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1 de fevereiro de 2022

Arte negra nas Américas






A história da escravidão africana na América é um abismo

brutal de degradação e miséria que não se pode sondar....

–– Joaquim Nabuco (1849-1910).  
   


Resumindo: é um evento que não tem a pretensão de constituir um inventário completo sobre a abrangência do assunto nem de propor uma história da arte revisada com foco na obra de afro-americanos. Mas é uma novidade em sintonia com os novos tempos. Trata-se de uma exposição inédita apresentada na Universidade Pepperdine em Malibu, na Califórnia, reunindo obras e documentos que narram conquistas e contribuições de artistas afro-americanos nos últimos seis séculos – tanto nos Estados Unidos como em alguns países de América Latina. A exposição “The Cultivators: Highlights from the Kinsey African American Art & History Collection” (Os cultivadores: destaques da coleção de arte e história afro-americana de Kinsey), com curadoria de Khalil Kinsey e Larry Earl, está aberta no espaço mais nobre da universidade, o Frederick R. Weisman Museum of Art, e prossegue até 27 de março, quando terá agenda itinerante por instituições nos Estados Unidos e outros países.

Na interseção da arte e da história, a exposição cobre a vida, a produção cultural e as realizações de um grupo representativo de afro-americanos desde o século 16 até os tempos recentes, incluindo obras e ações relacionadas à Proclamação da Emancipação dos cidadãos mantidos em escravidão, assinada em 1862 pelo presidente Abraham Lincoln (a escravidão tornou-se ilegal nos Estados Unidos através da aprovação da 13ª Emenda Constitucional em 1865); às mobilizações contra o racismo e contra o linchamento de negros no decorrer do século 20; às mobilizações pela igualdade com o Movimento dos Direitos Civis na década de 1960; e aos recentíssimos eventos do Black Lives Matter (Vidas negras importam) iniciados nos Estados Unidos desde 2013 com multidões em protestos contra a violência direcionada às pessoas negras. Em uma iniciativa que permanecia inédita no circuito de museus e galerias de arte, a exposição na Universidade Pepperdine celebra somente artistas afro-americanos, oferecendo uma contra-narrativa crucial ao colocá-los no centro, e não nas margens, da história norte-americana.












Arte negra nas Américas: no alto, Untitled, pintura
em óleo sobre tela de 1951 de Hughie Lee-Smith.
Acima, fotografia de Earnest Whiters de 1968 faz
um registro histórico da marcha em homenagem ao
pastor batista Martin Luther King Jr., liderança política
e ativista dos Direitos Civis que foi assassinado em abril
de 1968 em Memphis, Tennessee. Também acima,
"Primeiro voto", aquarela em policromia de
Gayle Hubbard na primeira página do jornal
"Harper's Weekly", de Nova York, na edição histórica
de 16 de novembro de 1867, que registrou a primeira
eleição nos EUA com pessoas negras na condição
de eleitores; e uma fotografia de Bernard Kinsey
em seu escritório de trabalho.

Abaixo, a família Kinsey: Bernard, Shirley e o filho do
casal, Khalil, atual curador e diretor da Fundação Kinsey;
e The Cultivators, pintura em óleo sobre tela de 2000
de Samuel Dunson que faz homenagem ao trabalho
dos Kinsey e que dá título à exposição aberta na
Universidade Pepperdine. Todas as imagens desta
postagem fazem parte do catálogo da exposição









A história da arte negra na América do Norte, assim como em toda a América Latina, e também em outros continentes, surge como uma história de resistência contra a violência, contra a opressão e contra o sofrimento das populações capturadas e negociadas no continente africano e levadas à força para o trabalho escravo do outro lado do oceano Atlântico. No informe sobre a exposição, a curadoria destaca a expressão “mito da ausência”, usada pelo historiador Lerone Bennett Jr. (1928-2018), que se dedicou a pesquisas sobre as relações raciais nos Estados Unidos, para se referir aos capítulos da história que tiveram afro-americanos como protagonistas e que foram por muito tempo ignorados.

A expressão "mito da ausência" é aplicada cada vez com mais frequência nos estudos acadêmicos, na educação e nas ciências sociais, como referência ao mascaramento do preconceito racial, pois tal mascaramento também configura uma prática racista de exclusão pelo "apagamento". O mito da ausência tornou invisível a trajetória de muitas gerações de artistas – que permaneceram anônimos em sua época e surgem agora, anos depois, ou décadas e séculos, em muitos casos, com obras que provocam impacto e impressionam. Pode-se reconhecer que foram silenciados, perdidos, roubados, humilhados, ignorados, deixados para trás, mas não esquecidos. Entre os artistas selecionados estão, entre outros, Ernie Barnes, John Biggers, Bisa Butler, Elizabeth Catlett, Robert Duncanson, Sam Gilliam, Jacob Lawrence, Norman Lewis, Augusta Savage, Laura Wheeler Waring, Lois Mailou Jones, Henry Ossawa Tanner, Alma Thomas, Hughie Lee-Smith, Romare Bearden e Charles White.











Arte negra nas Américas: no alto, Mulher vestindo
lenço laranja
, pintura 
em óleo sobre tela de 1940
de Laura Wheeler Waring. Acima, Duas mulheres
africanas
, desenho em técnica mista sobre pergaminho de
1942 de autoria de Eldzier Corter. Abaixo, Gamin Gamin,
escultura em bronze de 1930 de Augusta Savage;
e um retrato do escritor James Baldwin desenhado
por Romare Bearden em Paris, por volta de 1950,
quando Bearden foi um dos primeiros negros dos
Estados Unidos a frequentar como aluno os ateliers
de mestres como Brancusi, Giacometti e Matisse










Arte e resistência


A maioria dos artistas reunidos no acervo em exposição têm, pela primeira vez, destaque por sua produção artística, e poucos estão registrados nos livros didáticos de história e nos compêndios de história da arte. Vale lembrar que somente na década de 1980 um primeiro negro conquistou pleno reconhecimento nas artes plásticas nos Estados Unidos – ele foi Jean-Michel Basquiat (1960-1988), nascido em Nova York com ascendência porto-riquenha por parte de mãe e haitiana por parte de pai. Quatro décadas depois da revelação que foi Basquiat, o acervo de peças originais agora reunido, com pinturas, gravuras, desenhos, esculturas, estamparias e obras em suportes variados de madeira, papel, tecido e pedrarias, é celebrado e contextualizado por meio de documentos históricos, cartas e manuscritos garimpados em diversas instituições, livros raros e fotografias que contam a história das lutas, da resistência e da perseverança afro-americanas.

A extensa e variada seleção de obras de arte negra, na verdade, é uma monumental coleção particular: a coleção de arte da família Kinsey, iniciada na década de 1960, e que só agora ganha sua primeira grande retrospectiva. Todo o acervo também está reunido em um catálogo ilustrado da coleção e da exposição na Universidade Pepperdine. Quando o empresário Bernard Kinsey e Shirley Kinsey se casaram em 1967, depois de se conhecerem como estudantes na Universidade da Flórida, o casal estabeleceu a meta de visitar 100 países diferentes durante sua vida juntos. Enquanto viajavam e exploravam outros países e culturas, começaram a colecionar arte, documentos e artefatos de história da América como lembranças preciosas das experiências de viagem. À medida que a coleção crescia, eles perceberam que havia tantos aspectos sobre sua própria herança cultural que nem eles nem outros pesquisadores conheciam e que as peças reunidas tinham um grande valor não apenas como raridades, mas também como uma expressão legítima da presença e da importância dos afro-americanos na arte e na cultura.











Arte negra nas Américas: acima, Charleston,
South Carolina, aquarela
 datada de 1936 de
Ellis Wilson; e Brincadeira de criança,
aquarela com data de 1950 de Aaron Douglass.

Abaixo, Mt. Tacoma from Lake Washington,
pintura em óleo sobre tela com data de 1885 de
Grafton Tyler Brown; e uma gravura publicada
em 1863 pelo Harper's Weekly com o título
"Os efeitos da proclamação: negros libertos
entrando em nossa jurisdição em
Newbern, North Carolina"


 
 


           


            



Conquistas históricas


A paixão do casal Kinsey pela história, pela cultura e pelos até então desconhecidos artistas negros das Américas os levaria a criar a Bernard and Shirley Kinsey Foundation for Arts and Education, com foco em iniciativas para o desenvolvimento da história e da cultura afro-americana, incluindo arquivos, programas de pesquisa, bolsas de estudo, edição de livros, eventos e apoio a várias instituições, entre elas a Rosa Parks Foundation. A valiosa e incomparável coleção de arte e história afro-americana do casal Kinsey, agora gerenciada por seu filho Khalil Kinsey, curador da fundação e da exposição, celebra as conquistas e contribuições dos negros americanos desde antes da formação dos Estados Unidos até os tempos atuais.

Se você quer mudar uma pessoa”, anuncia uma frase do patriarca Bernard Kinsey destacada no informe sobre a exposição, “a primeira coisa que você deve fazer é mudar sua consciência de si mesma, começa com sua consciência. A Coleção Kinsey se esforça para dar voz, nome e personalidade aos nossos ancestrais, permitindo que o espectador entenda os desafios, obstáculos, triunfos e sacrifícios extraordinários dos afro-americanos.” Khalil Kinsey acrescenta: “Esta é uma história de família, ilustrando o que uma família fez para contar sua história. Mas também é sobre a América. Porque a maioria das pessoas só conhece metade da história.”







Arte negra nas Américas: acima, gravura em
litografia de 1863 retrata um regimento voluntário

de soldados negros em Camp William Penn, na
Pensilvânia, em treinamento para combater as
tropas de confederados dos estados escravagistas
do sul dos Estados Unidos, durante a Guerra Civil
ou Guerra de Secessão. Abaixo, litografia de 1872
registra os integrantes da primeira bancada de políticos
de ascendência afro-americana no Congresso dos
Estados Unidos, todos eles nascidos na escravidão.
Também abaixo, Hiram Rhoades Revels, o primeiro
cidadão negro a ser eleito para o Senado dos EUA,
em fotografia de 1870 feita por Mathew Brady;
e uma família de mulheres afro-americanas em
um daguerreótipo anônimo datado de 1855




      


 





Quebrando estereótipos


Além dos artistas que surgem com suas obras-primas na condição de obras inéditas para a maioria dos estudiosos e do público, contribuindo para dissipar mitos e quebrar preconceitos e estereótipos, há também na exposição documentos que registram momentos emblemáticos da história. Os destaques incluem documentos bizarros para os padrões atuais, como notas de venda, anúncios, cartas e certidões em manuscritos para o comércio de escravos. Há também raridades que são marcos da história da literatura e da imprensa, como livros e revistas originais com letras coloridas à mão da época da Guerra Civil; exemplares poucos conhecidos da arte, da música e da literatura do Harlem Renaissance, quando o bairro ao norte de Manhattan teve seu apogeu para a cultura negra (do começo do século 20 até o final da década de 1930); e itens que destacam personalidades e momentos-chave no Movimento dos Direitos Civis, a partir da década de 1960, incluindo panfletos originais, documentos e muitas fotografias que permaneciam inéditas.













     
   


Arte negra nas Américas: no alto, Quatro vacas
no campo, pintura em óleo sobre tela de 1893 de
Edward Mitchell Bannister. Acima, uma Paisagem
em pintura em óleo sobre tela de 1865 de
Robert S. Duncanson; e Porto, pintura de 1940 de
Allan Randall Freelon. Abaixo, litografia em base de
madeira de 1953 de Charles White com o título de
Cantor popular (Folk singer). Também abaixo,
Faces do meu povo, xilogravura de 1990 de
Marlon Burrows, seguida de Mãos do campo,
pintura em óleo de 1988 de Johnathan Green;
e Corredor na praia, pintura em tinta acrílica
de 1997 de Ernie Barnes






Além da beleza comovente de pinturas, gravuras, esculturas e desenhos de autores que estavam, em sua maioria, há muito tempo no anonimato, entre as raridades da coleção Kinsey, apresentadas no extenso acervo em exposição, também estão cartas e manuscritos pela primeira vez divulgados de lideranças políticas e personalidades como Martin Luther King Jr., James Baldwin, Malcolm X e Alex Haley, entre outros. Há ainda os registros cartoriais mais antigos de que se tem notícia sobre a presença e a atuação de afro-americanos nos Estados Unidos, incluindo uma certidão de batismo de uma criança negra e uma certidão de casamento civil de um casal negro, ambas do século 18.

Entre as raridades sobre literatura estão documentos em suas versões originais, com destaque para um exemplar recentemente descoberto da primeira edição de 1773 de poemas de Phillis Wheatley, primeira pessoa afro-americana a ter um livro publicado; e a primeira edição de 1853, completa e encadernada, de “12 Anos de Escravidão”, do autor Solomon Northrup, livro que em 2013 foi transformado no filme de mesmo título. Northrup, nascido livre em Nova York, em 1808, vivia com sua esposa e filhos quando foi sequestrado e acorrentado em 1841 por mercadores de escravos e vendido para fazendeiros da Louisiana, onde ficou cativo para trabalhos forçados em fazendas de cultivo de algodão e cana de açúcar. Em 1853, quando finalmente foi libertado, Solomon Northrup retornou para a família em Nova York e publicou seu relato dramático em livro.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Arte negra nas Américas. In: Blog Semióticas, 1º de fevereiro de 2022. Disponível em https://semioticas1.blogspot.com/2022/02/arte-negra-nas-americas.html (acessado em .../.../…).


Para uma visita virtual à exposição na Universidade Pepperdine,  clique aqui.








11 de novembro de 2021

Cenas da Era do Rock

 




Saxum volutum non obducitur musco.      

    A rolling stone does not gather moss”. 

(Pedra que muito se move não junta musgo.)       

–– Publius Syrus (século 1° antes de Cristo).      



São fetiches para garantir a felicidade de muitas legiões de fãs: uma coleção de centenas de fotografias de grandes astros e estrelas da Era do Rock, que permaneciam inéditas desde as décadas de 1960 e início de 1970, e que só agora reveladas ao público. Trata-se do acervo do fotógrafo inglês Alec Byrne, que desde o final dos anos 1960 cobriu a cena cultural de Londres e acompanhou a trajetória de shows e entrevistas de bandas e músicos britânicos lendários como The Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, The Who, David Bowie, e também artistas de outros países que se apresentavam em Londres, incluindo Chuck Berry, Bob Dylan, Bob Marley, Jimi Hendrix, The Doors, Tina Turner, Aretha Franklin, Abba, Cat Stevens e muitos mais. Depois de mais de 50 anos, Alec Byrne revela seu acervo inédito no livro “London Rock: The Unseen Archive”, um catálogo de belas e surpreendentes imagens da Era do Rock.

Não foi intencional manter as fotografias inéditas por tanto tempo – como revela Alec Byrne na apresentação ao livro. Na verdade todas as imagens ficaram esquecidas em uma caixa nos fundos da garagem da casa onde o fotógrafo morou durante décadas em Los Angeles (EUA) e sobreviveram a incêndios e a inundações que destruíram milhares de outras imagens de sua coleção. Descobertas por ele próprio recentemente, quase por acaso, imediatamente foram digitalizadas, selecionadas e tratadas em photoshop e depois apresentadas à imprensa pelo próprio fotógrafo. Em seguida vieram eventos e shows para apresentação ao público no museu Rock and Rook Hall of Fame em Cleveland, Ohio, e no festival South By Southwest em Austin, Texas, além de uma exposição na National Portrait Gallery em Londres. Agora, finalmente, a seleção de imagens de Alec Byrne ganha publicação no livro de 254 páginas, na verdade um catálogo de luxo em lançamento da Insight Editions de Londres.






                             



Cenas da Era do Rock: no alto, o fotógrafo
Alec Byrne em autorretrato, no final da década
de 1960. Acima, a capa original de "London Rock",
livro de fotografias que reúne imagens que estavam
inéditas há mais de 50 anos, e Alec Byrne fotografado
trabalhando em seu estúdio em Los Angeles.

Abaixo, uma seleção de fotografias apresentadas
no livro, começando com David Bowie em
Paddington Street Gardens, em setembro de
1969; Jimi Hendrix com Mick Jagger em 1967;
e Elton John em julho de 1971, no palco, durante
o concerto no Crystal Palace Bowl

















Uma câmera Rolleiflex


Na apresentação ao livro, que também conta com um prefácio escrito pelo jornalista Tony Norman, o fotógrafo recorda que tudo começou quando ele tinha 17 anos e conseguiu um emprego de meio expediente como office-boy na agência Keystone Press, em Londres, em meados da década de 1960, e passou a conviver diariamente com muitos fotógrafos, repórteres e editores de jornais e revistas. Quando recebeu o primeiro salário, investiu comprando uma câmera Rolleiflex, com sua mãe assinando o contrato para a venda com pagamento em várias parcelas. Desde então, passou a frequentar shows e entrevistas, primeiro por prazer, e depois por investimento para construir um portfólio especializado em figuras do mundo do rock’n’roll, exercitando diariamente seu aprendizado como fotógrafo amador. Em pouco tempo, a publicação de suas fotografias ganhou espaço na revista “New Musical Express” e a assinatura de Alec Byrne passou de “fotógrafo amador” para “fotógrafo profissional”.

“Eu estava no lugar certo e na hora certa. Havia uma revolução musical acontecendo e eu estava bem no meio dela”, recorda o fotógrafo. No livro, ele também revela histórias saborosas e confidências sobre algumas das imagens, como o primeiro show de Jimi Hendrix em Londres, que teve na plateia nomes como Mick Jagger, Keith Richards, Eric Clapton e David Bowie, flagrados em retratos surpreendentes enquanto assistiam encantados à performance; a primeira apresentação das canções do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” pelos Beatles no Abbey Road Studios, em 1967, que também foi a primeira transmissão internacional de TV via satélite; ou um cigarro de maconha que Bob Marley dividiu com o fotógrafo na sessão de fotos realizada na suíte do cantor, no Montcalm Hotel, em Londres, em julho de 1975.














Cenas da Era do Rock: no alto, Anita Pallenberg,
Michele Breton e Mick Jagger
fotografados por
Alec Byrne em 1969 durante as filmagens de
"Performance", filme com direção conjunta de
Donald Cammell e Nicolas Roeg. Acima,
um flagrante dos Rolling Stones no palco
durante as gravações do especial para a TV
"Rock and Roll Circus", em 1968, com
Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones.

Abaixo, Brian Jones chegando para as
gravações do "Rock and Roll Circus",
e o registro de Alec Byrne no funeral de
Brian Jones, em junho de 1969. Também abaixo,
The Beatles, Ringo Starr, Paul McCartney,
John Lennon e George Harrison, durante
a transmissão via satélite em junho de 1967,
e Paul McCartney ao telefone em 1968








 


Retratos de grandes lendas


Em 1976, Alec Byrne recebeu uma oferta de trabalho para Los Angeles e se mudou definitivamente de Londres. Nos Estados Unidos, passou a trabalhar com outras pautas além da cobertura de música e terminou abrindo sua própria agência de fotografia, passando a se dedicar em seguida às funções administrativas. Desde então seus arquivos ficaram guardados e, com o passar do tempo, apenas uma ou outra foto foi comercializada para ilustrar álbuns em lançamento ou reportagens sobre grandes lendas da história do rock. No livro, ele recorda que a primeira grande perda aconteceu em Londres, em 1971, quando um incêndio destruiu o estúdio em que ele trabalhava, destruindo grande parte de seu acervo.







Não foi a única perda na trajetória do fotógrafo: durante a mudança para os Estados Unidos, centenas de outros negativos foram danificados pela água do mar no vazamento de um contêiner no navio, durante a travessia do oceano Atlântico. Anos depois, em 1994, o terremoto com magnitude de 6,7 que atingiu Los Angeles destruiu o antigo prédio em que ficava o escritório de Byrne e novamente centenas de negativos foram danificados ou definitivamente perdidos. Nos anos seguintes, vieram um outro incêndio e depois um alagamento que atingiram a casa em que ele morava em Los Angeles, novamente provocando perdas definitivas em fotos ampliadas e em seus negativos. O material que sobreviveu a tantos acidentes permaneceu guardado, ou esquecido, até ser redescoberto pelo fotógrafo.









                             




Cenas da Era do Rock: no alto, Bob Dylan
na entrevista coletiva, minutos antes de subir
ao palco no Festival da Ilha de Wight em 1969;
acima e abaixo, Jim Morrison à frente da
banda The Doors no palco da
Roundhouse, em setembro de 1968.

Também abaixo, Jimi Hendrix no palco do BBQ
em maio de 1967; Led Zeppelin no show "Eletric Magic",
em novembro de 1971; Tina Turner no Empire Pool,
em 1972; Grace Slick à frente da banda
Jefferson Airplane, em uma rua de Londres,
em 1970; e The Yardbirds na formação original,
com Jimmy Page à frente, nas gravações
de um especial para a BBC em 1967.

Também abaixo, Chuck Berry no palco do
Hard Rock, em 1973; Bob Marley na sessão
de fotos no Montcalm Hotel, em 1975;
e Aretha Franklin no camarim antes do
show no Hammersmith Odeon em 1968


 

 







                                    






 

Impacto emocional


Ao recordar sua trajetória e a história de suas fotografias, Alec Byrne conta que o entusiasmo que teve ao ter seu trabalho publicado pela primeira vez pelas revistas “New Musical Express” e “Melody Maker” mudou sua visão de mundo e o levou a um caminho que ele nunca havia planejado ou cogitado. Em 1969, aos 20 anos, ele fundou sua própria agência de fotografia em Londres e começou a vender fotos para revistas de todo o mundo. A trajetória seguiu uma linha ascendente por mais de uma década de shows e encontros com músicos e bandas em entrevistas e sessões de lançamentos e gravações, até que no final dos anos 1970, também por um acaso não planejado, Alec Byrne assumiu cada vez mais as funções de empresário e “aposentou-se” da música e dos ambientes do rock e seu acervo de imagens foi para as caixas de arquivo, onde permaneceu praticamente intocado e inédito durante décadas.

Quando eu estava fazendo essas fotografias, a princípio ainda adolescente, não tinha ideia – absolutamente nenhuma – de que estava registrando um dos momentos mais influentes da história da cultura pop. Na época, simplesmente senti que havia descoberto um ótima maneira de ganhar dinheiro e seguir a vida. Eu adorava tudo aquilo, mas a vida era agitada e não havia tempo para refletir sobre o que tudo significava”, confessa Alec Byrne, na apresentação ao livro. “Acho que uma das razões pelas quais todas essas fotografias ficaram guardadas nas caixas por tanto tempo é porque eu sempre pensei no que elas significavam para mim. Nunca me ocorreu, até depois das primeiras apresentações em público, o quanto estas imagens significavam também para outras pessoas. É maravilhoso, apesar dos incêndios, das inundações e do terremoto, e depois de todos esses anos, finalmente poder compartilhar estes retratos com outras pessoas e saber que o impacto das emoções que eles registram também significa muito para tanta gente”.


por José Antônio Orlando.


Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Cenas da Era do Rock. In: Blog Semióticas, 11 de novembro de 2021. Disponível em https://semioticas1.blogspot.com/2021/11/cenas-da-era-do-rock.html  (acessado em .../.../…).


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