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Fiquei
realmente chocado ao perceber como ele é um escritor encantador. Definitivamente, eu não conseguia acreditar que ele viveu há tanto tempo, como ele viveu. Você teria pensado que
foi escrito ontem.
–– Woody
Allen, sobre Machado de Assis,
em
entrevista ao jornal “The Guardian”. |
Há semelhanças e correlações entre os filmes de Woody Allen e a literatura que Machado de Assis publicou no Brasil nas últimas décadas do século 19 e começo do século 20? Esta é uma questão que tem ganhado
espaço entre pesquisadores do Brasil e do exterior desde que,
recentemente (no mês de maio), a pedido do jornal inglês "The Guardian", o
cineasta norte-americano Woody Allen listou, entre os livros que mais
o influenciaram, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", romance que Machado de Assis publicou em 1881. O cineasta contou que recebeu o livro
pelo correio. Segundo Woody Allen, alguém do Brasil, ele não recorda o nome, enviou o livro, na tradução para o inglês feita por William L. Grossman, publicada com o título "The Epitaph for a small winner", com o seguinte recado: "Você
vai gostar disso".
"Li
porque era um livro fino. Se fosse grosso, teria descartado",
escreveu o cineasta no artigo para publicação no "The Guardian". "E
fiquei chocado com o quanto charmoso e incrível era esse brasileiro
chamado Machado de Assis. Fiquei realmente chocado ao perceber como ele é um escritor encantador. Definitivamente, eu não conseguia acreditar que ele viveu há tanto
tempo, como ele viveu. Você teria pensado que foi escrito ontem. É tão moderno, tão divertido. E é uma obra muito, muito original. Tocou uma campainha para mim, da mesma forma que 'O Apanhador no Campo de Centeio' tocou. Um livro sobre um assunto que me agradava e que era tratado com muita inteligência, grande originalidade e sem sentimentalismo", completou.
Humor sofisticado
Na sua lista de escritores preferidos, reconhecidos como os que mais provocaram impacto sobre seus filmes e sobre sua forma de olhar para o mundo à sua volta, Woody Allen também incluiu, além de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", os livros "O Apanhador no Campo de Centeio", publicado em 1951 por J. D. Salinger; "The World of S. J, Perelman", publicado no ano 2000, em edição póstuma dos escritos do cronista Sidney Joseph Perelman; "Really the Blues", publicado em 1946 por Mezz Mezzrow e Bernard Wolfe; e "Elia Kazan: A Biograph", publicado em 2005 por Richard Schickel.
Humor sofisticado
Na sua lista de escritores preferidos, reconhecidos como os que mais provocaram impacto sobre seus filmes e sobre sua forma de olhar para o mundo à sua volta, Woody Allen também incluiu, além de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", os livros "O Apanhador no Campo de Centeio", publicado em 1951 por J. D. Salinger; "The World of S. J, Perelman", publicado no ano 2000, em edição póstuma dos escritos do cronista Sidney Joseph Perelman; "Really the Blues", publicado em 1946 por Mezz Mezzrow e Bernard Wolfe; e "Elia Kazan: A Biograph", publicado em 2005 por Richard Schickel.
Woody
Allen também apontou algumas das referências que mais aprecia no
escritor brasileiro, que por ironia também podem ser tomadas como
características que estão presentes nos melhores filmes do diretor de "Annie Hall -
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977). São elas:
1. O cotidiano prosaico da burguesia;
2. o humor sofisticado e ácido;
3. a divagação filosófica sintética disfarçada pelo trivial;
4. a crítica sutil às convenções sociais;
5. as citações constantes de outros autores e outras obras que o influenciaram;
6. a investigação psicológica despretensiosa e, entre outras mais, a construção de protagonistas com um mesmo tipo de perfil, desastrosos em suas relações pessoais e sociais, inclusive de moral duvidosa, ou pelo menos convenientemente flexível.
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Afinidades temáticas
As afinidades temáticas e de estilo entre a literatura do maior cânone da literatura brasileira e os filmes e crônicas do cineasta Woody Allen são visíveis também na avaliação dos especialistas, como confirma Gustavo Bernardo, professor de teoria da literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador da obra de Machado, admirador declarado dos filmes de Woody Allen e autor do livro "O problema do realismo de Machado de Assis" (Editora Rocco).
"Primeiro”, destaca o professor, em entrevista concedida por telefone (veja a íntegra da entrevista em Semióticas: O Bruxo e a crítica internacional), “tanto Machado de Assis como Woody Allen são tremendamente irônicos e engraçados, apesar de não provocarem gargalhadas, mas sim sorrisos inteligentes. Segundo, ambos são mestres na arte difícil da tragicomédia, a tal ponto que suas obras não evoluem da comédia para a tragédia, como de hábito, mas são cômicas e trágicas do início ao fim, da primeira à última página ou cena". O humor sofisticado e a ironia na crônica de costumes e na crítica social são, realmente, evidências que aproximam o cineasta norte-americano e o escritor brasileiro, como poderia ser percebido pelos leitores e pelos espectadores atentos, afinal, mesmo se Woody Allen não tivesse feito do elogio a Machado de Assim na revelação em público.
As afinidades temáticas e de estilo entre a literatura do maior cânone da literatura brasileira e os filmes e crônicas do cineasta Woody Allen são visíveis também na avaliação dos especialistas, como confirma Gustavo Bernardo, professor de teoria da literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador da obra de Machado, admirador declarado dos filmes de Woody Allen e autor do livro "O problema do realismo de Machado de Assis" (Editora Rocco).
"Primeiro”, destaca o professor, em entrevista concedida por telefone (veja a íntegra da entrevista em Semióticas: O Bruxo e a crítica internacional), “tanto Machado de Assis como Woody Allen são tremendamente irônicos e engraçados, apesar de não provocarem gargalhadas, mas sim sorrisos inteligentes. Segundo, ambos são mestres na arte difícil da tragicomédia, a tal ponto que suas obras não evoluem da comédia para a tragédia, como de hábito, mas são cômicas e trágicas do início ao fim, da primeira à última página ou cena". O humor sofisticado e a ironia na crônica de costumes e na crítica social são, realmente, evidências que aproximam o cineasta norte-americano e o escritor brasileiro, como poderia ser percebido pelos leitores e pelos espectadores atentos, afinal, mesmo se Woody Allen não tivesse feito do elogio a Machado de Assim na revelação em público.
por
José Antônio Orlando.
Como citar:
Como citar:
ORLANDO,
José Antônio. Woody Allen leitor de Machado. In: Blog
Semióticas,
8 de agosto de 2011. Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2011/08/semioticas-o-bruxo-e-critica.html
(acessado em …/.../...).
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Joaquim Maria Machado de Assis aos 25 anos, em 1864, fotografado por José Insley Pacheco (1830-1912). No alto, Woody Allen ao lado de Machado de Assis. Abaixo: 1) Machado em caricatura anônima do século 19, publicada na revista Semana Ilustrada; 2) Owen Wilson e Rachel McAdams
em
cena de Meia-Noite em Paris,
filme
de 2011 de Woody Allen; 3) Woody Allen com Mira Sorvino em cena do filme Poderosa Afrodite (1995); 4) Woody Allen em 1996, em fotografia de Arnold Newman; e 5) e 6) Woody Allen no traço do ilustrador argentino Pablo Lobato ![]() |






































