Mostrando postagens com marcador woodstock mineiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador woodstock mineiro. Mostrar todas as postagens

12 de março de 2012

Milton no Clube da Esquina







Neste país, só há duas que cantam, Gal e eu.
E se Deus cantasse, seria com a voz do Milton.

–– Elis Regina (1945-1982).  





Até recentemente, Milton Nascimento passou alguns anos viajando a trabalho pelo Brasil e por cidades do mundo inteiro. Foram duas turnês ao mesmo tempo, intercalando a agenda de shows com os irmãos Lionel Belmondo (sax e flauta) e Stéphane Belmondo (trompete), com os quais gravou na França o CD "Milton Nascimento e Belmondo", e as apresentações com o Jobim Trio, dedicadas ao disco "Novas Bossas", que celebrou os 50 anos da Bossa Nova. Aproveitando um breve intervalo entre as viagens, Milton retornou a passeio a Belo Horizonte, onde fez o último show em abril de 2011, acompanhado pela banda formada por Kiko Continentino (teclados), Wilson Lopes (guitarras, violões e violas), Gastão Villeroy (baixo) e Lincoln Cheib (bateria e percussão).

Na véspera de sua viagem do Rio de Janeiro, onde mora há muitos anos, para o breve retorno às Minas Gerais, entrevistei Milton Nascimento por telefone para o jornal "Hoje em Dia", de Belo Horizonte. Conforme o que foi combinado com a assessoria do cantor, seria uma entrevista breve para falar sobre os novos projetos e sobre a experiência de Milton ter sua voz mixada em estúdio com Elis Regina para um álbum do Selo Discobertas. Mas a conversa avançou para outros assuntos e falamos sobre o show gratuito que Milton planeja para o campus da UFMG, com participação dos amigos do Clube da Esquina Wagner Tiso e Lô Borges, para comemorar os 85 anos da universidade, e também sobre o show planejado para as comemorações do Ano de Portugal no Brasil, em que Milton vai dividir o palco do Palácio das Artes, em BH, com Mariza, cantora de Moçambique que ele muito admira. Também falamos na entrevista sobre a experiência das turnês simultâneas fora do Brasil e sobre as expectativas para o reencontro com BH, sobre a instalação do Museu Clube da Esquina e sobre os músicos que de longa data o acompanham nos shows.

"Em Belo Horizonte é diferente. Nem parece trabalho. Aliás, dessa vez é mais a passeio do que a trabalho", ele diz. "Estar em BH já me deixa feliz por qualquer motivo. Tem os amigos, os lugares, as lembranças, os sobrinhos e meus cinco afilhados. Sem falar de todo mundo que me ouve desde menino, nos bares e nos bailes da vida". Muito bem-humorado, sem pressa, com a voz pausada, inconfundível, e com uma memória surpreendente para nomes, canções e acontecimentos marcantes em sua trajetória profissional, Milton faz as contas e lembra que neste ano de 2012 está comemorando 70 anos de idade, 50 anos de carreira profissional e 40 anos do álbum lendário "Clube da Esquina". Sua estreia nos palcos, contudo, aconteceu alguns anos antes dos festivais de música que o tornaram conhecido na década de 1960. Milton recorda que estreou exatamente em 1956, quando, aos 14 anos, começou a cantar e tocar com o amigo Wagner Tiso na noite da cidade de Três Pontas, no sul de Minas Gerais. 





            



             



     





Milton no Clube da Esquina: no alto,
a fotografia de Carlos da Silva Assunção
Filho, mais conhecido como Cafi,
transformada em 1972 na capa do LP
Clube da Esquina. Acima, Milton aos
três anos – em 1945, quando a família se
mudou do Rio de Janeiro para Três Pontas,
Minas Gerais, em foto que foi publicada no
encarte do LP Milagre dos Peixes, de 1973;
Milton na adolescência em Três Pontas;
Milton aos 26, em 1969, em Belo Horizonte;
Milton no palco com Wagner Tiso e
Fernando Brant no final dos anos 1960;
Milton com Lô Borges Beto Guedes
em fotografia do início da década de 1970,
também em BH. Abaixo, Milton com seu
principal parceiro musical, Fernando Brant,
fotografados em Belo Horizonte, em 1970.

Também abaixo, Milton com Chico Buarque
em junho de 1977 no Show do Paraíso,
um evento lendário organizado por Milton
em plena ditadura militar em uma fazenda
próxima à cidade de Três Pontas, em
Minas Gerais, com participação de amigos
do Clube da Esquina (Wagner Tiso, Beto
Guedes, Lô Borges), além de Gonzaguinha,
Chico Buarque, Clementina de Jesus
(foto abaixo) e Francis Hime (na foto, ao piano,
com Chico e Milton), entre outros. O festival de
1977 em Três Pontas também ficaria conhecido
como Woodstock Mineiro























       












      



Ele também recorda que foi em Três Pontas, na verdade em uma fazenda perto de Três Pontas, que aconteceu um evento que deixou saudades e muitas histórias: o Show do Paraíso, que ficou conhecido como o Woodstock Mineiro, que Milton organizou com amigos em plena ditadura militar, com participação muito especial de Chico Buarque e Clementina de Jesus, entre muitos outros. Para o grande público, a estreia de Milton Nascimento foi em 1967, no Rio de Janeiro, quando classificou três canções no II Festival Internacional da Canção, entre as quais "Travessia", um de seus maiores sucessos, em parceria com Fernando Brant. "A única música que sempre faço questão de tocar em Belo Horizonte é 'Nos Bailes da Vida'. Porque é a minha história que está toda ali, contada nas palavras da canção”, ele explica.

Milton diz que o roteiro dos shows ele costuma decidir nos ensaios, ouvindo sempre o que a banda tem a propor. “Às vezes a decisão só vem no dia, na hora mesmo do show. Essa é a vantagem de tocar com músicos que você conhece muito e admira. As coisas ficam mais fáceis, tudo é mais espontâneo", reconhece, enquanto explica que nos shows prefere fazer retrospectivas das canções que foram importantes em fases diferentes de sua carreira.

"Numa das últimas vezes que estive em Belo Horizonte, para um show com o Jobim Trio, eu falava muito no palco, contava histórias. Cantava também, mas acho que falava mais do que cantava", ele diz, achando graça, como se não fosse um presente para sua plateia passar pela experiência de encontrar o ídolo cantando e contando no palco histórias longas ou breve e divertidas. Entre as experiências mais marcantes que viveu recentemente, Milton diz que a principal delas, a mais emocionante, foi mesmo o dueto póstumo que realizou com Elis Regina, por conta de um projeto do Selo Discobertas, do produtor musical Marcelo Fróes.















Memórias do Clube da Esquina: acima,
Elis Regina, Milton Nascimento e
Ronaldo Bastos no estúdio, em 1972,
durante as gravações do álbum
Clube da Esquina 2, fotografados por
Cafi; Milton com Elis Regina em 1977;
e os amigos do Clube da Esquina
no estúdio, em 1975, nas gravações do
LP "Minas". A partir da esquerda, Novelli,
Wagner Tiso, Tavinho Moura, Toninho Horta,
Nelson Angelo, Paulo Braga, Milton,
Nivaldo Ornelas e Beto Guedes.
 
Abaixo, Milton com Caetano Veloso e
Chico Buarque em setembro de 1975,
na época em que os três fizeram juntos
um show histórico no palco do Canecão, no
Rio de Janeiro; Cristina Aché, Tavinho Moura,
Milton e Débora Bloch em 1984, reunidos
no intervalo das filmagens de Noites do
Sertão
 – adaptação da literatura de
Guimarães Rosa com roteiro e direção
de Carlos Alberto Prates Correia e
trilha sonora com composições de
Milton Nascimento e Tavinho Moura;
e Milton com Klaus Kinski e Claudia
Cardinale em cena de "Fitzcarraldo",
filme de 1982 de Werner Herzog













No terceiro volume da trilogia “Beatles 69 – Abbey Road Revisited”, que celebrou os 40 anos da última safra de canções da banda, Milton reencontrou em estúdio a voz de Elis, sua parceira do inicio da carreira e amizade das mais intensas. Na série de três discos produzidos por beatlemaníacos e para beatlemaníacos pelo selo de Marcelo Fróes, contando com participações de diversos artistas nacionais (entre veteranos como João Donato, Joyce, Ivan Lins, e nomes das novas gerações, como BossaCucaNova, Fuzzcas e Sílvia Machete, entre outros), Milton e Elis estão presentes cantando juntos na suíte “Golden slumbers / Carry that weight”, composição de John Lennon e Paul McCartney gravada originalmente no álbum de 1969 "Abbey Road" e inspirada em versos publicados em 1606 pelo poeta inglês Thomas Dekker – sem nenhuma dúvida uma das mais especiais de todas as novas versões de canções dos Beatles reunidas no projeto do Selo Discobertas.



A presença de Elis



Foi muito emocionante, muito mesmo”, diz Milton, recordando os melhores momentos da experiência de gravar no estúdio com presença da voz de Elis. “Pensei em utilizar minha própria banda, mas o Marcelo Fróes me apresentou outros músicos e o resultado foi imprevisto e impecável. Como não sou de fechar ad portas para ninguém, seguimos em frente, apesar de algumas diferenças que fomos encontrando aqui e ali na concepção do trabalho. Mas acho que foi a melhor coisa que podia acontecer. Ficou bonito demais e foi estranho, foi como se a Elis estivesse presente. Os meninos da banda e da técnica sentiram a mesma coisa. Foi ótimo ter gravado aquilo”.








Falar em público e dar aulas para grandes plateias também foram experiências marcantes para Milton nos últimos tempos, desde que passou a ser convidado com frequência por universidades na Europa e nos Estados Unidos para apresentar conferências para os alunos. "Na primeira vez que convidaram eu fiquei surpreso, mas deu tudo certo, pelo jeito, pois depois vieram outros convites em outras universidades, em outros países”, conta Milton, explicando que estes encontros sempre resultam do improviso e acabam sendo muito especiais.
Falo de tudo nessas oportunidades. Do Brasil, da música brasileira, dos amigos, dos músicos que admiro. No meio da conversa sempre vem alguma canção, ou então é a canção que puxa outro assunto, outra canção", explica, recordando que os estudantes europeus o surpreenderam mais porque sempre demonstravam que conheciam muito o seu trabalho.
"Perguntavam sobre os discos, a história das músicas. Foi muito bom", recorda, lamentando apenas que as aulas não tenham sido gravadas ou filmadas. "Foi um descuido. Mas está nos planos para o futuro repetir a experiência e gravar tudo", justifica. Enquanto aguarda com seus companheiros de geração a instalação do Museu Clube da Esquina, a produção de um DVD com registro ao vivo de seus shows mais recentes também está nos projetos do cantor e compositor para os próximos meses.









 

Milton Nascimento retratado no inicio
dos anos 1990 em pintura em óleo sobre tela
por Carlos Bracher. Abaixo, a capa do CD
Angelus, lançado em 1994; Milton com
Tom Jobim em 1990, fotografados por
Cristina Granato; com Tom Jobim e Chico Buarque;
e Milton com o jornalista Fernando Faro
em 2009, durante a gravação do
programa Ensaio para a TV Cultura












Enquanto nos palcos algumas das canções de Milton ocupam um lugar especial no roteiro dos shows, ele reconhece que, na extensa discografia que vem construindo, é o CD "Angelus", lançado em 1994, que ainda traz as melhores lembranças. "Costumo dizer que 'Angelus' é o terceiro 'Clube da Esquina'. É meu disco mais diferente, com muitas participações especiais de amigos que a gente vai fazendo pelo mundo", recorda, enumerando as histórias engraçadas e as coincidências que envolveram vários nomes do primeiro time do jazz e da música pop na produção do CD.

Nas viagens pelo mundo afora, Milton também vai descobrindo aqui e ali novidades musicais surpreendentes. A mais recente é um coral de vozes da Bulgária. "E o que mais tenho ouvido ultimamente, junto com Miles Davis, Villa-Lobos, Ravel... Depois do projeto com os irmãos Belmondo estou mais atento à música erudita. Mas o que mais me encanta, sempre, é a música de Minas Gerais", reconhece. Para Milton, a música de Minas, incluindo compositores novos e antigos, cantoras, cantores, instrumentistas e bandas, é a melhor música que se faz hoje no Brasil.



Sonhos na origem



Amigo de Milton Nascimento de longa data, desde antes da criação do Clube da Esquina, Márcio Borges diz que seu livro "Os Sonhos não Envelhecem" conta, antes de tudo, a história de uma amizade. "Não é uma biografia, nem autobiografia, nem reportagem. É uma crônica sobre a história de minha amizade com Milton", define o autor e protagonista da história, compositor de "Equatorial", "Gira Girou" e outros clássicos do Clube da Esquina, que apresenta no livro um belo relato poético, apesar de rememorar, entre outras histórias, páginas da ditadura militar que calou a utopia de várias gerações de brasileiros.







O livro, que estava esgotado há anos, ganhou recentemente uma nova edição. A primeira, que saiu em 1996, em pouco tempo esgotou em todo o Brasil toda a tiragem de 30 mil exemplares. A nova versão, que mereceu uma edição de luxo da Geração Editorial, tem preço promocional, graças ao apoio conseguido junto ao Ministério da Cultura.

O novo “Os Sonhos não Envelhecem” manteve o texto original de 1996, que vai dos primórdios da adolescência aos últimos tempos da parceria de Márcio com Milton Nascimento, que resultou no sucesso do Clube da Esquina. A história transformada em livro chega às lojas com formato diferenciado, com 376 páginas, farta iconografia e um acréscimo de peso para agradar aos fãs mais exigentes: um CD com uma seleção musical que inclui "Girassol", "Canto Latino", "Tudo que você podia ser" e outras canções marcantes de Milton, Lô Borges, Wagner Tiso e outros nomes de referência no movimento.








Duas fotos de Cafi reproduzidas no livro
Os Sonhos não Envelhecem: a contracapa
do LP Clube da Esquina e os amigos na estrada,
nos anos 1970, a bordo do Jeep Manuel Audaz
pilotado por Toninho Horta.

Abaixo, Milton Nascimento, Toninho Horta,
Beto Guedes, Fernando Brant, Lô Borges
e Márcio Borges em um bar no bairro
de Santa Teresa, em Belo Horizonte;
Milton com o norte-americano Quincy Jones,
maestro, arranjador e compositor que atuou
com Frank Sinatra, Michael Jackson e outros
nomes de grande sucesso internacional;
e com uma estrela do Jazz, Sarah Vaughan,
em 1977, na época da gravação do álbum
O som brasileiro de Sarah Vaughan







 





Narrador de histórias saborosas – da explosiva década de 1960 aos anos 1980 e 1990 e também casos recentes da maturidade e das aventuras da terceira idade – Márcio Borges no livro fala ao leitor numa prosa apaixonada, emocionante. Seu livro parece um roteiro de filme, até porque o cinema tem presença constante no repertório do autor e dos personagens retratados, em especial aqueles que, como ele, viveram na pele os piores momentos da ditadura militar.

Há quase 10 anos, Márcio Borges vem se dedicando à criação e instalação do Museu Clube da Esquina – que de acordo com os planos de longa data terá sua sede física próxima à Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O museu, por enquanto, está limitado ao formato virtual, no site do bar Clube da Esquina. Nos planos de Márcio Borges também estão o lançamento de outros livros sobre as histórias dos amigos do Clube da Esquina e a adaptação de "Os Sonhos não Envelhecem" para o cinema.



Dilma e o Clube da Esquina



Márcio Borges prepara dois novos livros: o primeiro será um romance, o outro será uma coletânea de cartas. Enquanto os outros livros não chegam às livrarias, ele trabalha para transformar "Os Sonhos não Envelhecem" em filme. Para isso, ele está concluindo as negociações para produção com o cineasta Paulo Thiago. "Ainda não sabemos se será documentário ou obra de ficção. Estamos acertando", explica.







Tempos sombrios: Dilma Rousseff aos
22 anos, na sede da Auditoria Militar
 no Rio de Janeiro, em novembro de 1970;
na foto, tirada depois de mais de 20 dias
de tortura, Dilma mostra um olhar firme,
mas os militares que a interrogam
tentam esconder o rosto.

Abaixo, Milton Nascimento no
Rio de Janeiro, em junho de 1968,
fotografado quando participava da
Passeata dos Cem Mil contra a Ditadura;
com Caetano Veloso, em fotografia da
década de 1970; e com Sarah Vaughan
e João Bosco no Rio de Janeiro,
na época da gravação do álbum
O Som Brasileiro de Sarah Vaugan















Entre canções de poesia irresistível que fizeram história, o autor mistura no livro “Os Sonhos não Envelhecem” a história de músicas e muitas memórias compartilhadas. Sem contar uma curiosidade que ganharia força com passar do tempo: Márcio Borges teve como colega de turma no colégio, em Belo Horizonte, Dilma Rousseff, que abraçaria a militância política de resistência à ditadura militar e chegaria décadas depois à Presidência da República.

Dilma Rousseff é personagem do livro do Márcio Borges porque surge no relato na época em que os dois estudaram no antigo Colégio Estadual Central. O reencontro com a colega dos tempos de colégio só aconteceu em 2010, durante um dos compromissos de Dilma na campanha presidencial em BH. Mas não é Dilma e sim Milton Nascimento o personagem central do relato, que tem prefácio assinado por Caetano Veloso.

Reza a lenda que a mitologia do Clube da Esquina surgiu do encontro de um grupo de amigos que se reuniam na esquina da Rua Divinópolis com Paraisópolis, no bairro de Santa Teresa, em Belo Horizonte. Formado, entre outros, por Tavinho Moura, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e os integrantes do 14 Bis, o grupo de jovens amigos se juntava para cantar e tocar desde a segunda metade da década de 1960.










Cenários do Barroco Mineiro: acima,
os amigos do Clube da Esquina em
Diamantina, Minas Gerais, no lendário
Beco do Mota e no encontro histórico
com o ex-presidente Juscelino Kubitschek,
em 1971, fotografados por Juvenal Pereira
para uma reportagem da revista O Cruzeiro.

Abaixo, Fernando Brant, Lô Borges,
Márcio Borges e Milton Nascimento
nas ladeiras de Diamantina






Nas reuniões informais dos amigos no bairro de Santa Tereza e nos passeios do grupo pelas cidades históricas de Minas foram criadas as canções e o imaginário de um dos discos mais antológicos da MPB, o LP “Clube da Esquina”, gravado em 1972 e tendo como protagonistas Milton Nascimento e Lô Borges, com produção de Ronaldo Bastos. Mas o Clube da Esquina também foi feito de histórias das estradas de ferro. 



Memórias afetivas



Basta lembrar dos versos dos maiores clássicos de Milton Nascimento e companhia: o trem que ligava Minas ao porto, ao mar, a ferrovia, o caminho de pedra, a travessia, a paisagem na janela. A histórica estrada de ferro Vitória-Minas, que já rendeu inspiração para todos os compositores do grupo, também surge homenageada em outro livro de Márcio Borges, "Entradas e Outras Bandeiras: A Chegada da Vitória-Minas".

Com breves textos e versos de Márcio Borges, mais fotografias e direção de arte de Arthur Senra, o livro foi editado pelo clube de amigos do Museu Clube da Esquina, com recursos do Fundo Estadual de Cultura. "É um tema muito especial para cada um de nós, porque está ligado à memória afetiva do mineiro e à história do Clube da Esquina em particular", explica Márcio Borges. 











A capa do LP Clube da Esquina 2 e o
reencontro dos amigos, organizado na
passagem dos 35 anos do lançamento
do primeiro disco. Abaixo, a imagem
original de 1890 do fotógrafo inglês
Francis Meadow Sutcliffe e Milton
com a islandesa Björk no camarim da
cantora, após o show na Marina da Glória,
Rio de Janeiro, em outubro de 2007.
Björk sempre foi fã de Milton e gravou
a canção "Travessia" com arranjo
de Eumir Deodato, que também
é autor do arranjo original da
primeira gravação de Milton








 

"Este livro, que batizamos de 'Entradas e Outras Bandeiras: A Chegada da Vitória-Minas', é um retrato desta ligação afetiva, entrando pela viagem poética a que o assunto convida. A vida da gente é feita dessas memórias. Agora, com a instalação do Museu Clube da Esquina, fiquei mais atento às questões da memória, da história oral, do registro fotográfico. Senão, a gente não consegue evitar aquele risco perigoso do passado se perder", confessa Márcio Borges.

O convênio de instalação do museu no antigo espaço do Servas já foi assinado com o Governo do Estado e, segundo Márcio Borges, a instalação do projeto está adiantada. "Já há inclusive uma emenda parlamentar aprovada pelo Congresso Nacional que destinou recursos para a instalação do museu", explica, feliz com a notícia. O Museu Clube da Esquina tem meta de instalação e abertura ao público na inauguração do Circuito Cultural Praça da Liberdade, previsto para os próximos meses. O projeto para a abertura do museu, segundo Borges, tem orçamento de aproximadamente R$ 10 milhões.



por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Milton no Clube da Esquina. In: Blog Semióticas, 12 de março de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/03/o-clube-da-esquina.html (acessado em .../.../...).
















Outras páginas de Semióticas