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11 de outubro de 2021

Um novo Superman

 





Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo

que deve ser superado. Que fizestes para superá-lo?

................ Friedrich Nietzsche, “Assim Falou Zaratustra” (1883).


As histórias de super-heróis são uma criação do século 20, mas personagens com poderes extraordinários têm uma longa tradição desde as mitologias da Antiguidade Clássica. No século 20, o primeiro da lista é Superman, criação da década de 1930 de dois estudantes de Cleveland, Ohio (EUA): o norte-americano Jerome Siegel, mais conhecido pelo apelido Jerry Siegel, e seu amigo canadense Joseph “Joe” Shuster. Superman foi criado e recriado diversas vezes pela dupla a partir de 1933, em publicações de pequenas tiragens que investiam no gênero da ficção científica, até estrear para o grande público em 1938, com o lançamento da revista em quadrinhos “Action Comics”. O sucesso foi tão grande que a revista alcançou rapidamente tiragens superiores a 500 mil exemplares e, no ano seguinte, o personagem ganharia uma revista exclusiva com o nome “Superman”.

Desde a estreia, Superman passou por várias transformações, mas mantendo sua identidade secreta disfarçado como Clark Kent, um tímido jornalista, ganhando novos superpoderes e até desenvolvendo a capacidade de voar, em 1941, para apoiar as tropas dos Aliados na luta contra o Eixo de nazistas e fascistas durante a Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra começaram suas primeiras versões em filmes curtos para cinema e depois para a TV, aumentando a popularidade e o alcance do personagem alienígena – sim, alienígena, porque ele nasceu no fictício planeta Krypton, mas está sempre em ação para combater vilões e bandidos e salvar a espécie humana e o planeta Terra. A mudança mais recente e mais radical nesta trajetória agora foi lançada pela DC Comics com um novo Superman: Jonathan Kent, filho de Clark Kent e da jornalista Lois Lane, um ativista do meio ambiente que discute política e tem um relacionamento amoroso com um amigo.






Um novo Superman: no alto, Jonathan Kent, o filho
de Clark Kent e Lois Lane, dá um beijo inesperado
em seu amigo jornalista, Jay Nakamura. Acima, a capa
original da primeira edição da revista "Action Comics",
que marca a primeira aparição do Superman, em 1938.

Abaixo, a mais antiga imagem do Superman, em uma
história criada para uma revista de ficção científica
da qual resta apenas uma página, que é a capa.
Também abaixo, uma página de "Superman: Son
of Kal-El"
, lançamento da DC Comics com uma
atualização do super-herói que agora combate
incêndios florestais causados pelas mudanças
climáticas, impede tiroteios em escolas de
ensino médio e protesta contra a deportação
de refugiados em Metrópolis










Como era de se esperar, a mudança, apresentada pela DC Comics com o lançamento de “O Filho de Kal-El” (“Son of Kal-El”), foi recebida com muitos elogios e algumas críticas furiosas. As críticas, como sempre, vêm dos conservadores, dos fundamentalistas que usam a religião como plataforma para interesses políticos e dos fãs saudosistas que se sentem traídos com a atualização do personagem para os novos tempos. Contudo, a salvação do planeta e as questões políticas fazem parte do enredo das histórias do Superman desde sempre, motivo pelo qual as críticas recaem mesmo é na orientação sexual do novo personagem. No site oficial da DC Comics, Tom Taylor e John Timms, roteirista e desenhista da nova série, explicam que é uma questão natural a opção sexual do novo Superman – que desde a estreia é um ativista do meio ambiente que discute questões de política e combate incêndios florestais causados pelas mudanças climáticas, impede tiroteios em escolas do ensino médio e protesta contra a deportação de refugiados em Metrópolis.


Símbolo de esperança e justiça


“A ideia de substituir Clark Kent por outro salvador, outro homem branco, parecia uma oportunidade perdida, porque desde o início pensávamos que o novo Superman merecia enfrentar novos problemas do mundo real”, escreveu Tom Taylor no site oficial da DC Comics. “Eu sempre disse que todo mundo precisa de heróis e todo mundo merece ver a si mesmo em seus heróis. O símbolo do Superman sempre representou esperança, verdade e justiça. Hoje, este símbolo é mais plural porque mais pessoas são representadas pelo super-herói mais poderoso dos quadrinhos”, concluiu. Assim como seu pai Clark Kent se envolveu com Lois Lane, repórter do seu local de trabalho, a redação do jornal “Planeta Diário”, o jovem Jonathan, chamado de Jon Kent, herdou os superpoderes paternos e também se apaixona por um repórter, Jay Nakamura. O primeiro beijo entre o novo Superman e seu melhor amigo não demorou a acontecer.






Um novo Superman: acima, página de
"Superman: Son of Kal-El" em que
Jonathan Kent leva o amigo Jay para
conhecer sua casa e seus pais, Lois Lane
e Clark Kent. Abaixo, dois quadrinhos com
as declarações amorosas entre os amigos
 










Superman: Filho de Kal-El” provocou a maior repercussão sobre o personagem em muitos anos. Nem mesmo os filmes recentes do Homem de Aço tiveram tantos comentários, postagens e engajamentos de amor ou de ódio nas redes sociais. Mas não foi sua primeira renovação. Desde sua criação, Superman vive de ressurgimentos e de períodos de ostracismo na cultura das mídias, apesar de nunca ter perdido seu papel de protagonista da cultura pop. Entre as superproduções que adaptaram o personagem das histórias em quadrinhos estão a primeira série de TV, “As aventuras de Superman”, precedida pelo filme de sucesso “Superman and the Mole Man” (no Brasil, “Super-Homem contra o Homem Topeira”). A série, com George Reeves no papel-título, estreou em 1952 e foi produzida até 1958. Foi a primeira versão, mas não foi a mais marcante. A versão mais celebrada, e por muito tempo considerada como versão definitiva do Superman estrearia nos cinemas em 1978: "Superman – O filme”, com direção de Richard Donner e com Christopher Reeve no papel principal.

O Superman com Christopher Reeve foi um raro sucesso de público e crítica, conquistando Oscars (melhor montagem, melhor edição, melhor mixagem de som) e reunindo um elenco de estrelas: Marlon Brando como Jor-El, Gene Hackman como Lex Luthor e Margot Kidder como Lois Lane, entre outros. O sucesso do filme renderia mais três sequências nos anos seguintes, mas nenhuma delas alcançou os resultados do primeiro filme. O personagem retornaria em seguida com duas novas séries de TV: em 1993, estreava “Lois & Clark, As novas aventuras do Superman”, com Teri Hatcher e Dean Cain; e em 2001, “Smallville”, que teve 10 temporadas até 2011, com Tom Welling no papel do jovem Superman em suas aventuras na cidade do interior do Kansas. Em 2006 haveria um novo filme, “Superman Returns”, com direção de Brian Singer, Brandon Rouch como Superman, Kate Bosworth como Lois Lane e Kevin Spacey como Lex Luthor.









Um novo Superman: acima, Christopher Reeve, astro da
performance de 1978 no cinema, sucesso de público e de
crítica; e Henry Cavill, a nova identidade visual do herói.

Abaixo, James Cain e Teri Hatcher na série de TV
"Lois & Clark"; e o casal Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch
na nova série, "Superman & Lois", estreia de 2021











O capítulo seguinte de Superman no cinema foi com Henry Cavill como protagonista, com produção da Warner para o universo DC Comics. O primeiro filme foi “Homem de Aço”, em 2013, com direção de Zack Snyder. Depois vieram “Batman e Superman, A origem da Justiça”, em 2016, e “Liga da Justiça”, em 2017, ambos com Zack Snyder na direção. Superman teve ainda pequenas aparições em outros filmes de super-heróis da DC Comics, antes de ganhar uma nova série de TV em 2021, com produção da Warner e prevista para durar três temporadas, cada uma com 15 episódios: “Superman & Lois”, com Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch. Na série, Clark Kent e Lois Lane deixam Metrópolis para tentar viver como pessoas comuns em Smalville com os dois filhos adolescentes, os gêmeos Jordan e Jonathan (Alexander Garfin e Jordan Elsass). Mas o clima de paz e tranquilidade em Smallville dura pouco e Superman novamente é convocado para salvar o planeta.


Mudanças de enredo


Superman não é o único personagem dos quadrinhos tradicionais a passar por mudanças de enredo e de sexualidade. Também pela DC Comics, empresa que desde a década de 1930 vem se mantendo como grande conglomerado de editoras e de direitos autorais de diversos personagens (a sigla “DC” é uma referência à primeira editora de Superman, a “Detective Comics”), estão acontecendo transformações no universo de Batman, que já havia sido recriado nos anos 1980 no “Cavaleiro das Trevas” de Frank Miller. Talvez o segundo super-herói mais popular entre todos, rivalizando com Superman, o primeiro, desde que foi criado em 1939 por Bill Finger e Bob Kane para a revista “Detective Comics”, Batman tem a diferença de não contar com superpoderes, mas carrega desde a origem a atitude de ter sempre com ele um ajudante adolescente, o que já gerou muita controvérsia.

Batman também tem uma trajetória de muitas mudanças. A mais recente, também tentando se aproximar da diversidade das minorias e das questões sociais mais urgentes, traz o novo ajudante de Batman, Tim Drake, também declarando sentimentos românticos e eróticos por um amigo. Tim Drake é o terceiro Robin com maior importância depois do primeiro, Dick Grayson, que ficou mais de quatro décadas ao lado de Batman, desde que surgiu em 1940. Antes de Tim Drake, houve outros adolescentes atuando como Robin, o Garoto Prodígio, mas com pouca importância e sempre substituídos em diversas ocasiões. O principal, depois de Dick Grayson, se chamava Jason Todd, mas assim como Grayson ele também ficou adulto e abandonou o milionário Bruce Wayne (a identidade secreta de Batman) para seguir trajetória como herói independente: Dick Grayson assumiu a identidade de Asa Noturna; Jason Todd ressurgiu como Capuz Vermelho.







Um novo Superman: acima, uma redefinição
do universo da DC Comics com o lançamento
de "Crise Final", reunindo na mesma história
Superman e Batman. Abaixo, o cartaz do
filme "Batman v Superman", lançado em 2016,
com direção de Zack Snyder e Ben Affleck no
papel de Batman e Henry Cavill como Superman.
Também abaixo, a dupla Burt Ward e Adam West
na série de TV "Batman e Robin", lançada em 1966

 









Popularidade contra preconceitos


Nesses novos tempos, há também novas mudanças em curso para atualização dos temas dos enredos e da sexualidade de outros personagens do universo de super-heróis, tanto na DC Comics como em sua concorrente Marvel Comics, que detém os direitos sobre outra imensa galeria que inclui Homem-Aranha, Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Thor, Viúva Negra e X-Men, entre muitos outros. No final das contas, as novidades sempre trazem maior popularidade para todos os envolvidos, ampliam as vendas em diversas mídias e, também, ajudam a quebrar preconceitos. No universo dos super-heróis, estes novos tempos chegam com décadas de atraso, desde o jogo duro da censura e da autocensura que surgiu na década de 1950, ao mesmo tempo em que começou a censura política criada pelo Macarthismo – os tribunais instalados nos EUA para a repressão política aos comunistas. Na onda do Macarthismo, os temas políticos e a sexualidade dos super-heróis também passaram a ser omitidos ou ostensivamente proibidos.

Ainda na década de 1950, houve o caso célebre e muito influente do livro “Seduction of the Innocent”, lançado em 1954 pelo psiquiatra Fredric Wertham, que levantou acusações e preocupações moralistas sobre sexo e violência nas histórias em quadrinhos, especialmente com os super-heróis, sugerindo uma ligação direta de causa e consequência entre a leitura de quadrinhos e a delinquência juvenil. Um dos capítulos do livro de Wertham descrevia a saga de Batman e Robin como “um sonho de desejo sexual de dois homossexais vivendo juntos e compartilhando experiências”. Em outro capítulo, a força e a independência da Mulher Maravilha a caracterizavam como lésbica. A imensa repercussão do livro levou à criação de audiências judiciais e comissões parlamentares de investigação pelo Congresso dos EUA e teve como resultado a criação de um código de censura, o Comics Code Authority (Código dos Quadrinhos), que definiu padrões sobre o que as histórias em quadrinhos podiam ou não representar.







Um novo Superman: acima, a capa da
primeira edição de "Son of Kal-El", lançamento
de 2021. Abaixo, dois momentos radicais na
trajetória do super-herói: o casamento com
Lois Lane, em 1996, e a primeira aparição
de Jonathan Kent, o filho e herdeiro dos
superpoderes de Clark Kent, em 2015.

Também abaixo, a capa e duas páginas
do livro de 1954 de Fredric Wertham
que influenciou na criação dos códigos
de censura às histórias em quadrinhos;
e as páginas com o beijo dos super-heróis
da Marvel que o prefeito do Rio de Janeiro,
ligado à seita neopentecostal de Edir Macedo,
tentou censurar na Bienal do Livro de 2019.
No final da página, uma retrospectiva da
evolução do Superman desde a primeira
edição de 1938 e uma vista da cidade
fictícia de Metrópolis como ela surgiu
no início da década de 1950









          



 

Códigos de Censura


O Código dos Quadrinhos modificou o conteúdo das revistas, transformando a sexualidade em tema tabu, modificando as tramas e a psicologia de vários personagens e alterando até mesmo as cores e as palavras apresentadas. As revistas que adotavam o código passavam a trazer um selo de identificação na capa e algumas publicações foram banidas do mercado porque recusavam as restrições. O código influenciou a criação de modelos de censura semelhantes em vários países, inclusive no Brasil, que depois da instalação da ditadura militar em 1964 teve a criação de um “Código de Ética” pelas quatro principais editoras: Abril, Rio Gráfica Editora (sigla RGE), Editora Brasil América Limitada (sigla EBAL) e O Cruzeiro (Diários Associados de Assis Chateaubriand). As editoras instituíram um selo similar ao norte-americano que indicava “aprovado pelo Código de Ética” e era estampado na capa das revistas. O selo teve vigência no Brasil até a redemocratização na década de 1980.

Os beijos entre personagens de mesmo sexo nas histórias em quadrinhos também tiveram um episódio revelador com destaque na imprensa em setembro de 2019, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Na época, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que é “bispo” da seita neopentecostal Universal do Reino de Deus, criada por seu tio, Edir Macedo, usou o cargo para mandar recolher o álbum gráfico “Vingadores, a cruzada das crianças”, publicação da Editora Salvat, porque na opinião dele o livro tinha “conteúdo inadequado” e “impróprio para menores”. A atitude autoritária do bispo-prefeito, no entanto, não encontrou respaldo jurídico e a proibição terminou não sendo cumprida. A história criada por Allan Heinberg e Jim Cheng, que faz parte do universo da Marvel Comics, abordava a equipe dos Jovens Vingadores e destacava dois personagens masculinos, Wiccano e Hulkling, que na época eram namorados e que se casaram na edição de agosto de 2020.












Um herói mitológico


Um novo Superman que tem um relacionamento amoroso com o melhor amigo, contudo, é algo inédito e muito surpreendente, mesmo para os padrões menos conservadores. Afinal, não se trata de um herói pouco conhecido ou de figuras caricatas que somente têm fãs em grupos específicos e restritos. Trata-se do primeiro super-herói, o mais popular e mais poderoso entre todos. A novidade surge como algo que ninguém poderia prever na linha do tempo original do Superman – que teve início na década de 1930, quando ele chega à Terra ainda bebê e é adotado por um casal de fazendeiros que não teve filhos. Depois ele cresce descobrindo seus poderes, frequenta a escola como se fosse um ser humano comum e, ao se tornar adulto, vai trabalhar como jornalista na cidade grande, onde, escondido em sua identidade secreta, conhece seu grande amor Lois Lane.

Houve muitas mudanças nas características do personagem e no contexto em que ele é apresentado, em quase 100 anos, ao mesmo tempo em que houve poucas alterações em sua vida íntima e pessoal. A existência e o sentido da existência de Superman foram tema de muitos estudos teóricos e filosóficos, com destaque para as abordagens de Coulton Waugh (“The Comics”, 1947), Mircea Eliade (“Mito e Realidade”, 1963), Umberto Eco (“O Mito do Superman”, 1963) e Glen Weldon (“Superman: Uma biografia não autorizada", 2013), que discutem sua presença na indústria cultural como versão moderna dos heróis mitológicos ou folclóricos. A primeira grande metamorfose aconteceu em 1996, quando ele se casou com Lois Lane. A segunda, na passagem de 2015 para 2016, com a apresentação de Jonathan Kent como filho e herdeiro dos superpoderes de Clark Kent e o incentivo para que o filho se tornasse o novo Superman. Embora Jon Kent não seja o primeiro herói LGBTQ, e com certeza não será o último, sua presença é um sinal importante das grandes mudanças, nos quadrinhos e fora deles, que ainda estão para acontecer.


por José Antônio Orlando.


Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Um novo Superman. In: Blog Semióticas, 11 de outubro de 2021. Disponível no link https://semioticas1.blogspot.com/2021/10/um-novo-superman.html  (acessado em .../.../…).


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12 de maio de 2019

O brinquedo nazista








Os jogos infantis são impregnados de comportamentos
miméticos que não se limitam de modo algum à imitação
de pessoas. A criança não brinca apenas de ser comerciante
ou professor, mas também de ser moinho de vento e trem.
A questão importante, contudo, é saber qual a utilidade
para a criança desse adestramento da atitude mimética.

–– Walter Benjamin, 1928.    



No senso comum está, muitas vezes, a ideia de que tanto jogos, brinquedos e brincadeiras, como as etiquetas do antigo comportamento em geral eram muito melhores que os de hoje em dia, seja esta ideia um modo melancólico de utopia nostálgica ou mesmo um argumento para criticar e contrapor, em nossos dias, a onipresença cotidiana de objetos eletrônicos e virtuais, videogames e telemáticas de formatos e definições variadas, computadores, celulares e seus similares. A percepção do senso comum também confirma que jogos e brinquedos formam uma parte importante da nossa identidade na trajetória de nossas vidas individuais e coletivas, assim como fazem e sempre fizeram parte de todas as culturas em todas as épocas. Mas o que as maneiras de brincar dizem sobre uma sociedade?

A questão foi objeto de investigação filosófica e histórica por pensadores e pesquisadores das mais diversas áreas e nacionalidades, de Sigmund Freud e Ludwig Wittgenstein a Johan Huizinga, de Jean Piaget e Roger Caillois a Umberto Eco, de Maria Montessori e Joffre Dumazedier a Ellen Key, de Lev Vygotsky e Melanie Klein a Roland Barthes, de Walter Benjamin a Paulo Freire e Tizuko Kishimoto, entre outros. Na Antiguidade Clássica, Aristóteles já destacava o valor do jogo por sua autossuficiência, nos livros de sua “Arte Retórica” (publicados em texto integral no Brasil pela Editora Edipro), e interrogava sobre sua causa final em variáveis como luta e disputa, derrota e vitória, para concluir que, em toda circunstância, são as formas do prazer pelo próprio jogo o que procuram aqueles que jogam. Sobre as reflexões pioneiras de Aristóteles talvez seja também importante lembrar que, em grego, há uma revelação etimológica sobre as relações que se estabelecem entre infância, jogos e brincadeiras: todos os vocábulos referentes às atividades lúdicas estão ligados à palavra criança (“pais”, paidí“paidós”) e o verbo paizeim, que se traduz por “brincar”, também pode ser traduzido literalmente por “hora de brincar” ou “agir como criança”.










O brinquedo nazista: no alto, boneca produzida
pela tradicional empresa Käthe Kruse, que adotou
na década de 1930 uniformes militares nazistas
ou da Juventude Hitlerista para sua extensa linha
de bonecas e bonecos. Acima, a capa do livro de
André Postert e a reconstituição pelo autor de
um quarto de criança de classe média
na Alemanha da década de 1930.

Abaixo, as peças originais do jogo de
tabuleiro A Corrida da Vitória da Suástica
(Der siegeslauf des hakenkreuzes), lançado
quando Hitler tomou o poder em 1934.
Todas as imagens desta página fazem parte
do acervo reunido por André Postert












No último século, Walter Benjamin, vivendo na Alemanha em tempos sombrios que testemunhavam o avanço rumo ao poder e à destruição do nazismo, também deixou pesquisas e escritos reveladores sobre a prática de jogos como repetição e sobre as formas alegóricas de brincar. No ensaio “Brinquedos e jogos”, publicado em 1928 com o subtítulo “Observações marginais sobre uma obra monumental” (publicado no Brasil em “Reflexões sobre o brinquedo, a criança e a educação”, livro da Editora 34), Benjamin ressalta a polissemia da palavra “jogos” – na língua alemã, “spiel” (no singular) ou “spiele” (no plural) é um substantivo que pode ser traduzido tanto por “jogos” como por “brincadeiras”. “Spieler” se traduz por jogador; “spielerisch”, por brincalhão; assim como “spielen”, o verbo relacionado ao termo, tem, entre outros significados, “brincar”, “jogar” ou “representar”.



Ideologia bélica e macabra



No duplo sentido, em alemão, da palavra “spiele” e da prática de jogos e brincadeiras, Benjamin faz referências sobre as maneiras de brincar e sobre as fantasias e percepções construídas na brincadeira, nas lutas e na destruição dos brinquedos, nos objetos e na imaginação que marcam a vida cotidiana estampada no singular e no plural. “A essência do brincar não é um ‘fazer como se’, mas um ‘fazer sempre de novo’, transformar a experiência mais comovente em hábito”, alerta Benjamin, para concluir que “o hábito entra na vida como brincadeira, e nele, mesmo que em formas mais enrijecidas, sobrevive até o final um restinho da brincadeira”. Se é verdade, como questiona Benjamin, que para cada um existe uma imagem em cuja contemplação o mundo inteiro submerge, para quantas pessoas essa imagem não se levanta de uma velha caixa de brinquedos? 








.


O brinquedo nazista: no alto, fotografia de
álbum de família na Alemanha da década de 1930.
Acima, bonecos produzidos pela Käthe Kruse:
à esquerda, folheto com anúncio do lançamento
Friedebald Puppe, boneco com mecanismo para
erguer o braço para a saudação a Hitler e que
esgotou rapidamente no mercado pela demanda
de exportações no começo da Segunda Guerra;
à direita, soldadinho de feltro, também
produzido pela Käthe Kruse, com enchimento
de algodão e uniforme militar completo.

Abaixo, bonecos em metal para a
coleção Mini-Nazis, que eram vendidos
separadamente; e fotografia de álbum de família
com meninos em 1938 estreando os presentes
de jogos de guerra sob a árvore de Natal













O questionamento filosófico e nostálgico identificado por Walter Benjamin em 1928 parece ter sido tomado literalmente como fio condutor pelo historiador André Postert, que desde 2014 atua como pesquisador associado do Instituto Hannah Arendt na cidade alemã de Dresden. Postert investigou durante anos, em arquivos e bibliotecas da Alemanha, os registros mais variados sobre os jogos infantis e as velhas caixas de brinquedos. Os resultados das pesquisas agora estão reunidos no livro “Kinderspiel, Glücksspiel, Kriegsspiel: Große Geschichte in kleinen Dingen 1900-1945” (em tradução livre, Jogo infantil, jogo de sorte, jogo de guerra, Grande História em pequenas coisas 1900-1945”), lançamento da Editora DTV em alemão e outras línguas (veja o link para leitura dos primeiros capítulos no final deste artigo).

Limitando sua investigação à primeira metade do século 20, Postert descreve práticas e objetos muitas vezes macabros que foram extremamente populares: de bonecas e bonecos em seus uniformes militares a carrinhos e miniaturas de aviões, tanques e submarinos, réplicas de armas, jogos de tabuleiro, cartas de baralhos, cartelas de sorteios, dados, livros infantis e fichas impressas e ilustradas, brinquedos com algum teor erótico, peças de xadrez ou uma variedade de peças para montar. Os itens do inventário que Postert organizou surpreendem porque comprovam os indicativos explícitos de uma profunda e intensa propaganda para a ideologia bélica, violenta e antissemita. Como agravante, no perfil da grande maioria dos brinquedos e dos jogos com estratégias de batalha, na época das duas guerras mundiais, todos com muitas estampas de armas, suásticas, escudos e outros símbolos nazistas, os apelos para crianças e adultos eram sempre anunciados em destaque como “educativos”.










O brinquedo nazista: no alto, miniaturas de
tanque de guerra, sucesso de vendas no
começo da década de 1940. Acima, pai e
filho brincam com miniatura de submarino
em fotografia promocional de 1941.

Abaixo, os tabuleiros e peças de
Juden raus! (Fora judeus!), lançado
em 1936 pela Günther & Co. com o rótulo de
um jogo para toda a família” e no qual o
vencedor era o jogador que primeiro conseguisse
recolher” seis judeus antes dos outros. Também
abaixo, outro jogo de tabuleiro de conteúdo
antissemita, Sakampf, em que os jogadores
disputavam pelo título de ser o primeiro a
destruir a democracia na Alemanha












.

Suásticas no tabuleiro



Na apresentação a seu inventário, André Postert destaca que jogos e brinquedos são reveladores sobre o comportamento de uma sociedade: eles representam o “zeitgest”, o “espírito da época” ou o sinal dos tempos. Segundo Postert, jogos, brinquedos e brincadeiras podem ser bons indicadores sobre o passado no tempo presente porque retratam a história em todos os seus aspectos, incluindo aqueles que em sua época não foram compreendidos, ou porque foram ignorados ou porque foram mascarados com sérias intenções ideológicas: tanto aspectos referentes às questões de tecnologia e economia como as implicações sobre política, educação, comportamento, racismo, fanatismo, religião, injustiça, crimes e guerras. “Alguns jogos e brinquedos são apenas uma moda passageira”, aponta Postert, “enquanto outros às vezes experimentam um renascimento inesperado depois de décadas. Acredito que isso acontece porque jogos e brinquedos não apenas escrevem a história, mas também refletem a história”.

A chegada de Adolf Hitler ao poder e à ditadura nazista na Alemanha abrange o período que vai de 1933 até o fim da Segunda Guerra, 1945, mas desde o começo do século 20 os jogos e brinquedos com orientação bélica e racista já ocupavam o mercado e as linhas de produção da poderosa indústria alemã. O auge para tal indústria antecede a Segunda Guerra e termina por alcançar os índices recordes de maior produção global para a Alemanha nas décadas de 1920 e 1930. Sob o controle de Hitler e do Partido Nazista (NSDAP), a Alemanha foi transformada em um estado totalitário fascista em que a vontade do Führer (líder) estava acima das leis e controlava todos os aspectos da vida dos cidadãos. Na Alemanha Nazista, também chamada de Terceiro Reich, a indústria de brinquedos foi transformada em mais uma engrenagem de sua gigantesca máquina de propaganda.












O brinquedo nazista: no alto, página do
catálogo de 1936 de miniaturas militares
da Hausser, uma das maiores fabricantes de
brinquedos da Alemanha na década de 1930.
Acima, o tabuleiro original de Guetto,
jogo que tem como tema a vida cotidiana no
campo de concentração de Theresienstadt
e que foi criado por um artista judeu,
Oswald Pöck, sequestrado em Viena, na
Áustria, em novembro de 1941, para ser
executado em Theresienstadt. Pöck
sobreviveu durante anos no cativeiro e
morreu em setembro de 1944, assassinado
no campo de concentração de Auschwitz.

Abaixo, a caixa original e uma seleção
de fichas de outro campeão de vendas,
o jogo de tabuleiro Weltkrieges Spiel
(Jogo da Segunda Guerra Mundial)












Enquanto os grandes fabricantes de brinquedos abraçavam as bandeiras do Terceiro Reich, em suas causas bélicas e racistas de perseguição e assassinato de judeus e outros grupos considerados indesejáveis, Joseph Goebbels, o todo poderoso ministro da Propaganda, atuava para lançar mão de todos os recursos para controle da opinião pública alemã, censurando e também assassinando qualquer oposição na cena política, nas escolas e na cultura em geral, promovendo determinadas formas de expressão artística favoráveis aos planos nazistas e fascistas e proibindo qualquer questionamento. Postert destaca que a indústria de brinquedos aceitou todas as formas de controle sem nenhuma resistência e que o próprio Hitler, assim como Goebbels, ia publicamente a mercados, a empresas e a grandes lojas de departamentos no Natal e em datas cívicas para promover, em ações direcionadas de publicidade, certos jogos e brinquedos, distribuindo presentes na presença da imprensa e de grandes plateias em situações planejadas nos mínimos detalhes. A mensagem era direta: “nós amamos as crianças e as crianças nos amam”.



A propaganda explícita



Entre as grandes empresas que comandavam a produção industrial, listadas no inventário de Postert, há muitos casos que impressionam pelo conteúdo bélico e racista dos jogos e brinquedos, de propaganda do estado totalitário, e pelos altos volumes de vendas que tais itens alcançaram. Entre eles está o marco representado pela empresa Käthe Kruse, que adotou uniformes militares nazistas ou da Juventude Hitlerista para sua extensa linha de bonecas e bonecos, ou o macabro “Juden raus!” (Fora judeus!), lançado em 1936 pela Günther & Co. com o rótulo de “um jogo para toda a família”. Na estratégia do “Juden raus!”, jogadores assumem nas peças do tabuleiro o papel de policiais e, ao ritmo de lances de dados, podem invadir propriedades, confiscar bens, prender famílias inteiras de judeus e fazer deportação de sequestrados para os campos de concentração. O vencedor era o jogador que conseguisse “recolher” seis judeus antes dos outros.












O brinquedo nazista: a partir do alto,
Hitler ao lado de um de seus comandantes
de alta patente recebem crianças em foto
promocional distribuída à imprensa no Natal
de 1939. Acima, o ministro da Propaganda
do Terceiro Reich, Joseph Goebbels, leva
as filhas Hilde e Helga (à esquerda) para
uma visita às lojas de brinquedos no Natal de
1938. Também acima, Wehrschach Tak-Tik,
uma variação para o tradicional jogo de xadrez,
tendo peças em azul e vermelho com tanques,
aviões e militares de várias patentes no lugar
de peões, cavalos, bispos, torres e, substituindo
rei e rainha, uma águia (símbolo nazista da
superioridade racial e da invencibilidade,
colocada acima da cruz suástica porque
sempre estava “acima de tudo”).

Abaixo, foto promocional da linha de bonecos
bonecas em uniformes militares em 1938
um anúncio da Associação de Fabricantes
Alemães de Estanho que comemora
o fim da “corrida pacifista”









A iniciação macabra aos rituais, à ideologia e às instituições do Terceiro Reich prossegue em muitos outros jogos e brinquedos investigados no livro de Postert. Havia também uma variedade de coleções de papéis de cartas, cartilhas didáticas e baralhos completos com retratos dos principais chefes do regime nazista, de Hitler a Goebbels, Göring, Himmler e outros comandantes militares, além de miniaturas de veículos reconstruídos em detalhes com bonecos representando personagens reais em seus uniformes militares oficiais. Hitler, com seu motorista e sua limusine preta, figuram como recordistas de vendas.

Outro campeão de vendas “para toda a família” foi o jogo “A Corrida da Vitória da Suástica” (Der siegeslauf des hakenkreuzes), uma peça de propaganda explícita lançada quando Hitler tomou o poder, em 1934. No jogo, as peças com suásticas eram movidas pelos jogadores de um campo a outro do tabuleiro, cada campo indicando momentos históricos do partido nazista desde sua fundação. O jogador que, depois de vários lances, pudesse ultrapassar os obstáculos dos opositores para chegar ao campo final, indicando 1934, vencia a batalha e destruía a democracia alemã.

O extenso acervo de jogos de tabuleiro e de brinquedos reunidos por Postert também representa um arsenal de doutrinação e de destruição, já que, na prática dos jogos e brincadeiras, principalmente as crianças, mas também os jogadores de todas as idades, aprendiam, reforçavam e espalhavam a ideologia fascista do regime com requintes de propaganda racista, militar e política, incluindo a preparação social para a guerra e seus crimes em massa, seus genocídios. Entre os documentos que impressionam pelas formas explícitas de violência que propagam, Postert reproduz trechos de um comunicado público de 1933 da Associação de Fabricantes Alemães de Estanho que é revelador pelos termos que comemora: “Acabou-se com a corrida pacifista estúpida das sociedades da paz e das ligas femininas contra todos os brinquedos militares”.












O brinquedo nazista: no alto, Hitler
estampado na caixa de Führer Quartett,
jogo de cartas lançado em 1934 com o
esquadrão completo do primeiro time das
forças policiais e militares do Terceiro Reich.
Acima, flautas com estampas de suásticas
que também foram usadas em tambores,
apitos, pequenos pianos mecânicos e outros
instrumentos musicais para crianças.

Abaixo, dois exemplares de bonecos que
representam judeus como seres diabólicos
em coleções de fantoches e de marionetes
anunciados pelos fabricantes como
brinquedos para toda a família”









A banalidade do mal



Macabro e fúnebre, o saldo criminoso e assustador do genocídio nazista gerou um cenário traumático que levou, no pós-guerra, pensadores como Hannah Arendt a chamar atenção para o que seria a “banalidade do mal”. Em 1961, depois de 15 anos do final da Segunda Guerra Mundial, Arendt, filósofa alemã de origem judaica que embarcou para os Estados Unidos fugindo do nazismo, é enviada pela revista “The New Yorker” para acompanhar o julgamento, em Israel, de Adolf Eichmann, tenente-coronel da Alemanha Nazista e um dos principais mentores do Holocausto, que havia sido localizado e preso em 1960 em Buenos Aires, Argentina. Com base nos relatos que escreveu para a revista norte-americana, Arendt publica em 1963 o livro “Eichmann em Jerusalém”, que tem por subtítulo “Um relato sobre a banalidade do mal” (editado no Brasil pela Companhia das Letras).

Arendt ressalta, considerando as estratégias nazistas que resultaram no assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus e outras etnias durante a Segunda Guerra, que o acusado naquele julgamento não apresentava características de um caráter distorcido ou doentio e que ele alegava ter feito o que fez porque acreditava ser aquele o seu dever, cumprindo ordens superiores sem questionar. Envolvido em polêmicas e muitas controvérsias, o julgamento, que terminou com Eichmann condenado à morte por enforcamento em 1962, fornece argumentos importantes para que Arendt reconheça, na banalidade do mal, uma ameaça constante para todas as sociedades democráticas, abordando o problema por uma perspectiva política e não moral ou religiosa.













O brinquedo nazista: no alto, o jogo de
salão Atenção, o inimigo está escutando!
(Achtung, Feind hört mit!), lançado em
1940 para promover o filme de propaganda
nazista de mesmo título com roteiro e
direção de Arthur Maria Rabenalt. Acima,
uma foto promocional distribuída pelo
Terceiro Reich nas lojas, às vésperas do
Natal de 1933, para anunciar que o
Führer” iria distribuir presentes para
filhos de pais desempregados e desejava
a todos os alemães um feliz Natal.

Abaixo, miniaturas de blindados militares
fabricados na década de 1930 em metal e
com detalhes cromados. Também abaixo,
Guerra Aéreajogo de tabuleiro fabricado
na Alemanha no início da década de 1940
e que após a Segunda Guerra se tornaria
ainda mais popular em vários países
com o nome de Batalha Naval.
Nas últimas imagens, abaixo,
meninos brincam com miniaturas de
soldados e de veículos de guerra em
fotografia da década de 1930 em um
orfanato na cidade alemã de Potsdam;
e o cartaz para os cinemas brasileiros
de O Tambor (Die Blechtrommel),
filme alegórico sobre um personagem
que vive a infância no período da ascenção
do nazismo, realizado em 1979 por
Volker Schlöndorff com roteiro adaptado
do livro homônimo publicado em 1959
por Günter GrassPrêmio Nobel de
Literatura de 1999







O mal, segundo Hannah Arendt, é um fenômeno político e histórico porque se manifesta apenas onde encontra espaço institucional – e sempre como resultado de uma escolha política: sua banalização corresponde ao vazio de pensamento que transforma a violência homicida em mero cumprimento de metas e organogramas burocráticos. Como a história comprova, a banalidade do mal sempre permanece à espreita, à procura da oportunidade  para se instalar, e até mesmo objetos e práticas na aparência triviais e do senso comum, como jogos, brinquedos e brincadeiras, podem ser instrumentos para espalhar e multiplicar, de forma monstruosa, o perigo de sua contaminação de ódio e violência. 


por José Antônio Orlando.




Como citar:

ORLANDO, José Antônio. O brinquedo nazista. In: _____. Blog Semióticas, 12 de maio de 2019. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2019/05/o-brinquedo-nazista.html  (acessado em .../.../...).



Para ler os primeiros capítulos do livro de André Postert,  clique aqui.










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