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7 de junho de 2012

Relíquias de Marc Ferrez







Depois da existência da fotografia e do cinema, 

a reprodução desenhada ou pintada da verdade 

não interessa nem vai interessar a mais ninguém. 

–– Giacomo Balla (1871–1958).    



Boas e más notícias trouxeram de volta à mídia o nome de Marc Ferrez (1843-1923), um dos mais importantes fotógrafos brasileiros de todos os tempos. As boas notícias: uma parte considerável da obra completa de Ferrez foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que lançou no Brasil e na França um catálogo impecável reunindo ensaios escritos por especialistas e uma coleção de 160 imagens primorosas do final do século 19 e do começo do século 20.

Além das fotografias reunidas na edição, há também um acervo de mais de 300 imagens originais de Ferrez, a maioria belas panorâmicas em negativos de grande formato (40cm X 110cm), que permanece em exposição itinerante nas sedes do IMS e em outros espaços no Brasil e no exterior. Parte do acervo também está aberta ao público no site que o IMS mantém na internet. Tanto o catálogo impresso como a mostra itinerante e as imagens disponíveis no site revelam a arte grandiosa de Ferrez, que criou no Brasil, antes de qualquer outro pioneiro da fotografia, uma linguagem que se tornaria universal e quase obrigatória em livros e reportagens de turismo e no formato de cartões postais.

Também há más notícias: o nome de Marc Ferrez frequentou as páginas policiais por conta de um grande roubo no acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, registrado em 2005, quando desapareceram cerca de 150 de suas fotografias mais raras e celebradas. Um crime perfeito, que não deixou pistas, aparentemente realizado sob orientação de especialistas: além das séries valiosas de Ferrez, também furtaram fotografias e negativos originais de importantes e pioneiros fotógrafos do século 19, entre eles August Stahl (1828-1877), Guilherme Liebenau (1838-1900) e Benjamin Mulock (1829-1863).











Imagens de Marc Ferrez: o fotógrafo em
autorretrato datado de 1876, aos 33 anos.
No alto, registro da primeira locomotiva
(Trem de Ferro) e o grupo de engenheiros
responsáveis pelas obras da Estrada de
Ferro Rio-Minas, fotografados por Ferrez
no alto da Serra da Mantiqueira, no ano
de 1882. Acima, Ferrez registra a imperatriz
Teresa Cristina e Dom Pedro 2°  com a
princesa Isabel e a família reunida no
Paço Imperial do Rio de Janeiro, em 1887.
Abaixo, entrada da Baía de Guanabara no
Rio de Janeiro, vista de Niterói, em
fotografia de 1890 de Marc Ferrez






.



As boas e as más notícias colocaram em evidência o gênio de Marc Ferrez, nome fundamental da fotografia e do cinema brasileiro que, em seus 80 anos de vida, registrou todo o Brasil em belas panorâmicas e em retratos impressionantes, entre ilustres personalidades e anônimos que encontrou em cada região do país. Filho de um casal de escultores e gravadores franceses que vieram para o Brasil em 1816, com a Missão Artística Francesa, Ferrez foi comparado aos grandes pintores pelos intelectuais do Império e da primeira República, o que era a mais nobre das distinções, numa época em que o trabalho de fotografar estava longe de ser considerado uma arte. 



Arauto da Modernidade



O livro, na verdade um belo catálogo fotográfico intitulado “O Brasil de Marc Ferrez”, traz detalhada biografia, cronologia de seus principais trabalhos e ensaios de Françoise Reynaud, curadora do Museu Carnavalet, em Paris, e dos pesquisadores Maria Inez Turazzi, Pedro Karp Vasquez, Laurent Gervereau, Frank Stephan Kohl, Sérgio Burgi e Antônio Fernando De Franceschi, superintendente do IMS. Com a publicação e a exposição itinerante do acervo, foi a primeira vez que a obra de Marc Ferrez chegou ao público de forma abrangente.
 







Relíquias de Marc Ferrez: no alto,
visita do imperador Pedro 2°, no ano
de 1882, à inauguração do Túnel da
Mantiqueira, na primeira Estrada de Ferro
que interligava Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Acima, a princesa Isabel
Cristina de Bragança em 1887.
Abaixo, vista da construção da
Estrada de Ferro Santos Jundiaí
pela São Paulo Railway em 1880






.





Nas fotografias de Marc Ferrez, o que mais surpreende, junto com sua demonstração de domínio da luz, é sua precisão na escolha do ponto de vista para ressaltar no enquadramento a qualidade estética das cenas registradas. São imagens comoventes, mesmo depois de todos os avanços tecnológicos da maquinaria fotográfica. Como destaca De Fraceschi em um dos ensaios do livro, abordando as singularidades da obra de Ferrez e sua influência sobre pintores célebres que se dedicaram às paisagens do Brasil:

O que interessa, cada vez mais, é compreender as relações passadas e presentes entre a fotografia e a pintura, sobretudo agora, quando as vanguardas contemporâneas parecem ter se desinteressado do mundo objetivo, deixando para a fotografia a inteira responsabilidade de se ocupar do real. Diante da obra monumental de Marc Ferrez, fica mais fácil compreender porque se atribui às suas belas imagens, produzidas na segunda metade do Oitocentos e nas primeiras décadas do século 20, os primeiros registros sobre a entrada do Brasil na Modernidade”.







          



No alto, Igreja de São Francisco de Assis 
em Ouro Preto, Minas Gerais, uma das obras-
primas do Barroco Mineiro e do mestre
Aleijadinho, retratada por Marc Ferrez
em 1880. Acima, Paul Ferrand fotografado
por Marc Ferrez na Serra do Itacolomy,
em Ouro Preto, no ano de 1886. Abaixo,
vista do Porto de Santos em 1880



         



Além do privilégio da nomeação como primeiro (e único) Fotógrafo da Marinha Imperial, Ferrez pôde percorrer o país como um dos principais nomes da Comissão Geológica do Império, a partir de 1875, fotografando atividades econômicas, a construção das principais estradas de ferro, as construções seculares da arquitetura barroca, as minas de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, as belas paisagens e os cenários desconhecidos das cidades, das florestas e das fazendas, seus costumes e personagens dos salões, das ruas, dos grotões.

Funcionário dos mais destacados nos quadros do Segundo Império, primeiro entre seus pares a visitar os confins do território nacional e registrá-los em fotografias e documentos cartoriais, Marc Ferrez também desenvolveu equipamentos próprios e introduziu experiências técnicas como as fotografias coloridas, por ele batizadas de autocromo, em aperfeiçoamento à invenção dos irmãos Lumière. Observar a evolução temporal de sua arte equivale a uma leitura da história do Brasil e da trajetória da fotografia, dos processos químicos mais primitivos aos avanços da tecnologia das câmeras, lentes e processos de revelação e reprodução.










Cartões postais de Marc Ferrez: no alto,
escravos no garimpo de ouro na região de
Diamantina, no interior de Minas Gerais,
em 1888. Acima, paisagem surpreendente
às margens do Rio São Francisco no
Nordeste do Brasil no ano de 1875. Abaixo,
a praia de Ipanema, Rio de Janeiro, 1895









Expedições do Império



Filho mais jovem do francês Zéphyrin Ferrez, contando com mais quatro irmãs e um irmão, ficou órfão de pai e mãe no Rio de Janeiro aos sete anos. Mandado para a França, onde estudou até a adolescência, retornou ao Brasil em 1859 e passou a trabalhar na Casa Leuzinger, uma papelaria e tipografia que tinha começado a trabalhar com uma seção dedicada à fotografia. Na Casa Leuzinger, Ferrez aprenderia as técnicas da arte de fotografar com o alemão Franz Keller (1835-1890). Aos 21 anos, em 1865, investiu tudo que tinha para abrir a firma Marc Ferrez & Cia., um estúdio fotográfico que o colocou entre os principais profissionais da corte.

Em 1875, a trajetória de Ferrez mudou radicalmente quando ele recebeu convite para integrar, como fotógrafo, a expedição chefiada pelo geólogo canadense Charles Frederick Hartt (1840-1878) e financiada pela Comissão Geológica do Império. Hartt faria história como autor da primeira obra rigorosamente científica sobre a geografia do Brasil – “Geology and Physical Geography of Brazil” (1870). A Expedição Hartt percorreu várias regiões do país e acendeu em Ferrez o gosto pela aventura de desbravar e registrar os confins de norte a sul do território nacional.













Relíquias de Marc Ferrez: no alto,
menino índio, fotografia de 1880, e
índia e seu filho fotografados no sul
da Bahia, em 1875, e índios botocudos
no interior de Mato Grosso (1876).
Acima, a primeira fotografia no interior
de uma mina de ouro, em Ouro Preto,
Minas Gerais, no ano de 1888. Abaixo,
fotografia da série de 1876 dedicada
aos índios botocudos; um grupo de
índios Bororo em fotografia de 1880;
e duas fotografias que registram aspectos
da vida indígena feitos na década de 1870
e apresentados no Museu Nacional em 1882
na Exposição Antropológica Brasileira




             



              












Depois da experiência com a Expedição Hartt, Ferrez passa a investir esforços nos estudos sobre geologia e geografia e, no ano de 1880, decide encomendar na Europa a confecção de uma máquina fotográfica por ele idealizada, para a execução de imagens panorâmicas em grandes dimensões. Daí aos cargos oficiais de maior importância no Império de Dom Pedro 2°, também entusiasta da fotografia, foi um passo.

O destaque como funcionário a serviço da nação continuaria nos primeiros tempos da República. Reconhecido no Brasil e no exterior como fotógrafo de paisagens, de obras públicas, de cartões postais e de retratos de políticos e personalidades que se tornariam célebres, entre eles os escritores Machado de Assis e Rui Barbosa, Ferrez realizaria a partir de 1903 uma de suas séries mais reproduzidas até a atualidade: a documentação completa das obras no Rio de Janeiro de instalação da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, dos antigos edifícios às construções que foram erguidas no começo do século 20.





Relíquias de Marc Ferrez: no alto,
mata de Araucárias, no interior do Paraná,
em fotografia datada de 1884. Abaixo, grupo
de escravos e seus filhos reunidos em uma
fazenda de café na Serra da Mantiqueira,
Sul de Minas Gerais, no ano de 1885;
e escravos na colheita do café em uma
fazendo do Vale do Paraíba,
no Rio de Janeiro, em 1882





Qualidade estética e documento histórico



Marc Ferrez obteve em sua época as mais importantes condecorações pela excelência de seu trabalho fotográfico, tanto no Brasil como em outros países, em diversas instituições internacionais, entre elas os primeiros grandes prêmios em exposições nos EUA (Philadelfia, 1876) e na França (Paris, 1878), além de ter suas fotografias exibidas com destaque na Exposição Universal de 1900, em Paris. Várias de suas séries e álbuns também foram incorporadas desde o final do século 19 aos acervos da Société Géographique, sediada na França.

Como se não bastasse, o nome de Marc Ferrez ainda está ligado ao nascimento do cinema no Brasil: foi ele quem patrocinou a produção dos primeiros filmes nacionais e instalou em 1907, no Rio de Janeiro, o Cine Pathé, primeira sala de exibição permanente de espetáculos cinematográficos. Ainda nesse ano, a Casa Marc Ferrez & Filhos tomaria para si a distribuição da grande maioria dos filmes exibidos nas diversas salas de cinema que surgiram no Rio de Janeiro. 










O Rio Antigo segundo Marc Ferrez:
no alto, panorâmica da Ilha Fiscal na
Baía da Guanabara, em 1885. Acima, a
Avenida Central no Rio de Janeiro de 1910.
Abaixo, a estação da estrada de ferro da
Central do Brasil, Rio de Janeiro, 1899







 
A extraordinária qualidade estética, formal e documental da obra de Marc Ferrez na produção de retratos de personalidades, além das panorâmicas, tanto as urbanas quanto a paisagem natural que emoldura e envolve seus enquadramentos, foi preservada intacta por seus familiares no último século. Depois da morte do fotógrafo patriarca, o guardião de sua obra completa foi Gilberto Ferrez (1908-2000), neto de Marc e um dos mais destacados historiadores da iconografia brasileira e da obra dos viajantes estrangeiros no decorrer da história do Brasil.

Desde a morte de Gilberto, a guarda e a preservação dos arquivos dos Ferrez estão a cargo de sua filha, Helena Ferrez, que mantém há décadas a catalogação dos documentos da família. Os catálogos preservados contam com um extenso patrimônio em suportes variados, no qual estão incluídos desde as relíquias de Zéphyrin, pai de Marc e tataravô de Helena, às clássicas séries de ensaios em panorâmicas registradas em daguerreótipos e fotografias por Marc Ferrez.











Relíquias de Marc Ferrez: no alto,
amostra da experiência de Marc Ferrez
com o autocromo em cores, realizada em
1915 na Quinta da Boa Vista, no Rio de
Janeiro, seguida de duas imagens do Rio no
ano de 1875: o Pão de Açúcar, visto a partir
do bairro do Flamengo, e uma panorâmica da
entrada da Baía da Guanabara. Abaixo, o Largo
do Paço e a Rua Primeiro de Marco, no 
Rio de Janeiro, em 1890. No final da
página, mais duas imagens de Marc Ferrez em
1875: orla do Rio de Janeiro, com vista para o
Cais Pharoux e adjacências, e panorâmica que
registra os arrecifes e o porto do Recife, feita
por Ferrez no alto do Farol da Barra, tendo
em primeiro plano o Forte do Picão, que foi
construído em 1614 e batizado desde então
pelos holandeses como Castelo do Mar








Aos cuidados de Helena Ferrez também estão os acervos reunidos durante décadas por Gilberto Ferrez e todos os arquivos e filmes em negativo do filho de Marc e pai de Gilberto, Júlio Ferrez (1881-1945) – pioneiro que trouxe os primeiros equipamentos de cinema para o Brasil e realizou as primeiras filmagens em território brasileiro. Os catálogos dos Ferrez contam ainda com séries de correspondências, muitos álbuns da intimidade da família, cadernos de anotações das várias gerações, peças de artes plásticas e impressos em geral.

A maior parte deste imenso acervo, entretanto, não faz parte do material reunido no livro e na mostra “O Brasil de Marc Ferrez”. As imagens que constam do livro e da mostra foram selecionadas da coleção adquirida pelo IMS em 1998 – uma coleção que totaliza cerca de 5.500 fotografias diferentes, produzidas no século 19 e começo do século 20, incluindo mais de 4 mil negativos originais em superfícies de vidro.

Importante como resgate da importância capital do trabalho de Marc Ferrez, o livro, assim como a mostra e a manutenção do acervo pelo IMS, também consolidam e estendem para além do círculo de especialistas um trabalho que é um dos mais importantes legados visuais do Segundo Império e da República Velha. Compreendida no período que vai de 1865 a 1918, a perícia técnica e a grande arte de Marc Ferrez se mantêm, até os dias de hoje, como um dos registros fundamentais da fotografia no Brasil e no mundo.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Relíquias de Marc Ferrez. In: Blog Semióticas, 7 de junho de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/06/reliquias-de-marc-ferrez.html (acessado em .../.../...).



 







18 de abril de 2012

Certas canções






Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa:
Prohibido cantar”. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro,
um aviso: “É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem”.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca. 

––  Eduardo Galeano.   


Do Leme ao Pontal, não há nada igual – anuncia a canção de Tim Maia. Purgatório da beleza e do caos – completa o samba-funk “Rio 40 Graus”, de Fernanda Abreu, Carlos Laufer e Fausto Fawcett, sampleando, entre outras e outros, o samba-rock de Jorge Ben Jor e aqueles versos e aquele abraço do Gilberto Gil que celebra: continua lindo, continua sendo, de janeiro, fevereiro e março. A lista de canções que rendem tributo à Cidade Maravilhosa é quase interminável. Batizada de São Sebastião do Rio de Janeiro, quando foi fundada pelo português Estácio de Sá, em 1° de março de 1565, a cidade aparece como tema de milhares de composições que incluem de tudo, em todos os gêneros. Do mais antigo, até onde os registros da historiografia alcançam, ao mais recente, são muitas as canções em que a cidade do Rio de Janeiro é homenageada.

Há os clássicos do choro e as marchinhas de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, os sambas da velha guarda de Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Elton Medeiros, Herivelto Martins e Billy Blanco, as presenças de Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Chico Buarque, a Bossa Nova de Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, a Tropicália de Gilberto Gil e Caetano Veloso, os hinos de amor ao Estácio de Luiz Melodia, as canções de Tim Maia, Cassiano, João Bosco e Aldir Blanc, o rock Brasil de Raul Seixas, Rita Lee, Blitz, Cazuza e Barão Vermelho, o rap e o funk de Furacão 2000, Claudinho e Bochecha, MV Bill e muito, muito mais. Para contar esta história, um time de bambas foi convidado a percorrer e analisar a trajetória da música popular no Brasil a partir da cidade do Rio de Janeiro.

A proposta para a viagem pelas canções foi um projeto organizado pelo jornalista Marcelo Moutinho. A investigação, que teve início seguindo a trilha das composições da segunda metade do século 19 e chegou aos nossos dias, resultou num inventário minucioso sobre a presença da Cidade Maravilhosa no repertório dos principais compositores brasileiros. O projeto de Moutinho deu origem ao livro "Canções do Rio – A Cidade em Letra e Música", que reúne os ensaios assinados por Ruy Castro, Sérgio Cabral, João Máximo, Hugo Sukman, Nei Lopes e Sílvio Essinger – todos críticos de música com atuação em jornais e revistas e com livros publicados sobre a música popular.










Certas canções: no alto, detalhe da ilustração
na capa do livro Canções do Rio; nas imagens
acima, o Cristo Redentor em dois postais com
registros de 40 anos de diferença: fotografado do
avião, em 2010; e visto a partir de um dos Belvederes
da Floresta da Tijuca em fotografia de 1970.

Abaixo, o acesso ao Cristo Redentor
em cartão postal de 1973. Também abaixo,
duas vistas panorâmicas do Pão de Açúcar
e do morro da Urca com um século de
diferença entre elas: na primeira, em fotografia de
  1885 de Marc Ferrez (1843-1923); na segunda,
em um cartão postal da década de 1970










A ideia para concepção do livro foi, no mínimo, original: destacar que o Rio de Janeiro  sempre esteve presente como uma inequívoca fonte de inspiração musical. "O objetivo do livro foi justamente demonstrar como nossos compositores cantaram o Rio em diferente épocas e gêneros. Do samba ao rock, da Bossa Nova ao funk, da marchinha ao rap", explica Marcelo Moutinho, que na apresentação ao projeto também confessa sua condição de apaixonado pelas diversas sonoridades da alma carioca.

"Faltava contar a história do Rio na música, do Rio idílico, cuja exuberante paisagem é capaz de arrebentar as retinas. Do Rio de valas negras e favelas no coração. Do Rio que foi, sempre, a cidade-musa”, destaca. Moutinho também recorda que  a antiga capital do Brasil também tem seu destaque no cinema, no teatro e na literatura. Entre as citações, ele lembra, entre outros, o cronista Marques Rebello – para quem o Rio de Janeiro podia ser definido como uma cidade com muitas cidades dentro, porque cada bairro carioca identifica uma personalidade muito própria. 











"Acredito que esta observação do Marques Rebello fica evidente nas canções que retratam o Rio. Muitos compositores perceberam estas muitas cidades dentro da cidade e isso foi traduzido na música”, destaca Moutinho. Ele também recorda que um marco da maior importância entre todas as coisas que se diz sobre a cidade foi registrado em 1935, quando o compositor carioca André Filho, ao tomar de empréstimo uma expressão criada por volta de 1900 pelo escritor maranhense Coelho Neto, saudou pela primeira vez o Rio de Janeiro com o título de “Cidade Maravilhosa”.  


 
Do samba ao rock



Parceiro de Noel Rosa na antológica “Filosofia” e um dos preferidos da estrela Carmen Miranda (que gravaria na década de 1930 suas canções “Alô, Alô” e “Mulato de Qualidade”, entre outras), André Filho teve a honra de transformar a citação “Cidade Maravilhosa” na marchinha que chegaria à condição de uma das mais tocadas em todos os tempos no carnaval do Brasil. A partir de 1935 estava instituído, pela canção, o título pelo qual o Rio de Janeiro passaria a ser identificado e consagrado.
 








Cenas do Rio de Janeiro: duas imagens do
fotógrafo Augusto Malta (1864-1957) que
registram o Rio Antigo: no alto, o Largo da
Carioca; acima, uma vista panorâmica
da Enseada de Botafogo em 1900.

Abaixo: 1) grupo de choro em fotografia
anônima datada de 1900; 2) um dos
principais pioneiros do samba, o músico
e compositor José Barbosa da Silva,
o Sinhô (ao centro, com violão), com
amigos do Cordão do Bola Preta, o mais
antigo bloco do carnaval cariosa, em
fotografia de 1924; e 3) Chiquinha Gonzaga,
referência da música brasileira, primeira
mulher negra a reger uma orquestra no
Brasil, autora da primeira marchinha
de carnaval ("Ó Abre Alas"), pianista e
compositora de mais de 2 mil obras em
diversos gêneros, como valsas, tangos,
choros e serenatas. Também abaixo,
a praia do Lemena Zona Sul da
cidade, em cartão postal de 1950







 








Em entrevista que fiz com ele por telefone, para um jornal de Belo Horizonte, Marcelo Moutinho explica que o livro, editado pela Casa da Palavra, apenas reuniu as histórias e canções que sempre estiveram no imaginário popular do carioca e de todos os brasileiros. Ele lembra que o Rio, com suas ruas, bairros e personagens, já aparecia no cancioneiro popular desde o século 19, em versos e canções que descortinavam a dor e a delícia de se viver num dos mais belos cenários do Brasil e do mundo.

"O objetivo foi investigar a presença marcante do Rio na música brasileira”, completa Moutinho, que nasceu em 1972 em Madureira, subúrbio do Rio, e tem outros livros publicados, como as prosas de ficção “A Palavra Ausente” (Rocco, 2011) e “Somos Todos Iguais nesta Noite” (Rocco, 2006). Colaborador das revistas “Bravo!” e “Cinemais” e do jornal “O Globo”, também organizou uma série de antologias que inclui "Prosas Cariocas – Uma Nova Cartografia do Rio" (Casa da Palavra, 2004), "Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa" (Casa da Palavra, 2009) e “Manual de Sobrevivência nos Butiquins mais Vagabundos” (Senac Rio, 2005).
 







Em “Canções do Rio”, o time de especialistas não apenas registra as canções de cada época que tiveram a Cidade Maravilhosa como personagem ou cenário, mas também analisa a formação da identidade carioca. No capítulo "A canção moderna", Hugo Sukman descreve: "O que a cidade do Rio de Janeiro tem de belo tem de complexidade e de declarações de amor incondicional. Lá do fundo do Rio, escapando das balas perdidas e franzindo o cenho para poder suportar tanta luz e tanta beleza, a música brasileira manda seu recado mais atual".

Autor do livro "Heranças do Samba" (2004) e das biografias de Moacir Santos (2006) e Djavan (2008), Sukman destaca como a música muitas vezes ressoou o processo permanente de brutalização da cidade. A palavra "arrastão" e seus dois sentidos direcionam a análise de Sukman – da rede que há séculos colhe no mar os peixes, tema da canção de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, ao recente e violento significado registrado pela população em pânico diante da ação das gangues nas avenidas e areias das praias da Zona Sul.
















Cenas da Cidade Maravilhosa: no alto,
Sebastião Rodrigues Maia, que ficaria
conhecido como Tim Maia depois do
primeiro disco, gravado em 1970, em foto
aos 20 anos, em 1962, ao lado de Erasmo
Carlos, no bairro da Tijuca, zona norte do
Rio de Janeiro (Tim, Erasmo e Jorge Ben Jor
eram amigos e vizinhos desde a infância).
Acima, Tim passeando do Leme ao Pontal,
durante entrevista para o curta-metragem
realizado por Flávio Tambellini em 1987;
um flagrante do funk nos morros cariocas
em 2010; e uma imagem aérea da Rocinha,
a maior e mais populosa favela do Brasil.

Abaixo, uma reunião de grandes nomes
do samba no estúdio, em 1967, em foto
de Alaor Barreto para reportagem do jornal
Última Hora: Abel Ferreira no clarinete,
Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus,
Cartola e Pixinguinha no saxofone, entre outros;
Clementina no centro da roda, acompanhada
por Elton Medeiros, Mauro Duarte, Jair do
Cavaquinho, Anescar do Salgueiro e Nelson Sargento
no palco do Teatro Jovem, Botafogo, Rio de Janeiro,
em 1965, no espetáculo Rosa de Ouro, que
também contava com Aracy Cortes e Paulinho da
Viola, com direção de Hermínio Belo de Carvalho;
o encontro de três mestres da Velha Guarda
do samba, Cartola, Ismael Silva e Mano
Décio da Viola celebrando a amizade em
uma mesa de bar no morro da Mangueira,
em 1976; Candeia, Elton Medeiros,
Nelson Cavaquinho Guilherme de
Brito em 1977; três veteranos da
Velha Guarda do Samba, Braguinha,
Elizeth Cardoso e Herivelto Martins
homenageados pelo Museu da Imagem
e do Som em 1986; e Paulo César Batista
de Faria, Paulinho da Viola, cantor
e compositor de clássicos do samba como
Foi um Rio que passou em minha vida,
em uma foto histórica com Cartola e
na capa do LP lançado em 1971


































  







Princesinha do mar



Outro panorama contemporâneo é traçado por Silvio Essinger, autor dos livros "Punk: Anarquia Planetária e a Cena Brasileira" (1999), "Batidão: Uma História do Funk" (2005) e "Almanaque Anos 90" (2008), além de ter organizado a edição de "Baú do Raul Revirado" (2005). Silvio Essinger localiza o Rio de Janeiro como porto de desembarque e primeiro ponto de ocupação do rock'n'roll no Brasil – desde a primeira gravação realizada em Copacabana, em 1957, por um improvável Cauby Peixoto.

O rock pioneiro de Cauby, lembra Essinger, é sucedido pelo Rio de Janeiro mais descontraído nas leituras de nomes como Raul Seixas ("Ouro de Tolo"), Tim Maia ("Do Leme ao Pontal"), Caetano Veloso ("Menino do Rio") e pelos primeiros sucessos da geração 1980, entre eles Blitz ("Volta ao Mundo") e Barão Vermelho ("Billy Negão"). Essinger também registra a novidade do funk, que deu voz a compositores das comunidades mais pobres da cidade, entre eles os pioneiros Claudinho & Buchecha.
















Certas Canções: no alto, vista da praia de Copacabana

em 1890, em fotografia de Marc Ferrez. Acima, um

retrato de Clementina de Jesus criado por Elifas Andreato

para a capa da álbum de 1970 "Clementina, Cadê Você?";

os veteranos da Velha Guarda do samba João da Bahiana,

Clementina de Jesus, Pixinguinha e Donga participando

da Passeata dos Cem Mil contra a censura e contra

ditadura militar, em fotografias de 1968

publicadas pela revista Realidade. Também acima,

Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Bahiana

fotografados por Pedro de Moraes, filho de

Vinicius de Moraes, para a capa do LP lançado em

1968 pela gravadora Odeon, "Gente da Antiga".


Abaixo, Elza Soares em 1973, em retrato feito por

Madalena Schwartz,; um encontro de três baluartes

da Velha Guarda da Mangueira em 1973,

Nelson Cavaquinho, Cartola e Carlos Cachaça;

um encontro de Cartola, Nara Leão, Zé Kéti e

Nelson Cavaquinho; Carlos Lyra ao violão,

em 1965, com Aloisio de Oliveira, Nara Leão e

Vinicius de Moraes; Nara Leão no doce balanço da

praia de Ipanema, em 1967; um grupo de samba na

casa de Aracy de Almeida (com a mão no rosto):

a partir da esquerda, Jards Macalé, Wally Salomão,

Paulinho da Viola, Carlos Cachaça (sentado),

Albino Pinheiro, Cartola e Clementina de Jesus;

e Jovelina Pérola Negra, cantora e compositora

que trabalhava como empregada doméstica e levou

o samba e o pagode para o sucesso na década de

1980 nas rádios e na venda de LPs (fotografada

na quadra da escola de samba Império Serrano

em setembro de 1987 por Ignácio Ferreira).


Também abaixo, 1) João Bosco e Aldir Blanc em

um bar do Estácio na década de 1970; 2) fotografia

de Eurico Dantasa ditadura militar proíbe festa

no Carnaval da Mangueira em 1976 Cartola,

indignado, fica no chão; 3) os parceiros Cartola

e Nelson Cavaquinho no desfile da Mangueira no

Carnaval de 1978, fotografia de Marcel Gautherot;

4) Cartola na comissão de frente do

desfile da Mangueira em 1973






































Em "Dos primórdios à Era de Ouro", que abre o volume, João Máximo, autor das biografias de Noel Rosa (em parceria com Carlos Didier, publicada em 1990 pela editora LGE) e de Paulinho da Viola (editora Relume Dumará, 2003), explica que a história do Rio de Janeiro como cenário e personagem das canções vem desde o século 19. A diferença é que, naquela época, a música popular tratava dos morros e dos subúrbios em visões idealizadas, feitas a distância.

"Pois é a favela carioca, pobre, malvestida, não raro faminta, que seria citada em canções de homens que provavelmente nunca puseram os pés lá, caso do compositor semierudito Hekel Tavares e do teatrólogo Joraci Camargo”. Dos sambistas do século 20, Noel, Orestes Barbosa, Herivelto Martins e Wilson Batista são alguns dos mestres que têm suas canções analisadas no capítulo esquadrinhado por João Máximo.




 







Princesinha do mar: acima, a partir do alto,
a praia de Copacabana em fotografia de
1890 de Marc Ferrez e em cartões postais
das décadas de 1940 e 1960. Abaixo,
o calçadão de Copacabana em 1975;
Dona Zica e Cartola fotografados em 1976
por Walter Firmo na casa em que moravam,
no Morro da Mangueira. Dona Zica e Cartola
eram viúvos quando se casaram, em 1954, e
viveram juntos até a morte de Cartola, em 1980.

Também abaixo, Beth Carvalho, chamada de
militante de esquerda, de  “madrinha do samba”
e de "madrinha do pagode", em momentos
históricos: em 1978, com Cartola, de quem
ela lançou sambas que se tornariam grandes
clássicos da música brasileira, como
As rosas não falam, e com o futuro
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em 1989, nos bastidores do show
Saudades da Guanabara; em 1973 com
Nelson Cavaquinho, Cartola e Dona
Ivone Lara na quadra da Estação Primeira
de Mangueira; em 1989, nos bastidores do
2º Prêmio da Música, no Theatro Municipal
do Rio de Janeiro, um encontro de Alcione,
Tim Maia, Beth Carvalho, Martinho da Vila e
João Nogueira
; e Beth Carvalho em 1996,

no lendário encontro no palco do Metropolitan,
no Rio de Janeiro, em 1996, para celebrar
Donga e os 80 anos de "Pelo telefone",
considerado primeiro samba gravado e
o grande sucesso do Carnaval de 1917
(nas fotos, Beth com João Nogueira,
Elza Soares, Noca da Portela,
Zé Kéti e Nelson Sargento)





























E há também o Carnaval, um capítulo à parte na história. O jornalista Sérgio Cabral, biógrafo de Pixinguinha, Ataulfo Alves, Tom Jobim, Elisete Cardoso e Nara Leão, entre outros, no capítulo “As marchinhas” investiga o mais carioquíssimo dos gêneros da música popular e destaca o bairro "campeão das citações": Copacabana, a "princesinha do mar". O gênero criado por Chiquinha Gonzaga há mais de um século, aponta Cabral, continua à disposição para deliciar os ouvintes e para atender aos interessados em conhecer melhor o Rio e os cariocas.

Em outro ensaio de “As Canções do Rio”, batizado como “O samba”, o pesquisador e compositor Nei Lopes faz um passeio pela história dos compositores do morro e do asfalto, enumerando os preconceitos e os momentos que fizeram a glória de sambistas de todas as faixas de status e poder aquisitivo. Pesquisador da cultura do negro e do samba, autor de “Zé Kéti: O Samba sem Senhor” (Relume Dumará, 2000) e “Partido-Alto, Samba de Bamba” (editora Pallas, 2005), sambista e parceiro do compositor Wilson Moreira, Nei Lopes destaca que a relação do samba com o Rio é, antes de tudo, "uterina" – o útero, na metáfora, sendo representado pela baía de Guanabara.

















 
Certas canções: dois flagrantes de João Gilberto
em 1962, na praia, em cenas do filme franco-italiano
Copacabana Palacecom Luiz Bonfá (à esquerda),
Tom Jobim e três estrelas do cinema europeu:
Gloria Paul, Sylvia Koscina e Mylène Demongeot.
Também acima, duas fotografias de Mario Testino
registram a praia de Ipanema em 2005, tendo ao
fundo o Morro Dois Irmãos e a favela do Vidigal.

Abaixo, João Gilberto e Ira Etz, na época conhecida
como a musa do Arpoador, fotografados por
Nicolau Drei para a capa da revista Manchete em
1959; Chico Buarque e Francis Hime com amigos
em um bar da zona sul carioca em 1972; Chico com
Marieta Severo e Nara Leão em 1984, depois de
um concerto do cubano Pablo Milanés no
Rio de Janeiro; dois registros do calçadão
da praia de Copacabana depois da
reforma, na década de 1970, na época em
que o design e toda a urbanização da orla foram
reformulados com projeto de Burle Marx; e a mesma
praia de Copacabana em fotografia de 2010
























A matriz da Bossa Nova


 
E há também a Bossa Nova, apresentada no capítulo assinado por Ruy Castro. "A Bossa Nova nasceu no Rio, arquitetada por cariocas de todas as partes do país", recorda o autor, que já transformou em campeões de vendas do mercado editorial as biografias de Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Mané Garrincha, entre outros. Para Ruy Castro, são as praias do Rio que caracterizam a matriz solar da Bossa Nova, em contraste com a música dominante na conjuntura anterior, marcada pelo samba-canção e por muita dor de cotovelo.

Com ironia e sua habitual habilidade narrativa, Ruy Castro refaz o cenário das boates que consagravam a tal dor de cotovelo: "Que fossa! Com todas as portas e janelas fechadas, não se sabia se ainda era de noite ou se já era de manhã lá fora. E também ninguém queria saber. Até que, certo dia, por volta de 1958, alguém se arrastou até a porta e a abriu. O sol entrou pela boate e quase transformou aqueles vampiros em pó". 
 
















Certas canções: no alto, encontro de gerações
da música carioca, com Tom Jobim, Pixinguinha,
João da Bahiana e Chico Buarque em 1968; e
Baden Powell (à direita), Vinicius de Moraes e
Tom ao piano, com amigos, reunidos na boate
Au Bon Gourmetem Copacabana, no início
dos anos 1960. Também acima, João Gilberto
amigos também na boate Au Bon Gourmet,
com Vinicius Tom; e João Gilberto com
Maria Bethânia, Caetano Veloso 
Gilberto Gil
em março de 1981, durante as filmagens do
documentário "Brasil", de Rogério Sganzerla,
que registrou as gravações do álbum homônimo
reunindo os quatro músicos e convidados.

Abaixo, um encontro de Pixinguinha,
Dorival Caymmi, Vinicius (com a capa
de um LP de Tom Jobim) Baden Powell
na casa de Pixinguinha, em 1965, fotografados
por David Drew Zingg para uma reportagem
da revista Realidade; Cazuza fotografado por
Luiz Carlos David na década de 1980, na praia
do Leblonzona sul do Rio de Janeiro; e a praia
de Copacabana em cartão postal de 2010














O mais curioso, destaca Ruy Castro, é que a Bossa Nova não nasceu na praia, mas foi na praia que suas canções germinaram. “Os grandes clássicos da Bossa Nova falam do mar o tempo todo, suas letras são suadas de verão – e seu supremo cantor é pálido como gesso, nunca pisou descalço numa onda, está há 50 anos sem tomar um raio de sol e há dúvidas até sobre se sabe nadar. João Gilberto, claro. Mas, pensando bem, que diferença faz?”

Na conclusão inspirada, Ruy Castro celebra a importância para as canções do Rio e do Brasil do cantor tido como excêntrico, com sua voz miúda e sua nunca superada batida original de violão. Nas palavras de Ruy Castro, ao inventar a Bossa Nova, com suas primeiras gravações de "Chega de Saudade" e "Bim Bom" pela Odeon, em 1958, João Gilberto provocou uma grande revolução que alcançou o mundo inteiro e abriu os portos da música brasileira para todas as nações.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Canções do Rio. In: Blog Semióticas, 18 de abril de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/04/certas-cancoes.html (acessado em .../.../…). 



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