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7 de maio de 2012

Saudades da Amélia





Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
diz o dito popular: morre o homem, fica a fama.

–– Ataulfo Alves, “Na cadência do samba”.
 





Meses antes do centenário, foram anunciados projetos milionários e ambiciosos, com captação de recursos através das leis de incentivo, para a realização de exposições multimídia que viajariam pelas capitais, documentários de longa-metragem, musicais reunindo elenco de estrelas. Mas passou o tempo, quase nada se concretizou e o centenário do cantor e compositor Ataulfo Alves (1909-1969) passou em brancas nuvens.

De concreto houve apenas o lançamento de um CD pela Lua Music, com novas versões de seus grandes sucessos, um programa da TV Globo exibido de madrugada, a biografia escrita pelo jornalista Sérgio Cabral e uma ou outra matéria em jornais e revistas. Na pequena Miraí, na Zona da Mata de Minas Gerais, terra natal de Ataulfo, imortalizada nos versos de “Meus tempos de criança”, a instalação de uma estátua, uma missa e um mausoléu humilde aberto no cemitério foram as homenagens que a cidade prestou a seu filho mais ilustre.

Os tímidos tributos foram muito pouco diante da importância de Ataulfo – personalidade que o compositor e historiador do samba Nei Lopes, autor de “Zé Kéti: O Samba sem Senhor” (Relume Dumará, 2000) e “Partido-Alto, Samba de Bamba” (editora Pallas, 2005), classifica como “um dos pilares sobre os quais se ergueu a música popular brasileira”. Nascido no dia 2 de maio de 1909, Ataulfo escreveu 320 canções e foi gravado pelos grandes da música no Brasil desde a década de 1930.









No alto, Ataulfo Alves e suas pastoras em
foto promocional da década de 1940; acima,
estátua em homenagem ao compositor na praça
central da cidade de Miraí, em Minas Gerais.

Abaixo, Ataulfo em 1944 com Olga, Marilu
e Alda, a primeira formação do grupo
Ataulfo Alves e suas Pastoras, e
fotografado para a revista O Cruzeiro
na década de 1960










Um dos raros contratados pela Rádio Nacional durante 30 anos, até sua morte em 20 de maio de 1969, Ataulfo também foi um dos fundadores e principais expoentes da União Brasileira de Compositores (UBC), forte sociedade de direitos autorais, precursora do famigerado ECAD. Sérgio Cabral, que no final do ano do centenário lançou a biografia intitulada "Ataulfo Alves – Vida e Obra" (Editora Lazuli), destaca que ele foi o primeiro negro a fazer sucesso como cantor no Brasil, com a gravação de “Leva meu samba”, lançada em 1941.

Ataulfo foi um dos maiores colecionadores de sucessos que marcaram época na música brasileira e que sobrevivem até hoje no imaginário popular”, apontou Cabral na entrevista que fiz com ele por telefone, em março de 2010. “Acho importante reconhecer que Ataulfo foi um pioneiro em várias frentes. Basta dizer que, com 'Leva meu samba' e principalmente com 'Amélia', parceria com Mário Lago, ele foi o primeiro negro a fazer sucesso como cantor no Brasil. Conheci bem o Ataulfo, convivi com ele. Era um sujeito consciente do que representava ser negro e fazer sucesso e administrava muito bem o ranço racista que era muito forte”. 

 







O mais elegante



Cabral também lembrou que Ataulfo Alves fazia questão de se destacar pela elegância e prezava a amizade de políticos. “Ele causou frisson quando apareceu pela primeira vez na lista dos mais elegantes da coluna do Ibrahim Sued. E mais ainda quando foi eleito o mais elegante, em 1961. Um destaque merecido. Ataulfo era a elegância em pessoa. Foi difícil chegar onde ele chegou, mas ele enfrentou e venceu. No começo da carreira ele tinha apenas um terno, que sua esposa, Dona Judite, lavava de noite para ele usar novamente no dia seguinte”.

A trajetória de Ataulfo ajudou muitos outros a superar muitas barreiras, segundo Cabral. “Mas no fundo ele era um ingênuo, que não tirava proveito das situações e que sempre preferia a conciliação. Ele tinha muito orgulho de ser um artista que prezava da amizade de políticos do primeiro escalão, gente poderosa como Getúlio Vargas e mais tarde Juscelino Kubitschek, entre muitos outros”. Pergunto sobre os motivos da demora do livro, que só foi publicado 40 anos depois da morte do compositor.







Não, não foi uma demora. Na verdade o Ataulfo não precisava de mim”, ironizou Cabral. “Ele foi bem-sucedido, desfilava de Cadillac, teve seu merecido destaque. E eu desde aquela época dei mais importância aos sambistas mais marginalizados, Ismael Silva, Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti. Hoje a coisa se inverteu e todos comemoram os sambas de Cartola e Nelson Cavaquinho. O que estas poucas homenagens no centenário do Ataulfo provaram é que ele está injustamente esquecido”, completou.

No livro, Cabral resgata histórias saborosas – entre elas a gênese de “Amélia”: o que se sabe é que Mário Lago (foto abaixo) ficou irritado porque Ataulfo mexeu muito na letra e na estrutura da canção e decidiu que não iria mais assinar a autorização para que ela fosse gravada. Depois da insistência, Lago pediu um adiantamento no pagamento do direito autoral e Ataulfo, para conseguir o dinheiro e a autorização, transferiu os direitos sobre “Amélia” para a gravadora Vitale. Resultado: sua música de maior sucesso foi a que lhe rendeu os menores direitos autorais.







E mais: às vésperas do carnaval de 1942, os três cantores convidados, Cyro Monteiro, Orlando Silva e Moreira da Silva, se recusaram a gravar. Moreira da Silva chegou a declarar que “Amélia” não era um samba, que parecia mais com uma marcha fúnebre. Ataulfo enfrentou o desafio e gravou ele mesmo a canção – que emplacou como o grande sucesso daquele carnaval e permanece até hoje em destaque no cancioneiro da MPB. Tanto que o nome Amélia foi registrado no dicionário “Aurélio” como sinônimo de "mulher que aceita toda sorte de privações e vexames sem reclamar, por amor a seu homem".



Batucada de bamba




Ataulfo morreu em 1969, mas as novas versões para seus antigos sucessos retornam sempre na voz dos mais variados intérpretes, de Beth Carvalho e Martinho da Vila a Maria Bethânia, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, passando por Novos Baianos e Cássia Eller – sem contar Itamar Assumpção e a banda Isca de Polícia, que fizeram em 1995 um dos mais inspirados tributos a Ataulfo: o CD e a série de shows intitulados “Pra Sempre Agora”. Lançado pela Paradoxx, o CD recriou 20 canções de Ataulfo e conquistou o prêmio de melhor do ano pela APCA.

 
 






Foi ouvindo “Ai, que saudade da Amélia” e outras releituras do repertório do mestre da velha guarda, no carnaval de 2009, que o produtor musical Thiago Marques Luiz tomou a decisão de abraçar um projeto que acabaria por consumir meses de trabalho exaustivo: produzir um disco que reunisse, em gravações inéditas, artistas de diferentes gerações e estilos para novas versões em homenagem a Ataulfo Alves.

O projeto idealizado por Thiago buscava, principalmente, novas abordagens para os sucessos do compositor – clássicos tantas vezes regravados como “Na cadência do samba”, “Pois é”, “Meus tempos de criança”, “Laranja madura”, “Mulata assanhada” e “Você passa, eu acho graça”, entre muitos outros, que marcaram época, desde a década de 1930, na voz de reis e rainhas do rádio e nas releituras mais recentes.







Com ajuda do também produtor e pesquisador Marcelo Fróes, que cedeu a maior parte da extensa discografia de Ataulfo, incluindo uma coleção de antigos LPs, Thiago mergulhou na pesquisa sobre a trajetória das cerca de 320 composições do criador de “Ai, que saudades da Amélia”. Em seguida, iniciou uma investida por e-mail para pedir sugestões a jornalistas e críticos de música sobre o repertório e os artistas que pudessem gravar as novas versões.

"Deu muito trabalho, mas acredito que estas novas gravações conseguem dimensionar um panorama representativo do Ataulfo, tão importante e sempre esquecido quando se fala dos maiores da música popular no Brasil", aponta Thiago. O resultado do empenho do produtor e dos demais técnicos e artistas envolvidos no projeto chegou às lojas no apagar das luzes do ano do centenário: "Ataulfo Alves – 100 Anos", lançado pela Lua Music em box com dois CDs.








O projeto coordenado por Thiago reúne gravações inéditas e inspiradas de nomes tradicionais – Elza Soares, Alaíde Costa, Germano Mathias, Ângela Ro Ro, Zezé Motta, Maria Alcina, Luiz Melodia, Luiz Ayrão... – e expoentes da nova geração da MPB, incluindo as participações especiais de dois filhos do compositor, Ataulpho Alves Jr. e Adeílton Alves. Todos tiveram total liberdade para recriar as canções, garante o produtor, lembrando que interferiu o mínimo possível para preservar a interpretação de cada um.
 


Uma música atemporal



"Alguns convidados trouxeram sua própria banda", destaca Thiago, sem poupar elogios aos 140 músicos e artistas envolvidos na produção das 34 canções selecionadas. Desde o lançamento dos CDs, o produtor conseguiu reunir a maior parte dos artistas em alguns shows que aconteceram em São Paulo. "O público conhece de cor todas as músicas, mas sabe pouco sobre Ataulfo. A música dele é atemporal e ouso dizer que fica bem em qualquer versão", reconhece o produtor.








"Daqui a 100 anos não estaremos vivos, mas aposto que haverá novas e novas redescobertas e releituras destas canções tão especiais que emocionam todo mundo". Thiago concorda que as comemorações do centenário do compositor ficaram muito aquém do merecido. "Aconteceram os shows, lançamos os CDs, o Sérgio Cabral publicou a biografia. Mas é pouco para a importância do Ataulfo e para o valor que ele representa na música e na cultura do Brasil".

O produtor também lamenta não ter conseguido concretizar o sonho de levar a Miraí o show com os artistas reunidos nos CDs do projeto "100 Anos". Mas ele diz que ainda não descartou a possibilidade. "Levar os artistas do projeto para tocar na cidade de Miraí foi um sonho acalentado desde o começo. Seria o lugar perfeito para a homenagem, mas não conseguimos confirmar nada por enquanto. Está marcado para o futuro".







Entre as gravações reunidas em "Ataulfo 100 Anos", Thiago diz que não tem uma preferida. "Todas as canções do Ataulfo são muito interessantes, todas têm uma personalidade difícil de comparar. Todas mesmo. Talvez por ser filho de um sanfoneiro lá do interior de Minas, ele trouxe para o samba aquele tom de toada sertaneja, melancólico, indolente”, avalia. Ele também faz questão de destacar que o compositor de "Amélia" é fundamental para a música no Brasil.

Ataulfo tem o mesmo naipe de Noel, Cartola, Ary Barroso ou Tom Jobim. Ele é sensacional. Nos shows, o que mais me impressiona é que as plateias cantam todas as canções, do primeiro ao último verso. As canções do Ataulfo têm uma força que ultrapassa o tempo e comove todo mundo. O público conhece de cor todas as músicas, mas sabe pouco sobre o cantor e compositor Ataulfo", reconhece Thiago, lamentando que, na conclusão de seu projeto, uma canção tenha sido esquecida e ficado de fora dos dois CDs: "O bonde de São Januário".








Parceria do compositor com Wilson Batista, "O bonde de São Januário" foi um dos primeiros sucessos e um dos poucos problemas que Ataulfo teve com a censura feroz da Era Vargas. Afinal, ele se dizia getulista e chegou a compor sambas em homenagem ao presidente. Na canção em questão, a censura obrigou Ataulfo a mudar a letra: de "o bonde de São Januário/ leva mais um otário..." para "leva mais um operário/ sou eu que vou trabalhar". A versão alterada seria o grande sucesso do carnaval em 1941.
 


Menino em Miraí



Um dos sete filhos do Capitão Severino, sanfoneiro, violeiro e repentista da zona rural de Miraí, desde os 8 anos de idade Ataulfo já improvisava versos e melodias. Aos 10 anos, perdeu o pai e teve que trocar a música pelo trabalho pesado. Foi leiteiro, condutor de bois e lavrador de café e milho. Até que a mãe e os irmãos foram morar em Miraí, onde Ataulfo trocou o trabalho na roça por outros ofícios: foi carregador de malas e engraxate na estação de trens e depois aprendiz de marceneiro.









Carmen Miranda, a primeira rainha do rádio,
em fotografia autografada de 1930 e em 1933
com dois dos futuros parceiros de Ataulfo: os
compositores Brenno Ferreira e Josué de Barros.

Abaixo, uma seleção de bambas em foto de 1943:
Cascata, Donga, Ataulfo, Pixinguinha, João da Baiana,
Ismael Silva e Alfredinho do Flautim; de pé, a
primeira formação das pastoras de Ataulfo









Aos 17 anos, deixou Miraí para tentar a sorte no Rio de Janeiro, acompanhando o médico Afrânio Moreira Resende. No Rio, não demorou a conseguir emprego numa farmácia e conheceu Carmen Miranda, que estava estreando como cantora no rádio e o apresentaria às rodas de samba nos morros cariocas. Em 1933, Carmen gravaria a primeira canção de Ataulfo, "Tempo perdido". Foi também com apoio de Carmen que ele conseguiu emplacar seus primeiros sucessos populares, que vieram em 1936 com "Saudade dela", lançada por Sílvio Caldas, e "Quanta tristeza", gravada por Carlos Galhardo.

Desde aquela época, Ataulfo compôs em parcerias com Bide, Marçal, Josué de Barros, Roberto Martins, Assis Valente e Claudionor Cruz, entre outros. Dois de seus maiores sucessos foram parcerias com Mário Lago: "Ai, que saudade da Amélia" e "Atire a primeira pedra". Na estreia como intérprete, com “Leva Meu Samba”, em 1941, passaria a apresentar-se como Ataulfo Alves e suas Pastoras, trocando o Ataulpho da grafia que recebeu por batismo pela forma mais simplicada: Ataulfo.


















No alto, Ataulfo Alves fotografado em 1957 com
o presidente Juscelino Kubitschek e o mestre do
jazz Louis Armstrong. Acima, uma das suas
últimas apresentações em programas de TV, no
final dos anos 1960, ao lado de Roberto Carlos,
com Caçulinha ao fundo; e Ataulfo com
a estreante Clara Nunes.

Abaixo, Ataulfo em 1961, na época em que
foi eleito pela coluna social de Ibrahim Sued,
do jornal O Globo, com o título de
"o homem mais elegante do Brasil".
Também abaixo, Ataulfo em foto de
David Drew Zingg para reportagem
da revista Realidade em 1965 em
um bar no centro do Rio de Janeiro










Compositor de "Pois é", "Mulata assanhada", "Laranja madura", "Meus tempos de criança", "Na cadência do samba" (Quero morrer numa batucada de bamba / Na cadência bonita do samba...), "Saudades da Amélia" e tantos clássicos do cancioneiro do Brasil que permanecem no imaginário coletivo, falando do preconceito de cor, fazendo o elogio da mulher amada e submissa e do sofrimento pelo engano amoroso, Ataulfo Alves começou a perder espaço com o surgimento da Bossa Nova. Para os jovens compositores e intérpretes do movimento, Ataulfo e suas canções eram por demais identificados com a velha guarda. Avesso às polêmicas, Ataulfo foi aos poucos saindo de cena.

No final da década de 1960, ainda teria destaque em 1967, quando “Amélia” ganhou a versão de Roberto Carlos, ídolo da Jovem Guarda, e em 1968, quando o samba “Você passa, eu acho graça”, parceria de Ataulfo e Carlos Imperial, lançou ao sucesso uma jovem cantora estreante de Minas Gerais chamada Clara Nunes. Nas duas ocasiões, o sambista veterano recebeu homenagens nos programas de TV e seria festejado por Chacrinha, o Velho Guerreiro. Foi uma despedida. Em 20 de abril de 1969, depois da cirurgia motivada pelo agravamento de uma úlcera, Ataulfo morreu. Faltavam poucos dias para que ele completasse 60 anos.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Saudades da Amélia. In: Blog Semióticas, 7 de maio de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/05/saudades-da-amelia.html (acessado em .../.../...).





















18 de abril de 2012

Certas canções






Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa:
Prohibido cantar”. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro,
um aviso: “É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem”.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca. 

––  Eduardo Galeano.   


Do Leme ao Pontal, não há nada igual – anuncia a canção de Tim Maia. Purgatório da beleza e do caos – completa o samba-funk “Rio 40 Graus”, de Fernanda Abreu, Carlos Laufer e Fausto Fawcett, sampleando, entre outras e outros, o samba-rock de Jorge Ben Jor e aqueles versos e aquele abraço do Gilberto Gil que celebra: continua lindo, continua sendo, de janeiro, fevereiro e março. A lista de canções que rendem tributo à Cidade Maravilhosa é quase interminável. Batizada de São Sebastião do Rio de Janeiro, quando foi fundada pelo português Estácio de Sá, em 1° de março de 1565, a cidade aparece como tema de milhares de composições que incluem de tudo, em todos os gêneros. Do mais antigo, até onde os registros da historiografia alcançam, ao mais recente, são muitas as canções em que a cidade do Rio de Janeiro é homenageada.

Há os clássicos do choro e as marchinhas de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, os sambas da velha guarda de Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Elton Medeiros, Herivelto Martins e Billy Blanco, as presenças de Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Chico Buarque, a Bossa Nova de Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, a Tropicália de Gilberto Gil e Caetano Veloso, os hinos de amor ao Estácio de Luiz Melodia, as canções de Tim Maia, Cassiano, João Bosco e Aldir Blanc, o rock Brasil de Raul Seixas, Rita Lee, Blitz, Cazuza e Barão Vermelho, o rap e o funk de Furacão 2000, Claudinho e Bochecha, MV Bill e muito, muito mais. Para contar esta história, um time de bambas foi convidado a percorrer e analisar a trajetória da música popular no Brasil a partir da cidade do Rio de Janeiro.

A proposta para a viagem pelas canções foi um projeto organizado pelo jornalista Marcelo Moutinho. A investigação, que teve início seguindo a trilha das composições da segunda metade do século 19 e chegou aos nossos dias, resultou num inventário minucioso sobre a presença da Cidade Maravilhosa no repertório dos principais compositores brasileiros. O projeto de Moutinho deu origem ao livro "Canções do Rio – A Cidade em Letra e Música", que reúne os ensaios assinados por Ruy Castro, Sérgio Cabral, João Máximo, Hugo Sukman, Nei Lopes e Sílvio Essinger – todos críticos de música com atuação em jornais e revistas e com livros publicados sobre a música popular.










Certas canções: no alto, detalhe da ilustração
na capa do livro Canções do Rio; nas imagens
acima, o Cristo Redentor em dois postais com
registros de 40 anos de diferença: fotografado do
avião, em 2010; e visto a partir de um dos Belvederes
da Floresta da Tijuca em fotografia de 1970.

Abaixo, o acesso ao Cristo Redentor
em cartão postal de 1973. Também abaixo,
duas vistas panorâmicas do Pão de Açúcar
e do morro da Urca com um século de
diferença entre elas: na primeira, em fotografia de
  1885 de Marc Ferrez (1843-1923); na segunda,
em um cartão postal da década de 1970










A ideia para concepção do livro foi, no mínimo, original: destacar que o Rio de Janeiro  sempre esteve presente como uma inequívoca fonte de inspiração musical. "O objetivo do livro foi justamente demonstrar como nossos compositores cantaram o Rio em diferente épocas e gêneros. Do samba ao rock, da Bossa Nova ao funk, da marchinha ao rap", explica Marcelo Moutinho, que na apresentação ao projeto também confessa sua condição de apaixonado pelas diversas sonoridades da alma carioca.

"Faltava contar a história do Rio na música, do Rio idílico, cuja exuberante paisagem é capaz de arrebentar as retinas. Do Rio de valas negras e favelas no coração. Do Rio que foi, sempre, a cidade-musa”, destaca. Moutinho também recorda que  a antiga capital do Brasil também tem seu destaque no cinema, no teatro e na literatura. Entre as citações, ele lembra, entre outros, o cronista Marques Rebello – para quem o Rio de Janeiro podia ser definido como uma cidade com muitas cidades dentro, porque cada bairro carioca identifica uma personalidade muito própria. 











"Acredito que esta observação do Marques Rebello fica evidente nas canções que retratam o Rio. Muitos compositores perceberam estas muitas cidades dentro da cidade e isso foi traduzido na música”, destaca Moutinho. Ele também recorda que um marco da maior importância entre todas as coisas que se diz sobre a cidade foi registrado em 1935, quando o compositor carioca André Filho, ao tomar de empréstimo uma expressão criada por volta de 1900 pelo escritor maranhense Coelho Neto, saudou pela primeira vez o Rio de Janeiro com o título de “Cidade Maravilhosa”.  


 
Do samba ao rock



Parceiro de Noel Rosa na antológica “Filosofia” e um dos preferidos da estrela Carmen Miranda (que gravaria na década de 1930 suas canções “Alô, Alô” e “Mulato de Qualidade”, entre outras), André Filho teve a honra de transformar a citação “Cidade Maravilhosa” na marchinha que chegaria à condição de uma das mais tocadas em todos os tempos no carnaval do Brasil. A partir de 1935 estava instituído, pela canção, o título pelo qual o Rio de Janeiro passaria a ser identificado e consagrado.
 








Cenas do Rio de Janeiro: duas imagens do
fotógrafo Augusto Malta (1864-1957) que
registram o Rio Antigo: no alto, o Largo da
Carioca; acima, uma vista panorâmica
da Enseada de Botafogo em 1900.

Abaixo: 1) grupo de choro em fotografia
anônima datada de 1900; 2) um dos
principais pioneiros do samba, o músico
e compositor José Barbosa da Silva,
o Sinhô (ao centro, com violão), com
amigos do Cordão do Bola Preta, o mais
antigo bloco do carnaval cariosa, em
fotografia de 1924; e 3) Chiquinha Gonzaga,
referência da música brasileira, primeira
mulher negra a reger uma orquestra no
Brasil, autora da primeira marchinha
de carnaval ("Ó Abre Alas"), pianista e
compositora de mais de 2 mil obras em
diversos gêneros, como valsas, tangos,
choros e serenatas. Também abaixo,
a praia do Lemena Zona Sul da
cidade, em cartão postal de 1950







 








Em entrevista que fiz com ele por telefone, para um jornal de Belo Horizonte, Marcelo Moutinho explica que o livro, editado pela Casa da Palavra, apenas reuniu as histórias e canções que sempre estiveram no imaginário popular do carioca e de todos os brasileiros. Ele lembra que o Rio, com suas ruas, bairros e personagens, já aparecia no cancioneiro popular desde o século 19, em versos e canções que descortinavam a dor e a delícia de se viver num dos mais belos cenários do Brasil e do mundo.

"O objetivo foi investigar a presença marcante do Rio na música brasileira”, completa Moutinho, que nasceu em 1972 em Madureira, subúrbio do Rio, e tem outros livros publicados, como as prosas de ficção “A Palavra Ausente” (Rocco, 2011) e “Somos Todos Iguais nesta Noite” (Rocco, 2006). Colaborador das revistas “Bravo!” e “Cinemais” e do jornal “O Globo”, também organizou uma série de antologias que inclui "Prosas Cariocas – Uma Nova Cartografia do Rio" (Casa da Palavra, 2004), "Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa" (Casa da Palavra, 2009) e “Manual de Sobrevivência nos Butiquins mais Vagabundos” (Senac Rio, 2005).
 







Em “Canções do Rio”, o time de especialistas não apenas registra as canções de cada época que tiveram a Cidade Maravilhosa como personagem ou cenário, mas também analisa a formação da identidade carioca. No capítulo "A canção moderna", Hugo Sukman descreve: "O que a cidade do Rio de Janeiro tem de belo tem de complexidade e de declarações de amor incondicional. Lá do fundo do Rio, escapando das balas perdidas e franzindo o cenho para poder suportar tanta luz e tanta beleza, a música brasileira manda seu recado mais atual".

Autor do livro "Heranças do Samba" (2004) e das biografias de Moacir Santos (2006) e Djavan (2008), Sukman destaca como a música muitas vezes ressoou o processo permanente de brutalização da cidade. A palavra "arrastão" e seus dois sentidos direcionam a análise de Sukman – da rede que há séculos colhe no mar os peixes, tema da canção de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, ao recente e violento significado registrado pela população em pânico diante da ação das gangues nas avenidas e areias das praias da Zona Sul.
















Cenas da Cidade Maravilhosa: no alto,
Sebastião Rodrigues Maia, que ficaria
conhecido como Tim Maia depois do
primeiro disco, gravado em 1970, em foto
aos 20 anos, em 1962, ao lado de Erasmo
Carlos, no bairro da Tijuca, zona norte do
Rio de Janeiro (Tim, Erasmo e Jorge Ben Jor
eram amigos e vizinhos desde a infância).
Acima, Tim passeando do Leme ao Pontal,
durante entrevista para o curta-metragem
realizado por Flávio Tambellini em 1987;
um flagrante do funk nos morros cariocas
em 2010; e uma imagem aérea da Rocinha,
a maior e mais populosa favela do Brasil.

Abaixo, uma reunião de grandes nomes
do samba no estúdio, em 1967, em foto
de Alaor Barreto para reportagem do jornal
Última Hora: Abel Ferreira no clarinete,
Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus,
Cartola e Pixinguinha no saxofone, entre outros;
Clementina no centro da roda, acompanhada
por Elton Medeiros, Mauro Duarte, Jair do
Cavaquinho, Anescar do Salgueiro e Nelson Sargento
no palco do Teatro Jovem, Botafogo, Rio de Janeiro,
em 1965, no espetáculo Rosa de Ouro, que
também contava com Aracy Cortes e Paulinho da
Viola, com direção de Hermínio Belo de Carvalho;
o encontro de três mestres da Velha Guarda
do samba, Cartola, Ismael Silva e Mano
Décio da Viola celebrando a amizade em
uma mesa de bar no morro da Mangueira,
em 1976; Candeia, Elton Medeiros,
Nelson Cavaquinho Guilherme de
Brito em 1977; três veteranos da
Velha Guarda do Samba, Braguinha,
Elizeth Cardoso e Herivelto Martins
homenageados pelo Museu da Imagem
e do Som em 1986; e Paulo César Batista
de Faria, Paulinho da Viola, cantor
e compositor de clássicos do samba como
Foi um Rio que passou em minha vida,
em uma foto histórica com Cartola e
na capa do LP lançado em 1971


































  







Princesinha do mar



Outro panorama contemporâneo é traçado por Silvio Essinger, autor dos livros "Punk: Anarquia Planetária e a Cena Brasileira" (1999), "Batidão: Uma História do Funk" (2005) e "Almanaque Anos 90" (2008), além de ter organizado a edição de "Baú do Raul Revirado" (2005). Silvio Essinger localiza o Rio de Janeiro como porto de desembarque e primeiro ponto de ocupação do rock'n'roll no Brasil – desde a primeira gravação realizada em Copacabana, em 1957, por um improvável Cauby Peixoto.

O rock pioneiro de Cauby, lembra Essinger, é sucedido pelo Rio de Janeiro mais descontraído nas leituras de nomes como Raul Seixas ("Ouro de Tolo"), Tim Maia ("Do Leme ao Pontal"), Caetano Veloso ("Menino do Rio") e pelos primeiros sucessos da geração 1980, entre eles Blitz ("Volta ao Mundo") e Barão Vermelho ("Billy Negão"). Essinger também registra a novidade do funk, que deu voz a compositores das comunidades mais pobres da cidade, entre eles os pioneiros Claudinho & Buchecha.
















Certas Canções: no alto, vista da praia de Copacabana

em 1890, em fotografia de Marc Ferrez. Acima, um

retrato de Clementina de Jesus criado por Elifas Andreato

para a capa da álbum de 1970 "Clementina, Cadê Você?";

os veteranos da Velha Guarda do samba João da Bahiana,

Clementina de Jesus, Pixinguinha e Donga participando

da Passeata dos Cem Mil contra a censura e contra

ditadura militar, em fotografias de 1968

publicadas pela revista Realidade. Também acima,

Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Bahiana

fotografados por Pedro de Moraes, filho de

Vinicius de Moraes, para a capa do LP lançado em

1968 pela gravadora Odeon, "Gente da Antiga".


Abaixo, Elza Soares em 1973, em retrato feito por

Madalena Schwartz,; um encontro de três baluartes

da Velha Guarda da Mangueira em 1973,

Nelson Cavaquinho, Cartola e Carlos Cachaça;

um encontro de Cartola, Nara Leão, Zé Kéti e

Nelson Cavaquinho; Carlos Lyra ao violão,

em 1965, com Aloisio de Oliveira, Nara Leão e

Vinicius de Moraes; Nara Leão no doce balanço da

praia de Ipanema, em 1967; um grupo de samba na

casa de Aracy de Almeida (com a mão no rosto):

a partir da esquerda, Jards Macalé, Wally Salomão,

Paulinho da Viola, Carlos Cachaça (sentado),

Albino Pinheiro, Cartola e Clementina de Jesus;

e Jovelina Pérola Negra, cantora e compositora

que trabalhava como empregada doméstica e levou

o samba e o pagode para o sucesso na década de

1980 nas rádios e na venda de LPs (fotografada

na quadra da escola de samba Império Serrano

em setembro de 1987 por Ignácio Ferreira).


Também abaixo, 1) João Bosco e Aldir Blanc em

um bar do Estácio na década de 1970; 2) fotografia

de Eurico Dantasa ditadura militar proíbe festa

no Carnaval da Mangueira em 1976 Cartola,

indignado, fica no chão; 3) os parceiros Cartola

e Nelson Cavaquinho no desfile da Mangueira no

Carnaval de 1978, fotografia de Marcel Gautherot;

4) Cartola na comissão de frente do

desfile da Mangueira em 1973






































Em "Dos primórdios à Era de Ouro", que abre o volume, João Máximo, autor das biografias de Noel Rosa (em parceria com Carlos Didier, publicada em 1990 pela editora LGE) e de Paulinho da Viola (editora Relume Dumará, 2003), explica que a história do Rio de Janeiro como cenário e personagem das canções vem desde o século 19. A diferença é que, naquela época, a música popular tratava dos morros e dos subúrbios em visões idealizadas, feitas a distância.

"Pois é a favela carioca, pobre, malvestida, não raro faminta, que seria citada em canções de homens que provavelmente nunca puseram os pés lá, caso do compositor semierudito Hekel Tavares e do teatrólogo Joraci Camargo”. Dos sambistas do século 20, Noel, Orestes Barbosa, Herivelto Martins e Wilson Batista são alguns dos mestres que têm suas canções analisadas no capítulo esquadrinhado por João Máximo.




 







Princesinha do mar: acima, a partir do alto,
a praia de Copacabana em fotografia de
1890 de Marc Ferrez e em cartões postais
das décadas de 1940 e 1960. Abaixo,
o calçadão de Copacabana em 1975;
Dona Zica e Cartola fotografados em 1976
por Walter Firmo na casa em que moravam,
no Morro da Mangueira. Dona Zica e Cartola
eram viúvos quando se casaram, em 1954, e
viveram juntos até a morte de Cartola, em 1980.

Também abaixo, Beth Carvalho, chamada de
militante de esquerda, de  “madrinha do samba”
e de "madrinha do pagode", em momentos
históricos: em 1978, com Cartola, de quem
ela lançou sambas que se tornariam grandes
clássicos da música brasileira, como
As rosas não falam, e com o futuro
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em 1989, nos bastidores do show
Saudades da Guanabara; em 1973 com
Nelson Cavaquinho, Cartola e Dona
Ivone Lara na quadra da Estação Primeira
de Mangueira; em 1989, nos bastidores do
2º Prêmio da Música, no Theatro Municipal
do Rio de Janeiro, um encontro de Alcione,
Tim Maia, Beth Carvalho, Martinho da Vila e
João Nogueira
; e Beth Carvalho em 1996,

no lendário encontro no palco do Metropolitan,
no Rio de Janeiro, em 1996, para celebrar
Donga e os 80 anos de "Pelo telefone",
considerado primeiro samba gravado e
o grande sucesso do Carnaval de 1917
(nas fotos, Beth com João Nogueira,
Elza Soares, Noca da Portela,
Zé Kéti e Nelson Sargento)





























E há também o Carnaval, um capítulo à parte na história. O jornalista Sérgio Cabral, biógrafo de Pixinguinha, Ataulfo Alves, Tom Jobim, Elisete Cardoso e Nara Leão, entre outros, no capítulo “As marchinhas” investiga o mais carioquíssimo dos gêneros da música popular e destaca o bairro "campeão das citações": Copacabana, a "princesinha do mar". O gênero criado por Chiquinha Gonzaga há mais de um século, aponta Cabral, continua à disposição para deliciar os ouvintes e para atender aos interessados em conhecer melhor o Rio e os cariocas.

Em outro ensaio de “As Canções do Rio”, batizado como “O samba”, o pesquisador e compositor Nei Lopes faz um passeio pela história dos compositores do morro e do asfalto, enumerando os preconceitos e os momentos que fizeram a glória de sambistas de todas as faixas de status e poder aquisitivo. Pesquisador da cultura do negro e do samba, autor de “Zé Kéti: O Samba sem Senhor” (Relume Dumará, 2000) e “Partido-Alto, Samba de Bamba” (editora Pallas, 2005), sambista e parceiro do compositor Wilson Moreira, Nei Lopes destaca que a relação do samba com o Rio é, antes de tudo, "uterina" – o útero, na metáfora, sendo representado pela baía de Guanabara.

















 
Certas canções: dois flagrantes de João Gilberto
em 1962, na praia, em cenas do filme franco-italiano
Copacabana Palacecom Luiz Bonfá (à esquerda),
Tom Jobim e três estrelas do cinema europeu:
Gloria Paul, Sylvia Koscina e Mylène Demongeot.
Também acima, duas fotografias de Mario Testino
registram a praia de Ipanema em 2005, tendo ao
fundo o Morro Dois Irmãos e a favela do Vidigal.

Abaixo, João Gilberto e Ira Etz, na época conhecida
como a musa do Arpoador, fotografados por
Nicolau Drei para a capa da revista Manchete em
1959; Chico Buarque e Francis Hime com amigos
em um bar da zona sul carioca em 1972; Chico com
Marieta Severo e Nara Leão em 1984, depois de
um concerto do cubano Pablo Milanés no
Rio de Janeiro; dois registros do calçadão
da praia de Copacabana depois da
reforma, na década de 1970, na época em
que o design e toda a urbanização da orla foram
reformulados com projeto de Burle Marx; e a mesma
praia de Copacabana em fotografia de 2010
























A matriz da Bossa Nova


 
E há também a Bossa Nova, apresentada no capítulo assinado por Ruy Castro. "A Bossa Nova nasceu no Rio, arquitetada por cariocas de todas as partes do país", recorda o autor, que já transformou em campeões de vendas do mercado editorial as biografias de Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Mané Garrincha, entre outros. Para Ruy Castro, são as praias do Rio que caracterizam a matriz solar da Bossa Nova, em contraste com a música dominante na conjuntura anterior, marcada pelo samba-canção e por muita dor de cotovelo.

Com ironia e sua habitual habilidade narrativa, Ruy Castro refaz o cenário das boates que consagravam a tal dor de cotovelo: "Que fossa! Com todas as portas e janelas fechadas, não se sabia se ainda era de noite ou se já era de manhã lá fora. E também ninguém queria saber. Até que, certo dia, por volta de 1958, alguém se arrastou até a porta e a abriu. O sol entrou pela boate e quase transformou aqueles vampiros em pó". 
 
















Certas canções: no alto, encontro de gerações
da música carioca, com Tom Jobim, Pixinguinha,
João da Bahiana e Chico Buarque em 1968; e
Baden Powell (à direita), Vinicius de Moraes e
Tom ao piano, com amigos, reunidos na boate
Au Bon Gourmetem Copacabana, no início
dos anos 1960. Também acima, João Gilberto
amigos também na boate Au Bon Gourmet,
com Vinicius Tom; e João Gilberto com
Maria Bethânia, Caetano Veloso 
Gilberto Gil
em março de 1981, durante as filmagens do
documentário "Brasil", de Rogério Sganzerla,
que registrou as gravações do álbum homônimo
reunindo os quatro músicos e convidados.

Abaixo, um encontro de Pixinguinha,
Dorival Caymmi, Vinicius (com a capa
de um LP de Tom Jobim) Baden Powell
na casa de Pixinguinha, em 1965, fotografados
por David Drew Zingg para uma reportagem
da revista Realidade; Cazuza fotografado por
Luiz Carlos David na década de 1980, na praia
do Leblonzona sul do Rio de Janeiro; e a praia
de Copacabana em cartão postal de 2010














O mais curioso, destaca Ruy Castro, é que a Bossa Nova não nasceu na praia, mas foi na praia que suas canções germinaram. “Os grandes clássicos da Bossa Nova falam do mar o tempo todo, suas letras são suadas de verão – e seu supremo cantor é pálido como gesso, nunca pisou descalço numa onda, está há 50 anos sem tomar um raio de sol e há dúvidas até sobre se sabe nadar. João Gilberto, claro. Mas, pensando bem, que diferença faz?”

Na conclusão inspirada, Ruy Castro celebra a importância para as canções do Rio e do Brasil do cantor tido como excêntrico, com sua voz miúda e sua nunca superada batida original de violão. Nas palavras de Ruy Castro, ao inventar a Bossa Nova, com suas primeiras gravações de "Chega de Saudade" e "Bim Bom" pela Odeon, em 1958, João Gilberto provocou uma grande revolução que alcançou o mundo inteiro e abriu os portos da música brasileira para todas as nações.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Canções do Rio. In: Blog Semióticas, 18 de abril de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/04/certas-cancoes.html (acessado em .../.../…). 



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