O
aumento do desmatamento
na Amazônia
colocou mais de 200 espécies e subespécies de animais e pássaros
em risco maior de extinção, segundo a União
Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês).
Os dados pessimistas, que fazem parte do
relatório de atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas
em todo o planeta, foram apresentados em Hyderabad, na Índia, onde
aconteceu a 11ª Conferência das Nações Unidas
sobre Diversidade Biológica (COP11), megaevento que reuniu Chefes de
Estado e ministros de 170 países, incluindo o Brasil, para avaliar o
progresso em direção às metas para proteger a vida na Terra.
Entre
os relatórios internacionais impactantes apresentados em Hyderabad
está a lista de espécies declaradas oficialmente extintas neste
começo de século e de milênio. São 10 espécies, incluindo dois
pássaros da Amazônia brasileira, o João-de-barba-grisalha
(Synallaxis kollari) e o Chororó-do-rio-branco (Cercomacra
carbonaria),
e o lendário Demônio da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). A
única esperança para evitar a completa extinção é que, pelo fato
de terem sumido da natureza há pouco tempo, alguns espécimes possam
ter sobrevivido em zoológicos, centros de pesquisa ou locais ermos pelo mundo
afora.
A
conferência das Nações Unidas, concebida para proteger os recursos
naturais do planeta, começou com o impacto das listas de espécies em
extinção e muitos apelos para assegurar que a biodiversidade não se torne
uma vítima da crise financeira global. Segundo a Agência Brasil, os
delegados brasileiros e de outros países que participam da reunião
de cúpula da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos
tratados resultantes da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de
Janeiro, alertam que o mundo tem apenas uma década para evitar uma
extinção generalizada das espécies, que também representa uma
ameaça real e terrível para a Humanidade.
Os números, compilados a cada quatro anos pela União Internacional pela Conservação da Natureza, são impressionantes: quase a metade das espécies de anfíbios, um terço dos corais, um quarto dos mamíferos, um quinto de todas as plantas e 13% das aves do planeta correm risco de extinção, segundo a “Lista Vermelha” das espécies ameaçadas. A relação incluiu 402 espécies na categoria "ameaçado de extinção", totalizando 20.219. A lista completa tem 65.518 espécies, considerando outras categorias, como "quase ameaçado" e "extinto".
A
última conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB), celebrada em Nagoya, no Japão, havia adotado em 2010 um plano
mundial para reverter a perda da biodiversidade até 2020. Mas, desde
então, tem sido difícil para os comitês e emissários da ONU
levantar centenas de bilhões de dólares necessários para
financiamentos. Especialmente nos dias atuais, em que os países
desenvolvidos estão às voltas com quadros de crise econômica.
Criticamente ameaçados
Entre as
muitas espécies da Amazônia incluídas na “lista vermelha” está
o Chororó-do-rio-branco
(Cercomacra
carbonaria),
marcado como “próximo da extinção”. De acordo com a associação
internacional BirdLife, a espécie ocupa áreas muito pequenas entre
o Brasil e a Guiana. As maiores ameaças são a construção de novas
estradas em seus habitats para servir à economia de gado e soja. De
acordo com projeções atuais, estes habitats terão desaparecido
completamente em 20 anos.
O BirdLife
também rebaixou o João-de-barba-grisalha (Synallaxis
kollari),
da mesma região de Rio Branco, na Amazônia, de “ameaçado” para
“criticamente ameaçado.” A organização afirma que o pássaro
tem apenas 206 quilômetros quadrados de habitat adequado e eles
podem encolher 83,5% nos próximos 11 anos. O relatório culpa o
enfraquecimento do Código
Florestal
do Brasil pela taxa de desflorestamento na
Amazônia e em todo o território brasileiro.
A “lista
vermelha” do BirdLife cobre mais de 10 mil espécies de pássaros
no mundo, 197 dos quais aparecem como “criticamente ameaçadas”.
Além disso, 389 aparecem como ameaçadas, 727 como vulneráveis e
800 como “quase ameaçadas”. Apenas uma espécie da lista
melhorou sua condição na atualização: um dos pássaros mais raros
do mundo, o Pomarea
(Pomarea dimidiata), avançou de
“ameaçado” para “vulnerável”. Endêmico nas Ilhas Cook, no
Pacífico Sul, tinha apenas 35 indivíduos em 1983. Esforços de
conservação, incluindo programas de criação em cativeiro e
remoção de predadores, aumentaram a população para 380
indivíduos.
Origem
das espécies
Na
época em que o termo "ecologia" foi descrito pelo biólogo
alemão Ernst Haeckel (1834–1919) no seu livro “Generelle
Morphologie der Organismen” (1866), para designar o estudo das
relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, o mundo
natural considerado estático e sem mudanças desde a criação
original já havia sido questionado pelo estudo genial do naturalista
britânico Charles
Robert Darwin (1809–1882). A teoria de Darwin ainda hoje soa como revolucionária, mas ele conseguiu convencer a comunidade científica da ocorrência
da evolução ao reunir algumas hipóteses para explicar seu raciocínio sobre como o processo aconteceu durante milhares de milhões de anos. Segundo Darwin, a evolução, ao passo da seleção natural, deu origem à diversidade de espécies vegetais e animais pelos quatro cantos do planeta Terra.
Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies” (em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), Darwin introduziu ideias que, em sua época e no século seguinte, levariam a comunidade científica a perceber que as novas descobertas do naturalista acabavam com a importante distinção entre homem e animais. Em paralelo a outras revoluções científicas em curso em seu tempo, o naturalista inglês marcou um capítulo dos mais fundamentais na civilização contemporânea.
Mais
de 150 anos depois da publicação dos estudos revolucionários de Darwin, a lista
atualizada de animais definitivamente extintos coloca em evidência o
maior desafio que se impõe em nossos dias à espécie humana: a
preservação da vida no planeta Terra. A lista de animais e plantas
ameaçados de extinção é extensa e potencialmente infinita, ainda
que mídia e opinião pública concentrem alguma referência somente em
baleias, ursos polares e pandas. Veja, na listagem abaixo,
alguns tristes registros de espécies que entraram para a “lista
vermelha” da extinção.
Extintos no século 20
Rinoceronte Negro – Subespécie que teve por habitat Camarões, na África
Ocidental, o Rinoceronte Negro Africano (Diceros bicornis
longipes) foi oficialmente declarado extinto em 2011. O motivo: caça
implacável para a venda de seus chifres no mercado negro. Aos
chifres são atribuídas propriedades terapêuticas e afrodisíacas,
embora não haja comprovação científica.
Tartaruga Gigante de Galápagos – Última das tartarugas gigantes (subespécie Chelonoidis nigra abingdon) que dão nome às Ilhas Galápagos, do Equador, o mundialmente famoso Jorge Solitário morreu em junho de 2012, aos 100 anos de idade. Outras espécies de tartaruga da ilha também estão sob risco, devido à baixa taxa de crescimento da população, a maturidade sexual tardia e o endemismo da espécie.
Bucardo – A subespécie de cabra Bucardo (Capra
pyrenaicatem) tem uma das histórias mais interessantes entre os
animais extintos, uma vez que foi a primeira espécie a ser
“ressuscitada” por meio de clonagem, em 2003, morrendo apenas
sete minutos depois de seu nascimento por insuficiência pulmonar.
Era natural da cordilheira dos Pireneus, entre Andorra, França e
Espanha. Sua população foi reduzida devido a uma perseguição
lenta, mas contínua. No final da década de 1980, a população foi
estimada entre 6 e 14 indivíduos. O último a nascer naturalmente
morreu em 6 de janeiro de 2000, aos 13 anos.
Pardal Marinho – Subespécie não migratória encontrada no sul da Flórida, nas salinas naturais de Merritt Island e ao longo do rio St. Johns. O último Pardal Marinho (Ammodramus maritimus nigrescens) morreu em 17 de junho de 1987, mas só em 1990 o animal foi declarado oficialmente extinto. A população começou a declinar em 1940, quando as autoridades locais passaram a pulverizar a região pantanosa com pesticida, para controle dos mosquitos. O veneno contaminou a cadeia alimentar das aves, que gradativamente entraram em extinção.
Foca-monge do Caribe – Espécie descoberta por Cristóvão Colombo em sua
segunda viagem à América, em 1494, a Foca-monge do Caribe
foi declarada oficialmente extinta em 1952. Sobre ela escreveu
Colombo: “Descobri um tipo maravilhoso de foca. São médias,
tímidas e aparentemente têm boa pele, o que dá pra fazer casacos”.
Daí em diante, o animal foi explorado como fonte de alimento (sua
banha também era usada para iluminação e lubrificação) e para o
comércio de peles. Desapareceu completamente a partir de 1952.
Huias – Nativas da Nova Zelândia, essas aves de plumagem preta,
com a ponta das asas e cauda branca, papos laterais de cor laranja,
foram extintas pela caça desenfreada. O exotismo das Huias (as
fêmeas tinham bicos longos e curvados enquanto nos machos eles eram
radicalmente curtos) e de outras espécies locais levaram os
exploradores britânicos a fomentar a crença de que toda a flora e a
fauna da colônia neozelandesa eram ruins e deveriam ser substituídas
por variedades dos países europeus. O último registro visual
confirmado de uma Huia ocorreu no final da década de 1970.
.
Caça ao tigre: lazer e aventura
para a "nobreza" e a aristocracia da Europa, em suas viagens pelas
colônias do Oriente, foi uma prática
incentivada e celebrada desde meados do século 19 |
Tigres de Java – Subespécie imponente, o maior dos felinos vivia
na ilha de Java, na Indonésia. No início do século 19, eram tão temidos que tornaram a ilha um tabu para navegadores e colonizadores do Ocidente. Com
o aumento da população humana e com queimadas fora de controle, a maior parte da ilha tornou-se área
de cultivo, resultando em uma redução grave no habitat natural dos animais. Para se livrar do perigo, os homens caçavam os tigres. Os safáris de matanças, com o passar do tempo, seriam transformados em programa requintado de lazer e aventura para a aristocracia da Europa na ilha e nas demais colônias do Oriente. O
último Tigre de Java foi caçado e morto no final do ano de 1972.
por José Antônio Orlando.
ORLANDO, José Antônio. Lista vermelha da extinção. In: Blog Semióticas, 16 de outubro de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/10/lista-vermelha-da-extincao.html (acessado em .../.../...).
Como
citar:
ORLANDO, José Antônio. Lista vermelha da extinção. In: Blog Semióticas, 16 de outubro de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/10/lista-vermelha-da-extincao.html (acessado em .../.../...).
Sim, o Brasil é um país cheio de criatividade e alegria, mas não valoriza o que tem de mais importante que é seu patrimônio ambiental, suas reservas de água potável e sua biodiversidade. Maravilha de texto e de blog, José Antonio Orlando. Virei fã de seu trabalho já na primeira visita e na primeira página que encontro em seu blog. Você tocou no que há de mais político no Brasil de hoje em dia: no Brasil não temos tristeza, estamos cheios de alegria e belezas tropicais, mas a maioria da população continua tão ingênua e desatenta com seus tesouros ambientais, exatamente como aqueles primeiros índios que receberam com alegria e festa os primeiros exploradores europeus, que aqui fincaram bandeira em 1500. Estou concluindo minha dissertação de mestrado na Unicamp e queria muito trocar ideias com você sobre as questões de semiótica e ecologia tais como a zoossemiose e fitossemiose. Pode ser por e-mail? Se você aprovar, vou ter a honra de fechar 2012 com chave de ouro tendo sua presença como interlocutor. Aguardo seu retorno mergulhado em expectativa.
ResponderExcluirPedro Paulo de Senna
Olá, Pedro Paulo de Senna. Seja muito bem-vindo. Gostei muito de encontrar sua mensagem abordando esta questão sofisticada e tênue que envolve as relações entre semiótica e ecologia. Pode providenciar a chave de ouro, então, meu caro (risos...) Aguardo sua mensagem no e-mail semioticas@hotmail.com
ExcluirVocê conhece o "Semiótica Básica", do professor John Deely? Pode ser um bom começo de conversa para as questões de zoossemiose e fitossemiose. Forte abraço!...
Adorei. Meio ambiente tratado com respeito e como alerta. Seu blog é o máximo. Parabéns!
ResponderExcluiré muito triste saber que nos seres humanos somos as piores especie existente no planeta nos colocamos em em risco a terra os animais a fauna e a flora os rios os mares o ar até o céu...em fim tudo o que DEUS criou nos tamos destruindo pela ganancia e egoismo...mas a natureza e sabia e vingara ...e como vingara !!!
ResponderExcluirQue bela reportagem, bem escrita e bem fundamentada, com imagens impressionantes. Seu blog Semióticas é incrível, José. Agradeço de coração.
ResponderExcluirCidades foram feitas por humanos para humanos. Lugar de animal é junto à natureza, não nas cidades. Os animais não são obrigados a conviverem, humanizados, coma neurose humana. Por uma cidade sem animais! Por uma natureza sem humanos! Uma cidade como SP, com mais de 20 milhões de haibitantes não se justifica! É uma aberração da criação/paranóia humana.
ResponderExcluirTenho que concordar com a maior parte de sua opinião, meu caro. Mas os comentários precisam ser assinados. Aguardo sua assinatura de identificação, na próxima. Seja sempre bem-vindo(a).
ExcluirParabéns por esta reportagem incríveis e pelo blog todo sensacional. Virei fã já na primeira visita.
ResponderExcluirRicardo Rodrigues
Lindíssima matéria e imagens fascinantes. Parabéns pelo blog Semióticas que em tudo é só beleza e sabedoria. Só agradeço.
ResponderExcluirFabrício Carlo Galiza
Parabéns de novo por tudo neste blog Semióticas. Tenho vindo fazer uma visita quase todos os dias, há semanas, e confesso que todos os dias me surpreendo muito. Este artigo sobre a lista vermelha da extinção é uma obra rara. Deveria ser apresentado nas escolas como material didático importante para educação ambiental. Maravilhoso sim. Parabéns!!!
ResponderExcluirSelma Albuquerque
Parabéns por esta matéria que me fez aprender muito sobre as questões de meio ambiente e vida selvagem. Aliás, aprendo muito a cada visita que faço a este blog que é um espetáculo. Parabéns de novo e de novo.
ResponderExcluirJoão Marcelo Souza