28 de maio de 2012

Beatles em Abbey Road







Declaro que os Beatles são mutantes. São protótipos de 
agentes evolucionários enviados por Deus, dotados de um 
poder misterioso para criar uma nova espécie humana, 
uma jovem raça de seres humanos livres que sabem rir. 
–– Timothy Leary (1920-1996).   
     

Os sobreviventes Paul McCartney e Ringo Starr já assopraram as velinhas porque os Beatles ultrapassaram mais de seis décadas de História, mas o turbilhão de material inédito sobre os quatro rapazes de Liverpool parece não ter fim, incluindo gravações de áudio e vídeo, filmes, entrevistas e fotografias e mais fotografias nunca antes reveladas. O fenômeno de popularidade mundial permanece, muito além do que qualquer um poderia prever quando a banda começou, em 1960, com a formação inicial de John Lennon, McCartney, George Harrison, Stuart Sutcliffe (baixo) e Pete Best (bateria). A data oficial de origem da lendária beatlemania foi marcada no dia 6 de junho de 1962, quando Lennon (guitarra rítmica e vocal), McCartney (baixo e vocal), Harrison (guitarra solo e vocal) e Ringo Starr (bateria e vocal) fizeram juntos a primeira sessão de gravação para a EMI no famoso Abbey Road Studios, no norte de Londres. Desde então, há bem mais de meio século, a beatlemania nunca saiu de cena e continua em destaque em todos os panoramas da música e da cultura pop.

Canções, turnês, discos, filmes, entrevistas, depoimentos e polêmicas da invasão mundial capitaneada pelos quatro de Liverpool ainda ecoam e mobilizam seus milhões de fãs, com o incentivo generoso de mais lançamentos e novidades. As mais recentes incluem documentários com cenas nunca vistas, novas versões das gravações clássicas e muitas imagens raras e inéditas. Entre as novidades estão os livros ilustrados “The Beatles are here” (Algonquin Books), organizado por Penelope Rowlands, que reuniu uma extensa coleção de fotografias inéditas e artigos também inéditos de personalidades como Gay Talese, Lisa See, Renée Fleming, Billy Joel, Henry Grossman, entre uma centena de outros escritores, músicos e fotógrafos que revelam suas lembranças sobre a primeira turnê dos Beatles na América, em 1964, e também “The Beatles: On the Road 1964-1966” (Taschen), que reúne uma imensa coleção de imagens em preto e branco, na grande maioria inéditas, que cobre os três primeiros anos de turnês mundiais da mais popular de todas as bandas de rock, ou, como os beatlemaníacos preferem dizer: a maior banda que já caminhou pela Terra.

Também estão anunciados novos projetos dos Beatles para cinema: há o lançamento de uma nova versão do filme de animação “Yellow Submarine” (1968), dirigido por George Dunning e inspirado na pop art de Andy Warhol, e alguns documentários com imagens inéditas, entre eles “What's Happening!”, dos irmãos David e Albert Maysles, que flagraram, nos idos de 1964, os bastidores e a histeria de fãs na primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos; “The Beatles: The Concert Lost”, que registra o primeiro show na América e foi exibido em 1964 nos cinemas, mas que estava desaparecido desde aquela época; e “The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Years”, com roteiro e direção do veterano cineasta Ron Howard e que vai apresentar pela primeira vez as imagens, que permaneceram inéditas por mais de 50 anos, que incluem a estreia do grupo com o nome The Beatles, no Cavern Club de Londres, em 1962, e os bastidores do show no Shea Stadium, em Nova York, em 1965. O projeto mais ambicioso, porém, está a cargo de Peter Jackson, conhecido pelas superproduções como "O Senhor do Aneis": ele vai transformar em documentário as cerca de 60 horas inéditas de filmagens feitas com os quatro Beatles durante as gravações do último álbum, "Let It Be". O projeto de Peter Jackson tem o título "Get Back".









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Imagens da beatlemania: no alto,
a fotografia rara com a travessia de
Abbey Road "ao contrário". Acima,
a foto de Iain Macmillan, reproduzida
na capa do disco de 1969; The Beatles
no filme de animação "Yellow Submarine";
e dois flagrantes pelas lentes de Harry Benson
que permaneciam inéditos: os quatro rapazes
bem comportados em 1966 e a grande
mudança um ano depois, em 1967, com
bigodes e roupas de cores psicodélicas.

Abaixo, três imagens que
registram a temporada que os Beatles,
suas namoradas e amigos passaram em
Rishikesh, na Índia, em 1968, para
aprender meditação transcendental com
mestre Maharishi Mahesh Yogi em
Ashram, templo à beira do Himalaia e do
sagrado rio Ganges. Também abaixo, a capa
do livro de Penelope Rowlands e uma de
suas imagens inéditas que registram os
Beatles em Nassau, nas Bahamas, em
1965, durante as filmagens de Help!,
fotografados por Henry Grossman;
na sequência, a capa do livro de
Harry Benson e uma sequência de
suas fotografias que permaneceram
inéditas desde a década de 1960






























The Beatles: Eight Days a Week”, é o projeto mais ambicioso, com estreia prevista para 2016, e vai incluir, nas três horas de duração prevista, depoimentos recentes, também inéditos e polêmicos, de Paul McCartney e Ringo Starr, bem como de Yoko Ono e Olivia Harrison, viúvas de John Lennon e George Harrison. Já “The Beatles: The Concert Lost” tem duração de 92 minutos e mostra o nascimento da beatlemania, com a apresentação na íntegra do lendário primeiro show que a banda realizou em 1964 em território norte-americano, no Coliseu de Washington.

Assim como o documentário dos irmãos Maysles, "The Concert Lost" registra as performances dos garotos de Liverpool e o público que vai ao delírio com “She Loves You” e “Twist and Shout”, entre outros sucessos que fizeram história. Um mês depois das filmagens, em 1964, o filme chegou a ser exibido nos cinemas e reuniu mais de dois milhões de espectadores. Mesmo com o sucesso, o filme original desapareceu misteriosamente e só foi recuperado no final de 2011, pela Screenvision, que restaurou o material e agora prepara um lançamento mundial com pompa e circunstância e a certeza de milhões de dólares em faturamento.

Além dos filmes que chegam aos cinemas, há ainda novidades reveladas com os vários e recentes leilões de objetos pessoais, gravações inéditas dos quatro em filmes domésticos, gravações de videoclipes e material publicitário que por algum motivo não foram lançados e milhares de fotografias raras dos quatro Beatles, que movimentaram pequenas fortunas e atiçaram a cobiça de colecionadores no mundo inteiro. Entre as fotos, a mais extensa coleção de inéditas está reunida em “The Beatles: On the Road 1964-1966”, lançamento da Taschen. Trata-se do acervo do fotógrafo Harry Benson, que era um amigo próximo do grupo e passou anos viajando com eles. A primeira passagem dos Beatles pelos EUA, as cenas de bastidores da gravação do filme “A Hard Day's Night” (1964), a gravação da banda no programa de TV de Ed Sullivan e até o exato momento quando John Lennon disse que "os Beatles eram mais famosos do que Jesus Cristo" estão nas fotografias do livro.
















Segundo Harry Benson, seu livro traz a coleção definitiva de imagens dos Beatles. “Essas fotos cobrem um período muito feliz, para eles e para mim", comenta o fotógrafo no prefácio do livro. "No fim, tudo se resume à música. Sem dúvida eles foram a maior banda do século 20 e é exatamente por isso que essas fotos são tão importantes". O livro ainda não tem edição nacional programada, mas a primeira edição em inglês, com 1.764 cópias numeradas e autografadas por Benson, já está esgotada, menos de um mês depois do lançamento, apesar de custar nada menos que US$ 600.



Cruzando Abbey Road



Além do livro de Harry Benson, uma das últimas novidades é uma fotografia rara, autografada pelos quatro Beatles, que registra o grupo atravessando a faixa de pedestres na esquina de Abbey Road, no bairro londrino St. John's Wood, que foi vendida por 16 mil libras em um leilão em Londres no dia 22 de maio na casa Bloomsbury Auctions. Um detalhe curioso: ao contrário da versão oficial que estampou “Abbey Road” (1969), penúltimo disco do grupo, esta foto que foi a leilão mostra o quarteto cruzando a rua da direita para a esquerda da imagem, que é uma das seis variações da primeira sequência do grupo naquela que é considerada uma das poses mais emblemáticas da história da cultura pop, de autoria do fotógrafo Iain Macmillan.

 





              








Os homens da minha vida













Beatles na América, em 1964,
retratados por Harry Benson em um
passeio na praia em Miami Beach; no
programa de TV do lendário Ed Sullivan;
e fazendo uma batalha de travesseiros no
quarto do Hotel George V, em Paris, também
em 1964, fotografia eleita por Harry Benson
como sua melhor foto em décadas de carreira.

Abaixo, a célebre sequência de fotografias de
Iain Macmillan na esquina de Abbey Road,
em Londres. A quinta fotografia, a partir da
esquerda, da série de seis, seria a imagem
escolhida para a capa de Abbey Road,
penúltimo álbum dos Beatles. Também
abaixo, as fotos de Linda McCartney
nos bastidores daquela lendária
tarde com os Beatles na
esquina de Abbey Road



   


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A rápida sessão de fotos em Abbey Road durou cerca de 10 minutos e foi feita em 8 de agosto de 1969. Enquanto um policial parava o trânsito, o fotógrafo Iain Macmillan, contratado porque era amigo de Yoko Ono, imortalizava a cena com John, Ringo, Paul e George cruzando a rua. Macmillan, em cima de uma escada, teve 10 minutos para fazer o ensaio e, ao que se sabe, registrou apenas uma dúzia de fotos dos quatro aguardando o momento da travessia e caminhando pela faixa de pedestres.

Na foto que agora foi a leilão, o sentido da caminhada está alterado, da direita para a esquerda, mas a ordem sequencial dos quatro não foi alterada em relação à imagem da capa do disco. Porém, há diferenças: Paul está usando sandálias (na foto oficial, ele está descalço) e não se vê nenhum cigarro em suas mãos. Os carros que ilustram a foto original na capa do disco de 1969 também não aparecem nesta versão.

A foto que estampou a capa do álbum Abbey Road ainda hoje é imitada por milhares de fãs em suas viagens a Londres. Segundo uma lenda da beatlemania, a foto também indicava que Paul estaria morto, vítima de um acidente de carro em 1966. Há algumas “pistas” que deram força ao rumor: na foto, Paul está descalço (segundo ele, naquele dia fazia muito calor) e fora de passo com os outros. Paul está de olhos fechados, tem o cigarro na mão direita, apesar de ser canhoto, e a placa do fusca (em inglês, "beetle") estacionado é "LMW", referindo-se às iniciais de "Linda McCartney Widow" ou "Linda McCartney Viúva" e abaixo o "281F", referindo-se ao fato de que Paul teria 28 anos se (“if” em inglês) estivesse vivo.

















Há ainda um contra-argumento de que Paul tinha somente 27 anos no momento do lançamento de Abbey Road – mas isso também reforça outra lenda, a de que Paul estaria incluído no “Clube dos 27”, como outros grandes artistas, poetas e astros do rock que morreram nesta idade. Os quatro Beatles na capa, segundo o mito "Paul está morto", representam o Padre (John, cabelos compridos e barba, vestido de branco), o responsável pelo funeral (Ringo, de terno preto), o Cadáver (Paul, de terno, mas descalço, como um cadáver em um caixão), e o coveiro (George, em jeans e uma camisa de trabalho).

Além disso há um outro carro estacionado, de cor preta, de um modelo usado para funerais e eles andam em direção a um cemitério próximo a Abbey Road. Na foto também é possível perceber que somente atrás de Paul há um carro, como se o carro tivesse passado pelo mesmo lugar em que ele está. Outra suposta pista da “morte” de Paul seria que, na contracapa do álbum, ao lado esquerdo da palavra Beatles, há oito pontos formando o número três (sendo, então, somente "três Beatles"). As evidências sobre a lenda e belas canções renderam um sucesso comercial imbatível a “Abbey Road”, que há mais de 40 anos se mantém como o álbum mais vendido dos Beatles.






John Lennon









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Penúltimo depois do último



A venda da fotografia dos Beatles cruzando Abbey Road “ao contrário” é o segundo leilão de fotos raras dos Beatles em menos de um mês. Em abril, duas imagens em preto e branco de John Lennon e Yoko Ono posando nus foram vendidas em outro leilão muito disputado na casa Duke de Dorchester, sul da Inglaterra. O vendedor, que não quis ser identificado, declarou à casa de leilões que encontrou as fotos no sótão da casa de sua mãe após ela ter morrido. Registradas por John e Yoko com um temporizador, as fotos ilustram a capa do álbum “Unfinished Music No. 1: Two Virgins”, que o casal gravou em 1968.

Abbey Road”, o 12° álbum lançado pelos Beatles, é um acontecimento desde que chegou às lojas, em 26 de setembro de 1969. Apesar de ter sido o penúltimo álbum lançado pela banda, foi o último a ser gravado e é considerado um dos melhores e mais cuidadosamente produzidos, comparável somente a “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”. A estrutura de “Abbey Road” é um primor e, segundo os biógrafos dos Beatles, além do uso de novos recursos tecnológicos que estavam surgindo na época, como o sintetizador Moog, os desentendimentos e as visões discordantes dos integrantes da banda só contribuíram para a riqueza da criação final.









Os polêmicos autorretratos de John e Yoko,
que recentemente foram a leilão em Londres,
ilustram a capa do álbumUnfinished Music
No. 1: Two Virgins”, lançado em 1968.

Abaixo, John e Yoko em dois momentos:
em 1970, fotografados
por George Konig
nos jardim da mansão
Tittenhurst Park
em Ascot, condado de
Berkshire, Inglaterra,
onde o casal viveu
de maio de 1969 a
agosto de 1971, antes
da mudança definitiva
para
Nova York; e em janeiro de 1971,
fotografados por Nishi Saimaru durante
a visita ao Japão. John queria conhecer
a família de Yoko e, durante a viagem,
descobriu o Haicai e ficou apaixonado
pela tradição de formato breve da
poesia japonesa












Também foi em “Abbey Road” que George Harrison se firmou como um compositor de primeira linha. Após anos vivendo sob a sombra de Lennon e McCartney, ele finalmente emplacou dois grandes sucessos com este álbum: “Here Comes the Sun” e “Something“. Ambas foram regravadas incessantemente ao longo dos anos e “Something” foi apontada em uma pesquisa recente da revista “Time” como a melhor música de “Abbey Road” e a segunda música mais interpretada no mundo, atrás somente de “Yesterday“, também dos Beatles.

Entre os tributos à beatlemania também está em destaque a coleção do selo Discobertas do carioca Marcelo Fróes, que já foi chamado de Indiana Jones da música brasileira pelo seu trabalho intensivo de arqueologia nos arquivos dos estúdios das gravadoras brasileiras. Nome de destaque no meio musical, Fróes lançou um presente dos sonhos para os fãs dos Beatles:um conjunto de três discos em que bandas, cantores e cantoras nacionais apresentam versões livres e inéditas para as canções que os quatro rapazes de Liverpool gravaram ou criaram em 1969 – ano de lançamento do legendário “Abbey Road”.











A foto mais reproduzida da era do rock 
e suas cópias: em 2009, para comemorar
os 40 anos do disco "Abbey Road", a
BBC de Londres promoveu um concurso
entre os fãs dos Beatles para escolher
a melhor homenagem. No alto, a imagem
que ficou em primeiro lugar, com os
fãs anônimos atravessando a esquina de
Abbey Road. Acima, as fotografias de
Linda McCartney que registram cenas
dos bastidores da célebre sessão em
Abbey Road. Abaixo, uma das raras
fotografias produzidas em 1968 por
Richard Hamilton para a capa do
LP The White Album e depois
descartadas pelo grupo; e uma versão
irônica da capa do álbum Abbey Road
produzida pela agência de web design
Aptitude, de Bedfordshire, Inglaterra












Outro lado de Abbey Road



Fã e colecionador dos Beatles desde a infância, Marcelo Fróes reúne três de suas paixões com o projeto “Abbey Road” – a música brasileira, as canções dos Beatles e o resgate de pérolas e preciosidades esquecidas em antigos arquivos. Os três CDs, intitulados “Beatles’69” e com subtítulos “Get Back –De Volta aos Beatles”,“Abbey Road Revisited” e “O Outro Lado da Abbey Road”, reúnem mais de 60 novas gravações produzidas entre janeiro e julho de 2009, todas em inglês.

Com belo projeto gráfico, a cargo de Ricardo Leite e da Crama Design, os CDs trazem nas capas fotografias de Kenjo Mayama registradas na esquina de Abbey Road, em Londres, a mesma que tornou-se ponto de peregrinação para beatlemaníacos do mundo inteiro. Nas versões do primeiro CD, nomes que vão de Capital Inicial (“Don’t Let me Down”) e Jota Quest (“Get Back”) a Fagner (“The Long and Winding Road”) e Maria Gadu (“Let It Down”) resgatam o repertório de “Get Back” – projeto gravado em janeiro e fevereiro de 1969 pelos Beatles e só lançado em 1970, quando a banda oficializou a separação.

O segundo disco,“O Outro Lado da Abbey Road”, traz canções dos Beatles do disco homônimo, de 1969, em versões de Kleiton & Kledir (“Every Night”), Mallu Magalhães (“How D’You Do”), Lafayette & Os Tremendões (“I Lost My Little Girl”), Zé Ramalho (“Because I Know You Love me So”) e Sérgio Reis (“Behind That Locked Door”), entre outras. O terceiro, “Abbey Road Revisited”, traz as músicas feitas pelo grupo em 1969, mas que não chegaram a ser gravadas e foram para os primeiros discos solo de cada um dos quatro. Destaque absoluto para o “dueto eletrônico” entre Milton Nascimento e Elis Regina na suíte que reúne “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End”.













Em 1971, no disco “Ela”, com produção de Nelson Motta, Elis gravou as três canções dos Beatles, que receberam agora acréscimo da participação especial de Milton, com produção inspirada de Marcelo Fróes e Clemente Magalhães. “Todo mundo curtiu fazer. E o Milton também ficou muito emocionado. O canal de voz de Elis estava isolado na fita matriz de quatro canais de 1971, então foi possível tratá-lo e a voz dela soa tão cristalina e atual quanto a que Milton gravou agora”, destacou Fróes na entrevista que fiz com ele na época da comemoração dos 40 anos de “Abbey Road”.

Segundo o produtor, o “dueto eletrônico” entre Milton e Elis foi uma experiência grandiosa. “Foi um dueto perfeito, com um arranjo elegante e até adição de arranjo de cordas. Ficou à altura de Elis e Milton, à altura dos Beatles, à altura da canção e à altura do que o público merece ouvir”. Além das canções com Milton e Elis, outras faixas dos três CDS do projeto “Abbey Road” reservam surpresas, como as participações especiais de Joyce (que recriou “Here Comes the Sun”), Roberto Frejat (“Oh! Darling”), Flávio Venturini & Aggeu Marques (“Something”) e Detonautas Roque Clube (“Come Together”), entre vários outros.

Tem muita coisa surpreendente”, destacou Fróes. “João Donato & Paula Morelenbaum em ‘Mean Mr. Mustard’, por exemplo, é algo único. A versão dos Beatles tinha poucos segundos”. Sobre a discografia dos Beatles, Fróes fez uma revelação surpreendente: “Abbey Road” não é seu preferido. “Meu favorito é o ‘Álbum Branco’, embora eu ouça mais o 'Abbey Road', que acaba sendo o segundo mais importante pra mim. O ‘Álbum Branco’ é maravilhoso, levanta o astral de qualquer pessoa, mas é um disco longo e que exige tempo pra curtir”.






The Beatles em imagens lendárias: nas
capas dos discos White Album e
Sgt. Pepper's  Lonely Hearts Club
Band, dois projetos assinados pelo
designer e artista plástico Peter Blake.
Abaixo, três fotografias de Michael Cooper
produzidas para o encarte do álbum
Sgt Pepper's; as capas para o projeto de
Marcelo Fróes produzido pelo selo
Discobertas; duas imagens da sessão de
fotos com Don McCullinem julho de 1968,
no intervalo das gravações em estúdio
para The White Album; a última foto da
última sessão fotográfica que reuniu George,
Paul, John e Ringo –– fotografados por
Linda McCartney em agosto de 1969
em Tittenhurst Park, Londres, onde
na época moravam John e Yoko Ono;
e as imagens que abrem o
livro de Harry Benson








 
Mas o que ouve um produtor musical no dia a dia? “Eu não uso música como fundo para nada, se coloco um disco é pra ouvir. O ‘Álbum Branco’ nunca emplacou nenhum hit nas rádios na época – por mais que ‘While My Guitar Gently Weeps’ e ‘Back In The USSR’ sejam clássicos dos Beatles até hoje”. Segundo Fróes, os Beatles foram a maior de suas influências. “Posso dizer que foi a maior referência que tive na vida, independente de ficar ou não ouvindo discos ou usando camisetas da banda. É algo que norteou o desenrolar da minha vida profissional e que me trouxe até aqui”, confessa.

Faço muita coisa com música brasileira, o tempo todo, mas volta e meia curto fazer algum projeto com a música dos Beatles”. Os três CDs do projeto “Beatles 69” chegaram ao mercado pelo selo “Discobertas”, criação de Fróes que também lançou inéditos de Zé Ramalho, Jackson do Pandeiro e Renato Russo, entre vários outros. Autor de livros como “Bob Dylan por Ele Mesmo” e “Jovem Guarda em Ritmo de aventura”, grande conhecedor do repertório dos Beatles e da cena musical brasileira, Fróes teve um antecedente bem sucedido para “Beatles 69” em 2008: o projeto de CDs que marcou os 40 anos do “Álbum Branco” dos Beatles.

Assim como o tributo a “Abbey Road”, o projeto de 2008 reunia artistas diversos, com versões dos Beatles por Zé Ramalho, Cachorro Grande, Pato Fu, Flávio Venturini, Raimundo Fagner, Lobão, Paulo Ricardo, Zélia Duncan e outros. “Na maioria dos casos procurei os intérpretes que se encaixassem bem nas canções", recorda Fróes. Mas também houve caso de ter que encontrar a música que se encaixasse melhor a este ou aquele determinado artista. E também houve um ou outro caso de artista que escolheu sua canção”.







Depois desta entrevista o selo de Marcelo Fróes lançaria vários outros projetos dedicados aos Beatles, entre eles os dois CDs “Beatles' 67”, com bandas nacionais em novas versões das canções que os quatro de Liverpool dos Beatles que eles gravaram durante o ano de 1967 (o primeiro volume da série foi dedicado a "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e o segundo volume às canções lançadas no "Magical Mystery Tour", alem de outtakes e faixas mais tarde usadas nos discos solo dos ex-Beatles), e mais dois CDs que homenageiam “Let It Be”, derradeiro álbum lançado pelos Beatles. Confira alguns trechos da entrevista.


O que foi mais difícil: reunir tantos nomes importantes para o projeto “Abbey Road” ou conseguir autorização para gravar os Beatles?

Marcelo Fróes – Reunir mais de 60 artistas, bandas e produtores num projeto como este, em apenas seis meses de produção, realmente foi uma gincana, mas não me lembro de ter sido “difícil”. Foi emocionante descobrir as canções inéditas e aguardar até meu pedido de autorização para gravação ser finalmente atendido. Este projeto traz coisas preciosas, como as canções inéditas gravadas em disco pela primeira vez no mundo. São elas “Suzy Parker”,“Taking a Trip To Carolina”, “How D’You Do”, “Fancy My Chances With You” e “Because I Know You Love Me So”. Elas foram apenas ensaiadas pelos Beatles, mas jamais gravadas em disco por eles ou qualquer outro artista ou banda.

Entre as mais de 60 canções de “Beatles’69”, quais você destaca e por quê?

Destaco as inéditas e, é claro, a produção do dueto de Elis Regina e Milton Nascimento, que foi uma das coisas mais importantes que já idealizei e consegui por em prática. Devo retornar à experiência no futuro, mas no momento não posso falar a respeito – até por questões contratuais. Mas teremos muitas surpresas em breve.






E os Beatles virarem conteúdo de videogame? Você aprova?

Eu acho que sim, porque com a banalização do áudio, seja por download de MP3, seja pela facilidade de cópia digital de CDs, é fundamental que se tenha alguma coisa a mais para se justificar as vendas e a permanência no repertório na mídia. A música, para girar como conteúdo, tem que estar lado a lado com outros bens de consumo.

Você tem outro projeto relacionado aos Beatles?

Acabo de lançar pelo selo Discobertas a trilogia “4ever – Os Beatles por seus amigos”, com as gravações originais das canções que Lennon e McCartney fizeram para Gerry and The Pacemakers, Cilla Black, The Fourmost, Billy J. Kramer etc, todos eles eram contratados do empresário Brian Epstein e produzidos por George Martin, e ganhavam canções inéditas que John e Paul faziam e os Beatles nem gravavam. É a primeira vez que este material é compilado com gravações originais e a melhor masterização. É fundamental para o fã dos Beatles que quer tudo, e certamente um belo complemento para a discografia da banda.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Beatles em Abbey Road. In: Blog Semióticas, 28 de maio de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/05/travessia-em-abbey-road.html (acessado em .../.../…).











17 comentários:

  1. Amém. Porque esta sua página me deixou no mais completo estado de graça. E terminar com “Something” foi um presente dos deuses. Estou emocionada e com uma vontade incrível de ouvir estas versões que você comenta na entrevista com o Marcelo Froes. E eu queria é que todos os fãs dos Beatles visitassem esta página do seu blog para que todos tivessem a mesma sensação e emoção que eu estou tendo agora. Eles amavam o amor que eu e você também amamos, José Antonio Orlando! Agora estou eternamente grata a você e ao seu blog maravilhoso. Sucesso!

    Maria Mazza Alencar

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  2. Delícia ler tudo isso, adorei cada linha! Eles foram os magos da Contracultura e deixaram um legado que não se restringe à música, porque vai muitíssimo além das fronteiras sócio-culturais. Definitivamente eram os caras certos na hora certa, com as canções certas. O resto é história!
    Saudosismos à parte e mesmo passados muitos anos fico, ainda hoje, horas ouvindo aquelas músicas repletas de magia, bom humor e apelos pela paz mundial. O mundo deve muito a eles!
    Meus filhos adoram os Beatles, cresceram embalados na atmosfera musical que eles criaram e, mesmo adultos, não dispensam os quatro meninos de Liverpool, nunca!

    Obrigada, Zé Orlando!
    Celina Beatriz Villanova

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  3. Belo registro sobre a história, as lendas e a atualidade da beatlemania, José Orlando, confesso que um dos melhores que já vi em blogs e afins. Se você puder considerar minha observação, acho apenas que faltou destacar que os quatro rapazes de Liverpool foram o motor de muitas revoluções no comportamento de milhões e milhões de pessoas no mundo inteiro, mas talvez isso seja assunto para outra postagem, não é mesmo?
    Parabéns. Seu blog é espetacular e sem comparação!

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  4. Tudo show! Maravilha de blog, maravilha de página. Parabéns, José!

    Saulo Interlandi

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  5. Amei a matéria. E preciso dizer que sou eu essa moça gritando ali na última foto (risos). Seu blog é bom demais. Um dos melhores que já visitei. Virei fã de carteirinha e vou ter que voltar muitas vezes para ler tantos textos tão bacanas. Farei com todo prazer.
    Beijos e boa sorte!

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  6. Maravilhoso!Um enorme prazer viver a beatlemania com tanta intensidade.Thanks.

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    1. Meu caro, se você deixar mensagem como anônimo, o mais correto seria assinar ao final do comentário... Mensagens não identificadas pelo autor são normalmente apagadas. Aguardo sua assinatura nas próximas. Seja sempre bem-vindo.

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  7. Adorei a matéria. Amo os beatles, e foi um prazer lê e conhecer mais dessa banda fantástica. Parabéns José Antônio Orlando!

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  8. Fantástico!!! Sensacional!
    Já estou começando a colocar minhas leituras em dia...
    Parabéns, Zé!!

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  9. Ana Letícia de Oliveira12 de outubro de 2012 às 10:48

    Poucas vezes encontrei um site com uma diversidade de matérias tão impressionante e com qualidade incontestável. Este blog Semióticas é realmente muito bom. Parabéns pra você e obrigado por compartilhar tanta sabedoria, José Antônio Orlando. Virei fã.

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  10. Bacana demais. Amei tudo, o blog e cada página daqui que visitei. Mas meu coração sorriu e bateu mais forte quando cheguei a esta beleza de Beatles em Abbey Road. Deu vontade de sair cantando Something...



    Something in the way she moves
    Attracts me like no other lover
    Something in the way she woos me

    I don't want to leave her now
    You know I believe and how

    Somewhere in her smile she knows
    That I don't need no other lover
    Something in her style that shows me

    I don't want to leave her now
    You know I believe and how

    You're asking me will my love grow
    I don't know, I don't know
    You stick around now it may show
    I don't know, I don't know

    Something in the way she knows
    And all I have to do is think of her
    Something in the things she shows me

    I don't want to leave her now
    You know I believe and how

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  11. Quero registrar aqui um breve comentário de elogio. Este blog Semióticas é uma das melhores que já encontrei. Cheguei aqui pelos Beatles e descobri um mundo só de belas imagens e textos de alto nível. Só posso agradecer. Parabéns pelo trabalho excelente.

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  12. Que maravilha! Este blog é mesmo sensacional. Parabéns pelo alto nível e pela beleza e profundidade em todas as matérias! Amo.

    Ana Maria Taveira

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  13. Parabéns pelo blog Semióticas, em tudo, e por esta matéria amorosa sobre meus amados Beatles. Maravilha! Agradeço.

    Irene Ribeiro

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  14. O que me trouxe até aqui foi uma postagem no Twitter sobre John Lennon e Yoko Ono. Pensei que fosse encontrar a foto e algum comentário. Minha surpresa foi encontrar este artigo tão completo e tão lindo sobre os Beatles, com o cuidado em cada informação e no crédito de todas as imagens. Aprendi muito. E que texto bem escrito! Parabéns porque o blog Semióticas é mesmo uma maravilha. Virei fã já nesta primeira visita.

    Fernando de Paiva

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  15. Parabéns pelo blog que é um espetáculo e muito obrigada por compartilhar esta postagem maravilhosa sobre os Beatles do meu coração. Este blog Semióticas é o melhor de todos os blogs independentes que já visitei. Tudo aqui é de alto nível e lindo demais.

    Gisele Oliveira

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  16. Maria Lúcia Barbosa25 de março de 2023 às 10:37

    Encantada por este blog Semióticas e por todas as postagens lindas que visitei. Esta, sobre meus amados Beatles, com este texto sensacional e imagens são especiais, me fez ficar pensando o seguinte: uma das coisas bonitas sobre as canções dos Beatles, todas, ou quase todas, é o fato de que elas podem ser suavemente felizes ou depressivamente tristes, dependendo do seu humor. Juntos, os quatro eram um verdadeiro e autêntico gênio. Amo.

    Maria Lúcia Barbosa

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