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O
que faço é um trabalho de amor. Eu
não entrei neste negócio apenas para
ganhar dinheiro.
–
Walt
Disney (1901-1966). .............
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Criado
por Walt Disney durante uma viagem ao Rio de Janeiro e, oficialmente,
lançado em 24 de agosto de 1942, Zé Carioca completa hoje
seu
aniversário. Trata-se de um caso exemplar das estratégias políticas que usam personagens de histórias infantis e, na perspectiva do Brasil, um capítulo importante da invasão cultural norte-americana, como já foi apontado por diversos estudos. São
80
anos de existência do
único personagem brasileiro na
The Walt Disney Company – uma
data comemorada
com homenagens e grandes negócios anunciados para os próximos
meses. Entre as homenagens, novas histórias em quadrinhos, com o relançamento da revista do personagem e de uma edição especial do “Almanaque do Zé Carioca”, além do lançamento de três livros inéditos: “O essencial do Zé Carioca: celebrando os 80 anos de sua estreia”, pela editora Culturama, que desde 2020 assumiu a publicação das revistas Disney no Brasil; “Zé Carioca conta a história do Brasil”, um projeto do escritor Eduardo Bueno; e "Muito prazer, Zé Carioca", uma biografia do personagem escrita por Jorge Carvalho de Mello.
Entre
os negócios anunciados também estão relançamentos do
personagem no canal Disney
Plus, uma programação de eventos criada em parceria da Disney com o canal
ESPN e conteúdos especiais nos sites e redes sociais da empresa,
além de coleções temáticas do Zé Carioca licenciadas pela primeira vez para roupas, brinquedos,
instrumentos musicais e acessórios que serão vendidos em parcerias
com diversas marcas no Brasil e
em outros
países. Com
as estratégias comerciais, a meta é reposicionar o personagem em
destaque entre os produtos da Disney, depois do quase esquecimento nas últimas décadas,
quando até suas revistas tiveram publicação
cancelada no mercado brasileiro. Nos últimos anos, o Zé Carioca apareceu apenas ocasionalmente em pequenas histórias no “Almanaque
Disney”.
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Estratégias do Zé Carioca: no alto, a nova versão do personagem, que chega ao 80 anos. Acima, Zé Carioca na nova imagem para o reposicionamento comercial.
Abaixo, Walt Disney e sua equipe desembarcando no Rio de Janeiro, em 1941, no programa de governo nomeado como Política da Boa Vizinhança; e o cartaz original da estreia de Zé Carioca no cinema, ao lado do Pato Donald, no filme de 1942 "Alô Amigos"
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A
história do Zé Carioca teve início sob encomenda para um projeto
político: assim que foi deflagrada a Segunda Guerra Mundial, Walt Disney foi destacado pelo Departamento de Estado para a
missão de criar peças de
cinema e de histórias em quadrinhos para a aproximação dos Estados Unidos com os
países da América Latina, dentro das estratégias da chamada
Política da Boa Vizinhança, criada pelo governo Franklin Roosevelt na década
de 1930, e que ganhou força para conquistar a simpatia dos governos e dos povos latino-americanos em tempos de guerra contra os nazistas. No vértice
brasileiro da aproximação estão acordos
comerciais com o governo de Getúlio Vargas e a
importação pelos Estados Unidos de Carmen Miranda, na época a
maior estrela da música, do
rádio, do cinema e do teatro de revista no Brasil. Carmen embarcou
para os EUA em 1939, alcançando em pouco tempo um sucesso estrondoso na Broadway e em
Hollywood.
Malandro, alegre, hospitaleiro
Na
sequência dos acordos
comerciais e de geopolítica dos EUA com o governo Vargas,
viriam dois grandes projetos de cultura e política a cargo de Orson Welles e de Walt
Disney. O filme de Orson Welles no Brasil, “It’s All True”,
jamais foi concluído pelo cineasta, que
retornou aos EUA no final de 1942 depois de filmagens que foram uma
sucessão de escândalos e de acidentes. Walt Disney, por sua vez, chegou com sua equipe ao
Brasil em 1941 e, assim como Welles, ficou encantado com a cultura
brasileira. Durante a viagem de Disney veio a inspiração para criar
o Zé Carioca, um papagaio malandro, alegre e hospitaleiro, que vivia no morro da favela, enrolava seu próprio cigarro, gostava de feijoada, de cachaça e de futebol. Sua estreia aconteceu em 1942, no filme “Alô Amigos” ("Saludos Amigos" / "Hello Friends"). Com
o sucesso comercial do filme, nos EUA, no Brasil e em outros países, Zé Carioca retornaria
em uma série de histórias em quadrinhos e em outros dois filmes:
“Você já foi à Bahia?” ("The Three Caballeros", 1944) e “Tempo de Melodia” ("Melody Times", 1948).
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Estratégias do Zé Carioca: no alto, Pato Donald bebe cachaça com Zé Carioca, em cena do filme "Alô Amigos". Acima, o presidente Getúlio Vargas (à esquerda) com Walt Disney (à direita) no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Abaixo, um encontro do maestro Heitor Vila Lobos com Walt Disney, também no Rio de Janeiro
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Em
“Alô Amigos”, sexto longa-metragem de animação de Walt Disney (os anteriores foram "Branca de Neve e os Sete Anões", "Pinóquio", "Fantasia", "Dumbo" e "Bambi"), há quatro histórias, ou quatro segmentos, cada um representando um país, e todos estão interligados. No primeiro, "Lago Titicaca", o turista norte-americano Pato Donald visita o Peru; no segundo, "Pedro", um pequeno avião parte do Chile para buscar correspondência aérea na Argentina; no terceiro, "O Gaúcho", Pateta é o cowboy dos EUA que vai aos pampas argentinos; no quarto, "Aquarela do Brasil", Zé Carioca recebe o viajante dos EUA, o Pato
Donald, e o acompanha em um passeio pelo
Rio de Janeiro e por
diferentes paisagens do Brasil, seguindo
também
pela América Latina. Donald, que havia estreado no
cinema em
1934, em um episódio curto do filme “Sinfonias Tolas” (“Silly
Simphony”), aparece em forma redesenhada e definitiva,
com o uniforme azul e branco de marinheiro – na verdade um
“mariner”, integrante do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA,
evidentemente destacado para um “esforço de guerra”.
No
mesmo ano de 1942, Donald apareceria em outro filme de propaganda de
guerra, o desenho anti-nazista “A Face do Fuehrer” (“Der
Fuehrer’s Face”), que venceu em 1943 o Oscar de melhor
curta-metragem de animação. Donald também é
protagonista
em “O Espírito de 1943” (“The Spirit of ‘43”), filme curto
em que ele
seráconvencido a doar parte de seu salário de trabalhador para as campanhas da guerra,
e em outros dois filmes de animação em longa-metragem com Zé
Carioca, os já citados “Você já foi à Bahia?” e
“Tempo de Melodia”. “Alô Amigos” seria um grande sucesso
comercial de Disney, apresentando na trilha sonora duas
canções brasileiras que se tornariam populares no mundo inteiro:
“Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, e “Tico-Tico no
Fubá”, de Zequinha de Abreu, que seriam gravadas em
seguida por Carmen Miranda e por muitos artistas de
diversos gêneros e nacionalidades, de Frank Sinatra e Ray Conniff a
Paco de Lucia e Xavier Cugat, entre outros.
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Estratégias do Zé Carioca: no alto, Pato Donald dança o samba com Zé Carioca, em cena do filme "Alô Amigos". Acima, Walt Disney (de bigode) e sua equipe visitam a quadra da escola de samba Portela na companhia de Paulo da Portela.
Abaixo, Carmen Miranda durante as filmagens de "Uma Noite no Rio", em 1941, com o músico Zezinho (de camisa listrada), que foi um dos integrantes do grupo Bando da Lua e o dublador de Zé Carioca em "Alô Amigos"
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A
gênese
do papagaio carioca
O
sucesso
no cinema levou Zé Carioca para as páginas das histórias em quadrinhos. No
final de 1942, ele surgiria em tirinhas publicadas por vários
jornais nos EUA e, nos anos seguintes, chegaria ao Brasil e a outros
países no formato de revista em quadrinhos que exploravam o exotismo das paisagens do Rio de Janeiro. Na biografia de Walt Disney publicada em 1994, “An
American Original” (Disney Editions), o autor Bob Thomas descreve as
circunstâncias que levaram Disney a criar o personagem em uma suíte
do Hotel Copacabana Palace, que
esteve
temporariamente transformada em estúdio, enumerando referências
que estão na gênese do filme "Alô Amigos" e do personagem do papagaio malandro. Tudo indica que na origem do
Zé Carioca estão ideias originais de José Carlos de Brito e Cunha, mais conhecido
como J. Carlos, cartunista que fazia sucesso na revista “O
Tico-Tico”.
Entre
outros personagens que o cartunista desenhava para “O Tico-Tico”,
havia um papagaio sem nome que fumava charuto e
aparecia ocasionalmente em charges e histórias de outros
personagens. Ao tomar conhecimento dos projetos para o filme e para um novo personagem que seria criado, J. Carlos presenteou Disney, durante um jantar, com um desenho do tal
papagaio que ele havia criado. No desenho, o papagaio abraçava o Pato Donald.
Segundo
o biógrafo Bob Thomas, o desenho de J. Carlos, associado a outras
referências de pessoas do meio artístico que Disney conheceu no
Brasil, levariam à concretização do personagem Zé Carioca. Entre as
referências também estava o músico e humorista Zezinho (José do
Patrocínio Oliveira), que tocava
cavaquinho no
grupo Bando da Lua, que acompanhava Carmen Miranda. Não por acaso, Zezinho é o
dono da
voz que dubla o Zé Carioca em “Alô Amigos”.
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Estratégias do Zé Carioca: acima, uma reunião no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, em 1941, com Jorge Guinle, dono do hotel, Carmen Miranda e Walt Disney. Abaixo, Walt Disney filmando nas areias da praia de Copacabana e passeando de barco na baia da Guanabara com a equipe de trabalho
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Outras
influências para a criação do personagem Zé Carioca vêm do charuto que o compositor
Heitor Vila Lobos sempre fumava e dos olhos azuis do compositor
Herivelto Martins – duas das personalidades muito
populares da
época, no
meio artístico do Rio de Janeiro, que
tiveram vários encontros com Walt Disney, tanto em reuniões de trabalho como em jantares e passeios
pelos mais conhecidos cenários cariocas. O
biógrafo também cita os convites que foram feitos pessoalmente por Disney
para o compositor Ary Barroso, para o maestro Vila Lobos e para o cartunista J. Carlos, para que
eles fossem trabalhar sob contrato com a equipe Disney em Hollywood,
mas todos eles recusaram as propostas.
Nos anos seguintes, Ary Barroso venderia os direitos de algumas canções para filmes da Disney e para outros estúdios de Hollywood. Vila Lobos, no final da década de 1950, seria contratado para criar a trilha sonora de "Green Mansions" (no Brasil, "A flor que não morreu"), superprodução da Metro Goldwyn Mayer com direção de Mel Ferrer e com Audrey Hepburn e Anthony Perkins no elenco. O maestro brasileiro compôs uma peça sinfônica belíssima, hoje conhecida como "Floresta do Amazonas", mas ficou extremamente insatisfeito com o uso que fizeram de suas partituras na trilha sonora da versão final do filme e nunca mais quis repetir a experiência.
Do
cinema para os quadrinhos
Na temporada de Disney no Brasil há
também a presença de Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da
Portela, que acompanhou uma visita de Disney e sua equipe à quadra
da escola de samba na
Guanabara e
deixou Disney impressionado por sua elegância, sua alegria e sua gentileza
hospitaleira – as mesmas características que seriam levadas para o filme “Alô Amigos” e que ficaram
visíveis na recepção que Zé Carioca faz para o Pato Donald no Rio de Janeiro. Bob
Thomas também cita outro brasileiro como referência para a criação
do papagaio: o advogado Manuel Vicente Alves, mais conhecido como Dr.
Jacarandá, um tipo folclórico na época, na zona sul carioca, que
também foi apresentado a Disney na visita da equipe à quadra da Portela. Tal como aconteceria com Zé
Carioca, o Dr. Jacarandá sempre usava, sob o sol escaldante do Rio
de Janeiro, chapéu panamá de aba reta, paletó de alfaiataria, camisa social com
gravata borboleta colorida e um inseparável guarda-chuva.
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Estratégias do Zé Carioca: no alto, a capa da primeira edição do livro "An American Original", biografia de Walt Disney escrita por Bob Thomas. Acima, o Zé Carioca em sua imagem clássica.
Abaixo, os encontros de Walt Disney com o compositor Ary Barroso e com Alceu Penna, ilustrador da revista O Cruzeiro, no hotel Copacabana Palace em 1941 |
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Nos
estúdios Disney, Zé Carioca ganhou vida também sem a presença do
Pato Donald. As tirinhas e histórias em quadrinhos do personagem, criadas a partir de 1942, tiveram roteiro de Hubie Karp e desenhos de
Bob Grant e Paul Murry – os três integrantes da equipe Disney que
também trabalharam no filme “Alô Amigos”. O
personagem, batizado como Joe Carioca, estreou nas páginas de
jornais e revistas dos EUA em outubro de 1942 e quatro meses depois
chegava ao Brasil publicado em “O Globo Juvenil”, suplemento
mensal que circulou entre 1937 e 1952, em formato tabloide de 16
páginas impressas em papel jornal, tendo como editor Nelson
Rodrigues, que ganharia notoriedade como cronista e dramaturgo. As histórias do Zé Carioca também tiveram uma edição especial publicada pela Editora Melhoramentos em 1945: o personagem, fumando seu charuto, aparece na capa tendo ao fundo a baía da Guanabara.
Nas
páginas de “O Globo Juvenil”, Zé Carioca faria sucesso com suas
histórias e tirinhas intercaladas com quadrinhos que traziam heróis
estrangeiros como Superman, Mandrake, O Fantasma, Flash Gordon,
Brucutu e Ferdinando, entre outros. A
primeira vez que Zé Carioca apareceu na capa de uma revista foi na
primeira edição de “O Pato Donald”, que inaugurou a parceria comercial entre Disney e a Editora Abril, em julho de 1950,
participando apenas de uma história. Depois desta primeira fase do personagem, Zé Carioca retornaria somente na década de 1960 às revistas dos personagens Disney. Em 1961, ele ganharia sua própria revista de publicação
semanal com
histórias inéditas, criadas no Brasil, e com adaptações de
histórias de outros personagens da Disney, tendo na capa da primeira edição o título "O Pato Donald apresenta Zé Carioca".
Em
2018, depois de 68 anos, a Editora Abril encerrou seu contrato de
publicação das revistas Disney, que desde 2020 passaram a ser
publicadas pela Editora Culturama, mas várias revistas permanecem canceladas.
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Estratégias do Zé Carioca: acima, o papagaio malandro criado por J. Carlos para as charges da revista "O Tico-Tico", uma das fontes de inspiração para Walt Disney criar o Zé Carioca.
Abaixo, uma sequência dos primeiros esboços da equipe Disney para o personagem; e a capa da primeira edição da revista "O Pato Donald" no Brasil, em junho de 1950, que teve a presença de Zé Carioca como convidado especial
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As
intenções políticas
O
encontro de Zé Carioca com o Pato Donald em “Alô Amigos” também
é um campo fértil para estudos políticos e de historiografia. No
livro “The Hispanic Image on the Silver Screen” (“A imagem
hispânica na tela de prata”, Editora Greenwood, 1992), o
historiador Alfred
Charles Richard Jr. apresenta uma constatação que se tornou célebre:
segundo ele, o filme “Alô Amigos” conseguiu consolidar, para
grande
parte do
público de países da América Latina, em poucos meses, mais
simpatia pelos Estados Unidos do que as ofensivas do Departamento de Estado
norte-americano conseguiram antes
em mais de 50 anos de ocupações militares e de ações diplomáticas.
Em
seu estudo, Richard
Jr. avalia os efeitos que o cinema de Hollywood teve sobre o público
na formação e na propagação de estereótipos, assim como as
relações muito próximas entre o cinema norte-americano e a
política de outros países da América, com filmes que, com muita
frequência, justificavam e glorificavam a intervenção dos Estados
Unidos nos assuntos das nações latino-americanas. No caso
brasileiro, tais intervenções são especialmente
visíveis em
dois momentos de regimes ditatoriais: primeiro, na ditadura do Estado
Novo de Getúlio Vargas, de 1930 a 1945, que coincide com a vigência da Política da
Boa Vizinhança do governo Roosevelt; e posteriormente na ditadura
militar que tomou o poder no período de 1964 até os anos 1980.
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Estratégias do Zé Carioca: acima, Walt Disney passeando na praia de Copacabana, em 1941; e desenhando croquis e cenários para o filme "Alô Amigos" com Mary Blair na varanda do hotel, no Rio de Janeiro. Abaixo, Walt Disney passeando, anônimo no meio da multidão na Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro, fotografado para reportagem da revista "Life" por Hart Preston; e o encontro entre o presidente do EUA, Franklin Roosevelt, e o presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em Natal, Rio Grande do Norte, em janeiro de 1943.
Também abaixo, a capa da edição brasileira do livro de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, "Para ler o Pato Donald"; e uma seleção de capas históricas do Zé Carioca no Brasil:
1) Zé Carioca, edição especial da Melhoramentos em 1945; 2) Zé Carioca na capa de "O Globo Juvenil" em janeiro de 1944; e 3) Zé Carioca na primeira edição de sua revista, em 1961, que traz na capa o título "O Pato Donald apresenta Zé Carioca"
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Tais
associações entre ações políticas, cinema, literatura e
estereótipos
instrumentalizados na cultura brasileira são também abordadas em diversos estudos de
crítica literária, de comunicação social, de sociologia e de antropologia,
entre eles “Dialética da Malandragem” (Revista de Estudos
Brasileiros da USP, 1970), de Antonio Candido; “Carnavais,
Malandros e Heróis” (Editora Rocco, 1979), de Roberto da Matta; e "A Invasão Cultural Norte-Americana" (Editora Moderna, 1988), de Júlia Falivene Alves.
Uma abordagem mais
específica
sobre o tema, feita a partir da análise de personagens de Walt
Disney e de sua influência na América Latina, foi publicada em 1971,
no Chile, por
Ariel Dorfman e Armand Mattelart, e se tornaria um clássico
incontornável: “Para ler o Pato Donald – Comunicação
de massa e colonialismo”,
que
teve primeira edição no Brasil em 1977, pela Editora Paz e Terra,
em tradução do historiador de quadrinhos Álvaro de Moya.
Dorfman, nascido
na Argentina, e Mattelart, nascido na Bélgica, ambos militantes de
esquerda na luta pelos Direitos Humanos, propõem, em suas próprias
palavras, um “manual de descolonização” a partir de uma leitura
dos quadrinhos por um viés marxista. Uma
definição reveladora sobre o estudo é apresentada de forma
resumida, pelos próprios autores, na abertura do terceiro capítulo do
livro: “Os
povos subdesenvolvidos são para Disney, então, como as crianças;
devem ser tratados como tais, e se não aceitam essa definição de
seu ser, é preciso descer suas calças e lhes dar uma boa surra.
Para que aprendam!”
Observadas
com um intervalo histórico
de
mais de 50 anos, pode-se perceber com muita clareza o quanto as análises
radicais e ideológicas de Dorfman e Mattelart removeram
as
máscaras
de inocência e de ingenuidade que, por muito tempo, conseguiram disfarçar o aparato violento de dominação cultural e os mecanismos agressivos de propaganda
política, manipulados, desde sempre, para favorecer e fortalecer os interesses do império norte-americano.
por
José Antônio Orlando.
Como citar:
ORLANDO, José Antônio. Estratégias do Zé Carioca. In: Blog Semióticas, 24 de agosto de 2022. Disponível em https://semioticas1.blogspot.com/2022/08/estrategias-do-ze-carioca.html (acessado em .../.../…).