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25 de fevereiro de 2012

Bob Dylan no Brasil






O maior objetivo da arte é inspirar as pessoas.
Arte é, sempre, o movimento perpétuo da ilusão.
---––  Bob Dylan.   




Bob Dylan e outros heróis da galeria do rock'n'roll têm sempre lugar marcado em todos os noticiários. Agora Mister Tambourine voltou a ser notícia e destaque nas redes sociais da internet por conta da confirmação do Brasil na rota da “turnê que nunca acaba” (Never Ending Tour), com shows anunciados para o Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. Será a quinta vez que o legendário cantor e compositor da era do rock, mentor de algumas das principais canções de protesto e hinos da contracultura, além de escritor e pintor, se apresentará no Brasil. A estreia em palcos brasileiros foi em 1990, com Bob Dylan retornando depois em 1991, em 1998, em 2008 e em 2012.

Além de incluir com frequência o país do carnaval nas turnês, Bob Dylan sempre declarou que é um admirador do Brasil e da cultura brasileira e também visitou muitas vezes o Brasil no anonimato. Recentemente, o músico fez um tributo aos cenários brasileiros que rendeu destaque no mundo inteiro: Dylan, que tem investido cada vez mais em trabalhos nas artes plásticas, iniciados na década de 1960, apresentou a nova série, intitulada "Brazil Series", em Copenhagen, Dinamarca, no Statens Museum for Kunst. A coleção do artista Bob Dylan, que reuniu 40 quadros pintados em óleo sobre tela e em acrílico, e oito desenhos em técnica mista sobre papel, está em exposição permanente em uma galeria do museu da Dinamarca e foi publicada em um catálogo de luxo pela editora Prestel.

As imagens da coleção em que Bob Dylan tenta traduzir cenas do Brasil e as pessoas anônimas que encontrou durante suas estadias por aqui, mostram paisagens da vida cotidiana nas cidades, além de cenas das favelas e das matas com sinais evidentes de devastação. O músico gosta de perambular com frequência sozinho e disfarçado pelas ruas das cidades em que apresenta seus shows no Brasil e, pelo que ele comenta nas raras entrevistas que concede, tem grandes amigos por aqui de longa data, incluindo pessoas desconhecidas do público e também cantores e compositores, entre eles Toquinho e Caetano Veloso, e o jornalista e historiador Eduardo Bueno.






























Acima e abaixo, Bob Dylan no palco,
no Rod Laver Arena, em Melbourne,
Austrália, em abril de 2011, na temporada
de shows batizada com o nome sugestivo
de The Never Ending Tour (A turnê que
nunca termina). No alto, Bob Dylan nas
artes plásticas com seu autorretrato e com
as pinturas da série dedicada ao Brasil
em exposição no museu da Dinamarca.

Também abaixo, duas imagens que marcaram
época: na primeira, Bob Dylan diante da multidão
no Estádio de Wembley, Inglaterra, em 1984,
fotografado por Michael Putland; na segunda,
que virou capa de álbuns de suas coletâneas
de sucessos, fotografado também na
Inglaterra por Barry Feinstein durante
a lendária turnê pela Europa em 1966






 



 
 
No livro “Verdade Tropical” (Companhia das Letras, 1997), Caetano afirma que foi através de Toquinho, parceiro de Vinicius de Moraes, que ele conheceu ainda nos anos 1960 as canções de Bob Dylan, de quem há alguns anos passou a ser amigo. “Achei curiosa a voz fanha e o jeito sujo de tocar violão e gaita”, recorda Caetano, que já gravou duas músicas de Bob Dylan: “Jokerman”, em “Circuladô Vivo”, de 1992, e “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)”, em "A Foreign Sound”, de 2004. 



Amigos brasileiros

 

It’s Alright, Ma”, na versão original, está em “Bringing It All Back Home”, de 1965, um dos anunciados favoritos de Caetano, que registra no livro: “É este o disco de Dylan que mais me emociona”. Caetano também dividiu nos anos 1970 com Péricles Cavalcanti a autoria da mais conhecida das versões de Dylan em português: “Negro Amor”, escrita a partir de “It’s All Over Now, Baby Blue”, que foi gravada primeiro por Gal Costa em 1977.

No seleto grupo de brasileiros entre os amigos de Bob Dylan também estão, entre outros, o baiano Gilberto Gil, o pernambucano Naná Vasconcelos (que já atuou como percussionista em álbuns de estúdio de Dylan e em shows) e o gaúcho Eduardo Bueno, que acompanhou o músico em duas de suas visitas sem agenda de shows por cidades brasileiras, em 1990 e 1991. Entrevistei Bueno por telefone em 2003, quando ele estava lançando “Brasil: uma História: a Incrível Saga de um País” (Editora Ática), que se tornaria best-seller. Ele confessou a paixão desmedida por seu ídolo e afirmou que se considera um dos maiores “dylanófilos” do planeta. Segundo Bueno, tudo começou em 1975, quando, aos 17 anos, ouviu pela primeira vez o álbum “Before the Flood” e sua música predileta, “Like a Rolling Stone”.











Bueno também disse que até aquela data, em 2003, teve a sorte de assistir a mais de 100 shows de Dylan, sendo que em pelo menos 70 deles com presença privilegiada no backstage. “Like a Rolling Stone é a melhor e mais importante canção já composta na história do rock”, justificou Bueno – que assinou o posfácio e a tradução da edição brasileira de “Crônicas” (editora Planeta, 2005), o primeiro volume da trilogia autobiográfica de Dylan.

Na entrevista, ele comentou suas melhores lembranças de quando acompanhou as viagens do músico pelo Brasil, convidado por Victor Maymudes, que gerenciava toda a infraestrutura da turnê de estreia de Bob Dylan no Brasil. O roteiro das viagens de Dylan, segundo Bueno, incluiu entre outras cidades Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. "Sei que ele também já visitou várias vezes a serra gaúcha, o parque das Agulhas Negras e Ilha Grande, entre muitos outros lugares do Brasil, sem que ninguém o reconhecesse”.

Bueno recorda que Dylan também presenciou cenas fortes nas ruas brasileiras, mas nem por isso parece ter ficado nada amedrontado. “Logo depois que o conheci, em 1990, quando fomos apresentados por Victor Maymudes, seu empresário no Brasil, estávamos passeando por alguns 'points' da noite paulistana e vimos um homem ser baleado no meio da rua, na Barão de Itapetininga, em São Paulo. Em seguida, no Rio de Janeiro, ele tentou ir a pé do hotel para o show, mas de tanto ser alertado pelos seguranças sobre os perigos, acabou desistindo”.










Robert Allen Zimmerman: acima, no álbum

de família, fotografado aos 19 anos, em 1960.

No ano seguinte, ele abandona a universidade

e se muda de Minneapolis para Nova York

com a esperança de encontrar seu ídolo musical,

Woody Guthrie. Em Nova York, adotou o nome

artístico de Bob Dylan, em homenagem ao poeta

Dylan Thomas, e passava as noites tocando

gaita e cantando em pequenos bares do bairro

boêmio de Greenwich Village. Sua habilidade

musical e as letras de suas canções chamaram a

atenção do conhecido produtor de jazz

John H. Hammond, que em 1962 lançaria

o primeiro LP de Bob Dylan pela Columbia

Records. O sucesso viria somente com o segundo

LP, The Freewheelin', de 1963, que trazia

canções como Blowin' in the Wind e, na capa,

em fotografia de Don Hunstein, o músico com

Suze Rotolo, na época sua namorada, com quem

Dylan viveu de 1961 a 1964, e que exerceu

forte influência em suas primeiras composições.


Também abaixo, com outra namorada, a cantora

e compositora Joan Baez, fotografados em 1965

por David Gahr. O namoro com Joan Baez

terminou no ano seguinte, mas continuaram amigos

e fizeram, juntos, turnês e gravações em estúdio

nos anos seguintes. Abaixo, em preto e branco,

Bob Dylan em Paris, 1966, durante a turnê

pela Europa, fotografado por Barry Feinstein









 


Nas palavras de Eduardo Bueno, Bob Dylan é um daqueles caras cheios de manias. “Se tem uma coisa que ele gosta de fazer é andar a esmo pelas cidades. Não pergunta nada, sai andando. Ele parece não ter medo de nada e vai entrando em qualquer bocada. Em geral tinha pelo menos um segurança atrás, a uns dez metros. Tem muitas manias esquisitas, mas é genial. De todo mundo que eu já conheci na vida, Dylan é o mais difícil de definir. É um cara enigmático que prefere lavar ele mesmo suas próprias roupas nos quartos de hotel, é um cara inconstante e, às vezes, chega até a ser gentil, quando menos se espera". 

 

Estudos biográficos



Com o reforço provocado pela turnê no Brasil, o que não faltam nas lojas são CDs e DVDs de Bob Dylan, que também está nos jornais e nas capas de revistas. Há também muitos livros, incluindo alguns escritos por ele mesmo. Entre os destaques na extensa lista de publicações estão duas preciosidades biográficas: “No Direction Home”, de Robert Shelton, e "Bob Dylan – Gravações Comentadas & Discografia Completa", de Brian Hinton. Os dois livros, lançados pela editora Larousse do Brasil, são considerados os mais completos estudos biográficos da carreira de Dylan.

Mais do que um biógrafo, o ex-crítico musical do The New York Times, Robert Shelton, que morreu em 1995, foi talvez o maior amigo e confidente do artista. Os dois se conheceram em 1961, quando Dylan falou pela primeira vez à imprensa após um show no Gerde’s Folk City, reduto boêmio do Greenwich Village, em Nova York. Dali por diante, viraram “amigos de infância”. “A biografia de Shelton continua a ser a única escrita com a colaboração de Dylan”, explica Elizabeth Thomson, que divide com Patrick Humphries a edição revista, atualizada e ampliada de “No Direction Home”.















O outro estudo biográfico, "Bob Dylan – Gravações Comentadas & Discografia Completa", integra a mesma coleção que já tem livros sobre os Beatles e os Rolling Stones. É uma bela obra de referência, completa e irrepreensível, sobre o artista nascido Robert Allen Zimmerman no estado norte-americano de Minnesota, neto de imigrantes judeus russos e que, diz a lenda, aprendeu sozinho a tocar piano e guitarra. Sobre a escolha do nome artístico, adotado a partir de 1959, ele próprio confessa, no primeiro volume de “Crônicas”, que foi uma homenagem a um de seus ídolos, o lendário poeta galês Dylan Thomas (1914-1953):

"Eu havia visto alguns poemas de Dylan Thomas. A pronúncia de Dylan e Allyn era parecida. Robert Dylan. A letra D tinha mais força. Entretanto, o nome Robert Dylan não era tão atraente como Robert Allyn. As pessoas sempre haviam me chamado de Robert ou Bobby, mas Bobby Dylan me parecia vulgar, e além disso já havia Bobby Darin, Bobby Vee, Bobby Rydell, Bobby Neely e muitos outros Bobbies. Mas aí aconteceu. A primeira vez que me perguntaram meu nome em Saint Paul, instintiva e automaticamente soltei: Bob Dylan".



Trajetória surpreendente
 


Às vésperas de completar 71 anos (em 24 de maio), o cantor e compositor mantém a plena força criativa que influencia gerações e gerações pelo mundo afora, desde o inícios dos anos 1960. Além das histórias saborosas por trás de cada canção, o biógrafo Brian Hinton reúne informações minuciosas para deleite de fãs e pesquisadores, como datas de lançamento, encartes, fotografias, produtores, versões alternativas, arranjos, desavenças entre os músicos e sobras de estúdio.

E não é apenas uma avaliação de Brian Hinton: a maioria dos biógrafos são unânimes em destacar a importância inquestionável de Bob Dylan em várias frentes, da música à militância política de esquerda. Como cantor, ele redefiniu o papel do vocalista. Como músico e compositor, sua "petulância" foi muito além de gêneros como o rock, o pop, o blues, o folk ou o country, com canções que se tornaram trilha sonora de muitas histórias e influenciam há 50 anos o estilo e as opiniões de muitos músicos e fãs.


























Música em cores fortes: a partir do alto,
a capa e páginas da biografia escrita por
Robert Shelton, com o artista em Nova York
nos anos 1970 em foto de Lynn Goldsmith,
e a capa do catálogo que reúne as gravações
completas e comentadas. Nas imagens do
alto e acima, Bob Dylan em sua casa de
campo em Byrdcliffe, lugarejo próximo a
Woodstock, em 1965 e 1968, em
fotografias de por Elliot Landy.

Abaixo: 1) a fotografia que o próprio
Bob Dylan aponta como sua preferida,
registrada no camarim, em New Haven,
Connecticut (EUA), em novembro de
1975 por Ken Regan; 2) Bob Dylan em outro
flagrante registrado por Ken Regan em 13 de
julho de 1985, nos bastidores do show
beneficente Live Aid no JFK Stadium na
Philadelphia, Pennsylvania (EUA), com o
raro encontro com Keith Richards, a dupla
Daryl Hall e John Oates, Ron Wood,
Tina Turner, Mick Jagger e Madonna;
3) em três imagens marcantes registradas
em 1966 por Barry Feinstein: no estúdio
em Nova York; durante a turnê em Paris;
e em visita à Factory de Andy Warhol,
também em Nova York; 4) na capa de sua
primeira coletânea de grandes sucessos, em
imagem criada em 1967 pelo designer
Milton Glaser; e 5) na capa de "Desire",
seu 17° álbum de estúdio, lançado em 1976.


No final deste artigo, três gravações de
canções de Bob Dylan em versões
nacionais interpretadas por
Zé Ramalho (“Tá tudo mudando”),
Gal Costa (“Negro amor”) e
Caetano Veloso (“Jokerman”)














Enquanto mergulha na trajetória surpreendente de um dos nomes fundamentais da história da música, o leitor atento pode saborear uma aula divertida sobre os percalços da indústria cultural de nossos dias. Com 56 álbuns lançados desde a estreia – com "Bob Dylan", de 1962, totalmente dedicado ao folk mais tradicional – o cantor e compositor sempre se destacou pela ousadia e pelo pioneirismo que aponta em várias direções.

O livro de Robert Shelton por certo é mais divertido, recheado de histórias de bastidores e anedotas impagáveis, mas o estudo de Brian Hinton, que publicou biografias consideradas definitivas de nomes como Van Morrison, Joni Mitchell e Elvis Costello, vai fundo nos detalhes sobre a obra do compositor de canções como "Like a Rolling Stone" – como lembrou Eduardo Bueno, o clássico dos clássicos da era do rock, listado em primeiro lugar entre as 500 melhores músicas da história, segundo a revista "Rolling Stone".

Hinton também é sábio no juízo de valor sobre a trajetória do artista ao apontar alguns dos aspectos que confirmam a importância inquestionável de Dylan. O biógrafo destaca que, como cantor, Dylan redefiniu o papel do vocalista. Como músicoe compositor, sua "petulância" foi muito além de gêneros como o rock, o pop, o blues, o folk ou o country, com canções que se tornaram trilha sonora de muitas histórias e influenciam há 50 anos o estilo e o conteúdo de muitos em muitos países dos cinco continentes. 




 









Bob Dylan segundo Zé Ramalho



Mesmo sem constar da lista privilegiada de amigos brasileiros do músico norte-americano, Zé Ramalho sempre foi associado a Bob Dylan por suas letras messiânicas e seu tom politizado de fazer música. Em 2008, o "parentesco" foi realçado com "Zé Ramalho Canta Bob Dylan - Tá Tudo Mudando" (EMI), CD e DVD produzidos por Robertinho do Recife (parceiro de longa data), e que reúnem canções de Dylan, sucessos dos anos 1960 e 1970, reinventadas pelo paraibano.

As mais conhecidas letras e melodias de Dylan ganharam equivalentes fieis e inspirados em português, além de arranjos que trazem os standards da galeria do rock para o universo da MPB e da música nordestina de repentistas e rabequeiros. Clássicos como "Like a Rolling Stone" ("Como uma Pedra a Rolar") e "Blowin' in the Wind" ("O Vento Vai Responder") incorporam novas sonoridades que lembram xotes, forrós e baiões.

"Like a Rolling Stone" é conhecida no Brasil de outros carnavais: teve uma versão em português de sucesso na década de 1970, gravada por Diana Pequeno, e volta e meia surge cantarolada, em sua versão original, pelo senador Eduardo Suplicy no Congresso e em outras ocasiões públicas. Dos mais de 50 álbuns lançados por Dylan, Zé Ramalho elege três – “Blood On The Tracks”, “Desire” e “Slow Train Coming”, todos da década de 1970 – como os seus prediletos.










Em 30 anos de carreira, o compositor de "Admirável Gado Novo" e "Chão de Giz" continua a surpreender. No ano 2000, lançou "Nação Nordestina", álbum com belas canções inéditas e uma capa surpreendente (imagem abaixo), paródia para a capa do antológico "Sgt. Pepper's" dos Beatles. Em 2001, reinventou sua própria trajetória ao lançar o CD de estreia do projeto "Zé Ramalho canta...", com releituras de Raul Seixas. Depois viriam o também surpreendente “Zé Ramalho canta Bob Dylan – Tá Tudo Mudando” (EMI, 2008), seguido por “Zé Ramalho canta Luiz Gonzaga” (Discobertas/Sony, 2009), mais “Zé Ramalho canta Jackson do Pandeiro” (Discobertas/Sony, 2010) e “Zé Ramalho canta Beatles” (Discobertas/Sony, 2011). 



Hurricane: Frevoador

 

Quanto a Bob Dylan, não é a primeira vez que ele foi traduzido por Zé Ramalho – que há mais de duas décadas já havia gravado "Blowin'in the Wind" ("O Vento Vai Responder") e "Knocking on Heaven's Door" ("Batendo na Porta do Céu"), além de "Hurricane" (que, traduzida como "Frevoador", foi a faixa-título do CD de 1992). Zé Ramalho também recupera a beleza de "Negro Amor", versão de Caetano e Péricles Cavalcanti para "It's All Over Now, Baby Blue", lançada por Gal Costa e regravada por Toni Platão, Zé Geraldo, Paulo Ricardo e Engenheiros do Hawaii, entre outros.

Com sua voz única, cavernosa e apocalíptica, Zé Ramalho junta sonoridades nordestinas para surpreender quem espera um mero disco de versões. Inteligente e criativo, o artista foge do óbvio e busca músicas não tão famosas de seu ídolo, como o caso de "Man Give Name To All Animals", que virou "O Homem Deu Nome a Todos os Animais" – canção que também também ganhou outras duas versões bastante diferentes entre si, uma recente, gravada por Adriana Calcanhotto, e outra na década de 1980, gravada por Ruy Maurity. A única faixa que Zé Ramalho não verteu ao português foi "If Not For You", mas, em compensação, recriou a música, indo ao extremo nos ritmos populares do Nordeste brasileiro.





Uma exceção entre as mais antigas é "Tá Tudo Mudando", faixa-título do CD e do DVD, versão de "Things Have Changed", da trilha do filme "Garotos Incríveis" (2000), de Curtis Hanson, que rendeu um Oscar a Dylan. A versão tem assinatura de Maurício Baia e Gabriel Moura, carioca identificado com o samba. Baia é colaborador de Zé Ramalho também em "Tombstone Blues", transformada em "Rock Feelingood".

Outra boa surpresa é a versão para a instrumental "Wigwam" - que virou "Para Dylan". A letra diz: "Eu te vejo assim como uma vela que acende/ Ou como disse Elton John/ 'Like a candle in the wind". Na capa do CD e DVD, Zé Ramalho posa com um cartaz, em referência ao clipe de Dylan para "Subterranean Homesick Blues" – mais um cuidado da produção que vai agradar tanto aos fãs de Dylan quanto ao público de Zé Ramalho. É um belo disco, que mantém a verve autoral do cantor e compositor sem se afastar do universo nordestino que desde o disco de estreia, em 1978, norteia sua carreira e discografia.

Além de “Zé Ramalho canta Bob Dylan”, outro tributo feito no Brasil merece muita atenção dos fãs de Mister Tambourine: o quinto volume da série em CD "Letra & Música", lançamento do selo Discobertas, que é dedicado ao cantor e compositor. São 14 faixas que trazem as melhores gravações feitas ao longo das últimas décadas.

Entre as canções selecionadas, há regravações e versões inéditas das canções de Dylan por Caetano Veloso (“Jokerman”), Gal Costa (“Negro Amor”), Evandro Mesquita ("Knockin'on Heaven's Door"), Renato Russo ("If You See Him Say Hello"), Mallu Magallhães ("It Ain't Me Babe") e Ruy Maurity (“Batismo dos Bichos / Man Gave Name To All Animals”), entre outros. Se por acaso ouvir o tributo de Zé Ramalho ou a coletânea de versões selecionadas para o CD "Letra & Música", mister Bob Dylan por certo vai aprovar, sem nenhuma ressalva.


por José Antônio Orlando.


Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Bob Dylan no Brasil. In: Blog Semióticas, 25 de fevereiro de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/02/bob-dylan-no-brasil.html (acessado em .../.../...).


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