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2 de julho de 2014

O primeiro Warhol on-line






As pessoas às vezes dizem que a maneira como as coisas
acontecem em filmes é irreal, mas na verdade é o modo
como as coisas acontecem na vida que é irreal.

–– Andy Warhol (1928-1987).  




Mais de três décadas depois de sua morte, em 1987, Andy Warhol, o Midas da Pop Art, pintor, fotógrafo, cineasta, artista multimídia, continua surpreendente. A cada ano surgem novidades e obras-primas no acervo do artista, algumas desconcertantes até mesmo para seus biógrafos e para os curadores de sua memorabilia. Entre as mais recentes, houve, em 2013, a surpresa de uma coleção de 300 belos desenhos inéditos do jovem Warhol  –  descoberta pelo curador alemão Daniel Blau nos arquivos da Andy Warhol Foundation, em Nova York. Agora, a última novidade são as experiências pioneiras de mister Warhol com a arte em computadores: uma série de obras criadas por ele em um Commodore Amiga 1000, o primeiro modelo lançado no mercado na década de 1980.

As primeiras obras digitais de Warhol, até então desconhecidas, foram recuperadas a partir de antigos disquetes do museu norte-americano que conserva seu espólio em sua terra-natal, Pittsburgh, Pensilvânia. Autenticada como criação original pelos especialistas e pesquisadores do Andy Warhol Museum of Art, a série conta com 12 trabalhos digitais feitos por Warhol – e, não por acaso, inclui os temas favoritos do artista: seus autorretratos, que anteciparam em muitas décadas a moda atual dos "selfies", retratos de Marilyn Monroe em policromia, recriações de obras-primas da história da arte, variações sobre imagens publicitárias das latas de sopa Campbell e das bananas da capa do LP do Velvet Underground e também manipulações sobre fotos da musa de Warhol na época, a atriz e cantora Debbie Harry, da banda Blondie.

Vista pelo público atual, que convive com todo o avanço da tecnologia dos equipamentos de imagem e da rapidez instantânea da internet, incluindo a popularização dos filtros e efeitos de intervenção e pós-produção do tipo Instagram, a série pode parecer corriqueira e até primitiva – mas ganha outro sentido quando se descobre que foi a primeira série que receberia o nome de arte digital, a primeira série de  pinturas e desenhos realizada diretamente em computadores. A história da descoberta desta façanha com os primeiros computadores começou em 2011, quando o nova-iorquino Cory Arcangel, pesquisador de arte e tecnologia, descobriu no Youtube um documentário de dois minutos em que o próprio Warhol, em 1985, experimentava em um computador a fusão de efeitos cromáticos sobre imagens de Debbie Harry (veja o documentário no final deste artigo).









O primeiro Warhol on-line: amostras
da arte pioneira de Andy Warhol
em um computador Commodore
Amiga 1000 em 1985. No alto, a
primeira imagem de Marilyn Monroe
colorizada em computador por Warhol.

Abaixo, o primeiro retrato de Debbie Harry
com intervenções digitais de Andy Warhol,
e Warhol em 1985 fotografado por
Susan Greenwood. Também abaixo,
Warhol e Debbie Harry durante a
apresentação para a imprensa e convidados
do recém-lançado Commodore Amiga 1000
no Lincoln Center de Nova York















O vídeo que Arcangel viu fez parte da campanha de marketing para o lançamento mundial do Amiga 1000 e está citado nas biografias de Warhol, mas sem nenhum destaque de importância por parte de seus biógrafos. Três décadas depois, graças à curiosidade de Cory Arcangel, se descobre que, mais que uma peça publicitária, o vídeo registra mais uma interface do gênio inventivo de Warhol – suas experiências estão, na verdade, no centro de desenvolvimento do que passaria nas décadas seguintes a ser chamado de arte digital, e Warhol, personalidade da Pop Art, surge agora como nome central na invenção de processos e ferramentas que dariam origem a vários softwares hoje populares e às mais avançadas técnicas do Photoshop.



Disquetes inacessíveis



Ao assistir ao vídeo no Youtube, Cory Arcangel quis saber o que fora feito do retrato de Debbie Harry. As investigações o levaram ao Andy Warhol Museum, onde a curadora Tina Kukielski informou que uma única cópia da imagem teria sido impressa por Warhol e estava há anos em exposição no próprio museu – mas ninguém sabia do destino das outras obras digitais produzidas nas tais experiências pioneiras de Warhol. Arcangel não desistiu e continuou a busca fazendo contato com outras instituições e com representantes da empresa que fabricou em 1985 o Commodore Amiga 1000 – e que iria à falência poucos anos depois, superada pela concorrência, especialmente pelo Macintosh da Apple, que chegou ao mercado no final de 1984. 








 
Com apoio de Tina Kukielski e da Universidade de Pittsburgh, Cory Arcangel montou uma equipe de investigação e, depois de meses de trabalho, descobriram que as obras digitais de Warhol estavam intactas, gravadas em disquetes flexíveis para armazenamento de dados, antigos e obsoletos, que haviam sido transferidos para o mesmo museu em 1994 e guardados em um depósito de acesso restrito. O trabalho seguinte foi um desafio mais minucioso e difícil: encontrar equipamentos compatíveis para “ler” e “imprimir” o conteúdo dos disquetes que até então estavam arquivados com o rótulo de “inacessíveis”.

O breve documentário disponível no YouTube, que registra a experiência pioneira de Warhol em 1985, é também uma aula sobre o processo criativo do artista. A sessão, apresentada para imprensa e convidados no Lincoln Center, em Nova York, começa com Warhol capturando através do computador imagens de Debbie Harry. Depois, manipula as imagens na tela, testando alguns dos comandos no teclado do equipamento. 










Warhol no computador: acima, Cory Arcangel
(de boné azul) à frente da equipe que resgatou
os antigos disquetes com os trabalhos que
Warhol realizou em 1985. Abaixo, os amigos
Warhol e Keith Haring na festa de aniversário
de nove anos de Sean Lennon, filho de
John e Yoko Onoem outubro de 1984.

Também abaixo, na mesma festa, Steve Jobs
apresenta a Sean Lennon um computador
produzido pela Macintosh, que foi o presente de
aniversário de Jobs para o garoto. Na sequência:
1) Yoko Ono com o filho Sean e amigos, entre eles
Keith Haring e Andy Warhol; 2) Warhol em 1985,
fotografado para a capa da revista promocional
que anunciou o lançamento do primeiro
computador pessoal (PC, Personal Computer)
chamado Commodore Amiga 1000;
e 3) Steve Jobs, co-fundador da Apple
Computer, com o equipamento que
apresentou a Warhol naniversário
de Sean Lennon em 1984










 


Manipulações de forma e de cor



Pelas imagens do documentário de 1985 é possível perceber que os resultados, visualizados na tela do computador, lembram bastante as estampas em serigrafias de estrelas como Marilyn e Elvis – com as variações que Warhol explorou quase ao infinito, desde a década de 1960, em suas experiências com permutações de cor. Com uma diferença: Warhol estava começando a experimentar com o computador o que nenhum outro artista havia feito antes.

A desenvoltura que Warhol demonstra, no vídeo, diante dos comandos do Commodore Amiga 1000, também deixa claro que o artista já havia adquirido uma certa “intimidade” com o equipamento. Aliás, o que se sabe é que o Commodore Amiga 1000 nem foi o primeiro computador que Warhol testou. Na biografia de Steve Jobs (lançada no Brasil pela Companhia das Letras), o autor, Walter Isaacson, descreve alguns dos encontros entre Warhol e o biografado e também a primeira vez que o artista interagiu com a novidade da tecnologia de computadores.















O primeiro contato de Andy Warhol com um computador, segundo o relato de Isaacson, aconteceu no dia 9 de outubro de 1984, na festa de aniversário de nove anos de Sean, filho de John Lennon e Yoko Ono. Foi durante a reunião de amigos, no apartamento em que o casal morou, no famigerado edifício Dakota, em Nova York. Naquela noite, os diálogos entre Jobs e Warhol, de acordo com o biógrafo, foram tão breves quanto enigmáticos.

No meio das estrelas das artes e do cinema presentes no encontro, Jobs, co-fundador da Apple Computer, levou de presente para Sean um computador Macintosh. Warhol observa, no começo sem muita curiosidade, quando Jobs mostra a Sean como trabalhar com a máquina. Assim que o garoto se distrai com outros presentes, Warhol, incentivado pelo amigo e artista do grafite Keith Haring, toma seu lugar na frente do equipamento, enquanto Jobs tenta explicar como tudo funciona e como usar um mouse. 






















A arte pioneira de Warhol no
Commodore Amiga 1000: acima,
o artista em autorretratos e uma
de suas fixações, as latas de sopa
Campbell. Abaixo, suas primeiras
versões de testes no computador em
1985 para os retratos de Marilyn; e
para intervenções digitais em detalhes
de duas obras-primas do Renascimento:
O Nascimento de Vênus,
pintura de Sandro Boticelli, e
Raphael Madonna, $ 6,99,
a partir da Madonna Sistina
de Raphael Sanzio.

Também abaixo: 1) o equipamento
original usado por Warhol, em foto
promocional de 1985; 2) o documentário
que registra as primeiras experiências de
Warhol em computadores; 3) dois retratos
de Warhol feitos por Steve Woods que
permaneciam inéditos desde 1981;
e 4) o célebre retrato de Warhol feito
por Robert Mapplethorpe em 1983 






 






Walter Isaacson descreve a felicidade de Steve Jobs com o interesse que ele viu o equipamento despertar em Andy Warhol. Demorou um pouco, naquela noite, mas finalmente Warhol mostrou habilidade com a nova ferramenta e ficou ali, desenhando na tela, durante horas, como uma criança encantada com um brinquedo novo. Poucos meses depois, Warhol, artista profissional, atento aos desafios de sua época, fecharia contrato com os concorrentes de Jobs para a apresentação comercial do Commodore Amiga 1000 no Lincoln Center.


por José Antônio Orlando.



Como citar:


ORLANDO, José Antônio. O primeiro Warhol on-line. In: Blog Semióticas, 2 de julho de 2014. Disponível no link https://semioticas1.blogspot.com/2014/07/o-primeiro-warhol-on-line.html (acessado em .../.../…). 



Para uma visita virtual ao Andy Warhol Museum,   clique aqui.












Para comprar o box com os Diários de Andy Warhol,   clique aqui. 


Veja as gravações de Warhol com o Commodore Amica 1000:


                                                                    

































9 de novembro de 2012

Retrato de Marilyn







“Passei toda a minha vida vendo esse filme, embora eu nunca o tenha assistido até o final...” – tal frase, poética e nostálgica, adquire um valor simbólico ainda maior quando associada à personalidade que a escreveu: foi escrita em um dos diários autênticos de Marilyn Monroe e reproduzida na abertura dos capítulos iniciais de “Blonde”, romance da norte-americana Joyce Carol Oates que tem como personagem central ninguém menos que um dos maiores mitos do século 20.

Ao contrário, porém, do que pode pensar o leitor desavisado, não se trata apenas de outra biografia sobre a trágica existência de uma das grandes estrelas que Hollywood produziu. “Blonde”, traduzido por Luís Antônio Aguiar e publicado no Brasil em dois volumes pela editora Globo, cada um com cerca de 500 páginas, acrescenta sutilezas de alta literatura à extensa lista de livros sobre Marilyn Monroe, rivalizando com obra-primas como “Marilyn”, célebre romance de Norman Mailer que provocou escândalos quando foi publicado em 1973.

Subjetivo e cruel nos juízos de valor sobre a obscenidade, os arroubos histriônicos e as crises depressivas da estrela, o livro de Mailer, não por acaso, aparece parafraseado em diversas passagens do romance de Joyce Carol Oates. Só que com algumas diferenças pontuais, como uma certa ternura que Oates deixa transparecer pela personagem, ao contrário do distanciamento reforçado pelo relato em terceira pessoa escrito por Norman Mailer. 
























Retratos famosos de Marilyn Monroe:
a partir do alto, Marilyn vestida de bailarina e
posando no estúdio de seu amigo fotógrafo,
Milton Greene, que também fotografou a
estrela em Londres, na escada e na calçada,
em 1956. Acima, a pequena Norma Jeane 
com a mãe, Gladys Baker, em 1929, e no
aniversário de 10 anos, em 1926. Também
acima, uma sequência de fotos de 1957
registradas por outro grande fotógrafo
e amigo de Marilyn, Phil Stern

Abaixo,
o primeiro ensaio fotográfico da
futura estrela, posando para figurar em
calendários e anúncios publicitários da
agência Blue Book, de Los Angeles,
fotografada por Richard Miller














Premiados e aclamados como elite entre os escritores dos EUA, Norman Mailer e a autora de “Blonde”, críticos ferrenhos do “american way of life”, tornaram-se conhecidos por atuarem na fronteira entre ficção e jornalismo e também dividiram as honras como candidatos permanentes ao Nobel de Literatura. Mailer morreu sem o prêmio, mas Joyce Carol Oates permanece na disputa e é sempre lembrada às vésperas da premiação. Mas eles não são os únicos que têm Marilyn como personagem de seus livros. Norman Mailer e Joyce Carol Oates são dois entre mais de uma centena de outros escritores que também investiram na história emblemática de Marilyn.

Só entre as edições brasileiras, há muitas biografias de MM dignas de atenção, entre elas as mais conhecidas são “Fragmentos Poemas, anotações íntimas e cartas de Marilyn Monroe” (Tordesilhas), de Stanley Buchthal e Bernard Comment, com prefácio de Antonio Tabucchi; “Marilyn Monroe” (ed. L&PM), de Anne Plantagenet; “A Conspiração Marilyn” (ed. Imago), de Milo Speriglio, e “Marilyn, A única história não revelada” (ed. Nova Época), de Norman Rosten.

Desde que morreu, na madrugada de 5 de agosto de 1962, em circunstâncias mal esclarecidas, envolvendo o ex-presidente John Kennedy, seu irmão, senador Bob Kennedy e outros figurões imponentes da política e do cinema – Marilyn Monroe permanece no imaginário do público, no mundo inteiro, e sobrevive como denominador comum nas fixações de Norman Mailer, de Joyce Carol Oates e de muitos outros escritores, repórteres e roteiristas. 











Marilyn na praia, aos 19, fotografada por
Andre De Dienes (acima e abaixo), 
quando
ainda tinha os cabelos castanhos e 
usava o
nome de batismo, Norma Jeane Mortenson









 
Marilyn está em todas, talvez mais ainda em evidência do que quando morreu, há 50 anos. Foi a grande homenageada no último Festival de Cannes, está e sempre esteve em todas as revistas e sites sobre moda e cinema, ganhou exposições de fotos e retrospectivas nos mais importantes museus e galerias do mundo – e teve ainda o tributo adicional com o lançamento do belo “Sete Dias Com Marilyn” (“My Week With Marilyn”), de Simon Curtis, com Michelle Williams no papel-título, entre outros filmes e documentários. Em 1998, a revista Playboy fez uma votação com jornalistas de vários países para nomear as 100 estrelas mais sexy do século 20. Marilyn foi a primeira colocada, com distância das outras estrelas: em segundo lugar ficou Jayne Mansfield; Raquel Welch ficou em terceiro e Brigitte Bardot em quarto lugar.

Mas, retornando à literatura, o que se pode esperar de um romance sobre o mito Marilyn Monroe? Escândalos e revelações bombásticas, traumas na infância, amantes secretos, drogas, pornografia, sofrimento mental, abortos, tentativas de suicídio, ou uma reflexão sobre a trajetória autobiográfica de um mito que morreu no auge da fama e produziu momentos marcantes do cinema? “Blonde” traz doses generosas de tudo isso. Com a novidade de construir entornos com habilidades de literatura erudita que humanizam personagens e situações conhecidas e surpreendem o leitor mais atento, afirmando o talento de Oates com as palavras.



Personagem da cultura pop



A arte de narrar – que para muitos está em vias de extinção, em nossa época de vertigens virtuais e imagens que se repetem ao infinito – Joyce Carol Oates demonstra já nas primeiras páginas do romance, quando intercala reflexões e “fluxos de consciência” à voz de Marilyn, em primeira pessoa, em meio a episódios e personalidades marcantes em Hollywood e no jogo político do Pós-Guerra.









Antes da fama: no alto, Marilyn fotografada
por John Miehle em 1948. Acima e abaixo,
a futura estrela na praia, em 1949,
em fotografias de Andre De Dienes










Tudo está dito, às vezes escamoteado em um ou outro irritante pseudônimo para os ex-maridos e para os amantes poderosos: o Teatrólogo (Arthur Miller), o Príncipe Sombrio (Laurence Olivier), o Ex-Atleta (Joe DiMaggio), o Cantor Que Chega com a Madrugada, o Repórter, o Solitário... Misturando textos escritos por Marilyn às estratégias de ficção e de intertextualidade, Oates compõe, em fragmentos, um discurso coerente em sua complexidade. “Blonde” trafega por entre reminiscências da protagonista e referências saborosas aos astros em grandeza variada.

Em cena, os mais importantes diretores e roteiristas, além das estrelinhas de ocasião e dos deslumbrados do mundo do cinema, mexericos infernais de gente como Hedda Hopper e outros colunistas de imprensa, perversões de alcova do chefão Darryl F. Zanuck e outros magnatas dos estúdios de Hollywood e a relação destrutiva e sadomasoquista da estrela principal com o ex-presidente Kennedy, peça-chave na hipótese de homicídio, endossada por Oates no inusitado “depoimento póstumo” que encerra o romance.

Longe de pastiches de autoria duvidosa da era da internet e das invasões de privacidade que identificam boa parte da indústria cultural da atualidade, “Blonde” investe na recriação perfeccionista do mito Marilyn Monroe. Inevitavelmente, reaviva polêmicas e tabus. Mas não deixa de ser um livro inventivo, audacioso, que começa com um esclarecimento da autora sobre os recursos literários e suas fontes de pesquisa – um procedimento no mínimo honesto quando a questão central é um minucioso relato biográfico destilado em ficção.











Felizes para sempre: Marilyn em fotografias
com seus três maridos. No alto, Marilyn aos

17 com o primeiro marido, James Dougherty,
em 1943; e com Joe DiMaggio, em 1954, no
dia de seu casamento com o ex-atleta. Acima,
Marilyn no seu terceiro casamento, com o
escritor Arthur Miller, em 1956. Abaixo,
Marilyn com Arthur Miller e sozinha, na praia,
em fotografias de 1957 de Sam Shaw








.











Nas entrevistas que concedeu à época do lançamento do romance, Joyce Carol Oates alertava que não devem ser procurados dados biográficos relativos a Marilyn Monroe em “Blonde”, que não se propõe a ser um documento histórico e sim um romance, uma obra de literatura que mistura realidade e ficção. Nas palavras de Oates: quem está à procura de nomes e datas deveria ler as muitas biografias publicadas sobre MM. É como se a autora – que foi saudada por outro mestre das letras, John Updike, como “the dark lady of american letters” (a dama sombria das letras norte-americanas), por suas novelas, ensaios e poemas sobre a violência do universo masculino, e também como “a maior escritora norte-americana, homem ou mulher, desde William Falkner”, pelo crítico Robert H. Fossum – depois de mais de 70 livros publicados, de repente, decidisse professar em alto nível o cânone principal do pós-modernismo.

Blonde” é o próprio romance pós-moderno, seguindo à risca toda a caracterização estilística que o pós-modernismo adquiriu desde a publicação do best-seller “O Nome da Rosa” por Umberto Eco, em 1980: ficção e História, entrelaçadas na mesma trama, com o narrador envolto pela ambiguidade no jogo de paráfrases das mais eruditas e pela tentativa de extrair a si próprio da ação narrada, em atitude semelhante à do repórter que tenta ser imparcial apresentando seu relato sobre um dilema de paixões extremadas, ou mesmo do telespectador que assiste à realidade representada nos telejornais intercalada de toda sorte de anúncios publicitários ilusionistas, alheio a tudo ao seu redor, na tranquilidade do sofá da sala.
























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Estrela de Hollywood visita as tropas 
dos EUA na Guerra da Coreia, em 1954, cumprindo
uma exigência contratual dos estúdios de Hollywood.
Acima, Marilyn com o comediante Groucho Marx,
que lançou pela primeira vez o nome Marilyn Monroe
nos créditos de um filme, em  Loucos de Amor 
(Love Happy), comédia de 1949 com direção de
David Miller. John Huston assistiu ao filme,
ficou impressionado com o carisma de Marilyn
e a convidou para fazer uma participação em
O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle),
que estreou nos cinemas em 1950 (abaixo).

Também abaixo, Marilyn na cena inicial de
Niagara ("Torrentes de paixão"), filme de 1953
de Henry Hathaway que marca sua estreia em
um filme Technicolor e sua estreia como
protagonista, com o nome Marilyn Monroe
sendo o primeiro a aparecer nos créditos,
elevando a atriz ao status de estrela




 






Da Segunda Guerra à propagação da TV



Joyce Carol Oates nasceu em 1938 e pertence à mesma geração de Marilyn. Viveu as mesmas situações históricas e sociais que narra em “Blonde”, da Segunda Guerra à propagação da TV, entre outros percalços existenciais que também estão no calvário da garota órfã que, de repente, foi elevada ao status de... Marilyn Monroe. Cercada de referências para construir variantes literárias, Oates tem subsídios em suas impressões pessoais de romancista e professora (leciona literatura na Univesidade de Princeton, em New Jersey, desde 1978), mas também em dossiês oficiais e leituras de outros narradores – em muitos filmes, livros e reportagens assinados pelos aventureiros que também estiveram, nas últimas décadas, a observar os passos do mito Marilyn Monroe.

As fontes de pesquisa anunciadas por Oates, algumas delas citadas em transcrições livres nos fragmentos e capítulos do romance, vão dos diários, cartas e poemas inéditos escritos por Marilyn às biografias, entrevistas e textos filosóficos ou poéticos que a atriz, sempre descrita como muito inteligente (ao contrário da loura ingênua que incorporou em tantos filmes) por todos os que com ela conviveram, tinha como referência: livros de H. G. Wells (“A Máquina do Tempo”), Stanislavski (“A Preparação do Ator”), Schopenhauer (“O Mundo como Vontade e Representação”), Sigmund Freud (“O Mal-Estar na Civilização”), Blaise Pascal (“Pensamentos”), mais Gustave Flaubert, Samuel Beckett, Joseph Conrad, Ernest Hemingway, Albert Camus, James Joyce e versos de Emily Dickinson, entre outros.












Retrato de Marilyn: acima, a famosa sequência

na cama de cetim vermelho, fotografada em 1949,

que anos depois se tornaria capa e primeiro ensaio

erótico da revista Playboy. Acima, cartaz do Festival

de Cannes 2012, que homenageou Marilyn. Abaixo,

Marilyn em casa, lendo clássicos da literatura

e fazendo anotações, fotografada em

1953 por Alfred Einsenstaedt.


Também abaixo, Marilyn com Ella Fitzgerald

em um dos episódios da atuação de Marilyn

em apoio às lutas sociais pela democracia e

contra o racismo: Ella Fitzgerald não teve

permissão para se apresentar em março de

1955 no The Mocambo Nightclub, a mais

famosa casa de shows em Hollywood,

porque os proprietários Charlie Morrison

e Felix Young não permitiam negros nem

no palco nem na plateia. Quando soube da

proibição, Marilyn procurou os proprietários e

avisou que estaria na plateia todas as noites

se houvesse a temporada de Ella Fitzgerald.

Os shows foram agendados, Marilyn cumpriu

a promessa e a temporada no The Mocambo

garantiu mais prestígio e sucesso popular

para Ella, que passou a trabalhar com

Norman Granz, produtor e empresário com quem

iria fundar em 1956 a gravadora de jazz Verve Records.

Também abaixo, Marilyn com Marlon Brando

na sessão de gala da estreia de A Rosa Tatuada.

Os dois se conheceram em 1955, quando Marilyn

se mudou para Nova York, para estudar no Actors Studio,

de Lee Strasberg
, e se tornaram amigos inseparáveis

até a morte de Marilyn, na madrugada de 5 de agosto de 1964















No prólogo para “Blonde”, datado de 3 de agosto de 1962 e intitulado “Entrega especial”, as palavras contornam expectativas e estereótipos que acompanham MM no panteão da cultura pop. “Lá vem a Morte, descendo em velocidade o Boulevard, mergulhada em pálida luz sépia. A Morte torna a tocar a campainha pressionando por um longo tempo. E, desta vez, a porta foi aberta. Das mãos da Morte, aceitei o presente. Acho que sabia o que era. De quem vinha. Vendo o nome e o endereço, ri e assinei sem hesitação”...



Infância adulterada



O que vem a seguir, no primeiro volume de “Blonde”, em ordem cronológica, é a transformação em objeto precoce do desejo masculino contra a vontade da garota órfã, ingênua e sorridente, de pele clara, que nasceu Norma Jeane Mortenson, em 1926. O nome foi uma homenagem de Gladys Baker (mãe solteira que, depois de ter o bebê, passou a sofrer de problemas mentais), às atrizes Norma Talmadge e Jean Harlow.

Sem Gladys, a garota sorridente passaria por vários orfanatos e lares adotivos, até o primeiro casamento, aos 17 anos, e daí às aulas de teatro antes de chegar às pontas em filmes em Hollywood. A explosão iminente do sucesso reforça na jovem estrela a preocupação com a qualidade, o que a levaria ao curso levado a sério no Actors Studio de Lee Strasberg. Marilyn, já aclamada como grande estrela em Hollywood, mudou-se para Nova York, em 1955, para dedicar-se ao curso, na mesma época em que se aproximou de outros nomes em ascensão em Hollywood e que também estavam predestinados a se tornarem futuros mitos do cinema – entre eles, James Dean, Marlon Brando, Montgomery Clift, Paul Newman. Brando seria seu amigo mais próximo e seu confidente até os últimos dias. 







Acima e abaixo, Marilyn Monroe veste Dior,
em fotografias de Bert Stern, que também
registrou em um extenso ensaio as últimas
fotos da atriz em estúdio, em julho de 1962







 
Joyce Carol Oates acompanha o passo a passo da trajetória de transformação de Norma Jeane Mortenson em Marilyn Monroe, do corte e tintura nos cabelos aos testes de luz e maquiagem e daí à ascensão aos melhores papéis em troca de favores sexuais. O segundo volume do romance flagra a garota ingênua e sorridente em 1953, depois que chefões de estúdio a elegeram, mudaram seu nome (Marilyn foi um nome inventado na hora por Zanuck e Monroe era o sobrenome dos avós maternos de Norma Jeane) e tingiram de louro muito claro seus cabelos castanhos. Daí o “Blonde” do título.

É quando começa a escalada da fama em Hollywood e nos quatro cantos do planeta – época que veio logo depois da célebre sessão de fotos nua na cama de cetim dando origem à cultuada primeira edição da Playboy e do sucesso conquistado, finalmente, como cantora e protagonista em “Torrentes de Paixão” (“Niagara”, 1953), um filme de Henry Hathaway, diretor de prestígio entre os chefões dos estúdios de cinema porque gerenciava sem problemas as atuações de astros e estrelas em filmes medianos que se tornavam sucessos de bilheteria.









Marilyn no Actors Studio de Lee Strasberg,
em Nova York, fotografada por Elliot Erwitt,
em 1956. Acima, Marilyn e o efeito que sua
presença provocava em todos durante as sessões
de filmagem em Hollywood, em foto de Phil Stern.

Abaixo, 1) Marilyn em sua última sessão de fotos,
registrada por Allan Grant em julho de 1962;
2) Marilyn em foto de Elliot Erwitt nas filmagens
da cena lendária em O Pecado Mora ao Lado
 (The Seven Year Itch, 1955), de Billy Wilder;
e 3) Marilyn com Billy Wilder durante as
filmagens de Quanto mais quente melhor







Do anonimato mais completo para os mais altos degraus da fama internacional, em apenas poucas semanas. Junto com o sucesso inesperado e crescente, ecoam para Marilyn as palavras do mestre Lee Strasberg, que não por acaso estão transcritas na orelha do romance “Blonde”: “Você deve construir mentalmente um círculo, um círculo de luz e atenção. Não deve permitir que a sua concentração o ultrapasse. Se o seu controle começar a perder força, deve recuar depressa para um círculo menor”.

Strasberg e a experiência de aprendizado no Actors Studio ajudam Marilyn a equilibrar o sucesso e as armadilhas à espreita entre novas e infinitas propostas de trabalho. Ela queria seguir com seriedade a carreira de atriz, queria experimentar novas possibilidades no cinema e no teatro e começou a ficar irritada com a reprodução quase obrigatória da mesma personagem loura e ingênua que atiçava o imaginário sexual dos homens e também das mulheres. Em junho de 1956, Marilyn ganhou um contrato milionário com a 20th Century Fox e aceita o pedido de casamento do escritor Arthur Miller, seu amigo e confidente há alguns anos. O casamento, que contrariou os executivos da Fox, durou de 1956 a 1961 e coincidiu com o período mais produtivo e mais estável da vida e da carreira de Marilyn.










É nessa época do casamento com Arthur Miller, três anos depois de seu primeiro filme como protagonista, que ela toma a decisão radical de se mudar definitivamente de Hollywood para Nova York. Continuou seu contrato milionário com a Fox, continuava a se dedicar com toda atenção às atuações em comédias e musicais, mas decidiu dar um passo ousado que desagradou muito aos principais chefões da Fox e dos outros estúdios majoritários de Hollywood: seguindo uma sugestão de seu professor no Actors Studio e principal mentor, Lee Strasberg, abriu sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions, que poderia realizar os filmes que ela própria escolhesse.

A Marilyn Monroe Productions teve curta duração e não alcançou nenhum sucesso estrondoso, mas até os críticos mais exigentes elogiaram alguns dos filmes que ela produziu – entre eles “Nunca Fui Santa” (“Bus Stop”, 1956), com direção de Joshua Logan, e “O Príncipe Encantado” (“The Prince and the Showgirl”, 1957), dirigido e coestrelado por Sir Laurence Olivier, filmes importantes para Marilyn mostrar seu talento e versatilidade como atriz. Em 1959, acontece o auge de seu affair com críticos de cinema do mundo inteiro: Marilyn canta, dança, brilha e faz comédia em “Quanto Mais Quente Melhor” (“Some Like It Hot”), de Billy Wilder, e tem seu trabalho reconhecido ao vencer o Globo de Ouro de Melhor Atriz.











Marilyn Monroe em preto e branco 
e em cores: no alto, em maio de 1957,
fotografada por Richard Avedon;
acima, em dois registros feitos por
Alfred Eisenstaedt em 1953. Abaixo,
em fotografia de 1957 de Milton Greene





 


A imagem de Marilyn Monroe, figura das mais fotografadas e reproduzidas em nossa época, também seduz os grandes fotógrafos do século 20. Pauta obrigatória em sua época para o cotidiano do fotojornalismo, Marilyn foi personagem de portraits e ensaios assinados por um batalhão de primeiro time que inclui, entre muitos outros, Richard Avedon, Cecil Beaton, Henri Cartier-Bresson, Robert Frank, Weegee, Gary Winogrand, Philippe Halsman, Milton Greene, Eve Arnold, Elliot Erwitt, Bert Stern, Phil Stern ou Tom Kelley, o fotógrafo amador que registrou, em 1949, a célebre sessão de fotos na cama de cetim e que passou à condição de celebridade, anos depois, quando a garota chamada Norma Jeane foi transformada em Marilyn Monroe.

A garota recebeu apenas 50 dólares de Tom Kelley pelas poses eróticas em 1949. E o fotógrafo principiante teve certeza de que fez um bom negócio quando conseguiu vender toda a série por mil dólares para a Western Lithograph Company. Porém, teve de se contentar apenas com os créditos de autoria quando as mesmas imagens trouxeram fama e fortuna para Hugh Hefner, em 1953. Hábil negociante, Hefner aproveitou o nascimento da estrela Marilyn Monroe e elegeu as fotos de Tom Kelley, à venda pela WLC, para estamparem capa e páginas inteiras da primeira edição da revista “Playboy”, pioneira no mundo inteiro na exibição de fotografias de mulheres nuas em poses sensuais e sem o rótulo de “pornografia”.




 





Três das fotografias favoritas de Marilyn: 
com uma rosa (por Cecil Beaton, 1956);
o close-up capturado por Eve Arnold durante
as filmagens de Os Desajustados (1961); e com
a câmera, no estúdio de Bert Stern, em 1962.
Abaixo, Marilyn fotografada em Miami, em
1959, durante as filmagens sob a direção de
Billy Wilder em Quanto mais quente melhor
 







Muitos acreditam que as fotografias de Marilyn estejam entre as imagens mais reproduzidas em nossa época. É possível. Mas nesta extensa galeria é preciso destacar que ela própria fez anotações sobre algumas de suas fotografias favoritas: a pose colorida com sombrinha na praia (registrada por Andre De Dienes em 1949), a imagem em preto e branco com uma rosa (por Cecil Beaton, em 1956), o retrato de bailarina (por Milton Greene, 1956), o close-up pelas lentes de Eve Arnold durante as filmagens de "Os Desajustados" ("The Misfits", John Huston, 1961), os últimos portraits registrados por Richard Avedon, a imagem com a câmera no último ensaio em estúdio (por Bert Stern, 1962), a única imagem com Gladys Baker, em 1929.

Também é importante reconhecer que uma sequência das mais populares e emblemáticas na galeria de retratos de Marilyn, por certo, são as gravuras de Andy Warhol, que passariam do ateliê do artista para a impressão nos mais diversos suportes e daí à história da arte. Warhol não tirou ele mesmo as fotos: assim que a morte da estrela foi noticiada, em agosto de 1962, ele se apropriou de uma imagem de 1953, de Frank Powolny, e passou a testar variações cromáticas em silkscreen. As serigrafias de Marilyn sobre tela produzidas por Warhol ainda hoje são impressionantes: transformam as fotos publicitárias do rosto da estrela em um ícone quase religioso, provocando reflexões sobre o efêmero e sobre o culto moderno ao consumo, ao sexo, às celebridades.







Exposição da série de serigrafias de Marilyn 
criadas por Andy Warhol, na Sotheby's. Abaixo,
a estrela fotografada por Douglas Kirkland no
célebre ensaio de 1958 In bed with Marilyn;
e as capas originais das biografias publicadas
por Norman Mailer (com fotografias de
Bert Stern) e por Joyce Carol Oates.

Também abaixo, imagem de Marilyn cantando
Happy Birthday para o presidente JFK, no
Madison Square Garden, em 29 de maio de
1962, e na festa de aniversário, depois da
cerimônia oficial, com Robert F. Kennedy
(à esquerda) e John F. Kennedy, fotografados
por Cecil Stoughton. É uma das últimas
imagens em público de Marilyn, que morreria
três meses depois, em circunstâncias nunca
esclarecidas. No final da página, Marilyn
na sua última cena filmada em estúdio, no
inacabado Something's Got to Give, que
estava no início da produção, em agosto de
1962, com roteiro e direção de George Cukor








Contudo, se é inegável que Marilyn era extremamente fotogênica, também é preciso reconhecer: o mistério que emanava de sua presença e que a fazia tão magnética não vinha apenas de sua beleza. Ela não era simplesmente uma moça bonita que posava como modelo fotográfico: era uma atriz surpreendente, uma comediante como poucas e uma cantora tão carismática quanto os grandes nomes que chegaram ao panteão do jazz. O som e o ritmo de sua voz, a mobilidade expressiva de seu rosto, a maneira como falava e movimentava o corpo dimensões que podiam ser capturadas apenas em filme – é o que construía e ainda constitui sua sedução. 

Mesmo diante de protagonista tão espetacular, "Blonde” tem fôlego e alcança, no suporte da literatura, a mesma dimensão transcendental para o registro mundano que tanto Warhol, quanto alguns grandes fotógrafos e uns poucos diretores conseguiram registrar na presença de Marilyn, aliás Norma Jeane. Como era de se esperar, as últimas páginas do romance de Joyce Carol Oates descrevem os últimos dias da estrela.








A versão oficial da história diz que ela cometeu suicídio aos 36 anos, ao ingerir alta quantidade de barbitúricos, analgésicos e anfetaminas. Oates, como outros autores que se dedicaram a contar a história de Marilyn, contestam essa teoria. Argumentos não faltam, baseados em muitas evidências e nos depoimentos de testemunhas que estiveram próximas de Marilyn naquela noite e que, curiosamente, não constam no prontuário médico nem no boletim de ocorrência policial registrado naquela data em Los Angeles.

Depois de muito batalhar como figurante ou corista em mais de uma dúzia de pequenas participações, Marilyn Monroe viveria, enfim, uma década inteira de glória no auge do estrelato. Quando veio a morte trágica, na madrugada do dia 5 de agosto de 1962, com ingredientes explosivos de medicamentos e política, Marilyn já estava aprisionada para sempre na imagem irresistível de estrela glamurosa e de símbolo sexual. Uma imagem sedutora que ainda persiste e ainda impressiona, mesmo depois de ter sido reproduzida ao infinito.


por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Retrato de Marilyn. In: Blog Semióticas, 9 de novembro de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/11/retrato-de-marilyn.html (acessado em .../.../...).

























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