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5 de fevereiro de 2019

O pintor Jack Kerouac







E foi exatamente assim que toda minha experiência na
estrada de fato começou, e as coisas que estavam por
vir são fantásticas demais para não serem contadas.

––  Jack Kerouac, “On the Road” (1957).   


O principal avatar da Geração Beat, que desafiou as convenções morais e sociais mais conservadoras do american way of life” com um coquetel de álcool, sexo, poesia, jazz e alucinógenos para uma alternativa menos materialista e mais espiritualizada de enfrentar a vida, volta ao destaque mais de 50 anos depois de sua morte –– não apenas pela literatura que o consagrou, mas também por um de seus talentos incomuns que poucos conheceram quando ele estava vivo: Jack Kerouac, autor de pinturas, desenhos e ilustrações em técnica mista. Uma seleção com 80 de suas obras originais, em vários formatos e materiais, na maioria inéditas, foi reunida para uma exposição apresentada pela primeira vez em um prestigiado espaço de arte na Itália, o Museo MAGA d'Arte Moderna de Gallarate na Lombardia, próximo a Milão, região onde o escritor viveu por um período em meados dos anos 1960, e agora surge publicada no catálogo “Kerouac: Beat Painting”, lançamento da casa editorial Skira com textos e organização pelos curadores do museu italiano Sandrina Bandera, Alessandro Castiglioni e Emma Zanella.

A força da arte de Kerouac, para além de sua literatura, já encontrou transposições para o cinema, para a música, para as artes cênicas e para histórias em quadrinhos, mas seu caráter de composição visual feita pelo próprio autor é a última faceta a ser revelada ao público. Basta alguma observação atenta sobre as imagens produzidas pelo Kerouac pintor e desenhista para perceber que ele transportou para as artes plásticas muito da composição sofisticada, experimental, surpreendente, sedutora, que ele imprimiu à criação literária em seus romances em prosa poética, contos, novelas, diários, relatos confessionais, correspondências, livros de poema e haikai. Descrito por biógrafos como um de seus principais interesses e talentos, o acervo de artes plásticas que Kerouac produziu, e que por diversos motivos não divulgou, ficaria restrito a seus herdeiros indiretos e permaneceu inédito e escondido em caixas, armários e gavetas até recentemente nos Estados Unidos na sua cidade natal, Lowell, em Massachusetts.






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O pintor Jack Kerouac: no alto, em Nova York,
1958, fotografado por Jerry Yulsman. Acima,
em foto do documento de identidade em 1943 e
fotografado no estúdio de Tom Palumbo em 1956.

Abaixo, a capa do catálogo Kerouac: Beat Painting
e Kerouac em Nova York, em 1957, com a namorada
Joyce Johnson, fotografados por Jerry Yulsman



















Antes da exposição mais abrangente apresentada no museu italiano e agora com a maior parte do acervo editado em catálogo pela Skira, as pinturas e desenhos de Kerouac apareceram reunidas pela primeira vez em 2004, em “Departed Angels: Jack Kerouac, the lost paintings” (Anjos que partiram: Jack Kerouac, as pinturas perdidas), um catálogo de 200 páginas organizado por Ed Adler e publicado pela Da Capo Press, editora de Boston, Massachusetts. Outras pinturas e desenhos também foram divulgados de forma pontual em fragmentos e amostras que ilustram algumas de suas obras literárias e também como parte integrante em três grandes mostras retrospectivas sobre a arte e a literatura da Geração Beat apresentadas na última década nos Estados Unidos (pelo Whitney Museum em Nova York), na França (pelo Centro Pompidou em Paris) e na Alemanha (pelo Centro de Arte e Mídia ZKM em Karlsruhe).

No Brasil também houve uma mostra abrangente sobre a Geração Beat organizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil e apresentada em 2016 em Brasília e em 2017 em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas foi uma mostra de filmes, um evento com foco em fotografias e em uma extensa e variada programação de cinebiografias, documentários, adaptações para cinema de obras da Geração Beat e produções audiovisuais que estabelecem diálogos com a literatura do movimento ou que tiveram atuações ou narração dos seus mais célebres autores, incluindo Kerouac, Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, William S. Burroughs, Michael McClure, Neal Cassady, Rose de Prima, Carl Solomon e Gregory Corso, entre outros.



Aura questionadora e libertária



A coleção de pinturas, desenhos e esboços deixados por Kerouac veio à tona depois da morte de seu último cunhado e amigo de infância na cidade de Lowell, John Stampas, aos 84 anos, em 2017. A irmã de John, Stella Stampas, que morreu há alguns anos e também tinha sido amiga de infância de Kerouac em sua cidade natal, se tornaria a terceira esposa do escritor quando ele retornou em 1966 da última temporada na Europa e foi morar com a mãe. O casamento durou pouco tempo, assim como os casamentos anteriores de Kerouac: o primeiro, com Edie Parker, durou de 1944 a 1948; o segundo, com Joan Haverty, durou menos de um ano, entre 1950 e 1951; e Kerouac também viveu alguns meses com Joyce Johnson entre 1957 e 1958.

Kerouac estava desiludido, muito doente e com muitas dívidas quando foi morar de novo com sua mãe em seus últimos anos de vida. A mãe, Gabrielle-Ange Lévesque, uma católica fervorosa e fundamentalista, aproveitou a oportunidade para isolar Kerouac do mundo, impedindo qualquer contato com seus amigos e seus editores. Os biógrafos não sabem quase nada sobre este período nem sobre o último casamento, arranjado pela mãe com Stella Stampas, que pagou algumas dívidas e fugiu com o escritor e sua mãe para a Flórida, onde conseguiram cortar os contatos de Kerouac com tudo e com todos. Depois da morte do autor, aos 47 anos, em 21 de outubro de 1969, Stella, a última esposa, ficou com as caixas de arquivos de papéis, rascunhos, fotografias, diários, correspondências e textos inéditos, além das pinturas e desenhos. Com a morte de Stella e de John, os herdeiros negociaram a concessão de direitos para a exposição no museu italiano e para a publicação do acervo pela casa editorial Skira.








O pintor Jack Kerouac: no alto, a capa do
catálogo Departed Angels, publicado em 2004.
Acima, pintura em óleo sobre tela criada por
Kerouac no final da década de 1950, sem título,
identificada no catálogo da casa editorial
Skira como Woman with guitar.

Abaixo, pintura sem título do mesmo período;
Sacred Heart (Sagrado coração), pintura sem
data em óleo sobre papel. Também abaixo, o
desenho original de Kerouac para a capa de
On the Road um dos mapas em desenho a
caneta feito no diário de Kerouac para traçar,
cidade por cidade, o trajeto de uma viagem que
ele fez de carona de julho a outubro de 1948
e que, uma década depois, surgiria como
modelo para a jornada de aventuras de
Sal Paradise e Dean Moriartya dupla
lendária de protagonistas de On the Road




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Kerouac_cover_on_the_road.jpg



               



O catálogo inclui também, além de pinturas em óleo sobre tela e aquarelas, alguns desenhos feitos por Kerouac nos rascunhos e originais de seus textos, entre eles a ilustração feita a lápis e caneta de um autorretrato diante de uma estrada infinita que ele projetou para capa do romance “On the Road”, sua obra mais célebre, traduzido no Brasil como “Pé na Estrada” e adaptado para o cinema por Walter Salles com roteiro do porto-riquenho José Rivera, mesmo roteirista da adaptação de Salles para os diários do jovem Che Guevara em “Diários de Motocicleta”, filme de 2004. Kerouac sonhou com uma adaptação para o cinema com Marlon Brando e chegou a escrever uma carta para o ator, mas nunca teve resposta. No final da década de 1970, Francis Ford Coppola comprou os direitos para a adaptação, mas o projeto seria anunciado e cancelado por diversas vezes.

Somente em 2010 o projeto para transformar “On the Road” em filme teve início sob a direção de Walter Salles. Contando com a co-produção da American Zoetrope de Coppola, o filme finalmente estreou em 2012 na competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes. Consagrado como “Bíblia dos hippies”, obra de referências lendárias na biografia de astros e estrelas de primeira grandeza da literatura, da música e do cinema como Bob Dylan, John Lennon, Jim Morrison, Janis Joplin, Lou Reed, David Bowie, Patti Smith, Kurt Cobain, Francis Ford Coppola, Gus Van Sant, Terry Gilliam, Wim Wenders, Jim Jarmusch, Oliver Stone ou David Lynch, entre muitos outros, e elevado à categoria de leitura obrigatória para gerações e gerações desde a primeira edição em 1957, passando pelo movimento estudantil, pela onda da contracultura, pela liberação feminista e o movimento pelos direitos dos homossexuais, “On the Road” saiu editado sem a capa planejada pelo autor, mas foi um sucesso estrondoso desde que chegou às livrarias em lançamento da pequena Viking Press. Até mesmo as críticas negativas, que classificavam o livro como “imoral” e 
má influência”, foram transformadas em um ingrediente a mais de publicidade espontânea para iluminar e expandir sua aura mística de obra questionadora, rebelde, libertária.

A publicação veio depois de sete anos de tentativas frustradas de apresentação em editoras, período em que o autor viajava com o original datilografado guardado na mochila. O original também é lendário pela gênese de ter sido escrito na forma de “escrita automática”, à maneira dos surrealistas franceses e do estilo be-bop dos músicos de jazz, na base do improviso criativo, sem parar para pensar ou reformular frases, totalmente datilografado em apenas três semanas em um rolo quilométrico de texto colado página a página com fita adesiva. Assim como seus textos fragmentados em diversas formas narrativas, a composição visual de Kerouac em pinturas e cores inclui referências a retratos distorcidos de pessoas que ele conhecia ou admirava, seus colegas escritores e músicos ainda anônimos, e também famosos como a atriz Joan Crawford ou o escritor Truman Capote. Há também muitas imagens de figuras nuas, eróticas, formas abstratas, paisagens incertas, crucifixos e outros signos relacionados ao sagrado do catolicismo em que ele foi criado e às crenças e ensinamentos identificados por sua aproximação com o budismo.






      


O pintor Jack Kerouac: no alto, pintura em
óleo sobre tela sem data identificada como
Woman (Joan Rawshanks) in blue with black hat,
inspirada em uma filmagem com a estrela
Joan Crawford que Kerouac assistiu por acaso
nas ruas de Los Angeles, em 1952. Acima,
William Burroughs e Jack Kerouac no outono
de 1953, declamando poemas, fotografados por
Allen Ginsberg em seu apartamento, em Nova York.

Abaixo, Truman Capote, pintura de 1959; e quatro
obras com temática religiosa: 1) uma pintura
em óleo sobre tela também de 1959 que
retrata o cardeal Giovanni Montini vestido
como papa, quatro anos antes do cardeal se tornar
o Papa Paulo VI; 2) uma aquarela datada de 1959
com o título Old Angel Midnight Over Lowell 
(Velho Anjo da Meia-Noite sobre Lowell);
3) um desenho com giz de cera colorido sobre
papel com o tema da crucificação de Cristo,
feito por Kerouac para sua sobrinha na década
de 1960; e 4) um desenho em grafite sobre
papel com data de 1956 que também tem
a crucificação como tema.

Também abaixo, Kerouac apresentando seus
poemas em um sarau no Artist's Studioem
Nova York, 1959, em fotos de Fred W. McDarrah;
e uma amostra de três de suas pinturas 
em óleo
sobre tela, todas sem data sem título, a primeira
identificada como Sunset scene; os dois amigos
inseparáveis que cruzam os Estados Unidos
viajando de carro, Sal Paradise (interpretado por
Sam Riley) Dean Moriarty (Garrett Hedlund),
em cena da versão no cinema de Walter Salles
para On The Road; Kerouac na praia de Tangier,
no Marrocos, em 1957, e com Peter Orlovsky,
amigos inseparáveis, na mesma viagem ao
Marrocos, fotografados por
Allen Ginsberg;
Kerouac com o fotógrafo Robert Frank
em Nova York, em 1959, fotografados
por John Cohen
e Kerouac caminhando
n
o Central Parkem Nova York, também
em 1959, fotografado por Robert Frank














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Expressionismo abstrato



Uma das referências ao sagrado chama atenção do observador: uma pintura em cores expressionistas e sombrias da época da publicação de “On the Road” traça um retrato do cardeal italiano Giovanni Montini, que anos depois, em 1963, se tornaria o papa Paulo VI. Kerouac nunca o conheceu, mas uma vez disse que viu a imagem do cardeal em trajes de papa durante ou depois de uma alucinação com mescalina ou LSD, e segundo informa o texto de apresentação Sandrina Bandera, ele teve como modelo para a pintura a óleo tão somente uma fotografia publicada pela revista “Time”. Entre outras revelações ou possibilidades, o leitor que conhece a literatura de Kerouac também vai perceber, nas imagens, algumas cenas que sugerem identificação com suas tramas e seus personagens –– caso da pintura nomeada como “Mulher de azul com chapéu preto”, uma figura andrógina, ambígua, fumando um cigarro, que traz à memória de imediato Joan Rawshanks, de seu romance de publicação póstuma “Visões de Cody”, que tem aquele célebre aviso do narrador ao leitor: “Estou escrevendo este livro porque vamos todos morrer...”

Escrito entre 1951 e 1952 e considerado pelo autor sua obra-prima, “Visões de Cody” seguiria inacabado, com apenas uma edição de fragmentos em pequena tiragem de 750 exemplares feita em 1960 pela New Directions, editora consagrada à Geração Beat em Nova York e fundamental para a promoção dos autores ligados ao movimento, assim como a livraria e editora City Lights, fundada em 1953, em San Francisco, por Lawrence Ferlinghetti. Como parte do espólio de Kerouac, “Visões de Cody” só foi publicado na íntegra em 1973, revelando sua dimensão como estudo em tom autobiográfico sobre o herói de “On the Road”, Dean Moriarty, que neste livro é chamado de Cody Pomeray. Joan Rawshanks, que tem uma seção inteira em destaque no livro, teve inspiração, segundo Kerouac, na lembrança de uma noite quente e sufocante de 1952 em San Francisco em que ele assistiu, por acaso, a estrela Joan Crawford, a “vamp”, “femme fatale” de Hollywood, filmando nas ruas as cenas de um thriller criminal e “noir’ que depois do lançamentos nos cinemas se tornaria, para surpresa geral, um retumbante fracasso de público e de crítica, “This woman is dangerous” (Essa mulher é perigosa).




























Seria equivocado ler essas obras de arte usando o método tradicional de um crítico de arte”, escreve Sandrina Bandera, destacando a coragem do trabalho do escritor que mesmo com o sucesso avassalador alcançando com “On the Road” ousou enveredar por outras searas como a música jazzística, os pinceis, as telas, as formas abstratas e as paletas de cores. “Porque Kerouac não era totalmente um artista plástico e nem somente um escritor. É preciso antes considerar que ele foi e continua sendo um fenômeno pop-cultural importante e que estas pinturas e desenhos agora são uma parte essencial daquela entidade potente reconhecida como Jack Kerouac. São como os membros de um único corpo girando em seu próprio eixo, tão dinâmicos que precisam de uma abundância de ferramentas diferentes para se expressar”.



Uma jornada poética



Enquanto relata as fontes de pesquisa para o trabalho de curadoria da primeira exposição no museu italiano e para a edição do catálogo, que incluiu, além do acervo dos herdeiros de Kerouac, obras cedidas por colecionadores como os irmãos Arminio e Paolo Ciolli, Sandrina Bandera revela as relações que alguns biógrafos estabelecem entre a dedicação do autor às artes plásticas e as mais diversas referências encontradas nas obras de literatura que ele produziu. Estudo e também inspiração, suas experiências sucessivas e simultâneas com uma ou outra forma de expressão são tentativas permanentes de testar seus limites, destaca a curadora, assim como têm significados muito especiais ao apontar suas relações com autores que influenciaram muito sua obra, com artistas plásticos e fotógrafos que conheceu e com os quais travou relações de amizade ou com os mestres da história da arte europeia que muito admirava, todos com um lugar decisivo no percurso de sua formação. No acervo das pinturas e desenhos que produziu, a diversidade de técnicas mistas, aquarelas, óleo sobre tela, acrílico sobre madeira ou formas com lápis, caneta e tinta na mesma obra revelam que seu campo de influências foi muito amplo. 








O pintor Jack Kerouac: acima, pintura d1960
em óleo sobre tela intitulada The slouch hat
(Chapéu descuidado) e The silly eye (portrait
of William Burroughs), pintura de 1959.
Abaixo, Kerouac fotografado por John Cohen
na noite de Nova York, em 1959, com a artista
plástica Dody Muller, que foi sua amante
durante anos, e com o músico David Amham;
e duas obras marcantes do artista Kerouac:
Raven (Corvo), pintura em óleo sobre tela,
sem data; e um desenho a lápis e caneta sem
data identificado como Retrato de Dody Muller
pelos curadores da mostra e do catálogo.

Também abaixo, pintura em óleo sobre papel
com o detalhe da mão escolhida para estampar
a capa do catálogo editado pela Skira,
seguido de desenho a lápis sobre papel e
aquarela sobre papel, ambos sem título e sem data;
e um visitante anônimo em uma exposição na
Biblioteca Pública de San Francisco, Califórnia,
observa os rolos originais de manuscritos de
"On The Road", em fotografia de 2006 de
Justin Sullivan. Na última imagem,
Allen Ginsberg e Bob Dylan leem poemas
diante do túmulo de Jack Keroauc no
Edson Cemetery na cidade de Lowell,
fotografados por Ken Regan em 1975












Desta formação plural e dispersa também fazem parte: o círculo de amigos da Geração Beat que o escritor conquistou nas temporadas de aventuras e viagens permanentes de costa a costa, de Nova York a San Francisco (a mais conhecida delas com seu maior parceiro, Neal Cassady, uma amizade que surgiu nos tempos de estudante na Universidade de Columbia e foi o ponto de partida que gerou “On the Road”); as primeiras viagens internacionais de Kerouac engajado na Marinha; as paixões amorosas sucessivas, tão intensas como passageiras; as surpresas com as descobertas das invenções dos surrealistas franceses das décadas de 1920 e 1930; a dedicação tardia à cultura italiana; a aproximação afetiva e criativa com o fotógrafo e cineasta Robert Frank e, em maior ou menor grau de intimidade, com os mais destacados expoentes do expressionismo abstrato de Nova York, incluindo, entre outros mentores, Jackson Pollock, Willem de Kooning, Stanley Twardowicz, Larry Rivers, Franz Kline, Adolph Gotlieb, Philipe Guston, Clyfford Still e, principalmente, Dody Muller, que permaneceu sua amante durante anos.

Para quem conhece o universo literário de Kerouac (“um índio, norte-americano e bretão”, como definiu certa vez seu parceiro Allen Ginsberg), e de seus conterrâneos e contemporâneos da Geração Beat, as cenas e sugestões de suas pinturas e desenhos parecem mesmo completar, com confidências nas ilustrações, seus textos de poesia e prosa poética, pois as imagens estão em cruzamento constante com seus escritos. É assim, também, a conclusão de Sandrina Bandera, que escreve –– “as pinturas em seu conjunto reconstroem uma narrativa na qual as obras escritas e as incursões na arte figurativa coincidiram perfeitamente em diferentes aspectos para construir a mesma jornada poética”. A literatura de Kerouac, que alcançou destaque e importância universal na segunda metade do século 20, assim como suas obras em artes plásticas agora encadeadas, no fim das contas revelam e confirmam que tanto a palavra escrita, como a composição imagética de formas e de cores, são apenas maneiras complementares e simultâneas para expressar e para experimentar as complexidades diversas, talvez infinitas, das formas de tradução e de registro às quais damos o nome genérico e abrangente de linguagem.



por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. O pintor Jack Kerouac. In: Blog Semióticas, 5 de fevereiro de 2019. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2019/02/o-pintor-jack-kerouac.html (acessado em .../.../...).



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