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15 de abril de 2020

A hora de Rubem Fonseca








Eu disse que para alguns escritores a literatura deve
ser doce e edificante, isto é, suficientemente açucarada
e boa para agradar paladares delicados e refinar moral
e espiritualmente o leitor, mas que o escritor não era um
confeiteiro de bolos nem um pedagogo, os bons escritores,
como Sade, enchiam o coração e as mentes dos leitores
de medo e horror, porque a vida era isso, medo e horror.

–– Rubem Fonseca, “E do meio do mundo
prostituto só amores guardei ao meu charuto”.



O escritor Rubem Fonseca, que morreu na tarde de hoje no Rio de Janeiro, aos 94 anos, vítima de uma parada cardíaca, nunca foi uma unanimidade entre a crítica literária e os meios acadêmicos, mas escreveu seu nome como autor de um importante capítulo na literatura brasileira contemporânea – um capítulo que ganhou em 1975 a célebre definição de “brutalista” pelo historiador Alfredo Bosi. A inserção na corrente brutalista, termo que Bosi lançou em 1975 no livro “O conto brasileiro contemporâneo” (Editora Cultrix), tomando de empréstimo uma classificação da arquitetura dos anos 1950 e 1960 (pela estética crua dos pilares, do visual de obra inacabada, da funcionalidade que precede qualquer preceito artístico), indica uma representação da imagem do caos e da agonia dos valores: uma literatura que traduz e reflete a brutalidade derivada dos desníveis sociais e das situações de violência explícita.

Na literatura brutalista e criminal de Rubem Fonseca, assim como no gênero policial “noir” e no estilo “pulp fiction” mais característicos da tradição popular da literatura norte-americana, com suas tramas de descaminhos, de pequenas e grandes contravenções geradas na violência da exclusão social nos centros urbanos, os detetives e os policiais nem sempre são heróis e muitas vezes agem com a mesma sordidez e a mesma amoralidade dos criminosos e suspeitos com os quais travam relações ou investigam e combatem. Ao contrário dos narradores e personagens da história policial clássica, com seus crimes a serem desvendados de forma elegante e cerebral por detetives em seus gabinetes, nos novos cenários da literatura brutalista que Rubem Fonseca apresenta os heróis e vilões estão misturados por compartilharem, na cidade grande e nas periferias, a mesma condição humana muitas vezes sombria, carregada por vícios e defeitos incontroláveis.

Às composições próprias do romance policial, construídas pelo emaranhado das tramas que são formadas como quebra-cabeças em que as peças mais importantes estão sempre faltando, enquanto as peças disponíveis para investigação apenas cumprem o papel de iludir e despistar a solução do enigma, Rubem Fonseca acrescenta a diversidade de injustiças das questões sociais do Brasil e séries de referências por vezes sofisticadas e eruditas, por vezes comuns e muito próximas da vida cotidiana. “A dicção que se faz no interior desse mundo é rápida”, como destacou Alfredo Bosi, “é às vezes compulsiva; impura, se não obscena; direta, tocando o gestual; dissonante, quase ruído”. Com a habilidade de estrategista de Rubem Fonseca no jogo das palavras, o que entra em cena são histórias que conseguem surpreender o leitor mais atento ao elaborar e encadear técnicas narrativas ao mesmo tempo violentas, pontuadas de pulsões eróticas, de lances imprevisíveis, de suspense e de ironias quase sempre desconcertantes.







A hora de Rubem Fonseca: no alto
e acima, o escritor em 2005, em seu
escritório de trabalho no apartamento em
que morava no Leblon, Rio de Janeiro,
fotografado por seu filho Zeca Fonseca.

Abaixo, o escritor em visita 
à Livraria da Vila,
em São Paulo, fotografado 
em março de 2010
por João Wainer; e no encontro 
com o
colombiano Gabriel García Márquez em
2003, em Guadalajara, no México, na cerimônia
em que Fonseca recebeu das mãos de Márquez
o Prêmio Juan Rulfo de Literatura da
América Latina e do Caribe







.







Policial por profissão e advogado diplomado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rubem Fonseca atuaria por uma década como comissário nos distritos policiais do Rio de Janeiro até ser exonerado em 1958. A partir daí abraçou sua paixão pela literatura. A experiência experimentada como policial viria com muita frequência alimentar sua ficção construída de linguagem coloquial e de ambientação urbana, desde a estreia, em 1963, com os 12 contos reunidos em “Os prisioneiros”. O livro de estreia traz como epígrafe uma citação emblemática da Antiguidade Clássica (extraída de O livro do caminho e da sua virtude” e atribuída a Lao Tsé, sábio chinês que viveu no ano 600 antes de Cristo), uma citação não por acaso muito reveladora sobre a condição humana de personagens e tramas das páginas seguintes e também sobre os livros que o autor publicaria nas próximas décadas: “Somos prisioneiros de nós mesmos. Nunca se esqueça disso, e de que não há fuga possível.”



Recolhido pela censura



Na sequência, sempre com intervalo de dois anos, viriam os contos de “A coleira do cão” (1965) e “Lúcia McCartney” (1967), que o elevaram à rara condição de autor campeão de vendas no mercado editorial. A trajetória prosseguiria com livros de contos e romances que sucessivamente tiveram sucesso comercial e marcaram época, entre eles o romance “O caso Morel” (1973), história de uma investigação policial com ingredientes de metalinguagem sobre a própria literatura e sobre a psicopatologia da vida cotidiana, e “Feliz ano novo” (1975), livro com 15 contos sobre personagens do submundo da violência urbana que virou notícia, nas páginas de política e de polícia, ao ser recolhido pela censura da ditadura militar um ano depois do lançamento. “Feliz ano novo” seria finalmente liberado em 1985, com a redemocratização, mas só retornou às livrarias em 1989, após uma longa batalha judicial sob a acusação de que era um livro contrário à moral e aos bons costumes.






A hora de Rubem Fonseca: acima e abaixo,
Rubem Fonseca e García Márquez no México,
em 2003, fotografados por Guillermo Arias




   

  
           
  
 
 
Não foi a única vez que a ditadura militar embargou a literatura de Rubem Fonseca: também foi proibido “O cobrador”, conto que venceu o Concurso Status de Literatura Erótica Brasileira de 1978, promovido pela revista “Status” e escolhido entre mais de dois mil concorrentes pela comissão julgadora formada por Antônio Houaiss, Ferreira Gullar e Gilberto Mansur. A primeira edição do mesmo concurso, em 1976, também resultou na proibição da censura para a publicação do vencedor, um conto de Dalton Trevisan intitulado “Mister Curitiba”. Mas nos anos seguintes às premiações os dois contos proibidos foram publicados: o conto de Dalton Trevisan foi publicado em 1977, no livro “A trombeta do anjo vingador” (Editora Codecri), e “O cobrador” de Rubem Fonseca foi publicado no livro de mesmo título em 1979 pela Editora Nova Fronteira.

Além dos episódios da censura, a ditadura militar coincide com um período obscuro da biografia de Rubem Fonseca que nunca foi totalmente esclarecido: a passagem do escritor como funcionário contratado pelo IPES (Instituto de Pesquisa Econômica e Social), órgão que ofereceu apoio ao golpe de 1964 e ao regime que se seguiu. Criado por empresários na oposição ao presidente João Goulart, a atuação do IPES incluía, entre outras atividades, a produção de propaganda anticomunista. Rubem Fonseca, nas poucas entrevistas em que o assunto foi mencionado, argumentou que somente esteve ligado à ala “democrática” da atuação do instituto e que teria rompido as relações como colaborador logo após o desfecho do golpe militar. Há, entretanto, pesquisadores que contestam a versão apresentada pelo escritor.










A hora de Rubem Fonseca: acima, com
García Márquez no México, em 2003.
Abaixo, Rubem Fonseca encontra a estrela
Carmen Miranda e um amigo em Nova York,
em 1954. Carmen retornava de uma turnê de
shows por países da Europa e Rubem Fonseca,
que na época atuava como comissário de polícia
no Rio de Janeiro, foi premiado com uma
temporada de estudos e aperfeiçoamento
na New York University entre setembro
de 1953 e março de 1954. Também abaixo,
o escritor no Rio de Janeiro em 1976, ano
em que o livro Feliz ano novo foi proibido e
recolhido pela censura sob a acusação de ser
contrário à moral e aos bons costumes













Notícia crua da vida



As estratégias narrativas de estetização da violência explícita nos contos e romances de Rubem Fonseca, com suas doses generosas de teor erótico, de palavrões e de situações criminais de ironia extrema ou humor grotesco, sem perder o olhar sensível para a tragédia humana e para a solidão das grandes cidades, levaram críticos e historiadores da literatura como Antonio Candido a classificá-lo, assim como à literatura de seu contemporâneo João Antônio, na vertente “ultra-realista”, ou de “realismo feroz”, no período posterior a 1960. Em “A educação pela noite e outros ensaios” (Editora Ática, 1987), Antonio Candido destaca que o “ultra-realismo” aparece de maneira brutal, sem preconceitos, quando Rubem Fonseca agride o leitor pela violência dos temas e por determinados recursos da técnica narrativa.

Na análise de Antonio Candido, as questões relacionadas a guerrilha, criminalidade solta, superpopulação, migração das áreas rurais e periféricas para as cidades, marginalidade econômica e social abalam a consciência do escritor e impõem novas necessidades, em ritmo acelerado, na criação literária e também no cinema, no teatro, no livro, no jornal, no que se refere à descrição crua da vida sexual, do palavrão, da crueldade, da obscenidademesmo no contexto brasileiro a partir da década de 1960, dominado pelo regime de exceção da censura e da ditadura militar. O texto literário de Rubem Fonseca, segundo Antonio Candido, “também agride o leitor pela violência, não apenas dos temas, mas dos recursos técnicos – fundindo ser e ato na eficácia de uma fala magistral em primeira pessoa, propondo soluções alternativas na sequência da narração, avançando as fronteiras da literatura no rumo duma espécie de notícia crua da vida”.






A hora de Rubem Fonseca: acima, na
cerimônia de premiação no México, em 2003.
Abaixo, o escritor no Rio de Janeiro em 1987,
durante o processo judicial para tentar a
liberação do livro Feliz ano novo









A força da caracterização e a disposição dos acontecimentos, as frases curtas, diretas, constituindo tramas brutais, quase sempre criminais, de realismo feroz, “ultra-realistas”, com influência evidente das narrativas da cultura das mídias e da linguagem cinematográfica, não demorou a levar a literatura de Rubem Fonseca ao caminho natural das adaptações para cinema e para a TV, algumas delas com roteiro assinado pelo próprio escritor. A estreia no cinema foi com “Lúcia McCartney, uma garota de programa”, filme de 1971 de David Neves com roteiro de Rubem Fonseca baseado nos contos “Lúcia McCartney” e “O caso de F.A.”, com Adriana Prieto como protagonista e Odete Lara de coadjuvante.

Depois de “Lúcia McCartney” foi a vez de chegarem aos cinemas mais dois filmes com roteiro de Rubem Fonseca e direção de Flávio Tambellini. O primeiro foi “Relatório de um homem casado”, de 1974 (baseado em “Relatório de Carlos”, conto do livro “A coleira do cão”), e o segundo “A extorsão”, realizado em 1975 a partir de um argumento criado em conjunto pelo escritor e pelo diretor. O quarto filme adaptado da literatura de Rubem Fonseca viria em 1991, quando Walter Salles dirigiu "A Grande Arte", em co-produção Brasil e Estados Unidos. O roteiro foi escrito por Matthew Chapman, com elenco internacional que inclui o norte-americano Peter Coyote (no papel do personagem advogado e detetive Mandrake, aqui convertido em fotógrafo), o turco Tchéky Karyo, a inglesa Amanda Pays e coadjuvantes latino-americanos e brasileiros.



Versões para cinema e TV



Também foram adaptados para o cinema o romance de 1985 “Bufo & Spallanzani”, lançado nos cinemas em 2001 com direção de Flávio Ramos Tambellini (filho do diretor Flávio Tambellini) e roteiro de Rubem Fonseca; quatro contos para o filme de epísódios “O cobrador”, realizado em 2006 com direção e roteiro do mexicano Paul Leduc, em co-produção de Brasil, Argentina e México, com Lázaro Ramos e Peter Fonda no elenco (os contos adaptados são “O cobrador”, do livro homônimo; Passeio noturno, do livro Feliz ano novoCidade de Deus, do livro Histórias de amor; e Placebo, do livro O buraco na parede); e o romance “O caso Morel”, transformado em filme em 2006 com roteiro de Rubem Fonseca e direção de Sheila Feital. Também têm a assinatura do escritor os roteiros para “Stelinha”, filme de 1990 de Miguel Faria Jr. sobre a ascensão e queda de uma estrela do rádio brasileiro dos anos 1950; e para “O homem do ano”, filme de 2003 adaptado do romance de Patrícia Melo “O matador” (publicado em 1995) e dirigido por José Henrique Fonseca, filho do escritor.






A hora de Rubem Fonseca: acima, na
cerimônia de premiação da Academia

Brasileira de Letras, em 2015. Abaixo,
em viagem pelo interior de Minas Gerais,
em 1997, fotografado pelo
filho Zeca Fonseca













A lista de roteiros originais de Rubem Fonseca para cinema também tem, além dos citados “Relatório de um homem casado” (1974) e “A extorsão” (1975), dirigidos por Flávio Tambellini, o curta-metragem “Sexo & Beethoven” (1980), com direção de Carlos Gerbase e Nelson Nadotti. Há também o caso de “Paseo nocturno” (2007), curta produzido na Espanha com direção de Oriol Rovira e roteiro de Lucas Paraizo inspirado no conto “Passeio noturno”, de “Feliz ano novo”, sobre o relato de um cidadão de bem, pai de família, que decide sair para atropelar pessoas à noite. A mesma trama, em 2008, daria origem a um curta de animação, “Paseo nocturno”, produzido no México com roteiro e direção de Rodrigo Fiallega.

Entre outras colaborações com argumentos autorais criados para diversos projetos, Rubem Fonseca também escreveu os roteiros para adaptações de TV sobre suas obras. O primeiro foi uma versão para um dos contos de Feliz ano novo, Nau Catarineta”, sobre a tradição familiar canibalista de três tias e seu sobrinho, dirigida em 1978 por Antunes Filho para o programa Teleteatro da TV Cultura. Depois foi a vez de colaborar com Euclydes Marinho no roteiro de Mandrake”, história mirabolante do advogado criminalista e mulherengo que está presente em vários momentos da obra do escritor e que estreou na TV em 1983, quando virou um telefilme do Caso Especial da Rede Globo, com direção de Roberto Farias e com Nuno Leal Maia como protagonista.






A hora de Rubem Fonseca: acima, 
o escritor em 2007, lendo trechos de
seus livros durante a Feira Internacional
do Livro de Guadalajara, no México.

Abaixo, Adriana Prieto em cenas de
Lúcia McCartney, uma garota de programa,
filme de 1971 com direção de David Neves
e roteiro de Rubem Fonseca, na primeira
versão de sua literatura para o cinema.
Na primeira imagem, durante as filmagens,
o roteirista Rubem Fonseca orienta a
atriz e a equipe, sob o olhar atento
do diretor David Neves (à direita)






 




Mandrake, o personagem, surgiu em “Dia dos Namorados”, um dos contos reunidos no livro “Feliz ano novo”, de 1975. Depois voltaria em um conto com seu nome, no livro “O cobrador” (1979), no romance “A grande arte” (1983) e na novela “E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto”, publicada em 1997, com o título extraído dos versos iniciais do “Poema do Frade” de Álvares de Azevedo. Em 2005, o personagem iria ressurgir com as histórias publicadas em “Mandrake – a Bíblia e a bengala”, que seriam transformadas em série da HBO em duas temporadas, exibidas entre 2005 e 2007, com Marcos Palmeira no papel principal. A adaptação teve roteiro de Felipe Braga, Tony Belloto e José Henrique Fonseca, que fez também de “Lúcia McCartney” uma série para o canal GNT em 2016.

Foi a terceira adaptação de “Lúcia McCartney”, depois do filme de 1971 de David Neves e do Caso Especial na Rede Globo, em 1994, com roteiro de Geraldo Carneiro e direção de Roberto Talma. Outra adaptação de uma obra de Rubem Fonseca no Caso Especial da Rede Globo foi “A coleira do cão”, em 2001, com roteiro de Antônio Carlos da Fontoura e direção de Roberto Farias. Há ainda Axilas”, filme produzido em 2016 em Portugal com direção e roteiro de José Fonseca e Costa, baseado em “Axilas e outras histórias indecorosas”, livro que Rubem Fonseca publicou em 2011.
 








A hora de Rubem Fonseca: acima, 
Marcos Palmeira em cena na série
Mandrake e José Wilker em cena de
AgostoAbaixo, Peter Coyote é o
fotógrafo na pista de um "serial killer"
pelo submundo carioca em cena de
A grande arte, filme de 1991 com
direção de Walter Salles. Também
abaixo, o cartaz de O cobrador,
filme de 2006 com direção e roteiro
do mexicano Paul Leduc baseado em
quatro contos de Rubem Fonseca, com
Lázaro Ramos e Peter Fonda no elenco










Um zoológico humano



Na literatura de Rubem Fonseca também tem lugar especial os romances com retratos marcantes de personalidades históricas como o ex-presidente Getúlio Vargas (em Agosto”, de 1990); o compositor Carlos Gomes (em “O selvagem da ópera”, de 1994); o escritor ucraniano de origem judaica Isaac Bábel (em “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos”, de 1990, com sua trama que envolve um lendário romance perdido de Bábel); ou o dramaturgo francês Molière (em “O doente Molière”, de 2000). “Agosto” foi adaptado como série pela Rede Globo em 1993, com roteiro de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil e direção de Paulo José, Denise Saraceni e José Henrique Fonseca.
 
Assim como no romance, "Agosto", a série, retrata com licenças ficcionais os acontecimentos históricos que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas no Palácio do Catete em agosto de 1954, época em que o comissário José Rubem Fonseca atuava como funcionário público nos distritos policiais do Rio de Janeiro. A última participação do escritor em uma produção de cinema e TV aconteceu em 2017, também para a Rede Globo, quando seu roteiro original chamado Amor e Morte”, inspirado na história de seus avós, foi adaptado por Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, filha de Rubem Fonseca, para a novela “Tempo de Amar.

As premiações também estiveram sempre presentes na trajetória de Rubem Fonseca. Em 2003 ele recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. Não foi sua única premiação internacional: também em 2003, recebeu das mãos de Gabriel García Márquez o Prêmio Juan Rulfo de Literatura da América Latina e do Caribe, em cerimônia realizada em Guadalajara, no México; e em 1995 foi condecorado na Itália com o Prêmio Literário Giuseppe Acerbi. Em 2005, recebeu o Prêmio Casa de Las Américas, em Cuba, pelo livro de contos "Pequeñas criaturas".
 
Em 2012, mais dois prêmios internacionais: o Prêmio Iberoamericano de Narrativa Manuel Rojas, no Chile, e o Prêmio Literário Casino da Póvoa, em Portugal. Em 2015, recebeu o Prêmio Machado de Assis, maior honraria da Academia Brasileira de Letras. Também recebeu prêmios do Pen Club do Brasil, da Fundação Cultural de Brasília, da Fundação Cultural do Paraná, da Associação Paulista dos Críticos de Arte e da União Brasileira dos Escritores, entre outros, além de vencer por seis vezes a premiação mais tradicional da literatura brasileira, o Prêmio Jabuti: em 1970, com "Lúcia McCartney"; em 1984, com "A grande arte"; em 1996, com "O buraco na parede"; em 2002, com "Secreções, excreções e desatinos"; em 2003, com "Pequenas criaturas"; e em 2014 com "Amálgama".









A hora de Rubem Fonseca: acima, 
o escritor em 2015, fotografado por
Marcelo Carnaval. Abaixo, a capa de
Histórias curtas, publicado em 2015
pela Companhia das Letras








Mineiro de Juiz de Fora, filho de portugueses, avesso a aparições na mídia, ele também representou um marco em minha trajetória autobiográfica: foi com ele a primeira entrevista importante que fiz, e que foi publicada pelo jornal “Tribuna de Minas”, quando eu ainda era aluno do curso de Comunicação Social da UFJF, na década de 1980. Para minha surpresa, o entrevistado era o oposto dos personagens que eu conhecia dos seus livros: tímido, de uma modéstia que até pareceu ironia, mas atento e muito bem-humorado, saboreando trocadilhos, e otimista com os rumos do Brasil e da produção cultural dos brasileiros. Duas décadas depois, em 2004, percebi que o otimismo já estava completamente extinto quando encontrei, no Caderno Mais, da “Folha de S.Paulo”, outra das raras entrevistas do escritor.

Na entrevista de 2004, sob o título “A onipresença da decomposição”, Rubem Fonseca dizia que às vezes se sentia como se estivesse preso em um gigantesco parque de diversões, algo que fosse como um zoológico humano. O entrevistador interrompe para perguntar se isso não era muito “fatalista” e o escritor responde: “Sinceramente não consigo ver saídas no horizonte. Nem no campo político nem no religioso nem no ético nem no artístico. Talvez porque minha visão esteja provisoriamente bloqueada, não sei... Tenho a impressão de que estamos todos meio perdidos, atordoados (…). E o nosso mundo é excessivamente violento, vulgar, feroz até a banalidade. Mas eu nunca quis fazer apologia da violência ou do kitsch. Isso é bobagem de crítico obtuso”.


por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. A hora de Rubem Fonseca. In: Blog Semióticas, 15 de abril de 2020. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2020/04/a-hora-de-rubem-fonseca.html  (acessado em .../.../...).



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Rubem Fonseca -- Obra Completa






Contos e crônicas

    Os prisioneiros” (1963)
    A coleira do cão” (1965)
    Lúcia McCartney” (1967)
    Feliz ano novo” (1975)
    O cobrador” (1979)
    O buraco na parede” (1995)
    A confraria dos espadas” (1998)
    Secreções, excreções e desatinos” (2001)
    Pequenas criaturas” (2002)
    Mandrake, a Bíblia e a bengala” (2005)
    Ela e outras mulheres” (2006)
    O romance morreu” (crônicas, 2007)
    Axilas e outras histórias indecorosas” (2011)
    Histórias de amor” (2012)
    Amálgama” (2013)
    Histórias curtas” (2015)
    Calibre 22” (2017)
    Carne crua” (2018)

Romances


    O caso Morel” (1973)
    A grande arte” (1983)
    Bufo & Spallanzani” (1985)
    Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” (1988)
    Agosto” (1990)
    O selvagem da ópera” (1994)
    Diário de um fescenino” (2003)
    José” (2011)

Novelas


    E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto” (1997)
    O doente Molière” (2000)
    O seminarista” (2009)

Antologias


    O homem de fevereiro ou março” (1973)
    Romance negro e outras histórias” (1992)
    Contos reunidos” (1994)
    64 Contos de Rubem Fonseca” (2004)
    O melhor de Rubem Fonseca” (2015)






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