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1 de março de 2012

O Brasil de João do Rio







O rapaz que tinha o olhar desvairado perscrutou o vagão. Não havia
ninguém mais — a não ser eu, e eu dormia profundamente…

–– João do Rio, “Dentro da noite” (1910).  



Foi o mais famoso codinome inventado pelo carioca João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921) – que também assinou textos com vários outros nomes, entre eles Claude, Caran d'Ache, Joe, José Antônio José. Polêmico, corajoso, inovador, original, morreu jovem, mas chegou a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. De origem humilde, João do Rio marcou época como repórter e cronista, mas também alcançou a condição de mestre como tradutor e autor de teatro, com suas sátiras políticas e sociais – e para muitos é o inventor de um certo jeito carioca de ser.

Apontado como o maior jornalista de seu tempo, também foi um dos mais controversos personagens das primeiras décadas da República, motivo pelo qual foi sempre caluniado e diminuído por alguns de seus pares e pelos adversários políticos e desafetos. Pode-se dizer que, se não fosse seu gênio criador, por pouco Paulo Barreto – aliás, João do Rio – seria um daqueles personagens que ficariam esquecidos no passado.

Relegado durante muito tempo à condição de cronista menor, nos últimos anos o cronista do Rio Antigo teve seu prestígio aumentado. Hoje considerado o criador da crônica social moderna e precursor da geração modernista, o escritor acaba de ganhar o que talvez seja sua biografia definitiva: "João do Rio: Vida, Paixão e Obra" (Editora Civilização Brasileira). Escrita pelo também jornalista e pesquisador João Carlos Rodrigues, a biografia exalta as facetas pioneiras do cronista e o contexto de grandes transformações (sociais, políticas, urbanísticas) em que sua obra incomum foi produzida.







O Brasil de João do Rio: no alto,
a Avenida Rio Branco
no Rio de Janeiro,
em fotografia anônima datada de 
1910.
Acima e abaixo, João do Rio nas páginas
da 
revista Bahia Illustrada, edição
número 39, de 1921









"Ele antecipa muito do jornalismo contemporâneo", explica Rodrigues, em entrevista por telefone. O biógrafo de João do Rio foi produtor de discos, roteirista e diretor de cinema e TV, além de editor da prestigiada revista "Filme Cultura" na década de 1980. Rodrigues também pode ser classificado como especialista na obra do cronista do Rio Antigo. Entre os livros que publicou estão uma antologia de crônicas do autor, "Histórias da Gente Alegre", o "Catálogo Biográfico João do Rio" e "João do Rio: Uma Biografia", para o qual obteve, em 1990, uma Bolsa Vitae de Literatura.



Vida e obra reunidas



Outros três livros de João Carlos Rodrigues têm a questão do negro em primeiro plano: o ensaio historiográfico "O Negro Brasileiro e o Cinema", o catálogo "África Negra" e um estudo biográfico sobre um pioneiro esquecido da bossa nova, "Johnny Alf: Duas ou Três Coisas que Você não Sabe". "Ao contrário de outros autores, acredito que uma boa biografia, além de não ter pudores sobre a vida pessoal do biografado, não pode também prescindir da análise da sua obra", destaca Rodrigues.








O Brasil de João do Rio: no alto,
o cronista em um retrato sem data e
sem autoria. Acima, a Rua do Ouvidor,
no Centro do Rio de Janeiro, em fotografia
anônima datada de 1890. Abaixo,
o Cinema Pathé em 1919, também no
Centro do Rio de Janeiro, em
fotografia de Marc Ferrez








O biógrafo de João do Rio cita trabalhos elogiados em outros países para comprovar sua tese de que vida e obra têm que vir reunidas para consagrar o estudo. "Alguns dos melhores trabalhos biográficos que conheço seguem essa diretriz. Foi assim com Oscar Wilde por Richard Ellman, Jean Genet por Edmund White, William Burroughs por Ted Morgan, Proust por George Painter, e ainda Noel Rosa por Carlos Didier e João Máximo, ou Lima Barreto por Francisco Assis Barbosa", completa.

Há muitas outras referências. Por exemplo: qualquer semelhança entre os escritores João do Rio (1881-1921) e o irlandês Oscar Wilde (1854-1900) não seria mera coincidência, alerta João Carlos Rodrigues, carioca de 1949. Como Wilde, João do Rio caminhava com a polêmica: era inovador, talentoso, nasceu quase pobre e ascendeu socialmente, conquistando a fama e também o ódio que ela desperta naqueles que são menos talentosos.

Tido como excêntrico por seus hábitos pouco comuns que seus inimigos apontavam como bizarros, "flâneur" (aquele que perambula pelas ruas da cidade por prazer e sem compromisso), "dândi" elegante e de cara raspada, numa época em que era obrigatório aos homens de bem ostentar barba cultivada e vastos bigodes, cavanhaques e suíças, João do Rio, como Oscar Wilde na Grã-Bretanha vitoriana, estava décadas à frente de seu tempo e isso gerava muitos desafetos. Não por acaso, João do Rio foi tradutor de Wilde no Brasil: é dele a versão em português mais conhecida da peça "Salomé", que Wilde publicou em 1894.







"Como jornalista, ele foi um renovador histórico da imprensa brasileira, fundindo a reportagem e a crônica num novo gênero personalíssimo e então pouco comum", explica Rodrigues, para quem João do Rio foi, como cidadão e artista, o arquétipo incomparável de uma época sinistra. "Mulato, gordo e homossexual, era também, segundo os provincianos da República Velha, um exemplo típico do carioca com todas as suas qualidades e defeitos”, aponta. 



Imitadores menos talentosos



Segundo Rodrigues, o Rio de Janeiro da Belle Époque, que trazemos no inconsciente sem o termos vivenciado, é em grande parte uma “invenção” de João do Rio". O biógrafo também destaca que, desde o início do século passado, a verve e o estilo de João do Rio têm sido exaustivamente repetidos, através de décadas e décadas, por imitadores cada vez menos talentosos. "Se como autor de ficção ele filia-se à estirpe dos malditos, como cronista ele antecipa todos os grandes jornalistas que fizeram carreira na Capital Federal e alguns dos mais destacados cronistas em nossos dias", avalia.





O novo livro de Rodrigues teve origem em "João do Rio: Uma Biografia", publicado em 1996 pela Top Books. Porém, alerta o biógrafo, não é uma mera nova edição revista. "Foi totalmente reescrito em mais da metade, eliminando trechos redundantes, incluídas novas informações, corrigidos erros tipográficos ou de informação, eventualmente esclarecidos ou modificados alguns pontos de vista", explica.

Rodrigues diz que teve a preocupação de fazer o segundo livro mais acessível, com o cuidado de não perder a densidade das informações. "Acredito que esta nova versão ficou muito melhor que a primeira", conclui. A originalidade dos escritos na imprensa e em trabalhos literários rendeu a João do Rio, há 100 anos, uma vaga na Academia Brasileira de Letras.








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Comoção nas ruas da Capital Federal
em junho de 1921: o velório e o enterro
de João do Rio pararam o Rio de Janeiro
e reuniram uma multidão de mais de
100 mil pessoas, segundo jornais da época.
Abaixo, João do Rio em retrato publicado
em 1921 pelo jornal Gazeta de Notícias











Mais que um jornalista, João do Rio foi um pioneiro que inovou por volta de 1900 ao revelar, em seus muitos contos, crônicas e reportagens, um Brasil e um Rio de Janeiro pouco conhecidos para os próprios cariocas e para os brasileiros letrados de sua época. Nos diversos jornais em que trabalhou, granjeou enorme popularidade, aclamado e reconhecido como celebridade nas ruas, nos salões da sociedade e nos bares da vida boêmia dos primeiros tempos da República.



Conto, crônica, reportagem 



Como homem de letras, deixou obras de valor inquestionável. Como teatrólogo, um de seus grandes sucessos foi sua peça "A Bela Madame Vargas", representada pela primeira vez em 22 de outubro de 1912, no Teatro Municipal. Deixou obra vasta, mas efêmera, que de modo algum representa sua importância da cultura brasileira e nem corresponde à imensa popularidade que desfrutou em vida.







Quando morreu, era diretor do jornal diário "A Pátria", que fundara em 1920. Seu trabalho como jornalista também teve grande destaque nos jornais "Cidade do Rio", criado e comandado por José do Patrocínio, "Gazeta de Notícias" e "O País", além das revistas importantes "Ilustração Brasileira", "Kosmos" e "Renascença", entre outras publicações do começo do século 20.

João do Rio foi pioneiro também no cuidado com seus textos efêmeros que foram publicados em jornais e revistas: grande parte deles foi reunida pelo próprio autor em livros, entre eles "As Religiões do Rio" (1906), "Cinematographo: Crônicas Cariocas" e "A Alma Encantadora das Ruas" (1918), talvez sua obra mais conhecida.

"É preciso destacar que ele foi brutalmente atacado física e moralmente nas páginas dos principais jornais cariocas de seu tempo", destaca João Carlos Rodrigues. Segundo o biógrafo, depois de sua morte trágica por um suposto ataque cardíaco, em plena rua, no centro do Rio de Janeiro, antes dos 40 anos, João do Rio foi rapidamente esquecido. Mas em que período da história da literatura se encaixa sua obra? Rodrigues considera que esta é uma questão da maior complexidade.







Cenas da Belle Époque em 1900: acima,
um evento social no Rio de Janeiro em 1908.
Abaixo, duas fotografias de Marc Ferrez nas
ruas do Rio de Janeiro em 1895: na primeira,
dois meninos vendedores de jornal; na segunda,
um jovem negro vendedor de doces.
Também abaixo, Afonso Segreto fotografado
ao chegar da Europa, em junho de 1898,
com os equipamentos e projetores para a
Empreza Paschoal Segreto. Os irmãos,
vindos da Itália, foram os precursores da
história do cinema produzido no Brasil










Alfredo Bosi diz que João do Rio está no pré-modernismo. Lúcia Miguel Pereira, sempre intransigente, acha que o lugar dele é entre os nomes do realismo. Permitam-me discordar
”, argumenta João Carlos RodriguesA primeira definição é muito vaga, e a segunda não se sustenta com a leitura de qualquer um dos contos de 'Dentro da Noite', por exemplo, com sua aura de morbidez e maldição”.



Wilde e Proust como companhia



Para o biógrafo, a obra e a importância de João do Rio não tem equivalentes entre os escritores brasileiros de seu tempo. “Acredito que ele fique mais à vontade enquadrado no decadentismo que floresceu na Europa de meados do século XIX até a década de 1930. A grande verdade é que João do Rio foi o principal precursor do modernismo no Brasil", aponta Rodrigues, lembrando que a obra de João do Rio está na companhia de ilustres representantes como "O Retrato de Dorian Gray" (1891), de Oscar Wilde, ou mesmo "Em Busca do Tempo Perdido" (1913), de Marcel Proust.








"Um tema comum a estes autores é o estranhamento e a insatisfação, expressos quer em crônicas de viagem ao Oriente ou ao baixo mundo ali da esquina, quer em obras ficcionais passadas nesses mesmos cenários, ou em jornadas ao interior de si mesmos, movidas pela magia do sobrenatural, pelo absinto, pelo ópio, pelo éter ou pelo haxixe. Há todo um clima erótico, de grande ambiguidade, misógino, e que frequentemente descamba em misticismo ou sadomasoquismo. Todos esses ingredientes estão presentes e em destaque nos textos de João do Rio", explica Rodrigues.

Se na literatura a expressão de João do Rio rende comparações aos gênios universais de Oscar Wilde e Marcel Proust, o biógrafo também ressalta que, na imprensa, sua atuação não foi nada menos que memorável. Ao reunir no mesmo texto elementos característicos ao mesmo tempo da reportagem e da crônica, ele criou um novo gênero que esbanjava originalidade.









Os textos de João do Rio, publicados nos principais jornais da então Capital Federal, sempre causavam grande admiração dos leitores, o que rendeu ao autor muitos fãs, mas também muitos inimigos, como o gaúcho Pinheiro Machado, temido figurão da República Velha. Muito provavelmente, Paulo Barreto usou diversos pseudônimos em suas matérias para fugir das previsíveis perseguições.



Tradução do Rio Antigo



Na seara da sátira política e social, o autor produziu um inédito e corajoso retrato do Rio de Janeiro e dos cariocas nas duas primeiras décadas do século 20, conforme atestam as diversas obras reunidas por ele próprio no livro "A Alma Encantadora das Ruas". Amante daquela que desde aquele tempo era a mais popular das festas brasileiras, João do Rio também destaca o Carnaval nos textos deste verdadeiro retrato do Rio Antigo. O livro foi um dos primeiros trabalhos de pesquisa de que se tem notícia a chamar a atenção da imprensa e da alta sociedade para os espetáculos de Momo que reuniam multidões nas ruas.
 






O Brasil de João do Rio: acima, o antigo
Theatro São Pedro, na Praça Tiradentes,
centro do Rio de Janeiro. No alto, vista da
Avenida Central em fotografia de 1910.
Abaixo, a Rua do Ouvidor também em 1910









"Esta imperdível biografia escrita por João Carlos Rodrigues penetra e retransmite esse incêndio interior. Retém o fascínio da Belle Époque tardia que este país conheceu", elogia na apresentação do livro João Antônio, jornalista e escritor de livros que também misturam reportagem e ficção. "E dela se poderá extrair um filme incomum pela riqueza da vida e das gentes que povoaram o mundo do escritor. Seu ritmo, tão romanesco como cinematográfico, recupera uma humanidade rica, diferente, inédita e intensamente brasileira".

João do Rio, um pioneiro que atingiu domínios da literatura e do jornalismo que seus contemporâneos não alcançavam, é a mais completa tradução no Rio Antigo para o “flâneur”, aquele personagem que o pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940) iria identificar em Baudelaire e em outros poetas malditos na Paris do século 19. Travestido de repórter, João do Rio percorre as primeiras grandes avenidas, ruas, becos, ladeiras e vielas, do centro à periferia, à procura da matéria-prima de que é composta sua obra. O pintor da vida moderna – com anuncia o ensaio célebre de Baudelaire publicado em 1863 no jornal "Le Figaro", um dos trabalhos do poeta e pensador francês dedicados ao estudo da arte e da literatura frente à curiosidade urbana de sua época – também caberia como uma luva para definir o lugar de João do Rio.






O “flâneur” tupiniquim pintou como poucos a realidade carioca, como ele descreve em seus textos de impressionante atualidade, entre eles “As Religiões no Rio”, coletânea de artigos e ensaios que publicou na imprensa e depois reuniu em livro, em 1904, pela livraria Garnier, de Paris, que também publicava os livros de Machado de Assis. Reeditada pela primeira vez quase um século depois, pela Nova Aguilar, em 1976, a coletânea de João do Rio traz em cabalísticos 27 escritos uma seleção de suas investigações e reflexões sobre feitiços, simpatias, espiritismo, judaísmo, satanismo, exorcismo e cultos diversos, de católicos e protestantes a evangélicos, religiões de origem africana, maronistas, positivistas e outros tantos.

A variedade de rituais é precedida por uma introdução escrita por ele mesmo em que os verbos “pintar” e “escrever” são tomados como sinônimo para observar e descrever as diversas formas de espiritualidade e o estranho fenômeno daqueles mercadores da fé que propagam falsidades e mentiras para, desavergonhadamente, dominar corações e mentes das vítimas de bom coração  em nome, quase sempre, de um Deus cruel, vingativo, e na verdade muitas vezes, para os próprios mercadores, inexistente.

O Rio, como todas as cidades nestes tempos de irreverência, tem em cada rua um templo e em cada homem uma crença diversa”, relata Paulo Barreto sob seu pseudônimo mais célebre. “Eu olhava a turba colorida, a série de perfis exóticos, de caras espanholas e árabes, de olhos luminosos brilhando à luz dos lampadários. Havia gente morena, gente clara; mulheres vestidas à moda hebraica de túnica e alpercata, mostrando os pés, homens de chapéus enterrados na cabeça, caras femininas de lenço amarrado na testa e crianças lindas”. Ao leitor mais atento, a impressão dominante é que João do Rio pintava as cenas cariocas de hoje mesmo ou de ontem, talvez, e não há mais de um século.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. O Brasil de João do Rio. In: Blog Semióticas, 1° de março de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/03/joao-do-rio.html (acessado em .../.../...).


















Brasil de João do Rio: entrada do Rio de Janeiro, 
vendo-se o cais Pharoux e suas adjacências, em
fotografia de Marc Ferrez do final do século 19



18 de julho de 2011

O Bruxo e a crítica internacional





Machado de Assis é apenas o maior escritor já

produzido pela América Latina em qualquer época.

.........–– Susan Sontag, 1990.   




O maior cânone da literatura brasileira conquista cada vez mais prestígio fora do Brasil, reconhecido por muitos, em vários países – e muito além das fronteiras da língua portuguesa – como um dos maiores escritores de todos os tempos. Alguns dos mais importantes e influentes escritores, ensaístas e críticos literários de nossa época publicaram páginas de elogios a Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), Susan Sontag, Umberto Eco, Salman Rushdie, Carlos Fuentes, José Saramago, Allen Ginsberg, Michael Wood, John Updike, Philip Roth e Harold Bloom entre eles. Sobre Machado, citado em seus estudos "A Angústia da Influência" (1973) e "O Cânone Ocidental" (1994), Bloom dedicou um capítulo inteiro do livro de 2003 "Gênio  Os 100 autores mais criativos da história da literatura", no qual destaca a originalidade e a energia criativa do mestre brasileiro, definido por ele como "uma espécie de milagre, mais uma demonstração da autonomia do gênio literário quanto a fatores como tempo e lugar, política e religião, e todo tipo de contextualização que falsamente se crê que possa produzir ou determinar os talentos e o espírito humano".

Bloom também confessa que já havia lido e se apaixonado pela obra de Machado, especialmente por "Memórias Póstumas de Brás Cubas", antes de saber que o mestre brasileiro era mulato, neto de escravos, em um Brasil onde a escravidão só foi abolida em 1888, quando Machado estava para completar 50 anos. "Ao ler Machado de Assis, presumi, erroneamente, que fosse o que chamamos 'branco' (mas que E. M. Foster, com muita graça, chamava de 'rosa-cinzento')", completa, reconhecendo em Machado mérito e honraria surpreendentes: segundo Harold Bloom, Machado de Assis deve ser considerado "the supreme black literary artist to date" (o maior artista literário negro até os dias de hoje).

Mais de um século antes do reconhecimento incondicional por Bloom e outros avatares internacionais da crítica e do pensamento contemporâneo, Machado, o romancista, dramaturgo, contista, poeta, jornalista, crítico, cronista, político respeitado e fundador da Academia Brasileira de Letras, foi aclamado em vida por seus pares e convivas. Depois de morto, passou a ser publicado e respeitado primeiro em Portugal, depois na Argentina e em outros países da América Latina. Na década de 1950, começou a ganhar as primeiras traduções em inglês e outras línguas, com a divulgação de sua obra no exterior ficando mais acentuada a partir dos anos 1960, quando foi incluído talvez por acidente nos pacotes de lançamentos na Europa e Estados Unidos dos escritores do "boom" do realismo mágico latino-americano, aos quais Machado antecedia desde o século 19.

Ironia do destino – pois ainda que o mestre brasileiro tenha incorporado o universo fantástico a seu repertório de tramas e personagens, o realismo mágico ou realismo fantástico é, a rigor, uma referência específica à geração de escritores contemporâneos ou posteriores a Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, na Argentina, a Gabriel García Márquez na Colômbia, a Carlos Fuentes e Juan Rulfo no México, a Mario Vargas Llosa no Peru, entre outros que escreveram e publicaram pela primeira vez décadas e décadas depois da morte de Machado. Mais uma façanha do Bruxo do Cosme Velho, 'avant la lettre' (veja também Semióticas: Bodas do 'boom'). "Bruxo do Cosme Velho", aliás, é um antigo elogio – um codinome pelo qual Machado é conhecido nos meios literários desde o começo do século 20, pela força e pelos "encantamentos" da sua literatura. O termo ganhou força também a partir dos anos 1960, depois que Carlos Drummond de Andrade publicou o poema "A um bruxo, com amor" (no livro “A Vida Passada a Limpo”, de 1959), no qual o poeta fez referência à casa número 18 da rua Cosme Velho, situada no bairro de mesmo nome, no Rio de Janeiro, endereço lendário porque ali morou, durante muitos anos, o bruxo Machado de Assis. 

 




O Bruxo e a crítica internacional: no alto,
Machado de Assis em 1884, no Rio de Janeiro,
fotografado por Marc Ferrez, seis anos antes da
publicação do romance Memórias Póstumas de
Brás Cubas, uma de suas obras-primas, que
causou grande polêmica. Acima, o escritor
em pintura em óleo sobre tela de 1905,
retratado por Henrique Bernardelli.

Abaixo, as capas de duas edições em inglês
para Memórias Póstumas de Brás Cubas:
a primeira, que foi publicada em 1955
como Epitaph for a small winner e assinada
por William L. Grossman, foi relançada em 2008;
a segunda, assinada por Gregory Rabassa, foi
publicada em 1997 pela Oxford University Press











Assim como as gerações da vanguarda no Brasil e na América Latina que viriam depois dele, o autor de "O Alienista" (1882), "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), “Dom Casmurro” (1899) e outras obras-primas em gêneros narrativos diversos desafiou as convenções estabelecidas da literatura em sua época. A recepção sobre a literatura de Machado teve uma trajetória crescente desde sua morte e ganhou ainda mais destaque a partir da segunda metade do século 20, quando ele, aclamado como um dos maiores escritores do século 19, surgiu no mercado editorial e nos estudos da crítica do Primeiro Mundo na mesma leva em que surgiram grandes nomes da literatura da América Latina. Machado à frente de seu tempo: não é pouco.



Abrangência e complexidade



Político dos mais hábeis em sua época, elevado à categoria de efígie impressa nas notas de cruzeiro e de cruzado novo no último século, retratado como personagem no cinema e na TV, como tema de carnaval no samba-enredo de escolas de samba, Machado de Assis, quando vivo, assistiu a evoluções e transformações das mais marcantes na vida política, social e cultural da nação – entre elas grandes descobertas científicas, o fim da escravidão e a proclamação da República. A abrangência e a complexidade das obras de Machado, e sua fortuna crítica, receberam mais um tributo à altura com os ensaios reunidos em "Machado de Assis e a Crítica Internacional", livro organizado por Benedito Antunes e Sérgio Vicente Motta, publicado pela Editora Unesp.











Machado e sua esposa, Dona Carolina,
em fotografia datada de 1900 (de autor
desconhecido) e uma foto de Dona Carolina
nos arquivos do escritor. A esposa exerceu
grande influência sobre a literatura de Machado,
como primeira leitora, revisora e até co-autora,
mesmo que não creditada. O casal esteve unido
de 1869 a 1904, quando a morte de Carolina, aos
70 anos, os separou. O escritor passou os anos
seguintes muito abatido pela morte de Carolina.

Abaixo, a 
escritora e professora norte-americana
Helen Caldwell, em 1959,
mostra uma imagem
da máscara mortuária
de Machado de Assis.
Caldwell publicou
em 1960 um livro que marcou
época:
O Othelo brasileiro de Machado de Assis,
um estudo sobre Dom Casmurro que só
foi publicado no Brasil depois de 40 anos.

Também abaixo: 1) as capas de outro célebre
estudo crítico de um pesquisador estrangeiro sobre
Dom Casmurro, publicado em 1984 em inglês
por John Gledson e traduzido no Brasil com o
título Machado de Assis: Impostura e Realismo;
2) Dona Carolina em daguerreótipo datado de
1890; e 3) tres retratos de Machado, em
1864, aos 25 anos, e em 1874, aos 35 anos,
em fotografias realizadas no estúdio do
Rio de Janeiro do fotógrafo português
Joaquim José Insley Pacheco, que veio
trabalhar no Brasil a partir da década de
1850; e uma fotografia de Machado
aos 57 anos, em 1896 













Machado de Assis como testemunha de revoluções de seu tempo e como tradutor do turbilhão realista para uma dimensão de alta literatura, atemporal e universal, é uma tese que permeia o discurso da maioria dos 12 autores do Brasil e de outros países reunidos no dossiê de Benedito Antunes e Sérgio Vicente Motta. O ponto de partida foi o Simpósio Caminhos Cruzados: Machado de Assis pela Crítica Mundial, realizado em 2008, ano do centenário da morte do autor, em São Paulo, com diversos estudiosos internacionais de Machado apresentando suas críticas, relatos de pesquisa e novos olhares sobre a obra do mestre.

Na equipe de críticos convidados, Roberto Schwarz, Jean Michel Massa, K. David Jackson, Paul Dixon, Thomas Sträter, Todd Garth, Élide Valarini Oliver, Amina Di Munno, Luiz Roncari e Daphne Patai, além dos organizadores, trazem contribuições privilegiadas que intensificam e ampliam o debate sobre o Bruxo, estimulando novas abordagens e interpretações sobre a literatura que ele produziu e que permanece muito sedutora e muito atual, mesmo depois de mais de um século das publicações originais do autor.

Na apresentação aos ensaios reunidos, Antunes e Motta constatam a crescente valorização do Machado no exterior, bem como o interesse despertado pelas ambiguidades surpreendentes em seus trabalhos. Entre os tantos destaques na diversidade, Schwarz, no texto "Martinha vs. Lucrecia", discute a divisão entre críticos universalistas e localistas, lembrando que "a grandeza de Machado suscitou linhas de explicação contrárias que em algum momento teriam de discutir e competir".























No artigo que encerra o livro "Machado de Assis e a Crítica Internacional", Jean Michel Massa provoca e destaca, a partir do título: "A França que nos legou Machado de Assis". Na argumentação de Massa, a cada ano que passa Machado de Assis é cada vez menos "um estrangeiro fora de seus país". Massa sugere que os leitores façam o caminho inverso daquele que sempre foi apontado pelos muitos críticos brasileiros que se dedicaram aos estudos sobre Machado, buscando desta vez um certo olhar de Machado para o exterior.

Nestes tantos caminhos cruzados, o leitor atento mais familiarizado com o universo literário de Machado acaba percebendo uma breve cartografia dos estudos, das tendências e das conquistas crítico-analíticas nacionais e internacionais em relação à obra ímpar e extensa de um dos maiores nomes da literatura. Benedito Antunes e Sérgio Motta, professores de Literatura e Cultura Brasileira da Unesp, destacam que tanto o simpósio de 2008 como o livro agora lançado representam importante passo para a descoberta de comentários não só inovadores, mas multiplicadores das formas de ler Machado de Assis. 









Retrato atualizado: o escritor, que
foi apelidado por seus pares de Bruxo
do Cosme Velho, nas ilustrações em estilo
Pop Art da capa e da contracapa do livro
Machado de Assis e a Crítica Internacional.

Também abaixo, Machado de Assis em sua última
fotografia conhecida, feita em estúdio, com data
de 1907, que pertence ao acervo da família de
Mário de Alencar, filho de José de Alencar












"Trata-se de um autor que oferece reflexões universais sobre a alma e o comportamento humano, mesmo se reconhecidos seus vínculos regionais", diz Antunes. Os caminhos cruzados entre a crítica nacional e internacional, segundo Antunes, resultam em panoramas surpreendentes que destacam a qualidade do grande escritor e verificam como sua valorização no exterior é gradual e progressiva.

Na apresentação aos ensaios, Antunes e Motta ainda apontam que "há um universalismo que Machado legou à nossa literatura e uma projeção de nossa literatura à esfera internacional, ao construir uma arte ao mesmo tempo brasileira e universal". A invenção machadiana já pressupunha, portanto, os "caminhos cruzados".









Machado de Assis fotografado por seus
contemporâneos: acima, o escritor é acudido
na rua, no Rio de Janeiro, em 1907, durante
o que se supõe ser uma crise de epilepsia,
em fotografia de Augusto Malta.; e Machado
de chapéu
no "terrasse" da Confeitaria Castelões,
na antiga Avenida Central (atual Avenida Rio Branco),
no centro do Rio de Janeiro. Na mesa com Machado,
Euclides da Cunha, José Veríssimo e Waldrido Ribreiro.
Foto publicada pela revista Fon-Fon em 1907.

Abaixo, Machado em duas fotografias atribuídas
a Augusto Malta com autoridades e a elite da
literatura brasileira em sua época: na primeira
fotografia, com amigos e patronos da Academia
Brasileira de Letras, estão, de pé, Rodolfo Amoedo,
Artur Azevedo, Inglês de Souza, Olavo Bilac,
José Veríssimo, Sousa Bandeira, Filinto de Almeida,
Guimarães Passos, Valentim Magalhães, Rodolfo
Bernardelli, Rodrigo Octavio e Rodolfo Peixoto;
sentados, João Ribeiro, Machado de Assis, Lúcio
Furtado de Mendonça e José Júlio da Silva Ramos.

Na segunda fotografia, com data de 1906,
que registrou os convidados para um almoço
no Clube dos Diários oferecido pelo general
colombiano Rafael Uribe, em sua
visita ao Rio de Janeiro, estão, entre outros,
Machado de Assis (o segundo na primeira fila)
e, a seu lado, à direita da foto, Joaquim Nabuco;
o colombiano Rafael Uribe; o prefeito do Rio de
Janeiro, na época Distrito Federal, Francisco
Pereira Passos; Oswaldo Cruz e Olavo Bilac





     
 



Machado de Assis era um realista?

Machado de Assis era um realista?

O ensaísta e professor Gustavo Bernardo defende uma tese que vai contra quase um século de crítica literária no Brasil. Em seu livro "O problema do realismo de Machado de Assis" (Editora Rocco), que está chegando às livrarias, ele argumenta que Machado, cânone maior da literatura no Brasil, não é um escritor realista. Na entrevista que fiz com ele, pelo telefone, para o jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, Gustavo Bernardo aponta que seu estudo, por certo audacioso, busca mostrar que os escritos do Bruxo do Cosme Velho não condizem com a classificação acadêmica imposta e ensinada há décadas em salas de aula de todo o Brasil.


No livro você destaca que a ficção de mestres como Machado de Assis estabelece um duplo caráter da linguagem, que tanto diz mais do que queria dizer quanto não consegue dizer exatamente o que queria dizer. Diante de tantos paradoxos, qual é o lugar de Machado de Assis na literatura e na cultura brasileira?

Gustavo Bernardo – Eu quis dizer que toda a linguagem que usamos tem esse caráter duplo: sempre dizemos mais do que queríamos dizer e nunca conseguimos expressar exatamente o que queríamos dizer. Ao contrário do que imagina o senso comum escolar, a linguagem é fundamentalmente equívoca. A compreensão da língua de escritores como Machado faz com que eles explorem os equívocos de linguagem da sua sociedade e do seu tempo, em especial aqueles que confundem a realidade com os discursos sobre a realidade. Essa circunstância faz com que possamos considerar Machado de Assis não apenas nosso maior escritor mas também como nosso mais importante filósofo, uma vez que a sua obra até hoje parece pensar profundamente sobre os nossos equívocos, sobre os nossos paradoxos, sobre as nossas hipocrisias.




O Bruxo do Cosme Velho em adaptações
no cinema e na TV: acima Petrônio Gontijo
e Viétia Rocha vivem o jovem Brás Cubas
e sua amada Virgília em cena do filme de
2001, Memórias Póstumas, com roteiro e
direção de André Klotzel. Abaixo, o casal
Michel Melamed e Maria Fernanda Cândido
vivem Bentinho e Capitu na minissérie de
2008 da TV Globo Capitu, com roteiro
adaptado do romance Dom Casmurro
e direção de Luiz Fernando Carvalho



 






Considerando a literatura em língua portuguesa e a literatura produzida no Brasil, o gênio de Machado de Assis encontra algum precursor?

Não há precursor na literatura em língua portuguesa para Machado de Assis. É certo que autores como Eça de Queirós e José de Alencar foram muito importantes para ele, mas para que escrevesse antes contra eles do que como se os sucedesse esteticamente. Dom Casmurro é de certa forma uma resposta a ambos, tanto a O primo Basílio, de Eça, quanto a Lucíola, de Alencar: o romance machadiano desmonta tanto o realismo do autor português quanto o romantismo do brasileiro, de tabela desconstruindo radicalmente a visão que ambos tinham da mulher. Luísa e Lúcia/Maria da Glória começam suas histórias como personagens femininas densas e fortes, mas os autores as enfraquecem tanto que chegam mesmo a matá-las ao final, enquanto Capitu mantém sua força, sua densidade, sua ambiguidade e sua dignidade do princípio ao fim do romance, morrendo não em função das ações e omissões do narrador mas sim em função da idade. 

Então é um erro apontar Eça de Queirós ou José de Alencar como precursores da literatura de Machado de Assis?

Encontro precursores verdadeiros para Machado quer no filósofo francês Michel de Montaigne quer no escritor espanhol Miguel de Cervantes. Concordo inteiramente com o escritor mexicano Carlos Fuentes, que considera Machado de Assis o único herdeiro literário de Cervantes em toda a América, chegando a chamá-lo pela alcunha de “Machado de La Mancha”. Na nossa língua, o melhor sucessor de Machado, até porque muito diferente dele, é João Guimarães Rosa, que por mágica coincidência nascia no mesmo ano em que morria Machado de Assis. Sua Diadorim, de Grande sertão: veredas, é sem dúvida a melhor companheira de Capitu na literatura brasileira.






E a literatura brasileira hoje? Está melhor ou pior do que há tempos passados?

Darei uma resposta categórica: não sei! Acho que não temos como responder a essa pergunta, e sempre me incomodam aqueles que tentam, o que acontece periodicamente. Como diria o historiador Fernand Braudel, “a fumaça dos acontecimentos nubla a visão dos contemporâneos”. Primeiro, não temos a distância necessária para avaliar a literatura contemporânea; segundo, não temos meios adequados para comparar termos incomparáveis, quais sejam os escritores e as suas obras. O estudo da literatura, no meu entender, é o estudo da singularidade, não da similaridade. Penso que empobrece a literatura e a leitura enquadrar obras e autores, quer nos escolares estilos de época, quer nos modernos rankings de melhores e piores.






Dos tantos escritos que compõem a obra de Machado, qual você escolhe como o seu favorito?

São justamente tantos e tão bons que esta pergunta se faz a mais difícil de todas. Meu primeiro impulso é oscilar entre Dom Casmurro O alienista, pela crítica devastadora que ambos os títulos fazem à maneira moderna de pensar, mas logo me vem à mente um romance da chamada primeira fase, tão desprestigiada e tão excepcional quanto a chamada segunda fase. Trata-se justamente do primeiro romance de Machado de Assis, sua obra-prima nos dois sentidos do termo: Ressurreição. Este romance, de maneira discreta, já contém em germe todas as qualidades estéticas e filosóficas de Machado, a começar pela excepcional ironia contida no título: não há ressurreição alguma.

Esta ironia é um golpe de “canhões de pelica” no romantismo...

Isso mesmo. Machado é o nosso escritor mais cético. Aliás, são três as qualidades de Machado que mais incomodam nossa crítica e nossa pedagogia, por isso seus próceres tentam negá-las quase desesperadamente: primeiro, nosso maior escritor é negro, logo, tentam embranquecê-lo de diversas maneiras pouco sutis; segundo, nosso maior escritor é o maior adversário do realismo, logo, tentam sustentar o absurdo de que ele mesmo seria não só realista como o próprio fundador do realismo no Brasil; terceiro, nosso maior escritor é cético, logo, tentam desqualificar seu ceticismo, vendo-o equivocadamente como pessimismo ou niilismo.







Woody Allen, em recente entrevista ao jornal inglês The Guardian, destaca que Machado é um de seus escritores preferidos e que ele se identifica com o estilo e as tramas do autor de Dom Casmurro. Você concorda que há semelhanças entre os filmes de Woody Allen e a literatura de Machado?

Sim, sem dúvida. Primeiro, ambos são tremendamente irônicos e engraçados, apesar de não provocarem gargalhadas mas sim sorrisos inteligentes. Segundo, ambos são mestres na arte difícil da tragicomédia, a tal ponto que suas obras não evoluem da comédia para a tragédia, como de hábito, mas são cômicas e trágicas do início ao fim, da primeira à última página ou cena. Terceiro, ambos são herdeiros da meta-ficção de Cervantes, porque ambos quebram a cada página ou cena o contrato de ilusão realista entre autor e leitor, ou entre diretor e espectador. Quarto, ambos questionam a raiz de todos os discursos humanos, desconfiando sempre de que não sabemos o que temos certeza de que sabemos, o que prova que ambos são profundamente céticos – o que não torna nem um nem outro pessimista ou niilista, mas todo o contrário. Ambos, por fim, são príncipes da dúvida, da inteligência e da tolerância.



por José Antônio Orlando. 


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. O Bruxo e a crítica internacional. In: Blog Semióticas, 18 de julho de 2011. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2011/07/o-bruxo-e-critica-internacional.html (acessado em .../.../...).



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