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8 de agosto de 2011

Woody Allen leitor de Machado






Fiquei realmente chocado ao perceber como ele é um
escritor encantador. Definitivamente, eu não conseguia
acreditar que ele viveu há tanto tempo, como ele viveu.
Você teria pensado que foi escrito ontem.

––  Woody Allen, sobre Machado de Assis,   
em entrevista ao jornal “The Guardian”.    
 



Há semelhanças e correlações entre os filmes de Woody Allen e a literatura que Machado de Assis publicou no Brasil nas últimas décadas do século 19 e começo do século 20? Esta é uma questão que tem ganhado espaço entre pesquisadores do Brasil e do exterior desde que, recentemente (no mês de maio), a pedido do jornal inglês "The Guardian", o cineasta norte-americano Woody Allen listou, entre os livros que mais o influenciaram, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", romance que Machado de Assis publicou em 1881. O cineasta contou que recebeu o livro pelo correio. Segundo Woody Allen, algum estranho do Brasil enviou o livro, na tradução para o inglês feita por William L. Grossman, publicada com o título "The Epitaph for a small winner", com o seguinte recado: "Você vai gostar disso".

"Li porque era um livro fino. Se fosse grosso, teria descartado", escreveu o cineasta no artigo para publicação no "The Guardian". "E fiquei chocado com o quanto charmoso e incrível era esse brasileiro chamado Machado de Assis. Fiquei realmente chocado ao perceber como ele é um escritor encantador. Definitivamente, eu não conseguia acreditar que ele viveu há tanto tempo, como ele viveu. Você teria pensado que foi escrito ontem. É tão moderno, tão divertido. E é uma obra muito, muito original. Tocou uma campainha para mim, da mesma forma que 'O Apanhador no Campo de Centeio' tocou. Um livro sobre um assunto que me agradava e que era tratado com muita inteligência, grande originalidade e sem sentimentalismo", completou.

Na sua lista de livros preferidos, os que mais provocaram impacto sobre seus filmes e sobre sua forma de olhar para o mundo à sua volta, Woody Allen também incluiu, além de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", os livros "O Apanhador no Campo de Centeio", publicado em 1951 por  J. D. Salinger; "The World of SJ Perelman", publicado por Perelman no ano 2000; "Really the Blues", publicado em 1946 por Mezz Mezzrow e Bernard Wolfe; e "Elia Kazan: A Biograph", publicado em 2005 por  Richard Schickel.

Woody Allen também apontou algumas das referências que mais aprecia no escritor brasileiro, que por ironia também podem ser tomadas como características presentes nos melhores filmes do diretor de "Annie Hall - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977). São elas:


1. O cotidiano prosaico da burguesia;

2. o humor sofisticadamente ácido;

3. a divagação filosófica sintética disfarçada pelo trivial;

4. a crítica sutil às convenções sociais;

5. as citações constantes de outros autores e outras obras que o influenciaram;

6. a investigação psicológica despretensiosa e, entre outras mais, a construção de protagonistas com um mesmo tipo de perfil, desastrosos em suas relações pessoais e sociais, inclusive de moral duvidosa, ou pelo menos convenientemente flexível.


















Allan Stewart Königsberg em 1964,
fotografado em um hotel em Las Vegas,
às vésperas de gravar seu primeiro disco de
piadas com o nome Woody Allen. O disco
seria um dos indicados ao prêmio Grammy
daquele ano. No cinema, sua primeira
experiência aconteceria no ano seguinte,
quando completou 30 anos de idade:
depois de uma das apresentações no
bar do hotel em Las Vegas, Woody Allen
conquistou a simpatia de um produtor de
cinema, Charles Feldman, que o convidou
para escrever e estrelar uma paródia dos filmes
de 007 chamada O que é que há, gatinha?
(What's New Pussycat?). O papel principal
terminou com o veterano Peters Sellers,
mas Woody Allen rouba a cena em várias
sequências como coadjuvante –
contracenando com Romy Schneider
(imagem acima, na cena da biblioteca)







Como diretor, a estreia de Woody Allen
finalmente aconteceria em 1969, com o
filme Um assaltante bem trapalhão
(Take the money and run). Na imagem
do alto, o cartaz promocional de
Bananas, o segundo filme escrito
dirigido por ele, que chegou aos
cinemas em 1971. Abaixo, Woody Allen
cercado por belas mulheres em sua
peça Play it again, Samsucesso
na Broadway em 1969, fotografado
por Philippe Halsman. Também abaixo,
Woody Allen em Nova York, em 1972,
com sua amiga Nora Ephron, cineasta
e jornalista norte-americana que também
confessou em entrevistas que é leitora e
admiradora da obra de Machado de Assis;
e o cartaz de lançamento e duas cenas
de Annie Hallfilme de 1977 com
Diane Keatonroteiro, direção e atuação
de Woody Allen, que no Brasil recebeu
um título dos mais estranhos:
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa





















  

As afinidades temáticas e de estilo entre o maior cânone da literatura brasileira e o cineasta Woody Allen são visíveis também na avaliação de Gustavo Bernardo, professor de teoria da literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e autor do livro "O problema do realismo de Machado de Assis" (Editora Rocco). "Primeiro”, destaca o professor, em entrevista concedida por telefone (veja a íntegra da entrevista em Semióticas: O Bruxo e a crítica internacional), “tanto Machado de Assis como Woody Allen são tremendamente irônicos e engraçados, apesar de não provocarem gargalhadas, mas sim sorrisos inteligentes. Segundo, ambos são mestres na arte difícil da tragicomédia, a tal ponto que suas obras não evoluem da comédia para a tragédia, como de hábito, mas são cômicas e trágicas do início ao fim, da primeira à última página ou cena".


por José Antônio Orlando.


Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Woody Allen leitor de Machado. In: Blog Semióticas, 8 de agosto de 2011. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2011/08/semioticas-o-bruxo-e-critica.html (acessado em …/.../...). 



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Joaquim Maria Machado de Assis
aos 25 anos, em 1864, fotografado por
José Insley Pacheco (1830-1912).
No alto, Woody Allen ao lado de
Machado de Assis. Abaixo: 1) Machado
em caricatura anônima do século 19,
publicada na revista Semana Ilustrada;
2) Owen Wilson e Rachel McAdams
em cena de Meia-Noite em Paris,
filme de 2011 de Woody Allen; 
3) Woody Allen com Mira Sorvino em
cena do filme Poderosa Afrodite (1995);
4) Woody Allen em 1996, em fotografia de
Arnold Newman; e 5) e 6) Woody Allen no
traço do ilustrador argentino Pablo Lobato




























        





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22 de julho de 2011

Admirável WikiLeaks







O WikiLeaks até parece mentira, mas é tudo verdade.

(Alan Rusbridger, editor-chefe 
do jornal inglês The Guardian) 



A primeira vez que ouvi falar do jornalista e hacker australiano Julian Assange, principal editor e porta-voz do site WikiLeaks, foi em 2010, quando ele se tornou um personagem em destaque na mídia internacional. À primeira vista, fiquei interessado na trama sobre aquele jornalista que parecia saído de um filme de ficção científica, mas também tive dúvidas sobre a caracterização principal do personagem: tratava-se de um herói, um salvador dos fracos e dos oprimidos da era da Internet, ou de mais um vilão, um chantagista fantasiado de ciberterrorista?

As dúvidas sobre aquele personagem, e as notícias vagas e sempre distorcidas reproduzidas na imprensa do Brasil, me levaram a outras leituras e a procurar nas fontes mais variadas da Internet alguns vídeos e entrevistas com ele e sobre ele. De todas as versões sobre a história de Julian Assange, uma das melhores e mais completas que encontrei está na série de reportagens produzida pela equipe do jornal britânico “The Guardian” e agora reunida no livro lançado no Brasil pela Verus, uma das editoras do grupo Record: “WikiLeaks: A Guerra de Julian Assange Contra os Segredos de Estado". 

O passo a passo da criação do site que provocou uma revolução na relação entre imprensa e autoridades dos governos mais poderosos do planeta, apresentado como uma investigação sobre a cultura da Internet e sobre os caminhos confidenciais que levaram à revelação de tramas verdadeiras, mas que até parecem ter saído da imaginação de roteiristas de filmes sobre espionagem e intrigas internacionais, é revelado pela equipe de reportagem, liderada por David Leigh e Luke Harding. A investigação chega às fontes de Assange para os arquivos confidenciais desde a criação do site WikiLeaks, em 2006 – batizado com um nome que reúne as expressões "wiki", que significa obra colaborativa na Internet, mais "Leak", o "vazamento" ou divulgação pública de uma informação reservada.






Admirável WikiLeaks: o jornalista,
escritor e ciberativista australiano
Julian Paul Assange, um dos nove 
membros do conselho consultivo e 
principal porta-voz do WikiLeaks,
site de denúncias e vazamento de
informações sigilosas envolvendo
governos e autoridades civis e
militares de vários países


 









Na trajetória descrita pelos repórteres e editores do "The Guardian", o WikiLeaks ganha importância desde as primeiras publicações e, a cada ano, vai marcando sua trajetória com revelações sobre assuntos polêmicos sobre as grandes questões da política internacional. O ápice da repercussão sobre os "vazamentos" acontece depois da divulgação de um extenso dossiê com documentos secretos e relatórios internos do Exército dos Estados Unidos, denunciando a tortura de prisioneiros e a morte de milhares de civis nas guerras do Afeganistão e do Iraque. É a publicação mais bombástica do site, mas o livro-reportagem também enumera outros escândalos decorrentes da infinidade de informes diplomáticos confidenciais que envolvem autoridades de vários países, inclusive do Brasil.

Uma série de telegramas oficiais da diplomacia dos EUA, revelados pelo WikiLeaks a partir de fevereiro de 2009 e nos meses seguintes, revelaram o passo a passo das ações do governo norte-americano para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em áreas estratégicas como petróleo, energia nuclear e tecnologia espacial. Em todos os telegramas publicados pelo WikiLeaks as autoridades dos EUA anunciam que têm apoio irrestrito da grande imprensa brasileira, citando nomes de colunistas conhecidos e de jornais, revistas e emissoras de TV. Os telegramas também escancaram as funções de aliado e colaborador dos EUA para vários políticos, entre eles, em destaque, dois notórios nomes do PSDB: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu então ministro José Serra 
(veja aqui os telegramas oficiais divulgados pelo WikiLeaks).

Uma das revelações explosivas do WikiLeaks sobre o Brasil atingiu em cheio, na época, o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. Um telegrama do Consulado Norte-Americano no Brasil, enviado a Washington e datado de 2 de dezembro de 2009, publicado pelo WikiLeaks em 2010, revelava que as autoridades dos EUA e as petroleiras estrangeiras estavam muito preocupadas com a lei da partilha do Pré-Sal, que determinava a Petrobras na condição de operadora única das reservas.

Porém, segundo o mesmo telegrama, as autoridades dos EUA contavam com o compromisso firmado por José Serra e por outros políticos, além de empresários ligados à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para reverter a situação e quebrar o monopólio da Petrobras no processo, permitindo que a Chevron e outras multinacionais da indústria do petróleo pudessem tomar posse das reservas brasileiras. As informações reveladas pelo WikiLeaks ganharam destaque na imprensa do mundo inteiro, mas a mídia do Brasil fez um silêncio absoluto sobre o assunto (veja aqui os links com denúncias do WikiLeaks sobre a Petrobras e contra José Serra).








Lançado no Brasil pelo selo Verus/Record no auge do Caso WikiLeaks, com a prisão de Julian Assange e o início do processo de julgamento, o livro da equipe sob o comando de Leigh e Harding foi sucesso imediato, disparando nas listas de mais vendidos. O lançamento de “WikiLeaks: A Guerra de Julian Assange Contra os Segredos de Estado" mereceu um tratamento incomum no mercado editorial nacional: o livro chegou às livrarias simultaneamente nos Estados Unidos, em diversos países da Europa e também no Brasil.

Catapultado, em muito pouco tempo, da obscura vida em Nairobi, centro cultural e econômico do Quênia, na África – onde divulgava informações com as quais ninguém se importava muito – ao posto de inimigo público número 1 de algumas das principais autoridades internacionais, Julian Assange surge no livro produzido pela equipe do "The Guardian" como o protagonista do escândalo – um James Bond às avessas que atinge o coração das operações militares e da política estrangeira de Estados Unidos e Europa. 



Percalços do site explosivo 



A conclusão de David Leigh (atual editor investigativo do "The Guardian") e Luke Harding (correspondente do jornal em Moscou) alcança as origens do projeto e os percalços de Julian Assange e seu site explosivo até fevereiro de 2011, quando o livro-reportagem é concluído e enquanto Assange ainda aguarda julgamento pelos tribunais de justiça da Suécia, acusado de ter feito sexo sem preservativo com duas mulheres.

"O WikiLeaks parece mentira, mas é tudo verdade", destaca Alan Rusbridger, editor do "The Guardian", na apresentação ao livro, questionando o absurdo do processo na Suécia e a perseguição implacável ao hacker de cabelo platinado que, em determinado momento, para sobreviver à perseguição implacável, precisou se esconder da C.I.A. e da Interpol na casa de David Leigh.















Sobre a personalidade e as reais intenções de Julian Assange não há consenso, nem no livro, nem fora dele. Considerado por alguns como um paladino da justiça, uma espécie de super-herói ou Messias das novas mídias – e para outros um ciberterrorista perigoso – Julian Assange recebe um tratamento isento e equilibrado no relato jornalístico assinado por Leigh e Harding, mesmo quando as investigações da equipe de repórteres questiona algumas informações ou ações do WikiLeaks.

A cada capítulo, Leigh e Harding vão montando a trama e revelando segredos sobre o surgimento do site, as fontes de Assange e as circunstâncias do vazamento dos documentos ultra-sigilosos, além de analisar as questões geopolíticas em decorrência do impacto das revelações que agradaram a alguns e levaram pânico a muitos outros chefes de Estado. Mais do que contar em detalhes a trajetória do WikiLeaks, a reportagem tenta desvendar a enigmática figura de Assange e sua decisão de publicar os documentos ultra-secretos – decisão de consequências explosivas que o tornaram um Inimigo Público frente aos governos dos Estados Unidos e vários outros países.



É tudo verdade



"A despeito das ironias e ambiguidades de sua causa e da natureza problemática de sua personalidade, o próprio Julian Assange parece ter conquistado uma ampla base mundial de fãs", conclui o relato assinado por David Leigh e Luke Harding sobre o WikiLeaks. O capítulo final, "Balada da Prisão de Wandsworth", abre com uma epígrafe emblemática de Oscar Wilde ("Eu caminhava, com outras almas em sofrimento").


"Se alienígenas aterrissassem sua nave espacial do lado de fora do edifício, poderiam muito bem supor que um dos santos de Deus estava prestes a ascender", ironizam os autores de “WikiLeaks: A Guerra de Julian Assange Contra os Segredos de Estado", referindo-se à mobilização popular iniciada em dezembro de 2010, em frente à corte em que o hacker estava sendo julgado por "crimes sexuais".





Messias da Internet ou Ciberterrorista?



"Na Austrália, sua terra natal, e em toda parte, ele é considerado por muitos um herói, alguém cuja guerra contra os segredos de Estado criou algo genuinamente novo e excitante", completam os autores. Messias da Internet ou um Ciberterrorista? Inocente ou culpado na lista mirabolante de acusações divulgadas pelos governos dos EUA e outros países alinhados? Defensor da liberdade de informação ou criminoso sexual?

O livro lança questões importantes, mas não enfatiza nenhuma resposta – até porque, alertam os autores, é certo que muitos novos capítulos virão sobre o caso Julian Assange e suas relações internacionais, sujeito a reviravoltas imprevisíveis envolvendo as maiores autoridades de vários países, as que estão no poder e as que estiveram no poder, de Barack Obama e Hillary Clinton a Sarkozy, passando pela Família Real britânica, por Vladimir Putin, Berlusconi e Kadafi, entre muitos outros: todos personagens de escândalos denunciados e comprovados em milhares de documentos confidenciais e explosivos que deixaram de ser secretos graças aos percalços de Julian Assange.














O relato de David Leigh e Luke Harding termina apresentando um apêndice de dezenas de telegramas diplomáticos e com a descrição de Assange como personagem de capa da edição internacional da revista "Rolling Stone", na qual ele surge sem camisa e com a seguinte legenda, que remete ao clássico do rock criado por David Bowie no início dos anos 1970 e também ao filme de ficção científica de mesmo título, com Bowie no papel de protagonista, que chegou aos cinemas em 1976, com direção de Nicolas Roeg:
 
"O homem que caiu (da Web) na Terra – um vilão platinado que ameaça os poderosos do planeta, passando-se por um cyberpunk", afirma a capa da edição internacional "Rolling Stone" (não confundir com a bizarra versão nacional da revista, francamente medíocre, equivocada e vendida a interesses políticos de extrema direita). O destaque na capa da "Rolling Stone" internacional é mais um sinal inequívoco da popularidade e da grande veneração, na Internet e no universo da cultura pop, pelo ativista que quebrou Segredos de Estado e mudou as relações diplomáticas internacionais. Além da “Rolling Stone”, muitas outras publicações internacionais também elegeram Julian Assange como o "astro do rock do ano de 2010", ajudando a propagar sua história de celebridade mundial.







O homem que caiu na Terra


A equipe de jornalistas premiados do "The Guardian", tendo à frente David Leigh e Luke Harding, esteve no centro do drama que está na conclusão do livro. Com sua aproximação ao trabalho diário de Julian Assange no site WikiLeaks, a equipe e o próprio "The Guardian" foram acusados de co-autores das denúncias que envolveram a publicação de mais de 250 mil telegramas diplomáticos secretos e arquivos confidenciais explosivos sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque.

O livro descreve a gravidade das denúncias e também as questões éticas envolvidas nas decisões de publicá-las. O resultado é uma extensa investigação que provoca reflexões sobre as novidades da cultura da Internet que tornaram possível a revelação das informações mais sigilosas – como o genocídio das execuções civis no Quênia em 2008 e os incontáveis telegramas diplomáticos dos Estados Unidos – através do ousado trabalho da equipe liderada por David Leigh e Luke Harding, mas também, e especialmente, da coragem de Julian Assange e do grupo que compõe a base do WikiLeaks.







O WikiLeaks vai mudar o mundo?




"WikiLeaks, A Guerra de Julian Assange contra os Segredos de Estado", assinado por David Leigh e Luke Harding em nome da equipe, termina com uma análise sobre as implicações das revelações sobre o mais polêmico e, para alguns, o mais revolucionário dos sites de notícias – e sobre as circunstâncias que conduziram à conclusão da reportagem, entre janeiro e fevereiro de 2011. O resultado é um relato jornalístico de alto nível que revela a natureza estranha e contraditória de Julian Assange, um personagem da vida real que chegou a ser premiado pela Anistia Internacional em 2009 e que, menos de um ano depois, seria alvo de uma perseguição policial implacável envolvendo vários países.

Como em uma novela de suspense, o que move a trama e deflagra a perseguição internacional, segundo jornais e revistas, é a acusação pitoresca contra Assange, pela polícia sueca, sob a alegação de crimes sexuais. O livro de David Leigh e Luke Harding questiona esta acusação, apresenta novos documentos em defesa de Assange e conclui com uma pergunta que soa quase como uma profecia: o WikiLeaks vai mudar o mundo? 






Na elaboração desta reportagem

sobre o livro de David Leigh e 
Luke Harding e sobre o WikiLeaks,
publicada em um jornal de Belo
Horizonte, consultei jornalistas 
com experiência em coberturas 
internacionais e também professores
de Ciência Política e Direito
Internacional. Fiz a todos eles
a mesma pergunta: será que o
WikiLeaks vai mudar o Mundo? 


Confira algumas respostas:



Eu não creditaria ao WikiLeaks toda essa importância.
Vazar documentos oficiais com informações confidenciais
não é sinônimo de levantar a bandeira da liberdade de imprensa.
O exercício do jornalismo exige responsabilidade e bom senso".

(Ana Paula Padrão, jornalista e apresentadora de TV)



"Não, o WikiLeaks não vai mudar o mundo
. Quem muda o mundo
são as pessoas, com suas utopias e demandas sociais. O WikiLeaks
serviu como janela nas atividades mundanas dos diplomatas dos EUA,
muitas vezes revelando que eles se baseiam em fontes mal informadas
ou, ao emitir opiniões, o fazem com uma superficialidade de fazer
corar o Barão do Rio Branco".

(Luiz Carlos Azenha, repórter da Rede Record de Televisão)



"Se o WikiLeaks vai mudar o mundo? Não sei... Pode
não mudar o mundo, mas mudou a relação do poder com
a opinião pública e acabou com a cortina de fumaça que 
protegia governantes em nome do interesse de estado.
O WikiLeaks não provocou nenhuma tragédia,
mas provocou uma verdadeira revolução".

(Zuenir Ventura, jornalista e escritor)



"O WikiLeaks transformará a percepção do grande público
sobre a política internacional, pois evidenciará toda a
ambiguidade, pragmatismo e subjetividade das ações 
adotadas nos bastidores da diplomacia mundial".

(Dahnny Zahredinne, coordenador do Curso de
Relações Internacionais da PUC Minas)



O WikiLeaks mexeu e ainda vai mexer muito mais com
o mundo. Mas não vai mudar o mundo. O resultado está aí.
Com as denúncias assustadoras que o Assange vem publicando,
vamos ter governos, instituições e todo mundo em geral com
mais cuidado com seus e-mails e arquivos. Cada passo
de um espião provoca um outro do anti-espião”.

(Lucas Mendes, jornalista e âncora do programa
de TV “Manhattan Connection”)


"Antes os EUA perseguiam comunistas; hoje perseguem terroristas. E qualquer um pode ser o inimigo, basta alguém com poder suficiente implicar que deve ferrar com alguém. É um retrocesso absurdo na democracia e liberdade. Quanto a mim, não pretendo ganhar dinheiro com o WikiLeaks e a Internet. Pretendo é levar conhecimento às pessoas, para que elas entendam melhor o mundo em que vivem." (Julian Assange)



por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Admirável WikiLeaks. In: Blog Semióticas, 22 de julho de 2011. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2011/07/admiravel-wikileaks.html (acessado em .../.../...).



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