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16 de outubro de 2012

Lista vermelha da extinção







Provavelmente todos os seres orgânicos que já viveram
nesta terra descenderam de uma única forma primordial,
na qual a vida foi primeiramente soprada pelo Criador.

–– Charles Darwin, "A origem das espécies" (1859).  



O aumento do desmatamento na Amazônia colocou mais de 200 espécies e subespécies de animais e pássaros em risco maior de extinção, segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês). Os dados pessimistas, que fazem parte do relatório de atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas em todo o planeta, foram apresentados em Hyderabad, na Índia, onde aconteceu a 11ª Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP11), megaevento que reuniu Chefes de Estado e ministros de 170 países, incluindo o Brasil, para avaliar o progresso em direção às metas para proteger a vida na Terra.

Entre os relatórios internacionais impactantes apresentados em Hyderabad está a lista de espécies declaradas oficialmente extintas neste começo de século e de milênio. São 10 espécies, incluindo dois pássaros da Amazônia brasileira, o João-de-barba-grisalha (Synallaxis kollari) e o Chororó-do-rio-branco (Cercomacra carbonaria), e o lendário Demônio da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). A única esperança para evitar a completa extinção é que, pelo fato de terem sumido da natureza há pouco tempo, alguns espécimes possam ter sobrevivido em zoológicos, centros de pesquisa ou locais ermos pelo mundo afora.

A conferência das Nações Unidas, concebida para proteger os recursos naturais do planeta, começou com o impacto das listas de espécies em extinção e muitos apelos para assegurar que a biodiversidade não se torne uma vítima da crise financeira global. Segundo a Agência Brasil, os delegados brasileiros e de outros países que participam da reunião de cúpula da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos tratados resultantes da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, alertam que o mundo tem apenas uma década para evitar uma extinção generalizada das espécies, que também representa uma ameaça real e terrível para a Humanidade.









Lista vermelha da extinção: no alto,
nativos do Zimbawe, na África, posam
com um crocodilo gigante caçado pela
tribo no início de 2012 (AP Photo).
Acima, registro de queimada em setembro
de 2012 na Amazônia e mais um massacre
que tem se tornado corriqueiro: uma
carga clandestina de mais de 400 filhotes
de papagaios de uma subespécie
desconhecida, a maior parte morta
durante 
a viagem, apreendida pela
polícia em 
outubro de 2012 em um
veículo no 
interior de São Paulo.

Abaixo, uma 
revoada de periquitos
na Amazônia 
fotografada em janeiro
de 2012 por 
Tim Laman para a edição
internacional 
da revista National Geographic.
Também 
abaixo, uma estatística recente
publicada pela União Internacional para a
Conservação da Natureza (em inglês, IUCN) 






.   





Os números, compilados a cada quatro anos pela União Internacional pela Conservação da Natureza, são impressionantes: quase a metade das espécies de anfíbios, um terço dos corais, um quarto dos mamíferos, um quinto de todas as plantas e 13% das aves do planeta correm risco de extinção, segundo a “Lista Vermelha” das espécies ameaçadas. A relação incluiu 402 espécies na categoria "ameaçado de extinção", totalizando 20.219. A lista completa tem 65.518 espécies, considerando outras categorias, como "quase ameaçado" e "extinto".

A última conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), celebrada em Nagoya, no Japão, havia adotado em 2010 um plano mundial para reverter a perda da biodiversidade até 2020. Mas, desde então, tem sido difícil para os comitês e emissários da ONU levantar centenas de bilhões de dólares necessários para financiamentos. Especialmente nos dias atuais, em que os países desenvolvidos estão às voltas com quadros de crise econômica.



Criticamente ameaçados



Entre as muitas espécies da Amazônia incluídas na “lista vermelha” está o Chororó-do-rio-branco (Cercomacra carbonaria), marcado como “próximo da extinção”. De acordo com a associação internacional BirdLife, a espécie ocupa áreas muito pequenas entre o Brasil e a Guiana. As maiores ameaças são a construção de novas estradas em seus habitats para servir à economia de gado e soja. De acordo com projeções atuais, estes habitats terão desaparecido completamente em 20 anos.

O BirdLife também rebaixou o João-de-barba-grisalha (Synallaxis kollari), da mesma região de Rio Branco, na Amazônia, de “ameaçado” para “criticamente ameaçado.” A organização afirma que o pássaro tem apenas 206 quilômetros quadrados de habitat adequado e eles podem encolher 83,5% nos próximos 11 anos. O relatório culpa o enfraquecimento do Código Florestal do Brasil pela taxa de desflorestamento na Amazônia e em todo o território brasileiro.









Dois pássaros brasileiros na
lista vermelha criada pelo
BirdLife, que indica situação
irreversível de extinção. Acima, o
Chororó-do-rio-branco. No alto,
João-de-barba-grisalha. Abaixo,
um flagrante feito pelo fotógrafo
Chico Ribeiro sobre a destruição e o
impacto do criminoso Agronegócio
para exportação nas áreas do Pantanal,
na região centro-oeste do Brasil, que
perdeu mais de 75% de suas águas
e suas nascentes nos últimos anos











A “lista vermelha” do BirdLife cobre mais de 10 mil espécies de pássaros no mundo, 197 dos quais aparecem como “criticamente ameaçadas”. Além disso, 389 aparecem como ameaçadas, 727 como vulneráveis e 800 como “quase ameaçadas”. Apenas uma espécie da lista melhorou sua condição na atualização: um dos pássaros mais raros do mundo, o Pomarea (Pomarea dimidiata), avançou de “ameaçado” para “vulnerável”. Endêmico nas Ilhas Cook, no Pacífico Sul, tinha apenas 35 indivíduos em 1983. Esforços de conservação, incluindo programas de criação em cativeiro e remoção de predadores, aumentaram a população para 380 indivíduos.



Origem das espécies



Na época em que o termo "ecologia" foi descrito pelo biólogo alemão Ernst Haeckel (1834–1919) no seu livro “Generelle Morphologie der Organismen” (1866), para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, o mundo natural considerado estático e sem mudanças desde a criação original já havia sido questionado pelo estudo genial do naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809–1882). A teoria de Darwin ainda hoje soa como revolucionária, mas ele conseguiu convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução ao reunir algumas hipóteses para explicar seu raciocínio sobre como o processo aconteceu durante milhares de milhões de anos. Segundo Darwin, a evolução, ao passo da seleção natural, deu origem à diversidade de espécies vegetais e animais pelos quatro cantos do planeta Terra.







Charles Darwin e o percurso da viagem
 de pesquisa no século 19, a bordo do barco
inglês HMS Beagle. Abaixo, iguana no
parque dedicado à memória de
Charles Darwin nas Ilhas Galápagos,
no Oceano Pacífico, território do
Equador, fotografada por David Braun










Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies” (em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), Darwin introduziu ideias que, em sua época e no século seguinte, levariam a comunidade científica a perceber que as novas descobertas do naturalista acabavam com a importante distinção entre homem e animais. Em paralelo a outras revoluções científicas em curso em seu tempo, o naturalista inglês marcou um capítulo dos mais fundamentais na civilização contemporânea.

Mais de 150 anos depois da publicação dos estudos revolucionários de Darwin, a lista atualizada de animais definitivamente extintos coloca em evidência o maior desafio que se impõe em nossos dias à espécie humana: a preservação da vida no planeta Terra. A lista de animais e plantas ameaçados de extinção é extensa e potencialmente infinita, ainda que mídia e opinião pública concentrem alguma referência somente em baleias, ursos polares e pandas. Veja, na listagem abaixo, alguns tristes registros de espécies que entraram para a “lista vermelha” da extinção.



Extintos no século 20







Rinoceronte Negro   Subespécie que teve por habitat Camarões, na África Ocidental, o Rinoceronte Negro Africano (Diceros bicornis longipes) foi oficialmente declarado extinto em 2011. O motivo: caça implacável para a venda de seus chifres no mercado negro. Aos chifres são atribuídas propriedades terapêuticas e afrodisíacas, embora não haja comprovação científica.







Tartaruga Gigante de Galápagos   Última das tartarugas gigantes (subespécie Chelonoidis nigra abingdon) que dão nome às Ilhas Galápagos, do Equador, o mundialmente famoso Jorge Solitário morreu em junho de 2012, aos 100 anos de idade. Outras espécies de tartaruga da ilha também estão sob risco, devido à baixa taxa de crescimento da população, a maturidade sexual tardia e o endemismo da espécie.

 







Tigres ou Lobos da Tasmânia em
fotografias do Zoológico de Hobart,
Austrália, datadas da década de
1930. Acima, exemplar mumificado 
atualmente em exibição na
Universidade de Sidney



Tigre da Tasmânia –  Nativo da Austrália e da Nova Guiné, o Tilacino (Thylacinus
cynocephalus), mas conhecido como Tigre ou Lobo da Tasmânia (não confundir
com o Diabo da Tasmânia ou Demônio da Tasmânia, animal feroz retratado como
Taz no desenho animado da TV, que é parente dos ursos e que também está ameaçado de extinção) é considerado o maior marsupial conhecido dos tempos modernos. Foi extinto pela ação indiscriminada de caçadores e perda de habitat devido à ocupação humana. O animal tinha locomoção firme e um tanto esquisita, impossibilitando-o de correr em alta velocidade. Podia também realizar um salto bípede, de uma forma similar à do canguru. Os últimos exemplares morreram no Zoológico de Hobart, na Austrália, em 1936, mas apesar de ser oficialmente classificado como extinto, ainda há relatos de avistamentos em áreas mais
isoladas da Austrália.







Bucardo –  A subespécie de cabra Bucardo (Capra pyrenaicatem) tem uma das histórias mais interessantes entre os animais extintos, uma vez que foi a primeira espécie a ser “ressuscitada” por meio de clonagem, em 2003, morrendo apenas sete minutos depois de seu nascimento por insuficiência pulmonar. Era natural da cordilheira dos Pireneus, entre Andorra, França e Espanha. Sua população foi reduzida devido a uma perseguição lenta, mas contínua. No final da década de 1980, a população foi estimada entre 6 e 14 indivíduos. O último a nascer naturalmente morreu em 6 de janeiro de 2000, aos 13 anos.






Pardal Marinho  –  Subespécie não migratória encontrada no sul da Flórida, nas salinas naturais de Merritt Island e ao longo do rio St. Johns. O último Pardal Marinho (Ammodramus maritimus nigrescens) morreu em 17 de junho de 1987, mas só em 1990 o animal foi declarado oficialmente extinto. A população começou a declinar em 1940, quando as autoridades locais passaram a pulverizar a região pantanosa com pesticida, para controle dos mosquitos. O veneno contaminou a cadeia alimentar das aves, que gradativamente entraram em extinção.







Foca-monge do Caribe  –  Espécie descoberta por Cristóvão Colombo em sua segunda viagem à América, em 1494, a Foca-monge do Caribe foi declarada oficialmente extinta em 1952. Sobre ela escreveu Colombo: “Descobri um tipo maravilhoso de foca. São médias, tímidas e aparentemente têm boa pele, o que dá pra fazer casacos”. Daí em diante, o animal foi explorado como fonte de alimento (sua banha também era usada para iluminação e lubrificação) e para o comércio de peles. Desapareceu completamente a partir de 1952.







Huias  –  Nativas da Nova Zelândia, essas aves de plumagem preta, com a ponta das asas e cauda branca, papos laterais de cor laranja, foram extintas pela caça desenfreada. O exotismo das Huias (as fêmeas tinham bicos longos e curvados enquanto nos machos eles eram radicalmente curtos) e de outras espécies locais levaram os exploradores britânicos a fomentar a crença de que toda a flora e a fauna da colônia neozelandesa eram ruins e deveriam ser substituídas por variedades dos países europeus. O último registro visual confirmado de uma Huia ocorreu no final da década de 1970. 










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Caça ao tigre: lazer e aventura
para a "nobreza" e a aristocracia
da Europa, em suas viagens pelas
colônias do Oriente, foi uma prática
incentivada e celebrada desde
meados do século 19







Tigres de Java  –  Subespécie imponente, o maior dos felinos vivia na ilha de Java, na Indonésia. No início do século 19, eram tão temidos que tornaram a ilha um tabu para navegadores e colonizadores do Ocidente. Com o aumento da população humana e com queimadas fora de controle, a maior parte da ilha tornou-se área de cultivo, resultando em uma redução grave no habitat natural dos animais. Para se livrar do perigo, os homens caçavam os tigres. Os safáris de matanças, com o passar do tempo, seriam transformados em programa requintado de lazer e aventura para a aristocracia da Europa na ilha e nas demais colônias do Oriente. O último Tigre de Java foi caçado e morto no final do ano de 1972.


por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Lista vermelha da extinção. In: Blog Semióticas, 16 de outubro de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/10/lista-vermelha-da-extincao.html (acessado em .../.../...).











11 de julho de 2012

Gênesis por Sebastião Salgado





Fotografia é uma coisa tangível.
Você captura, você olha para ela.
É algo semelhante à memória.

Sebastião Salgado.   



Tive a sorte de entrevistar Sebastião Salgado para um jornal de Belo Horizonte quando uma exposição, com as primeiras imagens que ele havia produzido para o projeto Gênesis, iria ser aberta no Museu de Artes e Ofícios. Era outubro de 2006 e, ao receber a encomenda da pauta para iniciar a reportagem, comemorei a oportunidade de falar com o fotógrafo que sempre admirei. Os primeiros contatos com as assessorias, entretanto, não foram nada animadores: informaram que ele estava apenas de passagem pelo Brasil, que não havia previsão para entrevistas, que a agenda estava completa e que Sebastião Salgado não viria a BH para a abertura da exposição.

Depois de várias tentativas sem resultado, decidi recorrer a um caminho dos mais prosaicos. Naquela época eu também trabalhava como professor em uma faculdade na cidade de Congonhas e uma aluna me disse que era afilhada de batismo de Lélia Wanick Salgado, esposa do fotógrafo. Comentei com a aluna sobre a dificuldade para conseguir a entrevista e, dias depois, quando eu finalmente estava para desistir da pauta, ela me passou um telefone de contato com Lélia e Sebastião Salgado em São Paulo. Liguei e falei com uma secretária sobre o pedido de entrevista, expliquei que ele poderia responder por e-mail.

Para minha surpresa, a secretária pediu que eu aguardasse na linha e, depois de poucos minutos, o próprio Sebastião Salgado estava ao telefone. Ele atendeu e foi muito gentil, mas antes de tudo fez uma ressalva: a entrevista teria que ser muito breve, brevíssima, porque ele estava esperando o carro que o levaria ao aeroporto. Conversamos durante mais ou menos 15 ou 20 minutos, com o entrevistado sem demonstrar pressa ou qualquer desatenção. Confira um trecho da entrevista:









Pergunta – Como foi que Sebastião Salgado descobriu a fotografia?

Sebastião Salgado –
Foi completamente por acaso. Na época, no final da década de 1960, eu e minha esposa, que é arquiteta, vivíamos em Paris e estávamos impedidos de retornar ao Brasil por muitos anos por razões políticas, porque participávamos dos movimentos de esquerda contra a ditadura militar. Minha esposa comprou uma câmera Leica para tirar fotos de edifícios e, como eu sempre acompanhava o trabalho dela, comecei a olhar através da lente. Foi aí que a fotografia começou a invadir minha vida. Quando terminei meu doutorado em Economia, abandonei tudo para dedicar mais tempo a meus filhos, Juliano, que nasceu em 1974, e Rodrigo, que nasceu em 1979 e tem Síndrome de Down. Desde então comecei uma nova vida como fotógrafo, primeiro na Organização Internacional do Café, em Londres, entre 1971 e 1973, e depois nas agências internacionais Sygma, Gamma e Magnum. Mais tarde, em 1994, criei minha própria estrutura como agência, a Amazon Images. Isso ainda é minha vida até hoje.

Nossa época testemunha a passagem do equipamento analógico para as mídias digitais. As novas tecnologias da imagem, na sua avaliação, trouxeram mais qualidade para a fotografia?
 

Eu fotografei com rolos de filme por muitos anos, mas agora que estou começando a trabalhar com equipamento digital, percebo que a diferença é enorme. A qualidade é inacreditável: eu não uso flash e com o equipamento digital posso até mesmo trabalhar em condições de luz muito ruins. Além disso, é um alívio não perder mais as fotografias para máquinas de Raio-X nos aeroportos.




 


Imagens de Sebastião Salgado para
o projeto Gênesis: no alto, pescaria da
tribo Waurá na laguna chamada Piulaga,
na Amazônia. Acima, ritual dos Waurá
durante o Kuarup. Abaixo, uma índia
da tribo dos Waurá amamenta a filha








Qual dos mestres da fotografia mais influencia seu trabalho?

Todos eles (risos). Mas quando eu estava começando, tive a incrível sorte de conhecer Henri Cartier-Bresson em Paris. Lembro até hoje das palavras dele, quando o encontrei, já muito velhinho, dizendo que era preciso confiar nos meus instintos mais sutis para fazer um trabalho que tivesse algum valor além do registro banal. Acho que foi a principal lição que já ouvi em toda a minha vida. Comentei isso em outra entrevista, porque aquela lição mudou minha compreensão sobre a fotografia, mudou minha compreensão sobre o mundo, me fez entender coisas muito complexas e muito profundas. Fotografia é uma coisa tangível. Você captura, você olha para ela. É algo semelhante à memória, com toda a complexidade e toda a profundidade de nossa memória.

Tem algum projeto agendado para depois da série Gênesis?

Nos próximos anos, pretendo me dedicar a este projeto para que ele esteja completo e tenha um certo alcance. O que está agora em exposição é apenas uma pequena parte dele, uma prévia, com as fotografias que eu tinha feito em Galápagos, no Virunga, que é um parque nacional entre o Congo, Uganda e Ruanda, e a Península Valdes, na Argentina. O Gênesis surgiu há uns dois anos e tem como objetivo, principalmente, despertar a atenção das pessoas para conceitos de biodiversidade, de sociodiversidade e do papel que todos nós devemos ter na conservação ambiental. Metade do planeta Terra ainda está intacta e pretendo me dedicar através da fotografia para mostrar a parte que a ação do homem ainda não destruiu. Acredito que podemos compreender o que ainda é possível preservar.

O que Sebastião Salgado ainda não fez, mas pretende fazer? 
 
Pretendo continuar o trabalho que venho desenvolvendo. Devemos estar todos cientes de que o planeta está passando por uma situação limite, uma situação muito grave que ninguém pode ignorar. O homem já destruiu mais da metade do nosso planeta e não pode seguir nesta depredação brutal. Se eu puder contribuir com uma pequena parte para a preservação, se eu puder tocar o coração das pessoas, meu objetivo terá sido alcançado. Talvez este seja meu último longo projeto, mas não tenho do que reclamar. Muito pelo contrário. Tenho vivido uma vida extremamente privilegiada. Visitei mais de 120 países, vi muitas pessoas diferentes, vi coisas maravilhosas e coisas terríveis.














Gênesis por Sebastião Salgado:
no alto, o fotógrafo em ação na
África, fotografado por seu filho,
Juliano Salgado. Acima, campo
de gado da tribo Dinka, no sul do
Sudão; e guerreiro Dinka com a
pele coberta de cinzas para proteção
contra os insetos e parasitas.

Abaixo, Sebastião Salgado em visita
ao povo indígena Zoé, a noroeste do
Pará, na região da floresta amazônica,
fotografado por Juliano Salgado; e mulheres
do povo Zoé nas cachoeira dos rio Erepecuru,
na região de Oriximiná. Também abaixo,
mulher da tribo Himba, na Namíbia,
África; e Salgado fotografado por sua
esposa, Lélia Wanick, em 2005,
também na Namíbia, durante as
expedições do projeto Gênesis











.



.

 


O sal da terra


Passados alguns anos desde daquela entrevista por telefone, encontro uma notícia publicada em destaque no jornal inglês “The Guardian” sobre a próxima exposição de Sebastião Salgado e nomeando o brasileiro como um dos nomes mais importantes da fotografia contemporânea. A exposição terá uma seleção de imagens inéditas registradas desde o início do projeto Gênesis, em 2004, no qual o fotógrafo desvia seu olhar da temática que o consagrou – a condição humana em meio às desigualdades sociais – para apresentar lugares e comunidades que ainda não foram tocadas pela mão do homem ocidental. A exposição está agendada para ter sua primeira apresentação no Museu de História Natural de Londres.

Segundo a reportagem do “The Guardian”, além da abertura da exposição em Londres, também estão anunciados um roteiro internacional da mostra por vários, incluindo o Brasil, o lançamento do catálogo em versões brochura e de luxo pela editora Taschen sobre o trabalho de Sebastião Salgado no projeto Gênesis, com os registros fotográficos que também estarão na exposição, e ainda a produção do documentário “O Sal da Terra" (The Salt of Earth), filme dirigido pelo alemão Wim Wenders, que contará com a colaboração de Juliano Salgado, filho do fotógrafo. O documentário de Wenders sobre Salgado tem previsão para estrear nos cinemas em 2014.








Gênesis por Sebastião Salgado:
no alto, imagens do Alto Xingu, na
Amazônia, com chefe guerreiro da
tribo Kuikuro; e a família do xamã
Takara Kamayura. Abaixo, menina
no ritual da oca: depois de um ano
em reclusão, por causa da primeira
menstruação, ela se prepara para
entrar no mundo e casar; e Sebastião
Salgado na abertura da exposição
do projeto Gênesis em Londres,
em frente à fotografia dos xamãs
do Alto Xingu, fotografado
por Don Wong









Dividido em quatro blocos, intitulados “Criação”, “Arca de Noé”, “Homem Antigo” e “Sociedade Antiga", o projeto Gênesis, que tem financiamento da Unesco, apresenta para o mundo as paisagens naturais mais preservadas e distantes da interferência humana. O objetivo, anunciado por Sebastião Salgado já naquela entrevista em 2006, é registrar os últimos cenários intocados do planeta Terra e o modo de vida de tribos e comunidades que preservam suas tradições ancestrais.

Desde 2004, Sebastião Salgado já percorreu lugares ermos em territórios dos cinco continentes, com especial interesse em regiões como Sudão, Namíbia, Patagônia, Antártica, Indonésia, Cazaquistão e Brasil, onde o fotógrafo passou uma temporada no Pará acompanhando a vida cotidiana da tribo Zo'e. No site do “The Guardian” estão disponíveis imagens do projeto Gênesis e um vídeo que mostra o trabalho do fotógrafo durante a temporada com os índios no Pará. Além do “The Guardian”, imagens do projeto Gênesis também foram publicadas desde 2004 na França (“Paris Match”), Estados Unidos (“Rolling Stone”), Espanha (“La Vanguardia”), Portugal (“Visão”), Itália (“La Repubblica”) e por várias agências internacionais de notícias. 









Projeto Gênesis: a partir do alto, nativo
caçando pássaros no Deserto de Kalahari,
no sul da África; moradores do Vale de
Lalibela, na Etiópia, África; e uma grande
manada de búfalos selvagens no Kafue,
território de Zâmbia, também na África.
Abaixo, o cartaz original da exposição






  


Apontado como um dos mais premiados e respeitados fotojornalistas da atualidade, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior é mineiro da cidade de Aimorés, nascido no dia 8 de fevereiro de 1944. Formado em Economia, trabalhava na Organização Internacional do Café até 1973, quando decidiu se dedicar integralmente à fotografia. Depois da publicação de seus primeiros trabalhos, foi contratado pelas agências de fotografia Sygma e Gamma. Em 1979, entrou para a Agência Magnum e dois anos depois foi pautado para uma série de fotos nos EUA sobre os primeiros 100 dias do governo de Ronald Reagan.

Até que aconteceu o imponderável da sorte: acompanhando a comitiva do presidente em Washington, na tarde do dia 30 de março de 1981, Salgado foi o único fotógrafo a registrar o atentado a tiros sofrido por Reagan. A venda daquelas fotos para jornais e revistas do mundo inteiro permitiu ao fotógrafo financiar seus primeiros projetos pessoais de viagens pelos locais mais remotos do planeta. Em 1994, abriu sua própria agência, a Amazonas Images. 









Sebastião Salgado presenteia o
presidente Lula com o catálogo
Trabalhadores, em outubro de 2006.
No alto, as fotos de Salgado na cena do
atentado contra o então presidente dos EUA,
Ronald Reagan, publicadas no Brasil
pela extinta revista Manchete em 1981.

Abaixo, o encontro de Sebastião
Salgado (e seu filho Juliano, à esquerda)
com o povo Zoé e no encontro com
uma tribo da Indonésia, em fotografias
de sua esposa Lélia Wanick Salgado.
Também abaixo, Sebastião Salgado e
Lélia em dois autorretratos em
Paris na década de 1970


















Desde então, Sebastião Salgado tornou-se embaixador do UNICEF, criou em sua terra natal (a fazenda Bulcão, em Aimorés) uma reserva ambiental como sede do Instituto Terra, gerenciado por ele e por sua esposa, e publicou vários livros com seleções de suas fotografias, sempre com imagens em preto e branco que denunciam a violação dos direitos humanos em meio a situações de guerra, de pobreza e de outras injustiças. Entre seus livros de fotografias, sempre lançados em parcerias com instituições humanitárias e com exposições internacionais itinerantes, estão “Trabalhadores” (1996), “Terra” (1997), “Serra Pelada” (1999), “Êxodos” (2000), "O Fim da Pólio" (2003) e “África” (2007). Na introdução de “Êxodos”, Sebastião Salgado escreveu:

"Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes no mundo inteiro. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas. Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma.”


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Gênesis por Sebastião Salgado. In: Blog Semióticas, 11 de julho de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/07/genesis-por-sebastiao-salgado.html (acessado em .../.../...).



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Gênesis: a partir do alto, nativo da tribo
Yali em caçada nas montanhas Jayawijaya
de Irian Jaya, na Papua Ocidental, Indonésia;
o refúgio da vida selvagem no extremo norte
do Alaska; pinguins Chinstrap que vivem
sobre icebergs nas Ilhas Sandwich do Sul,
Antártica; uma menina no ritual do peixe
sagrado, no Alto Xingu, Amazônia; e o
detalhe da pata de um lagarto nas
Ilhas Galápagos, Equador



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