segunda Guerra, e mais ainda no pós-guerra, novas recriações e citações sobre Alice iriam se multiplicar para além dos círculos do surrealismo e do dadaísmo (veja também “Semióticas  –  Arte entre guerras”  e  “Semióticas  –  Arte segundo Duchamp”).














Alice surrealista: acima, Alice Liddell fotografada
aos 19 anos, em 1872, por Julia Margaret Cameron;
"Alicia, retrato de una niña", pintura de 1919 de
Joan Miró; e "Alice au pays des marveilles",
pintura de 1945 de Rene Magritte.

Abaixo, o cartaz original do lançamento em 1951
do filme de Walt Disney, que teve uma importante
participação não creditada de Salvador Dalí;
e "Lluvia de lágrimas", uma das 12 ilustrações
que Salvador Dalí fez em 1969 baseado em
"Alice no país das maravilhas", sendo uma
ilustração para cada capítulo; e na gravura
sem data "Reina de Corazones", uma
das ilustrações dos vários projetos de Dalí
sobre a personagem criada por Lewis Carroll,
iniciados depois da colaboração interrompida
com Disney. Também abaixo, Alice é mostrada
no detalhe da menina pulando corda, um motivo
que aparece com muita frequência na obra
de Dalí desde a década de 1930, aqui em
uma pintura de 1936 intitulada
Paisagem com garota ignorando a corda









             


A sedução de Alice sobre a primeira geração dos surrealistas também passou pelas telas do cinema. Desde os primeiros tempos do cinema mudo, foram várias versões para o livro de Lewis Carroll. Os filmes, seus personagens e as situações oníricas que eles experimentam ficaram marcados no imaginário coletivo e tiveram impacto sobre artistas e escritores. A primeira versão para o cinema, em 1903, teve direção de Cecil M. Hepwoeth, com 12 minutos de duração e figurinos fieis às ilustrações que John Tenniel fez para a primeira edição do livro. A segunda versão, que estreou em 1910, foi uma produção dos estúdios de Thomas Edison. Com roteiro e direção de Edwin S. Porter, teve 15 minutos de duração e truques de magia no estilo do francês Georges Méliès.

A terceira versão, de 1915, com roteiro e direção de W. W. Young, tem uma hora de duração, em uma época em que os filmes raramente ultrapassavam 15 minutos., também com truques cênicos ao estilo de Méliès e com todo o elenco de atores usando máscaras, à exceção de Alice (Viola Savoy). Uma nova versão de Alice, a quarta desde o filme de 1903, foi realizada por Walt Disney e marca sua primeira investida no mundo do cinema, depois do sucesso com as tirinhas de jornais e as revistas em quadrinhos. "Alice", série de três curtas-metragens, foi lançada em 1923, com a pequena Alice (Virginia Davis) visitando os estúdios Disney em Hollywood (e não no País das Maravilhas) e contracenando com cenários e personagens de desenhos animados.


Truques e uso de máscaras


A quinta versão, lançada em 1928, foi um média-metragem, "Alice através do espelho", com direção de Walter Lang e 40 minutos de duração, sem legendas e sem os tradicionais quadros de textos do cinema mudo. Depois vieram as primeiras versões do cinema sonoro: a primeira, de 1931, com 55 minutos, teve direção de Bud Pollard, com Ruth Gilbert no papel de Alice; a segunda, de 1933, foi mais ambiciosa e macabra, em superprodução da Paramount Pictures, com roteiro de Joseph L. Mankiewicz, direção de Norman Z. McLeod e grande elenco de astros e estrelas, entre eles Gary Cooper, Cary Grant, Edna May Oliver, Charlotte Henry (no papel de Alice) e Edward Everett Horton. McLeod reproduz os melhores truques das versões anteriores e inclui sequências de stop-motion e de desenhos animados produzidas pelos estúdios de Max Fleischer, que na época estava transpondo de forma pioneira para o cinema personagens muito populares das histórias em quadrinhos como Betty Boop e Popeye.

O sucesso do filme de McLeod levou Walt Disney a adiar por duas décadas sua versão em longa-metragem, que somente seria lançada em 1951, no formato de animação em Technicolor, com uma luxuosa colaboração não creditada de Salvador Dalí. O longa produzido por Disney ainda enfrentaria problemas com a censura e um forte concorrente para exibição no mercado europeu: "Alice au pays des merveilles", superprodução em cores de França e Reino Unido, lançada em 1949 com direção de Dallas Bower e surpreendentes efeitos visuais, com Alice (Carol Marsh) e os atores contracenando com bonecos em animação stop-motion e com desenhos animados, em versão muito fiel ao "nonsense", ao humor e às sátiras sobre personalidades históricas da época em que o livro foi publicado.


  











Alice surrealista: no alto, a versão para o cinema
lançada em 1903, com Alice perseguida pelo
exército de cartas do baralho. Acima, duas cenas
do filme de 1915, com a atriz Viola Savoy.

Abaixo, Alice na versão de 1933, que foi a segunda
do cinema sonoro; e o cartaz original da Alice de 1949







      

As aproximações entre a Alice de Carroll e os surrealistas vão muito além das fronteiras do movimento originário da França, como comprova um marco historiográfico: no primeiro estudo publicado sobre o surrealismo na Inglaterra, em 1935, o historiador da arte David Gascoyne destacou que a arte surrealista nasceu de uma matriz inglesa pela literatura de Lewis Carroll. Dois anos depois, em 1937, uma exposição de vanguarda no Museu de Arte Moderna de Nova York celebrava obras-primas da arte no universo do fantástico, do dada e do surreal, incluindo dois desenhos originais de Lewis Carroll, o Gryphon e a Mock Turtle (a tartaruga falsa). Trata-se de uma homenagem ao criador de "Alice" e também é uma grande ironia descobrir que, na primeira exposição sobre os precursores do surrealismo, a arte de Lewis Carroll, que se considerava um desenhista apenas amador e limitado, tenha surgido ao lado de mestres aclamados pela tradição como Pieter Bruegel, Johann Fuseli e William Blake.


Palavras com imagens


A literatura e Lewis Carroll e sua arte como ilustrador e fotógrafo também aparecem reverenciadas em publicações que são consideradas como bíblias pela primeira geração surrealista, como destaca Georges Didi-Huberman em “A semelhança informe” (Editora Contraponto, 2015), tais como a revista “Documents” (que teve 15 números, com edição de Georges Bataille, entre 1929 e 1930) e a revista “L’Usage de la Parole” – que na edição de dezembro de 1939 apresentou em destaque três poemas de Carroll, publicados lado a lado com outros fragmentos de prosa e poesia escritos por expoentes das vanguardas como Gaston Bachelard, Paul Éluard e Marcel Duchamp, entre outros, como se o autor de “Alice no país das maravilhas” fosse, de fato, um dos militantes do surrealismo, e como se sua obra fosse uma sátira produzida em meados do século 20 sobre uma sociedade controlada por convenções inúteis e impostas pelas classes dominantes.










Alice surrealista: acima, The old maids, pintura de
1947 de Leonora Carrington, com Alice representada
na figura alta vestindo azul, à esquerda; e retratos de
Alice em duas serigrafias de 1970 de Peter Blake.

Abaixo, Lewis Carroll em autorretrato de 1857
e o Coelho Branco na versão desenhada por
Ralph Steadman para uma série de serigrafias
sobre Alice criada em 1967. Desde a década de 1960,
a expressão "perseguindo o Coelho Branco" passou
a ser uma espécie de código usado para descrever o
uso de drogas alucinógenas, fazendo de Alice
uma garota propaganda involuntária para os
hábitos da geração hippie e da cultura psicodélica






Lewis Carroll também surge em destaque ao lado de mestres como Sigmund Freud, Marquês de Sade, Lautreamont, Rimbaud e Mallarmé em uma edição especial de “VVV”, a revista que foi uma obra de referência do surrealismo e teve circulação em Nova York com quatro números publicados entre 1942 e 1944. O entusiasmo com as recriações e referências à Alice de Carroll na arte e na literatura surrealista permaneceram nas décadas seguintes, com novos tributos e releituras pelas obras de Max Ernst, Dorothea Tanning, Leonora Carrington, Joan Miró, Marc Chagall, René Magritte, Duchamp e Dalí, entre muitos outros, prosseguindo com uma diversidade de artistas de outros estilos e áreas diversas até a atualidade, passando da estética, das artes plásticas e da forma literária tradicional para as questões comportamentais e semióticas, multimídia, antropológicas, sociológicas, diversionais e políticas.


Tradição e ruptura


Em 1951, há um importante destaque para o tema "Alice" com o lançamento da animação de Walt Disney em cinemas do mundo inteiro, o que trouxe novo impulso para a popularização da literatura de Lewis Carroll e para as aventuras da personagem. Resultado de uma polêmica parceria não-creditada entre Disney e Salvador Dalí (veja mais em “Semióticas  –  Alice volta ao futuro”), o filme de Disney recebeu elogios e críticas, ganhando novos sentidos a partir da década seguinte, quando entram em cena os movimentos da contracultura e o uso diversional de alucinógenos, acrescentando novas camadas de sentido às experiências que Carroll apresentava nas descobertas de Alice em seu mundo imaginário. Alice ganhou cores psicodélicas, passou a ser sinônimo de viagens alucinantes e embalou sucessos de estrelas do rock e da música pop, incluindo “White Rabbit”, do Jefferson Airplane, e “I’am the Walrus”, dos Beatles, entre muitos outros. Um observador atento até poderia supor que Alice se tornou uma querida vovó que contava suas histórias de viagens para a geração hippie.

















Alice surrealista: acima, reprodução do manuscrito
original de Lewis Carroll e Cheshire Cat, pôster de
1967 de Joseph McHugh; o selo da gravadora
britânica Charisma, que estampava nos discos
de vinil o Chapeleiro Louco e outros personagens
de Alice e que lançou, entre 1969 e 1983, grandes
sucessos do rock e do pop, entre eles Genesis,
Malcom MacLaren, The Alan Parsons Project
e outros; e uma imagem da série "Alícia",
versão de 2010 de Xavier Collette.

Abaixo: 1) uma das versões de Alice criadas em
2019 por Alex Prancher em fotografias e filmagens
nas ruas de Los Angeles; 2) "Alice" na versão
de Yayoi Kusama, a artista plástica mais célebre
do Japão, que ilustrou uma edição recente do livro
pela Penguin Classics; 3) "Alice" na versão fotografada
debaixo d'água em 2014 pela russa Elena Kalis e lançada
como fotolivro, com sua filha Alexandra como modelo;
4) a versão "hype" criada por Tim Walker para o
Calendário Pìrelli 2018; 5) a soprano Zenaida Yanowsky
como Rainha de Copas na montagem de 2011
para Aventuras de Alice no país das maravilhas
pelo The Royal Ballet de Londres com direção
de Johan Persson e figurinos de Bob Crowley;
e 6) modelo de abertura da coleção primavera verão
de 2015 criada por Vivienne Westwood
em homenagem às aventuras de Alice















As citações e referências aos paradoxos, aos trocadilhos e aos jogos de linguagem de Alice também conquistaram um campo fértil em uma diversidade de estudos teóricos em áreas variadas, com destaque para referências importantes em obras como “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas” (1966), de Michel Foucault; “A lógica do sentido” (1969), de Gilles Deleuze; e “Nonsense: aspectos da intertextualidade no folclore e na literatura” (1979), de Susan Stewart. Tudo isso e mais uma infinidade de teses acadêmicas e de abordagens científicas que tentam interpretar a obra literária de Lewis Carroll em suas confluências com a infância, com a pedagogia, com a psicologia, com as questões sociológicas e ideológicas mais plurais e polissêmicas.

Os investimentos em recriações e citações sobre as aventuras de Alice, que tiveram um capítulo central com a primeira geração dos surrealistas, prosseguem a pleno vapor na atualidade, com novos filmes, novas versões em diversas mídias, novas edições e novas adaptações da obra original que vão da versão estilizada criada por Yayoi Kusama, a artista plástica mais célebre do Japão, à inspiração declarada e várias citações na saga de cinema "Matrix", da dupla Lana e Lilly Wachowski, a coleções de alta costura das grifes mais célebre dos mundo da moda e até uma versão brasileira, "Alice dos Anjos", com Alice enfrentando um coronel tirano no sertão nordestino. Tudo indica que Alice e a literatura de Carroll seguirão sua viagem de descobertas em direção ao futuro próximo e distante – um percurso por certo imaginado pelo autor, que não por acaso registrou em imagens fotográficas, ainda nos primórdios da fotografia, os capítulos de uma incrível viagem existencial: a evolução biográfica, da primeira infância ao começo da idade adulta, dos quatro aos 18 anos, de Alice Pleasance Liddell, sua principal musa inspiradora.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Alice surrealista. In: Blog Semióticas, 19 de outubro de 2022. Disponível em: https://semioticas1.blogspot.com/2022/10/alice-surrealista.html (acessado em .../.../…).


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Alice surrealista: acima, "Down the rabbit hole"
(Caindo no buraco do coelho), gravura em técnica
mista de Kristjana Williams. Abaixo, cenas de
"Alice", filme de 1988 de Jan Švankmajer; uma
versão de Alice que se passa no sertão do Nordeste
brasileiro, "Alice dos Anjos", com roteiro e direção de
Daniel Leite Almeida, com Alice enfrentando um
coronel tirano; e a montagem de "Wonder.land",
espetáculo musical para público adulto do
Royal National Theater de Londres, em 2015,
escrito por Moira Buffini, com direção de Rufus Norris,
música de Daman Albarn e cenografia de Rae Smith












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