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11 de novembro de 2021

Cenas da Era do Rock

 




Saxum volutum non obducitur musco.      

    A rolling stone does not gather moss”. 

(Pedra que muito se move não junta musgo.)       

–– Publius Syrus (século 1° antes de Cristo).      



São fetiches para garantir a felicidade de muitas legiões de fãs: uma coleção de centenas de fotografias de grandes astros e estrelas da Era do Rock, que permaneciam inéditas desde as décadas de 1960 e início de 1970, e que só agora reveladas ao público. Trata-se do acervo do fotógrafo inglês Alec Byrne, que desde o final dos anos 1960 cobriu a cena cultural de Londres e acompanhou a trajetória de shows e entrevistas de bandas e músicos britânicos lendários como The Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, The Who, David Bowie, e também artistas de outros países que se apresentavam em Londres, incluindo Chuck Berry, Bob Dylan, Bob Marley, Jimi Hendrix, The Doors, Tina Turner, Aretha Franklin, Abba, Cat Stevens e muitos mais. Depois de mais de 50 anos, Alec Byrne revela seu acervo inédito no livro “London Rock: The Unseen Archive”, um catálogo de belas e surpreendentes imagens da Era do Rock.

Não foi intencional manter as fotografias inéditas por tanto tempo – como revela Alec Byrne na apresentação ao livro. Na verdade todas as imagens ficaram esquecidas em uma caixa nos fundos da garagem da casa onde o fotógrafo morou durante décadas em Los Angeles (EUA) e sobreviveram a incêndios e a inundações que destruíram milhares de outras imagens de sua coleção. Descobertas por ele próprio recentemente, quase por acaso, imediatamente foram digitalizadas, selecionadas e tratadas em photoshop e depois apresentadas à imprensa pelo próprio fotógrafo. Em seguida vieram eventos e shows para apresentação ao público no museu Rock and Rook Hall of Fame em Cleveland, Ohio, e no festival South By Southwest em Austin, Texas, além de uma exposição na National Portrait Gallery em Londres. Agora, finalmente, a seleção de imagens de Alec Byrne ganha publicação no livro de 254 páginas, na verdade um catálogo de luxo em lançamento da Insight Editions de Londres.






                             



Cenas da Era do Rock: no alto, o fotógrafo
Alec Byrne em autorretrato, no final da década
de 1960. Acima, a capa original de "London Rock",
livro de fotografias que reúne imagens que estavam
inéditas há mais de 50 anos, e Alec Byrne fotografado
trabalhando em seu estúdio em Los Angeles.

Abaixo, uma seleção de fotografias apresentadas
no livro, começando com David Bowie em
Paddington Street Gardens, em setembro de
1969; Jimi Hendrix com Mick Jagger em 1967;
e Elton John em julho de 1971, no palco, durante
o concerto no Crystal Palace Bowl

















Uma câmera Rolleiflex


Na apresentação ao livro, que também conta com um prefácio escrito pelo jornalista Tony Norman, o fotógrafo recorda que tudo começou quando ele tinha 17 anos e conseguiu um emprego de meio expediente como office-boy na agência Keystone Press, em Londres, em meados da década de 1960, e passou a conviver diariamente com muitos fotógrafos, repórteres e editores de jornais e revistas. Quando recebeu o primeiro salário, investiu comprando uma câmera Rolleiflex, com sua mãe assinando o contrato para a venda com pagamento em várias parcelas. Desde então, passou a frequentar shows e entrevistas, primeiro por prazer, e depois por investimento para construir um portfólio especializado em figuras do mundo do rock’n’roll, exercitando diariamente seu aprendizado como fotógrafo amador. Em pouco tempo, a publicação de suas fotografias ganhou espaço na revista “New Musical Express” e a assinatura de Alec Byrne passou de “fotógrafo amador” para “fotógrafo profissional”.

“Eu estava no lugar certo e na hora certa. Havia uma revolução musical acontecendo e eu estava bem no meio dela”, recorda o fotógrafo. No livro, ele também revela histórias saborosas e confidências sobre algumas das imagens, como o primeiro show de Jimi Hendrix em Londres, que teve na plateia nomes como Mick Jagger, Keith Richards, Eric Clapton e David Bowie, flagrados em retratos surpreendentes enquanto assistiam encantados à performance; a primeira apresentação das canções do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” pelos Beatles no Abbey Road Studios, em 1967, que também foi a primeira transmissão internacional de TV via satélite; ou um cigarro de maconha que Bob Marley dividiu com o fotógrafo na sessão de fotos realizada na suíte do cantor, no Montcalm Hotel, em Londres, em julho de 1975.














Cenas da Era do Rock: no alto, Anita Pallenberg,
Michele Breton e Mick Jagger
fotografados por
Alec Byrne em 1969 durante as filmagens de
"Performance", filme com direção conjunta de
Donald Cammell e Nicolas Roeg. Acima,
um flagrante dos Rolling Stones no palco
durante as gravações do especial para a TV
"Rock and Roll Circus", em 1968, com
Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones.

Abaixo, Brian Jones chegando para as
gravações do "Rock and Roll Circus",
e o registro de Alec Byrne no funeral de
Brian Jones, em junho de 1969. Também abaixo,
The Beatles, Ringo Starr, Paul McCartney,
John Lennon e George Harrison, durante
a transmissão via satélite em junho de 1967,
e Paul McCartney ao telefone em 1968








 


Retratos de grandes lendas


Em 1976, Alec Byrne recebeu uma oferta de trabalho para Los Angeles e se mudou definitivamente de Londres. Nos Estados Unidos, passou a trabalhar com outras pautas além da cobertura de música e terminou abrindo sua própria agência de fotografia, passando a se dedicar em seguida às funções administrativas. Desde então seus arquivos ficaram guardados e, com o passar do tempo, apenas uma ou outra foto foi comercializada para ilustrar álbuns em lançamento ou reportagens sobre grandes lendas da história do rock. No livro, ele recorda que a primeira grande perda aconteceu em Londres, em 1971, quando um incêndio destruiu o estúdio em que ele trabalhava, destruindo grande parte de seu acervo.







Não foi a única perda na trajetória do fotógrafo: durante a mudança para os Estados Unidos, centenas de outros negativos foram danificados pela água do mar no vazamento de um contêiner no navio, durante a travessia do oceano Atlântico. Anos depois, em 1994, o terremoto com magnitude de 6,7 que atingiu Los Angeles destruiu o antigo prédio em que ficava o escritório de Byrne e novamente centenas de negativos foram danificados ou definitivamente perdidos. Nos anos seguintes, vieram um outro incêndio e depois um alagamento que atingiram a casa em que ele morava em Los Angeles, novamente provocando perdas definitivas em fotos ampliadas e em seus negativos. O material que sobreviveu a tantos acidentes permaneceu guardado, ou esquecido, até ser redescoberto pelo fotógrafo.









                             




Cenas da Era do Rock: no alto, Bob Dylan
na entrevista coletiva, minutos antes de subir
ao palco no Festival da Ilha de Wight em 1969;
acima e abaixo, Jim Morrison à frente da
banda The Doors no palco da
Roundhouse, em setembro de 1968.

Também abaixo, Jimi Hendrix no palco do BBQ
em maio de 1967; Led Zeppelin no show "Eletric Magic",
em novembro de 1971; Tina Turner no Empire Pool,
em 1972; Grace Slick à frente da banda
Jefferson Airplane, em uma rua de Londres,
em 1970; e The Yardbirds na formação original,
com Jimmy Page à frente, nas gravações
de um especial para a BBC em 1967.

Também abaixo, Chuck Berry no palco do
Hard Rock, em 1973; Bob Marley na sessão
de fotos no Montcalm Hotel, em 1975;
e Aretha Franklin no camarim antes do
show no Hammersmith Odeon em 1968


 

 







                                    






 

Impacto emocional


Ao recordar sua trajetória e a história de suas fotografias, Alec Byrne conta que o entusiasmo que teve ao ter seu trabalho publicado pela primeira vez pelas revistas “New Musical Express” e “Melody Maker” mudou sua visão de mundo e o levou a um caminho que ele nunca havia planejado ou cogitado. Em 1969, aos 20 anos, ele fundou sua própria agência de fotografia em Londres e começou a vender fotos para revistas de todo o mundo. A trajetória seguiu uma linha ascendente por mais de uma década de shows e encontros com músicos e bandas em entrevistas e sessões de lançamentos e gravações, até que no final dos anos 1970, também por um acaso não planejado, Alec Byrne assumiu cada vez mais as funções de empresário e “aposentou-se” da música e dos ambientes do rock e seu acervo de imagens foi para as caixas de arquivo, onde permaneceu praticamente intocado e inédito durante décadas.

Quando eu estava fazendo essas fotografias, a princípio ainda adolescente, não tinha ideia – absolutamente nenhuma – de que estava registrando um dos momentos mais influentes da história da cultura pop. Na época, simplesmente senti que havia descoberto um ótima maneira de ganhar dinheiro e seguir a vida. Eu adorava tudo aquilo, mas a vida era agitada e não havia tempo para refletir sobre o que tudo significava”, confessa Alec Byrne, na apresentação ao livro. “Acho que uma das razões pelas quais todas essas fotografias ficaram guardadas nas caixas por tanto tempo é porque eu sempre pensei no que elas significavam para mim. Nunca me ocorreu, até depois das primeiras apresentações em público, o quanto estas imagens significavam também para outras pessoas. É maravilhoso, apesar dos incêndios, das inundações e do terremoto, e depois de todos esses anos, finalmente poder compartilhar estes retratos com outras pessoas e saber que o impacto das emoções que eles registram também significa muito para tanta gente”.


por José Antônio Orlando.


Como citar:


ORLANDO, José Antônio. Cenas da Era do Rock. In: Blog Semióticas, 11 de novembro de 2021. Disponível em https://semioticas1.blogspot.com/2021/11/cenas-da-era-do-rock.html  (acessado em .../.../…).


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12 de novembro de 2015

Atualidades de Barthes






Saber que não escrevemos para o outro, saber que essas coisas
que eu vou escrever jamais me farão amado de quem amo, saber
que a escrita não compensa nada, que ela está precisamente ali
onde você não está –– é o começo da escrita.

 ––  Roland Barthes, "Fragmentos   
de um Discurso Amoroso" (1977).     
 
Mais de três décadas depois de sua morte, as homenagens ao centenário de nascimento de Roland Barthes, completado neste dia 12 de novembro de 2015, confirmam sua importância valiosa e inquestionável como um dos principais pensadores de nossa época e um dos nomes mais influentes de sua geração. Barthes – o professor com “p” maiúsculo que postulou uma “Ciência dos Signos” – sempre erudito, sedutor, instigante e inquietante, surge nas mais de 6 mil páginas de sua “Obra Completa” como um autor de difícil classificação e um “sujeito impuro”, na definição dele mesmo. Na falta de um rótulo melhor, ele ainda é, quase sempre, chamado de “crítico” – mas talvez mereça ser nomeado, de forma mais fulgurante, como um grande “escritor”: um escritor disfarçado de pensador.

O escritor Roland Barthes demonstrou que não busca a diferença entre verdade e aparência. Muito pelo contrário. Para ele, tudo no mundo é aparência, tudo é linguagem e superfície: tudo é texto, inclusive a variedade dos aspectos não verbais, o pictórico, o fotográfico, os gestos, os afetos, passíveis de interpretações plurais e complementares – como ele próprio argumentou, desde a década de 1950, em suas abordagens de intérprete original dos códigos da cultura de massa, das instituições literárias, das ideologias e dos diversos sistemas de signos codificados na vida cotidiana.

Se é verdade que, por longo tempo, quis inscrever meu trabalho no campo da ciência literária, lexicológica ou sociológica” – disse Barthes em sua magistral aula inaugural em 1977, no Collège de France, depois transformada em livro – "devo reconhecer que produzi tão somente ensaios, gênero incerto onde a escritura rivaliza com a análise". A teoria, sutil e original, que emerge dos ensaios de Barthes, com a permanência de sua presença e sua influência na atualidade, é destacada nas entrevistas que fiz, a convite da revista “Em Tese”, da UFMG, com três das professoras da universidade que têm importância fundamental como precursoras dos estudos sobre ele: Angela Senra, Eneida Maria de Souza e Vera Casa Nova (veja, no final deste artigo, os links para a íntegra das entrevistas e para o programa de TV da Rede Minas sobre o centenário de Barthes).




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Atualidades de Roland Barthes: no alto,
Barthes aos 35 anos, em 1950, quando
trabalhou como professor em Alexandria,
no Egito. Acima, Barthes em casa, em seu
escritório de trabalho, em Paris, fotografado em
dois momentos: em 1975, por Sophie Bassouls;
em 1978, por Jerry Bauer. Também acima,
um retrato do escritor em lápis sobre papel
feito por Alan Brooks em 2010 a partir
de uma fotografia de Barthes no escritório
feita por Julian Guindeau para a revista
L'Express na década de 1970 (abaixo).

Também abaixo, Barthes recebe a visita de
Umberto Eco em Paris: o mestre encontra
um dos seus discípulos, fotografados
por Macchi Polymnia em 1970









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Subversivo, sóbrio, elegante



A primeira pergunta que apresento, nas três entrevistas, é sobre o papel e o lugar de Roland Barthes na atualidade. Qual é a melhor definição para Barthes? Escritor, professor, pensador, sociológico, ensaísta, crítico da literatura, da linguagem, da moda, da mídia, da arte, teórico da Semiótica, da Semiologia, da Cultura? Existencialista, marxista, estruturalista, moderno, pós-moderno?

É por demais notória a importância de Roland Barthes para a crítica literária e cultural”, explica Eneida Maria de Souza. “Sua atuação em vários campos do saber, indo da crítica literária às artes plásticas, não cessa de ser reatualizada pelos novos estudiosos nas academias e em pesquisas desvinculadas dos saberes institucionalizados. Com a publicação de textos inéditos, como diários e aulas ministradas no Collège de France, temos uma leitura renovada de seu legado.”


















Atualidades de Roland Barthes: imagens 
do escritor em 1977, durante entrevistas às
TVs francesas, falando sobre o lançamento
de uma de suas obras-primas, o livro 
Fragmentos de um Discurso Amoroso.
 
Abaixo, Barthes em Paris, em fotografia
de 1970 de Macchi Polymnia; e em três
momentos no ano de 1979: fotografado
por Marion Kalter e, a seguir, por
Ulf Andersen e por David Herali





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Para Vera Casa Nova, não há definições que possam enquadrar a presença e a importância de Roland Barthes. “Ele é plural por excelência. Sua função foi e será o questionamento, a desconstrução dos saberes e seus textos. Esse é o papel de Roland Barthes, ontem, hoje e sempre, sem modismos teóricos. Com certeza ele não gostaria de ser de alguma forma rotulado, pois com todas essa funções que você enumerou, ele só poderia ser esse sujeito plural a que me referi anteriormente. Cito ele mesmo – Eu sou eu mesmo meu próprio símbolo. Eu sou a história que me acontece: uma roda livre na linguagem... Je n’ai rien à quoi me comparer... inumeráveis são as narrativas do mundo...”

"Barthes é o intelectual subversivo, o professor formador de outros intelectuais, situando os imaginários da relação didática", completa Angela Senra. "Fui aluna de Barthes na Escola Prática dos Altos Estudos, em Paris, em 1971 e 1972. Descobrimos, com Barthes, um processo permanente de invenção. Assim como faz em seus textos, o Barthes em sala de aula reinventava citações, chegava ao inter-texto. Aos deslocamentos. Barthes é uma lição permanente: ele é o intelectual e professor 'desconfiado'. Aquele que questiona os mecanismos do poder, subverte as diferentes linguagens. E era um homem sóbrio, elegante. Cortês. Polidez nas palavras, nos gestos. Voz baixa. Tranquilidade na fala. Continuei e continuo lendo Barthes".

















O pensamento libertário



Eneida Maria de Souza também recorda a elegância e o estilo incomparável de Roland Barthes em sala de aula. “Assisti às aulas de Barthes quando fui para Paris para o Doutorado, em 1978. A partir daí, o contato com sua obra foi mais intenso, com as publicações de 'A Câmara Clara', de artigos escritos no 'Nouvel Observateur' e na sua atenção mais centrada nas disciplinas afins da literatura, como o cinema e a fotografia. Assisti a várias aulas no Collège de France ministradas por ele, as quais me fizeram conviver com sua maneira magistral de proferir conferências. No segundo tempo do curso havia sempre um convidado a falar, entre eles Gilles Deleuze, Octave Manonni, entre outros. Era um espetáculo, assistido pelos estudantes franceses e estrangeiros, entre eles quem passava por Paris por tempo curto”.

Vera Casa Nova, que teve os primeiros contatos com a obra de Barthes em 1968, em um curso ministrado pela professora Dirce Cortes Riedel no Rio de Janeiro, na antiga UEG (hoje UERJ), destaca que Barthes continua atual e importante para compreender as questões não só da literatura, mas também da arte contemporânea e da comunicação de massa. “O olhar de Barthes persegue os sentidos (e os não-sentidos) em qualquer arte, sobretudo em suas abordagens críticas sobre a comunicação de massa. No evento em comemoração ao centenário, 'Roland Barthes Plural', realizado em junho na Casa das Rosas, em São Paulo, vi isso claramente. Quem lê Barthes ama-o e essa afetividade, como ele queria que fosse nossa maior potência, deixa-nos impregnados. Ao citar suas ideias e textos, os atualizamos”.













Atualidades de Roland Barthes presentes
na Cultura de Massa –– em 2011, Barthes e
outros filósofos visitaram um dos episódios
de The Simpsons: a partir da esquerda,
Immanuel KantSocratesWittgenstein,
Karl MarxBarthes, Jean-Paul Sartre,
Frederich Nietzsche e Michel Foucault.
Em 1967, na caricatura de Maurice Henry
publicada na revista La Quinzaine Littéraire
(a partir da esquerda, Michel Foucault,
Jacques Lacan, Claude Lévi-Strauss e
Barthes). Também acima, encontro da equipe da
revista Tel Quel em 1974 no Café Le Bonaparte,
Paris. A partir da esquerda, Philippe Sollers,
Marcelin Pleynet, Josephine Fellier, Julia Kristeva,
Barthes, François Wahl e Severo Sarduy,
fotografados por Mario Dondero.

Abaixo, grafite no Collège de France em
homenagem ao centenário de Barthes;
e Barthes como ator, interpretando o
o escritor britânico do século 19
William Makepeace Thackeray em
As irmãs Brontë (Les soeurs Brontë),
filme de 1979 de André Téchiné que
também tem no elenco, no papel das
três irmãs escritoras, as atrizes
Marie-France Pisier (Charlotte),
Isabele Adjani (Emily) e
Isabelle Huppert (Anne)











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O olhar atento de Roland Barthes sobre diferentes textos e linguagens diversas, sua postura crítica, também são ressaltados por Angela Senra, que aponta a importância das primeiras experiências sobre a recepção de Barthes no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, durante a ditadura militar. "Na década de 1960 e mesmo nos primeiros anos de 1970, Barthes ainda 'não cabia' no Brasil. O ambiente intelectual era bastante conservador. O golpe militar de 1964 intensificou a linha pétrea de pensamento. Havia alguns intelectuais 'à esquerda' mas, eles também, eram dogmáticos. Barthes foi chegando devagar, com outros pensadores que participaram da efervescência cultural francesa de 1968, 1970... Foucault, Deleuze, Guattari, Lacan, Derrida, Blanchot. Barthes e todos esses intelectuais deram importante contribuição para a cultura brasileira moderna".



Fragmentos para uma Fotobiografia



Os escritos e os ensinamentos de Roland Barthes percorrem um dos caminhos mais originais da crítica contemporânea e da Teoria da Cultura. Em sua trajetória biográfica e teórica, um dos textos que considero mais importantes, por motivos diversos, talvez seja “A Câmara Clara” (La Chambre Claire, 1980), o último livro que publicou em vida. Em sua mistura incomparável de pesquisa acadêmica, diário confessional e tese sobre a Semiótica da Fotografia, “A Câmara Clara” representa, de uma só vez, um momento de síntese e de ruptura – no que se refere às principais questões e conceitos desenvolvidos pelo autor em busca de uma teoria sobre a linguagem específica dos signos não-verbais.









Fragmentos para uma Fotobiografia: acima,
Barthes com sua mãe, Henriette, em 1923,
e no Liceu Montaigne, em 1930.

Abaixo, Barthes aos 27 anos, em 1942,
durante a Segunda Guerra, no período
em esteve internado no sanatório
estudantil de Saint-Hilaire-du-Touvet
para tratamento de tuberculose







Considerado por muitos como o mais autobiográfico de todos os livros que Barthes publicou – e, talvez, também o mais filosófico – “A Câmara Clara” apresenta um discurso fragmentado, francamente subjetivo e não linear, a meio-fio entre o ensaio e o romance. Relato afetivo, pontuado de metalinguagem sobre a pesquisa e o método, mas longe de estabelecer uma metodologia reconfortante, este último livro de Barthes, mais do que todos os outros que ele publicou, merece por certo o adjetivo “inquietante”.

São as questões e conceitos elaborados por Barthes, especialmente em “A Câmara Clara”, que fundamentam esta seleção de imagens biográficas sobre sua trajetória, aqui reproduzida ––  e que também apresentei em uma conferência intitulada "Fragmentos para uma Fotobiografia", na abertura da Jornada Barthes, na UFMG, realizada em homenagem ao seu centenário de nascimento.



1. Álbum de Família

Roland Barthes aos 8 anos, em 1923, no colo de sua mãe, Henriette Barthes, fotografados em frente à casa da família em Cherbourg-Octeville, região Norte da França.


2. Liceu Montaigne

Barthes aos 15 anos, em 1930, quando era estudante do Liceu Montaigne, em Paris. É no Liceu que Barthes descobre o gosto pelos dicionários e pela etimologia. 


3. Sanatório de Saint-Hilaire-du-Touvet

Barthes aos 27 anos, em 1942, quando esteve internado no sanatório estudantil de Saint-Hilaire-du-Touvet para tratamento de tuberculose. Foi na revista “Existences”, editada pelos alunos e professores do sanatório, que Barthes publicou seus primeiros textos. 







4. Alexandria, Egito

Acima, Barthes aos 35 anos, em 1950, durante a temporada em que trabalhou como professor em Alexandria, no Egito, onde também concluiu as pesquisas e rascunhos do que seria seu primeiro livro publicado, “O Grau Zero da Escritura” (Le Degré Zéro de L'Écriture, 1953).


5. Barthes por Cartier-Bresson

Abaixo, Barthes fotografado por Henri Cartier-Bresson em sua casa, em Paris, em 1963 – ano em que publica um de seus livros que geraram grandes polêmicas, “Sobre Racine” (Sur Racine). 







6. Barthes no Marrocos

Barthes fotografado no Marrocos, em 1969, quando passou uma temporada naquele país como professor da Faculdade de Letras de Rabat. As anotações de Barthes sobre a temporada no Marrocos dariam origem ao livro “Incidentes” (Incidents, 1987).


7. Na China com Kristeva

Barthes com Julia Kristeva durante a viagem de uma delegação francesa à China, em 1974. Da delegação, além de Barthes e Kristeva, também participaram Philippe Sollers, Marcelin Pleynet e François Wahl. As anotações de Barthes sobre a viagem foram publicadas no livro “Cadernos da Viagem à China” (Carnet du Voyage em Chine, 2009).








Fragmentos para uma Fotobiografia: acima,
Barthes no Marrocos, em 1969, quando trabalhou
como professor da Faculdade de Letras de Rabat.
Abaixo, com Julia Kristeva durante a viagem
da delegação francesa à China, em 1974












8. Um escritor ao piano

Barthes tocando piano em casa, fotografado em 1975 por Sophie Bassouls. O pesquisador dos signos e dos textos literários e não-verbais praticava música desde a infância, tanto no piano como no canto. Barthes sabia ler partituras como um mestre e durante as décadas de 1930 e 1940 chegou a escrever partituras para piano, voz, flauta e violoncelo. Durante sua trajetória, publicou diversos artigos dedicados à análise musical. Schumann era seu compositor favorito. 


9. Aula no Collège de France

Barthes fotografado na tarde do dia 7 de janeiro de 1977, durante sua aula inaugural para a cátedra de “Semiologia Literária” no Collège de France. A apresentação de Barthes, considerada magistral pelos alunos e pela banca de avaliação, posteriormente foi publicada no livro “Aula” (Leçon, 1978). 


10. A última fotografia

Barthes em sua última fotografia, em 25 de fevereiro de 1980. Barthes enviou os originais para a publicação de “A Câmara Clara” e seguiu a caminho do apartamento de Philippe Serre, na rua des Blancs-Manteaux, no Marais, em Paris, onde participaria de um almoço junto com outros intelectuais e o futuro presidente da França, François Miterrand. Depois do almoço, quando retornava para sua casa, Barthes foi atropelado ao atravessar a rua des Écoles. Foi hospitalizado, mas morreria de complicações decorrentes do acidente, exatamente um mês depois, em 26 de março. Estava com 64 anos.



por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Atualidades de Barthes. In: Blog Semióticas, 12 de novembro de 2015. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2015/11/atualidades-de-barthes.html (acessado em .../.../…).


Para acessar o Dossiê Barthes publicado na revista "Em Tese"
da UFMG, clique na imagem abaixo:





Assista o programa de TV produzido pela Rede Minas
em homenagem ao centenário de Roland Barthes:






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Fragmentos para uma Fotobiografia:
no alto, Roland Barthes em 1977, durante
sua aula inaugural da cátedra de “Semiologia
Literária”, ministrada no Collège de France.
Acima, a última foto, em 25 de fevereiro de 1980


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