Um
dos nomes fundamentais da música e da indústria fonográfica no Brasil, André
Haidar Midani acredita que a criatividade na música está em
franco declínio e que a indústria do disco chegou, definitivamente, ao fim. Nascido na Síria, em 25 de setembro de 1932, e criado na
França desde os três anos de idade, Midani é considerado um Midas
da música: foi o descobridor da maior parte dos principais artistas
do mercado brasileiro desde o final dos anos 1950.
No Brasil, a trajetória de André Midani tem destaque em capítulos da maior importância: no final da década de 1950, trabalhando na gravadora Odeon,
participou do nascimento da Bossa Nova; em 1967, contratado pela gravadora Philips, deu impulso aos músicos da Tropicália; ainda na Philips, na década de 1970 contratou e lançou o maior elenco da música popular brasileira; em 1977, fundou a filial brasileira da Warner e lançou os primeiros
trabalhos da geração do rock nacional e dos nomes que surgiram nos anos 1980.
Durante sua passagem por Belo Horizonte, onde participou como convidado especial da programação do festival Eletronika, André Midani concedeu esta entrevista no Espaço 104, na Praça da Estação, depois de um bate-papo com a plateia do festival sobre as mutações do mercado fonográfico e sobre a atualidade da música no Brasil.
.Durante sua passagem por Belo Horizonte, onde participou como convidado especial da programação do festival Eletronika, André Midani concedeu esta entrevista no Espaço 104, na Praça da Estação, depois de um bate-papo com a plateia do festival sobre as mutações do mercado fonográfico e sobre a atualidade da música no Brasil.
Com
um senso de humor muito peculiar e visão privilegiada sobre o cenário da
música e da produção cultural, André Midani abre a entrevista
lembrando da infância, passada em Paris. Conta que sofreu na pele os
tempos difíceis da Segunda Guerra. Viveu entocado num porão, passou
fome e frio. Sua carreira profissional começou por um golpe de sorte
em 1952, ainda na França, como funcionário da gravadora Decca.
Ciente
da importância de sua trajetória para a música brasileira, Midani
registrou seus percalços e sucessos na sua autobiografia, “Música,
Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download”, publicada em 2009 pela
Nova Fronteira. Mas como o livro enfrentou impedimentos judiciais de
toda natureza, por conta da franqueza do autor e dos muitos nomes e
casos citados, o próprio Midani tomou uma iniciativa das mais
ousadas: reproduziu a íntegra do texto em seu site oficial
e
liberou todo o conteúdo de textos e imagens para download público
e gratuito. O livro está disponível no endereço
www.andremidani.net/2012/03/musica-idolos-e-poder.html.
Em
1955, André Midani deixou a família em Paris e emigrou para o Brasil, fugindo da convocação
para lutar na guerra dos franceses contra a Argélia. Em terras
brasileiras, conseguiu o primeiro emprego na indústria fonográfica porque falava francês e português com fluência, e desde então atuou em momentos marcantes da música do Brasil, em mais de
50 anos, destacando-se numa profissão que naquela época ainda não
existia: descobridor de talentos e gestor de carreiras e de projetos
fonográficos.
Um som perfeito, eterno
Apaixonado
por jazz e por bateria desde a juventude, nunca chegou a ser artista.
No final da década de 1950, já morando no Brasil, conseguiu emprego primeiro na Odeon Records e depois na Capitol Records. Foi aí que o fotógrafo Chico
Pereira apresentou a ele um grupo de jovens músicos da zona sul carioca, amigos dos
filhos: eram Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lyra e Roberto
Menescal. Pouco depois, Dorival Caymmi lhe apresentou João Gilberto.
"Eu
não descobri a Bossa Nova. Na verdade, eu a encontrei", ironiza
Midani. Sobre João Gilberto, ele diz que ficou especialmente
impressionado quando ouviu aquela voz e aquela batida revolucionária
de violão. Desde a primeira vez. Então, ficou atento e acabou
conhecendo João Gilberto nas praias do Rio de Janeiro. Em seguida,
fez o possível para que João pudesse gravar com total liberdade criativa o compacto com as
faixas “Chega de Saudade” e “Bim Bom”. “Como
toda coisa que é mesmo revolucionária, foi um choque, mas depois
você vai se acostumando. O João Gilberto inventou um som perfeito,
eterno. Os critérios que ele coloca na música dele são
absolutamente geniais, não é uma coisa de moda, que vai passar. É
algo definitivo que passa a ser uma referência para todos,
universal”, destaca.
Anos depois, na virada dos anos 1960 para 1970, Midani comandava as duas grandes gravadoras em atuação no Brasil: a Philips (que reunia os grandes nomes do que convencionou chamar de Música Popular Brasileira, incluindo de Elis Regina, Tom Jobim e Chico Buarque a Caetano, Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Jorge Ben, Raul Seixas e Wilson Simonal) e a Polydor, com artistas de sucesso popular como Tim Maia, Odair José e Evaldo Braga, entre outros. Midani atuava como uma espécie de Robin Hood: usava a renda que ganhava com os campeões de vendas para investir em artistas que vendiam menos.
Quanto
à Tropicália, Midani reconhece com toda modéstia que não teve
participação na invenção do movimento: "Não os descobri, só
dei espaço para Gal, Caetano, Bethânia, Gil, Chico Buarque, Tim
Maia, Jorge Ben, Os Mutantes, Elis Regina, Roberto Carlos, Paulinho
da Viola, Belchior, Raul Seixas e tantos outros na principal empresa
brasileira de discos. Eram os tempos difíceis da censura da ditadura militar, mas fiz como faz um jardineiro que tira o mato e as
ervas daninhas para as melhores plantas crescerem", recorda,
contando casos engraçados e situações surpreendentes dos primeiros
encontros com cada um daqueles iniciantes que se tornariam grandes nomes da música do Brasil.
Memórias de André Midani no Brasil: no alto, Caetano Veloso com Gal Costa e Maria Bethânia fotografados em 1975 por Antonio Guerreiro em seu lendário Studium, no Catete, Rio de Janeiro; a capa do álbum a capa do álbum Tropicália, de 1968, marco inaugural do movimento; a capa do antológico Doces Bárbaros, turnê de shows que reuniu nos anos 1970 Caetano, Gilberto Gil, Gal e Bethânia; e um encontro de Caetano, Midani e Gil. Abaixo, Caetano, Bethânia e João Gilberto em cena de Brasil, documentário de 1981 com roteiro e direção de Rogério Sganzerla; Caetano no palco, no início dos anos 1970, ao retornar ao Brasil depois do exílio imposto para ditadura militar; e Raul Seixas em 1973, na época da gravação do álbum "Krig-ha, Bandolo!", outra aposta arriscada de André Midani que se tornou grande sucesso de público e crítica |
Mentor dos grandes festivais
Como
se não bastasse, Midani também foi um dos mentores dos grandes
festivais de música que tomaram o Brasil na segunda metade da década
de 1960 e, a partir da década de 1970, tornou-se executivo da Odeon,
da WEA e da Philips/Phonogram (depois, Polygram do Brasil e Universal Music). Convidado
para montar a Warner no Brasil, apostou no rock nacional no início dos anos
1980, contratando bandas que fariam história. Em 1990, é
transferido para Nova Iorque, onde assume a presidência da Warner
para a América Latina.
Volta
ao Brasil em 2002, para trabalhar em projetos como a ONG Viva Rio. No
mesmo ano em que lançou sua autobiografia, "Música, Ídolos e
Poder - Do Vinil ao Download", ele foi eleito pela revista
"Billboard" uma das 90 personalidades da história da
indústria fonográfica mundial. Durante a entrevista, arrisco uma provacação irônica e pergunto sobre
o filme "O Homem que Matou o Facínora", de John Ford, no
qual o herói diz que, se a lenda é maior que homem, publique a
lenda.
Memórias: André Midani no escritório da gravadora Continental, no começo da década de 1970, época em que contratou os Novos Baianos. Abaixo, a capa do álbum lendário de 1972, Acabou Chorare, e os Novos Baianos logo após o lançamento do álbum, no sítio que tinha o apelido de Cantinho do Vovô, no Rio de Janeiro: a partir da esquerda, Baby e Pepeu com a filha Sarah, Bolacha, Charles Negrita, Galvão, Dadi (de chapéu, olhando para trás), Baixinho e Marilinha com a filha Buchinha na janela, Gato Felix (no chão, de chapéu, com a filha Ciça), Moraes Moreira, Paulinho com Gil no colo, Marilona com Davi Moraes no colo, e dois amigos não identificados. Também abaixo, Belchior, outra aposta de André Midani em meados dos anos 1970 |
Confrontado
com a máxima do filme de John Ford, André Midani sorri e faz um exercício
de modéstia. "No meu caso, a lenda é cada vez mais exagerada,
cada vez mais fantasiosa que a realidade", ironiza, fazendo
pausas para lembrar de um ou outro nome, um ou outro acontecimento
que foi definitivo na sua trajetória de vida e na trajetória dos
artistas com os quais convive e conviveu no passado. "A lenda
vive na imaginação das pessoas, mas no meu caso a lenda não é
melhor que o homem".
Segundo
Midani, ele nunca teve intenção de cultivar nem essa nem nenhuma
outra lenda. "Ao invés de incorporar essa lenda que você
associa com o filme de John Ford, prefiro lembrar aquele ditado
popular que diz que onde tem fumaça tem fogo (risos). Sempre tive
muita sorte, isso eu não posso negar. Fui eleito para conviver com a
música e com a amizade de tantos artistas maravilhosos ao longo de
tanto tempo”.
O Brasil é Carmen Miranda e Bossa Nova
Enquanto
se diz "brasileiro de carteirinha", André Midani reconhece
que somente a sorte pode explicar sua trajetória de tantos sucessos,
desde que decidiu trocar a França pelo Brasil, há seis décadas.
"Só posso ser muito grato pela vida ter me concedido tanta
sorte e por ter permitido que eu descobrisse ainda jovem este país
tão maravilhoso que é o Brasil".
Confira,
a seguir, os principais trechos da entrevista em que a principal
lenda do mercado fonográfico brasileiro recorda sua trajetória e
tece comentários espirituosos sobre personalidades do primeiro time,
como Carmen Miranda e os medalhões da Bossa Nova e da Tropicália.
Quais
são as suas recordações mais antigas sobre música?
André
Midani – Se eu puxar pela memória, preciso reconhecer que
todas as minhas lembranças mais antigas têm alguma relação com música.
Lembro do dia em que um tio meu chegou em casa com um gramofone.
Chamou a criançada, botou o disco com uma canção muito popular na
época, "La Mer", do cantor e compositor francês Charles
Trenet. Foi inesquecível. Para mim, que tinha menos de dez anos, foi
uma experiência tão forte que não consigo lembrar de nada da minha infância
antes disso.
E
a mudança da França para o Brasil, em 1955, como foi?
Minha
única referência sobre o Brasil era a figura maravilhosa de Carmen
Miranda. Tudo o mais era mistério, tudo era diferente do que eu
conhecia. Talvez por isso, o começo foi muito, muito difícil. Penei
bastante por uns dois anos, trabalhando como apontador de estoque e
vendedor. Mas depois a vida me deu em dobro. Acho mesmo que tirei a
sorte grande, por todas as experiências que tive e por todas as
pessoas tão especiais que conheci. A vida me apresentou todos os
grandes nomes da Bossa Nova, me apresentou João Gilberto e tantas
outras pessoas, artistas geniais, tantas oportunidades incríveis…
O
Brasil daquele tempo era outro…
Sim,
era um outro país, muito mais simples, muito mais sonhador, com
características muito diferentes. Era um país ainda desconhecido,
que impressionava o mundo por seu exotismo tremendo. Mas é preciso
reconhecer que, no imaginário internacional, até hoje o Brasil é
Carmen Miranda e Bossa Nova.
Carmen Miranda e o Bando da Lua: acima, a estrela em Nova York, durante a longa temporada de shows na Broadway, na década de 1945, que rendeu a Carmen na imprensa o título de "a mulher que salvou a Broadway". No alto, Carmen em cenas de "Romance carioca" (Nancy goes to Rio), filme de 1950 com roteiro de Sidney Sheldon e direção de Robert Z. Leonard; e a estrela com seus músicos brasileiros em Hollywood, em 1941, durante as filmagens de Uma Noite no Rio (That Night in Rio), comédia musical de 1941 com cenários do Rio de Janeiro recriados em estúdio com direção de Irving Cummings. Abaixo, Carmen Miranda em sua casa em Beverly Hills, nos anos 1940, em rara fotografia em que aparece com os cabelos soltos e sem a caracterização de baiana que marcou sua carreira |
Mas
Carmen veio muito antes e representa quase o avesso da Bossa Nova…
Você
tem toda razão. Podemos dizer que Carmen Miranda era colorida,
dançante, enquanto a Bossa Nova era em preto e branco, com suas
canções de harmonias minimalistas, seus temas de nostalgia e de
melancolia. Carmen foi o contrário disso, era festa e carnaval. A
Bossa Nova era mais introspectiva.
Carmen Miranda ainda tem alguma importância hoje ou ficou no passado?
Carmen
ainda é genial e se mantém como uma referência cultural muito forte no Brasil e em outros países. Talvez no mundo inteiro. Além de grande cantora, grande dançarina, atriz,
comediante e designer, muito antes desta palavra começar a ser
usada, ela também foi pioneira no que hoje chamamos de marketing.
Era uma artista completa, encantadora, que manipulava muito bem a
mídia e que usou seu talento para se manter no auge durante
décadas.
Sim,
Carmen Miranda era a extroversão em pessoa, gentilmente
carnavalesca, muito engraçada e conquistou o mundo a partir de
Hollywood. Engraçado como a Bossa Nova era o contrário, era a total
introversão. Mas também fez um sucesso estrondoso no mundo inteiro,
a partir do sucesso inicial nos Estados Unidos. Quanto a Carmen, acho
que infelizmente ainda hoje ela é muito mal compreendida no Brasil,
depois de tanto tempo.
Como
André Midani chegou à Bossa Nova?
Quando
penso na Bossa Nova, penso em um quarteto da maior importância: João
Gilberto em primeiro lugar, Tom Jobim, Newton Mendonça e, logo
depois, João Donato. Estes quatro personagens foram os mais
essenciais para o que chamamos de Bossa Nova. Claro que tem outros
nomes que contribuíram muito, tem os precursores do movimento, os
destaques das gerações que vieram depois, o sucesso de Astrud
Gilberto no exterior, tem Elis Regina e as outras cantoras... Mas sem
o trabalho criativo daquele quarteto inicial, sem João Gilberto, Tom
Jobim, Newton Mendonça e João Donato, a Bossa Nova não teria
existido com tanta força e qualidade.
Memórias de André Midani no Brasil:
no alto, João Donato e João
Gilberto
em 1957, passeando e proseando em Copacabana, antes da Bossa Nova. Acima, João Donato e André Midani em 1972. Abaixo, Gilberto Gil e seu violão nas ruas de Londres, em 1969, durante a temporada que passou no exílio, com Caetano Veloso, por imposição da ditadura militar; Tom Jobim e Elis Regina no estúdio, em 1974, durante a gravação da canção Águas de Março; e Chico Buarque com Caetano Veloso no palco, em 1979, apresentando as canções do álbum "Chico e Caetano, juntos e ao vivo", gravado em 1972 no Teatro Castro Alves, em Salvador, logo após o retorno de Caetano do seu exílio em Londres, por imposição da ditadura militar |
Além
da Bossa Nova, você também tem importância fundamental na
Tropicália, no que passou a ser chamado de MPB e também no sucesso
dos principais nomes do rock nacional, a partir dos anos 1980…
Sim,
é isso mesmo. Confesso que vivi (risos). E sobrevivi, para contar
minha versão dessas histórias, todas maravilhosas. Cada um destes
movimentos teve suas idiossincrasias, seus mitos. Na Tropicália, a
grande questão foi o pensamento anárquico, talvez por isso Carmen
Miranda, que morreu em 1955, tenha ressurgido com tanta força no
movimento, depois de ter sido escorraçada durante uma década pela
Bossa Nova.
Para
os tropicalistas, Carmen trazia o frescor de misturar cultura de
massas com a autêntica cultura popular brasileira. Com a Tropicália,
Carmen ajudou pela segunda vez a deixar a música e a cultura do
Brasil menos introvertida. Por isso ela ainda é tão importante e
marcante. Essa proposta de extroversão e festa também voltaria com
força com Rita Lee nos Mutantes e depois na carreira solo da Rita,
nos Secos & Molhados e em muitos e muitas. Nos anos 1980, o
espírito de festa e carnaval que Carmen inventou voltaria à MPB com
as melhores bandas do rock Brasil.
Memórias
de André Midani: no
alto,
o
mais famoso anúncio publicitário da
MPB,
publicado em 1973 em jornais e
revistas
para divulgar o Phono
73,
festival
realizado
em São Paulo, em maio de 1973,
no
Palácio de Convenções do Anhembi, e
produzido
pela Philips/Phonogram que, sob o
comando
de André
Midani, detinha,
na época,
contrato com
a maioria das estrelas da música
brasileira.
O Phono
73 também
teve, segundo
Midani,
o intuito de denunciar ao público a
ditadura
militar e a censura no Brasil. Nas fotos, nos bastidores do Phono 73, Gilberto Gil com Chico Buarque; e Gal Costa, Nara Leão, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Odair José, fotografados por Antonio Guerreiro. Acima, Rita Lee com
André Midani
em 1972 e com Os
Mutantes, em uma de suas últimas fotos na formação original do grupo. Abaixo, Os Mutantes (com Rita Lee em primeiro plano), Caetano Veloso e Gilberto Gil no palco da boate carioca Sucata, em outubro de 1968, na estreia da conturbada temporada de shows que terminou com a prisão de Caetano e Gil e com o exílio dos dois em Londres; no fundo do palco havia uma bandeira, obra do artista plástico Hélio Oiticica, com a inscrição "Seja Marginal, Seja Herói". Baptista e Sérgio Dias Baptista com Rita Lee na foto da capa do primeiro álbum de Os Mutantes, em 1968; e na fotografia no topo do Edifício Copan, em São Paulo, produzida para estampar a capa do álbum estreia, mas que permaneceu inédita até 1999, quando foi capa do álbum Os Mutantes, coletânea lançada pelo selo Luak Bop nos EUA depois da mediação feita por André Midani entre Rita, Arnaldo e Sérgio Dias |
E
a crise do mercado fonográfico? Posso dizer que André Midani concorda que a indústria
do disco chegou ao fim?
Chegou
ao fim, definitivamente, sem nenhuma dúvida. Estamos assistindo a
seus últimos momentos. O mercado da música já está caminhando em outras direções e todas elas, ou a maioria delas, têm relação com as plataformas da internet. E há também um fato incontestável: a criatividade musical está em declínio, no
Brasil e no mundo inteiro. Quase tudo o que aparece é relançamento,
ou remix de algo antigo, ou uma releitura, ou um plágio descarado, ou mais um cover sem nada
a acrescentar... Basta lembrar que o último instrumento musical, que
é a guitarra elétrica, foi inventado há mais de 60 anos.
Atualmente,
com a facilidade para se reproduzir cópias de CDs e DVDs, com os
mais de 18 milhões de sites musicais disponibilizando discos
inteiros na Internet, não há futuro para a indústria tradicional.
É o fim de uma época, mas ainda não sabemos direito o que está
por vir. Temos sinais das novidades, mas ainda não sabemos como será
a transformação com o passar do tempo.
E
a música que se faz hoje no Brasil, é melhor ou pior do que nas
últimas décadas?
Difícil
responder a sua pergunta, porque hoje tem de tudo. Você, que é um
especialista e um pesquisador bem informado, pelo que estou vendo, sabe que o novo e o antigo hoje
estão disponíveis ao mesmo tempo e que pouca gente sabe diferenciar
entre o que vale e o que não vale a pena. No fundo, tem alguma coisa
interessante aqui e ali, mas também tem muito lixo, muita coisa lamentável e completamente
descartável.
Hoje
temos menos qualidade, mas ainda assim temos novidades que merecem
atenção. Das mais recentes, gosto muito da Céu, gosto do Otto, da Fernanda Takai, da Maria Gadú... e de muitas outras e outros talentos que vão surgindo por este meu Brasil afora. Tem uma lista bem interessante, mas não vou citar todos os nomes porque com certeza cometeria a injustiça de esquecer de flar de algum nome importante.
Ah, eu preciso confessar que tenho me rendido cada vez mais à música eletrônica porque tem coisas muito surpreendentes aparecendo. Já ouviu os tangos eletrônicos em
remixes? Acho que é lá que está o futuro.
por José
Antônio Orlando.
Como
citar:
ORLANDO,
José Antônio. Um toque de Midani. In: Blog
Semióticas,
5 de agosto de 2011. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2011/08/um-toque-de-midani.html
(acessado em .../.../...).