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25 de junho de 2015

Arte e tecnologia






O artista não tem outro dever senão o de satisfazer ou exprimir 
seu próprio sentir, mas isso não teria qualquer interesse se fosse 
o sentir comum. O artista tem o dever de ser uma exceção. 

–– Giulio Carlo Argan (1909-1992).    


  
Quais são as obras-primas mais originais e criativas da História da Arte? A resposta correta, que envolve questões de extrema complexidade, poderia ser apresentada sem incorrer em desvios provocados por preconceitos e por diferenças relacionadas a gostos pessoais? Um experimento do departamento de Ciências da Computação da Rutgers University of New Jersey (EUA), em parceria com laboratórios norte-americanos de pesquisas em Inteligência Artificial (I.A.), arriscou responder a estas duas perguntas e mereceu um destaque incomum para assuntos científicos nos principais veículos da imprensa internacional na semana que passou.

Do inglês “The Guardian” ao espanhol “El País”, do japonês “Asahi Shimbun” ao norte-americano “The New York Times” à rede alemã Deutsche Welle, entre outros baluartes do jornalismo em vários países, extensas reportagens apresentaram o mais novo experimento cibernético e seus resultados – que lembram aqueles enredos fantásticos dos clássicos da ficção científica. A partir do nome do autor da obra, da data e de seu contexto dentro da História da Arte, a equipe acadêmica da Rutgers University, coordenada pelo professor Ahmed Elgammal, desenvolveu um algoritmo (programa de sequências lógicas e finitas de instruções para executar uma tarefa) de computador capaz de quantificar e avaliar a criatividade de uma obra de arte.

O resultado, por certo surpreendente, revela novos parâmetros e avanços do que se convencionou denominar como A.I. – Artificial Inteligence. O experimento inédito, coordenado por Elgammal, investe em desdobramentos dos estudos do pioneiro da Semiótica, Charles Sanders Peirce (1839-1914), para criar, em ambiente tecnológico, uma extensa rede de conexões entre artistas, suportes, escolas, estilos e épocas diferentes – apresentando como resultado análises quantitativas e juízos de valor estabelecidos pelos cálculos de uma Inteligência Artificial.










Arte e Tecnologia: no alto, El Cristo
Crucificado, pintura de 1780 do espanhol
Francisco de Goya, classificada em
primeiro lugar entre as obras mais originais
e criativas da História da Arte pelo
experimento com algoritmos em computador
na Rutgers University. Acima, Bananas
and Grapefruits n° 1, pintura em óleo
sobre tela de 1972 do norte-americano
Roy Lichtenstein, apontada em segundo
lugar; e um dos gráficos demonstrativos
do experimento, tendo no eixo horizontal
o ano de criação da obra e, no eixo vertical,
a escala de pontuação alcançada para os
critérios de originalidade e de criatividade.

Abaixo, Meules à Chailly au lever du soleil
(Palheiros em Chailly ao nascer do sol),
pintura em óleo sobre tela de 1865 de
Claude Monet, terceira colocada no ranking,
e um destaque de 1503 do alemão
Albrecht Dürera aquarela nomeada
como Das große Rasenstück
(O grande tufo de grama)














 Não é por acaso que os experimentos em Inteligência Artificial têm referência nos estudos do filósofo e matemático, totalmente incompreendido em seu tempo, Peirce, o primeiro entre os teóricos da Semiótica, dedicou a vida às investigações sobre o pensamento, a informação e a criação, em proposições que fundamentam ainda hoje a Cibernética e as Ciências Cognitivas, além das pesquisas sobre Filosofia da Linguagem nas mais diversas áreas do conhecimento. As complexidades das teorias de Peirce sobre os signos e seu “objeto dinâmico” foram retomadas pela equipe de Elgammal para alcançar resultados que aproximam Arte, Ciência e Tecnologia em novas e inquietantes interfaces.



Filosofia e Criatividade



O novo experimento colocou em prática uma análise que parece impossível para a escala de compreensão humana: um estudo comparado em mais de 2.600 aspectos de análise sobre mais de 60 mil obras de arte, incluindo das informações sobre estilo, sobre forma e sobre conteúdo às questões de matizes de cores, de traços e de perspectivas. Os autores do estudo (veja o link para acessar a íntegra do relatório sobre o experimento no final deste artigo) usaram a definição de criatividade proposta por Elliot Samuel Paul e Scott Barry Kaufman (em “The Philosophy of Creativity”, tese publicada em maio de 2014) como “algo que seja original, diferente do que foi feito até o momento, e que tenha influência marcante sobre as obras posteriores”.


 






Arte e Tecnologia: entre as obras-primas
em destaque nos quesitos originalidade
e criatividade, segundo o “Experimento
Máquina do Tempo”, estão, a partir do alto,
 Skrik (O Grito), de 1895, do norueguês
Edvard Munch; e Les demoiselles
d'Avignon (As Senhoritas de Avignon),
pintura de 1907 do espanhol Pablo Picasso.

Abaixo, a Madonna Dreyfus (Madonna
della Melagrana), obra de 1469 do
italiano Leonardo da Vinci; e Gezicht
op Delft (Vista de Delft), pintura de 1661
do mestre holandês Johannes Vermeer














Usamos uma definição precisa de criatividade, aquela que enfatiza a originalidade do produto e seu valor influente”, justifica no relatório final Ahmed Elgammal, coautor do algoritmo, em parceria com Babak Saleh, também professor do departamento de Ciências da Computação da Rutgers University. Segundo Elgammal, a estrutura computacional proposta teve por base a construção de uma rede específica em múltiplas conexões com o objetivo de levar a Inteligência Artifical a inferir sobre a originalidade e a influência de cada uma das mais de 60 mil obras de arte analisadas.

Uma vez codificadas as imagens de cada obra de arte”, completa Elgammal, “o algoritmo passou a medir a originalidade, calculando quanto há de diferenças em relação a seus antecessores no tempo”. A partir da base de dados dos sites Artchive e Wikiart, Elgammal e equipe estabeleceram sua amostragem de análise entre mais de 60 mil imagens produzidas por artistas no período histórico que vai da Baixa Idade Média (século 15) até o ano de 2010. O nome escolhido pela equipe para denominar o projeto não poderia ser mais alegórico e instigante: "Time Machine Experiment" (Experimento Máquina do Tempo).



Cânones da História da Arte



O relatório final da equipe do departamento de Ciências da Computação da Rutgers University, que será apresentado durante o simpósio internacional Computational Creativity (ICCC), de 29 de junho a 29 de julho em Park City, Utah (EUA), quantifica entre as mais originais e criativas obras-primas da História da Arte uma seleção de obras-primas que atualmente está distribuída entre os mais importantes acervos dos grandes museus e dos mais privilegiados colecionadores.







Arte e Tecnologia: acima, Corridor
in Saint-Paul Hospital, pintura
de 1889 do holandês Vincent van
Gogh. Abaixo, uma das pinturas da
série Composition blanc, rouge
et jaune, obra de 1936 de outro
holandês, Piet Mondrian








Em primeiro lugar, na lista de obras-primas classificadas pelo experimento, figura “El Cristo Crucificado” (1780), pintura do espanhol Francisco de Goya, seguida, pela ordem estabelecida pelos cálculos do algoritmo, por “Bananas and Grapefruits nº 1” (1972), do norte-americano Roy Lichtenstein; pela série de quatro pinturas em óleo sobre tela denominada “Skrik” (O Grito), concluída por volta de 1895 pelo norueguês Edvard Munch; e por “Les demoiselles d'Avignon” (As Senhoritas de Avignon)”, pintura de 1907 do espanhol Pablo Picasso.

Além das quatro primeiras colocações, outros gigantes da Arte desde a Idade Média também aparecem entre os mais originais e criativos – entre eles Leonardo da Vinci, Michelangelo, Albrecht Dürer, Diego Velázquez, Claude Monet, Vincent Van Gogh, Auguste Rodin, Kazimir Malevich, Salvador Dalí e Piet Mondrian. Não por acaso, o ranking da classificação das obras através do algoritmo confirma os cânones apontados por célebres estudos de História da Arte, entre eles os compêndios de Ernst Hans Josef Gombrich ou de Giulio Carlo Argan – unânimes em apontar obras e artistas também citados pelo experimento de Elgammal entre os mais criativos dos últimos séculos, seja pela originalidade em seu tempo ou pela grande influência em períodos posteriores.







Arte e tecnologia: Acima, gráfico
demonstrativo do experimento
da Rutgers University (no eixo horizontal,
o ano de criação da obra; no eixo vertical,
a escala de pontuação alcançada em
variáveis de originalidade e criatividade).

Abaixo, "La Danaid", escultura em bronze
de 1889 de Auguste Rodin com inspiração
na mitologia grega, uma das poucas
esculturas classificadas na lista
do experimento com algoritmos da
Rutgers University; e duas obras-primas
radicais do russo Kasimir Malevich, destaque
pela originalidade e criatividade: Boy with
a Knapsack (Garoto com mochila),
pintura de 1915, e White on White 
(Quadrado branco sobre fundo
branco), óleo sobre tela de 1918










 













Na conclusão sobre o experimento com arte e algoritmos, o relatório assinado por Elgammal enumera os avanços alcançados no que se refere às Ciências da Computação e prevê as possibilidades de utilização do mesmo sistema em outras formas de criação e representação, tais como algoritmos de busca, de ordenação e de análises em campos diversos como a geometria, a criptografia e também a interpretação de textos.

Os resultados (do Experimento Máquina do Tempo) podem ter desdobramentos em vários conceitos aplicados tanto à arte como à ciência para alcançar as questões multidimensionais da vida cotidiana”, aponta o professor Ahmed Elgammal em sua conclusão. Em outras palavras, como diria o narrador daquele romance emblemático de Philip K. Dick, “Do Androids Dream of Electric Sheep?” (Sonham os andróides com ovelhas elétricas?), que inspirou o filme “Blade Runner” – é sempre bom lembrar que o futuro está apenas começando.


por José Antônio Orlando.



Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Arte e tecnologia. In: Blog Semióticas, 25 de junho de 2015. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2015/06/arte-e-tecnologia.html (acessado em .../.../.../).



Para comprar o livro Breve História da Arte,  clique aqui






Para comprar "O processo criativo", de Claudio Castelo Filho,  clique aqui.





Para acessar a íntegra do relatório "Quantifying Creativity in Art Networks",
de Ahmed Elgammal e Babak Saleh,  clique aqui.



Para comprar o livro “The Philosophy of Creativity”, de Elliot Samuel Paul

e Scott Barry Kaufman,  clique aqui. 






28 de abril de 2014

Mestres da Gravura






    Não acredito na ideia de vanguarda, como
    não acredito em progresso na arte. Na ciência,
    essas ideias são aceitáveis, mas em arte o que vale
    é a obra encantar e provocar admiração, ou não.
––  Ernst Hans Gombrich (1909-2001).      



Grandes tesouros da arte produzida do século 15 ao século 18 foram reunidos na exposição “Mestres da Gravura – Coleção Fundação Biblioteca Nacional”. Com 170 obras originais que fazem parte do acervo Real Biblioteca de Portugal, a exposição chegou ao público no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, seguindo depois um extenso roteiro para exposições em outras capitais e cidades brasileiras. Produzidas pelos artistas mais importantes de diversas escolas europeias, as gravuras do acervo estão sob a guarda da Biblioteca Nacional, com sede no Rio de Janeiro, desde 1808, quando a corte portuguesa de Dom João VI transferiu o acervo de Lisboa para o Brasil.

Reunidos no acervo de quatro séculos da história da arte estão 81 grandes mestres do estilo com gravuras originais que representam mitologias, alegorias, paisagens e cenas religiosas criadas na época do Renascimento, do Maneirismo, do Barroco e do Rococó. Fazem parte da exposição itinerante 30 gravuras da coleção alemã, 27 da holandesa, 35 da italiana, 26 da francesa, 14 da flamenga, oito da inglesa, 18 da espanhola e 13 da portuguesa, em técnicas predominantes de xilogravura (gravura impressa a partir de uma matriz de madeira) e gravura a metal – incluindo obras em talho-doce ou gravura a buril, gravura à ponta-seca, à água-forte, à maneira-negra, à água-tinta e pontilhados em técnica mista.

As obras em exposição foram criadas por artistas considerados os mais importantes da História da Arte, entre eles Albrecht Dürer (o principal nome da renascença alemã), Rembrandt Harmenszoon van Rijn (o maior da arte neerlandesa) e Francisco José de Goya y Lucientes, o artista mais importante do Romantismo na Espanha. Também foram selecionadas para a mostra, entre as mais de 30 mil peças do acervo, obras satíricas do inglês William Hogarth, que refletia sobre os desmandos da política em seu tempo e acabou gerando o termo Hogartianas; o italiano Giovanni Battista Piranesi, que registrava a arquitetura com detalhes e é forte influência na arte contemporânea; a extraordinária arte burlesca do francês Jacques Callot; e o talento de retratista do flamengo Anton Van Dyck, entre outros grandes mestres.









Mestres da Gravura: no alto,
Le Antichitá Romane,
obra-prima do italiano Giovanni
Battista Piranesi (1720-1778). Acima, 
Jesus Cristo descendo ao Limbo, do
italiano Andrea Mantegna (1431-1506),
e um mapa descritivo em pergaminho
com as fronteiras da Europa do século 16.

Abaixo, Santa Cecília cantando os
Louvores de Deus, do francês
Étienne Picart (1632-1721);
The Musician, do holandês
Lucas van Leyden (1494-1533);
e As quatro feiticeiras, do alemão
Albrecht Dürer (1471-1528). Todas
as imagens reproduzidas nesta página
estão no catálogo original da
Biblioteca Nacional que apresenta a
exposição Mestres da Gravura
















O acervo de obras-primas em exposição, com curadoria de Fernanda Terra, abarca artistas que nasceram do século 15 ao 18 e obras concebidas de acordo com as técnicas mais avançadas que foram desenvolvidas no período – a única exceção são algumas obras de Goya, que foram criadas em 1815 e trazidas posteriormente para o Brasil, mas ainda assim o artista espanhol é tido essencialmente como um gravador do século 18. A grande maioria do acervo de gravuras foi adquirida por Portugal no período anterior ao terremoto que arrasou Lisboa em 1755 – e sobreviveram ao terremoto, ao maremoto e aos incêndios sucessivos que destruíram a cidade.

Trazidas para o Brasil por Dom João VI, a coleção de gravuras, juntamente com milhares de caixas que incluíam livros, partituras e mapas, deu origem à Biblioteca Nacional, que mantém sua sede no Rio de Janeiro. Considerada a maior biblioteca da América Latina, a Biblioteca Nacional também foi nomeada pela UNESCO entre as 10 mais importantes do mundo. Todas as gravuras em exposição foram selecionadas do acervo que hoje conta com mais de 30 mil obras, raramente exibidas ao público. Em 2012, nos 200 anos da Biblioteca Nacional, a mesma mostra foi aberta no Rio de Janeiro e, nos anos seguintes, foi apresentada em Brasília e outras capitais. Depois de Belo Horizonte, a exposição segue para Salvador e depois prossegue em um roteiro itinerante pelo Recife e outras capitais do Nordeste e Norte do Brasil.










Mestres da Gravura: acima,
Orfeu e Eurídice, gravura de 1510
do mestre italiano Marco Antonio 
Raimondi (1480-1534); Cupido tocando 
cravo (1538), do italiano Giovanni Battista 
Ghizi (1503-1575); e Adão e Eva (1504),
do alemão Albrecht Dürer. Abaixo, 
A Sagrada Família, gravura de 1580 do
holandês Hendrik Goltizius (1558-1617); e
O Amor (1591), do mestre de Bruxelas
Raphael Sadelero Velho (1560-1632)












A
Acervo de relíquias preciosas



Todo o acervo da mostra que vem sendo apresentada nas capitais também está reproduzido em um livro belíssimo de capa dura e 240 páginas. Organizado pela mesma curadora Fernanda Terra e com o mesmo título da exposição “Mestres da gravura – Coleção Fundação Biblioteca Nacional”, o livro foi coeditado pela Artepadilla, Caramurê Publicações e Fundação Biblioteca Nacional, com patrocínio da Petrobras. Além do acervo completo da mostra, com imagens em fac-símile das 170 gravuras tanto em xilogravuras, a mais antiga técnica de gravar sobre papel, quanto nas variadas técnicas de gravação em metal, a publicação inclui um breve histórico de cada gravador e artigos assinados por especialistas.

A edição de luxo, subdivida em oito coleções e organizada por ordem cronológica e pela geografia de nascimento dos artistas, acompanha as mudanças técnicas da gravura através dos séculos – percurso delimitado pelos artigos “Mestres da gravura: Coleção Biblioteca Nacional”, resultado da pesquisa de Fernanda Terra; “Breve história da biblioteca: entre livros e símbolos”, escrito pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz; e “Manter o passado no futuro”, assinado pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Renato Lessa. Um texto mais extenso e minucioso apresenta e descreve a Divisão de Iconografia da FBN, assinado por Monica Carneiro Alves e Monica Velloso Azevedo.










Mestres da Gravura: acima, capa
do catálogo da exposição, que
reproduz uma das gravuras da série
Le carcere d'invenzione, de
Piranesi, datada de 1750; e Cristo
na Cruz (A Crucificação), do alemão
Lucas Cranach, Sênior (1472-1553).

Abaixo, Cristo perante Herodes,
de Cranach; e As Três Cruzes (1653),
do holandês Rembrandt (1606–1669) 

 












Entre as centenas de preciosidades, os artigos destacam as séries mais valiosas do acervo da exposição, que não têm equivalentes em nenhuma outra coleção conhecida. Dos grandes mestres, ganham destaque pela ordem cronológica o item mais antigo do acervo, “Jesus Cristo descendo ao Limbo”, assinado por Andrea Mantegna (1431-1506). Na sequência está Albrecht Dürer (1471–1528), com as séries bíblicas dedicadas ao “Apocalipse” e a “Adão e Eva”, ambas datadas por volta de 1500, nas quais transparecem avanços no estudo das proporções humanas e a imensa variedade de tons e de texturas.



Importância histórica e simbólica



Na lista dos autores das obras mais valiosas do acervo também estão Rembrandt (1606–1669), com uma seleção de 12 gravuras, entre as quais estão quatro autorretratos; Francisco Goya (1746-1828), exímio gravador e maior pintor da Espanha no século 18, presente no livro e na exposição com nove obras-primas da série “Os provérbios” e mais cinco ilustrações para uma edição de “D. Quixote”, de Cervantes; e o italiano Giovanni Piranesi (1720-1778), que aparece com as séries “Le carcere d’invenzione” e “Le Antichità romane”.









Mestres da Gravura: acima, A Anunciação
aos Pastores (1634) e Autorretrato com
boina e cachecol (1633), do holandês
Rembrandt. Abaixo, Herodias (1774),
do espanhol Fernando Selma, e duas gravuras
da série Les misères et les mal-heures
de la guerre, de 1633, do mestre francês
Jacques Callot (1592-1635), intituladas
A Batalha O suplício da forca

















No que se refere à importância histórica e simbólica da coleção Mestres da Gravura, a historiadora Lilia Moritz Schwarcz destaca em seu artigo uma questão política, dramática e crucial: a coleção era tão valiosa que, na conta que o Brasil teve que pagar a Portugal pela sua Independência, a partir de 1822, o acervo da Biblioteca Nacional surgiu em um surpreendente segundo lugar, depois apenas do saldo da dívida pública.

A batalha acabou sendo ganha pelo Brasil, mas teve custo alto” – avalia Lilia Schwarcz. O acervo da Biblioteca Nacional aparecia avaliado em 800 Contos de Réis, um valor tremendamente alto no montante da dívida. “Para se ter uma ideia mais precisa”, destaca, “tal valor correspondia a 12,5% do total a ser pago, quatro vezes mais do que a famosa prataria da coroa ou do que a equipagem deixada no Brasil. Significava, portanto, muito, e em muitos sentidos: autonomia por aqui, desapego para o lado de lá. Incrível pensar como os livros, mais uma vez, eram protagonistas, desta vez na conta que se pagava pela liberdade do país”.

Muito além do valor em dinheiro, ressalta Lilia Moritz Schwarcz, havia a importância simbólica – para um país tão jovem como era o Brasil, foi uma forma de afirmação e mesmo de soberania contar com tal acervo de preciosidades em uma biblioteca que ostentava proporções monumentais, só comparável já naquela época à biblioteca nacional dos Estados Unidos, superando em valor e importância a maioria dos países da Europa e toda a extensão das Américas. Não é pouco, definitivamente.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Mestres da Gravura. In: Blog Semióticas, 28 de abril de 2014. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2014/04/mestres-da-gravura.html (acessado em .../.../…).














Lista completa de artistas da exposição

Mestres da Gravura



COLEÇÃO ALEMÃ

Albrecht Durër, Martin Schongauer, Israel van Meckenen, Lucas Cranach, Hans Sebald Beham, Martin Treu, Georg Pencz, Heinrich Aldegrever, Virgil Solis.


COLEÇÃO HOLANDESA

Rembrandt Harmenszoon van Rijin, Lucas van Leyden, Cornelis Cort, Hendrik Goltzius, Zacharias Dolendo, Jan Müller, Jacob Matham, Jan Saenredam, Nicolas Ennes Visscher, Willem Jacobsz Delff.


COLEÇÃO ITALIANA

Giovanni Battista Piranesi, Andrea Mantegna, Benedetto Montagna, Agostino dei Musi (o Veneziano), Marco Antonio Raimondi, Giovanni Battista Ghisi (o Mantuano), Marcos Dente, Jacopo de Barbari, dito Mestre do Caduceu, Mestre do Dado, Adamo Ghisi, Enea Vico, Lodovico Carracci, Agostino Carracci, Annibale Carracci, Francesco Brizzi, Guido Reni, Stefano della Bella, Giovanni Benedetto Castiglioni, Salvatore Rosa, Francesco Bartolozzi, Giovanni Volpato.


COLEÇÃO FRANCESA

Jacques Callot, Noel Garnier, François Perrier, Claude Mellan, Egidio Rousselet, Gérard Audran, Étienne Picart, dito o Romano, Gerard Edelinck, Petrus Devret, Charles Dupuis, Henri Simon Thomassin.


COLEÇÃO FLAMENGA

Jacob Van Den Bos, Jan Sadeler Sênior, Raphael Sadeler (o Velho), Cornelis Galle Sênior, Egidius Sadeler, Raphael Sadeler (o Jovem), Anton van Dyck, Pieter de Jode, Paulus Pontius.


COLEÇÃO INGLESA

William Hogarth, Benjamin Smith, Peter Simon, Charles Gauthier Playter, John Ogborne, Samuel Middiman, Robert Thew.


COLEÇÃO ESPANHOLA

Francisco Goya, José de Ribera, Manuel Salvador Carmona, Fernando Selma, Francisco Muntaner, Joaquín Ballester, Joaquín Fabregat.


COLEÇÃO PORTUGUESA

Vieira Lusitano (Francisco Vieira de Matos), Joaquim Manuel da Rocha, Antonio Joaquim Padrão, Manuel da Silva Godinho, Gregorio Francisco de Queiroz, João Caetano Rivara.







Mestres da Gravura: acima, The Bench (1758),
do inglês William Hogarth (1697-1764).

Abaixo, Trois machos et trois majas dansant,
Disparate feminino e Modo de Vida,
três das gravuras originais da série
Os Provérbios (1815) do espanhol
Francisco Goya (1746-1828)

















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