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7 de março de 2015

A imitação de Banksy









Quem se interessa por Arte e Política conhece bem as criações de Banksy, o misterioso artista do grafite, do qual ninguém sabe a verdadeira identidade. Sabe-se apenas que Banksy é um pseudônimo. E é exatamente esta contradição que alimenta a aura de mistério sobre ele – uma celebridade que se mantém no anonimato desde quando surgiram seus primeiros trabalhos, no final da década de 1980, nas ruas e muros da cidade de Bristol, na Inglaterra, que se supõe ser sua terra natal.

Depois de Bristol, os polêmicos grafites de Banksy passaram às ruas de Londres e, hoje, estão espalhados por várias cidades e países – inspirando muitas reflexões e muitos outros artistas a seguir pela mesma trilha do inconformismo e da contestação. Mais de duas décadas depois da estreia de Banksy, o mistério continua, na melhor tradição das histórias de super-heróis que lutam para salvar o planeta, mas permanecem no anonimato (veja também Semióticas: A guerra de Banksy).

Com o passar do tempo, o artista do grafite em sua identidade secreta, tal e qual os super-heróis da ficção que atuam para salvar o planeta Terra, tem deixado a marca ideológica e estética de sua irreverência em paredes de cidades do mundo inteiro, de Londres, Paris e Nova York à América Latina, à Palestina, ao muro de Israel e até nos confins da África. Mas, afinal, trata-se do trabalho real de um só artista ou trabalho coletivo de muitos, que se apropriaram da ideia original? Eis uma fronteira cada vez mais e mais difícil de ser demarcada.









A imitação de Banksy: no alto,
Show me the Monet (Me mostre
o Monet), a clássica pintura de
Claude Monet de 1907 sobre a
ponte na Lagoa das Ninféias, nos
jardins de Giverny, França, em
releitura crítica no grafite de
Banksy. Acima, crianças da África
em grafites recentes assinados por
Banksy em Bristol, Inglaterra,
que se supõe ser a terra natal do
artista. Abaixo, uma releitura para
Der Kuss (O beijo), pintura de
Gustav Klimt de 1907, grafitada
nas ruínas de Damasco, capital
da Síria, por Tammam Azzam,
artista local que também é
conhecido como Banksy da Siria






 .

 

Arte multimídia



Além de ter se tornado nos últimos anos o artista mais importante do grafite, Banksy também investe em outras mídias: seus vídeos e vinhetas têm milhões de acessos no Youtube e ele também mantém um site oficial, onde publica seus grafites, suas esculturas e trabalhos de design gráfico, sempre com seu característico tom satírico e provocador. Seu primeiro filme de longa metragem, “Exit Through the Gift Shop” (Saindo da loja de presentes), fez sucesso assim que estreou, em 2010, no prestigiado Sundance Film Festival, foi exibido em cinemas da Inglaterra e outros países e, no ano seguinte, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário.








A imitação de Banksy: abaixo, 
o satírico Mãe e filho, no grafite
original de Banksy e na recriação
que foi produzida pelo fotógrafo
Nick Stern. Acima, duas amostras
da arte polêmica do mais misterioso
dos grafiteiros apresentadas nos
muros em Nova York em 2013









Entre as recentes novidades do misterioso Banksy também está uma denúncia de genocídio: um filme e novos grafites de seu retorno à Faixa de Gaza, no Oriente Médio, território habitado por palestinos e bombardeado com frequência pelas tropas do Estado de Israel. Banksy deixou grafites nas ruínas de Gaza e registrou em um documentário o resultado da ação militar dos israelenses, que além de destruir e matar, sob o pretexto de combate ao “terrorismo”, ainda impedem a entrada de alimentos, de ajuda humanitária e de cimento para a reconstrução das casas.

No filme sobre o martírio imposto por Israel aos palestinos, tão impactante quanto breve (tem cerca de dois minutos de duração), intitulado “Make This The Year You Discover a New Destination” (Faça deste o ano em que você descobre um novo destino), Banksy usa a linguagem estereotipada dos anúncios publicitários de agências de viagens para mostrar o cenário terrível da miséria e da destruição em Gaza. Comove e impressiona – como acontece com a maior parte da arte que Banksy produz. 








A imitação de Banksy: no alto, o
cartaz original do primeiro filme de
Banksy, o documentário Exit
Through the Gift Shop (Saindo
da loja de presentes). Acima, grafite
recente de Banksy na Faixa de Gaza,
em cena do curta-metragem Make
This The Year You Discover a New
Destination (Faça deste o ano em
que você descobre um novo destino)





 


Guerra e Spray



Pontuado por comentários mordazes sobre os absurdos da sociedade contemporânea, o consumismo, as guerras e o conformismo, o trabalho polêmico e contestador de Banksy alcançou em prestígio e importância a arte de rua dos pioneiros Keith Haring (1958-1990) e Jean-Michel Basquiat (1960-1988) – que no final dos anos 1970 e na década de 1980 passaram dos muros e prédios públicos de Nova York para as galerias de arte e os grandes museus. Banksy não autoriza a comercialização de sua obra, mas alguns de seus trabalhos foram “sequestrados” das ruas e depois leiloados, também passando a fazer parte do acervo de museus e colecionadores endinheirados.

Em seu primeiro e único livro publicado, o autobiográfico “Guerra e Spray”, Banksy não reconhece influências dos hoje célebres Keith Haring e Jean-Michel Basquiat, que se tornaram nomes valiosos e disputados no mercado internacional de arte. Para ele, seus precursores são as inscrições de protestos anônimos nas paredes de Roma, na Antiguidade, e as palavras de ordem poéticas e subversivas dos ativistas de maio de 1968, na França – além de nomes do movimento punk e da cena “underground” que vieram antes dele, entre eles os parisienses Blek Le Rat (pseudônimo de Xavier Prou) e Speedy Graphito (pseudônimo de Olivier Rizzo) e o inglês Robert Del Naja, também conhecido como 3D, criador da banda Massive Attack.









Imitação de Banksy: Atirando flores,
um dos grafites mais conhecidos de
Banksy, reproduzido na capa de seu
até agora único livro, Guerra e Spray,
e a recriação de Nick Stern. Abaixo,
o garoto com a arma pesada, na
recriação de Stern e no original de
Banksy grafitado nas ruas de Londres;
a Mona Lisa armada com bazuca;
e a garota que dá um abraço na bomba.

Também abaixo, um abraço no grafite em
Paris assinado por Jef Aérosol, pseudônimo
do artista de rua Jean-François Perroy, que
tem a arte de Banksy como referência e desde
a década de 1980 espalha mensagens contra
toda forma de ódio e preconceito. E arte de
Banksy apresentada nas ruas de Londres
e na versão fotográfica segundo Nick Stern
em duas obras que também já se tornaram
clássicos da arte de rua: o Cristo
crucificado e consumista,
e o homem primitivo se alimentando
dos lanches McDonald's em embalagens
descartáveis de plástico e de isopor


















Enumerar os precursores de Banksy é mais fácil do que apontar a extensa relação dos nomes que ele influencia pelo mundo afora – inclusive no Brasil, onde o misterioso grafiteiro é referência confessa para nomes de destaque como Nunca (pseudônimo de Francisco Rodrigues da Silva), Eduardo Kobra e os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, mais conhecidos como Osgêmeos. Na lista dos artistas de rua que fizeram parcerias com Banksy ou que reconhecem sua influência direta também estão os ingleses Mr. Brainwash, Hopare, David Walker e D*Face; os italianos Pixel Pancho e Alice Pasquini; os franceses Jef Aérosol, Brusk e C215; os espanhóis Neko, 3ttman e Suso 33; os cubanos JR e José Parlá; os australianos Loui Jover e Be Free; o artista da Síria, Tammam Azzam; Mark Samsonovich, de Nova York; e os artistas anônimos do coletivo parisiense Meme IRL, entre muitos e muitos outros em vários países.

Entre os súditos incondicionais que Banksy tem conquistado pelo mundo afora também está o fotógrafo inglês Nick Stern. Depois de viajar pelos países da Europa, África, Ásia e Américas atuando como repórter fotográfico para a BBC e a CNN, Nick Stern passou a homenagear a arte de Banksy com um projeto que já recebeu vários prêmios e elogios até do misterioso grafiteiro: com a série fotográfica intitulada “You Are Not Banksy”, Stern recriou dezenas de grafites de Banksy usando atores e uma minuciosa produção para reproduzir cada detalhe das obras originais.




 



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Banksy em terceira dimensão



Em breve entrevista que fiz com Nick Stern por e-mail, concedida através de seu site oficial, o fotógrafo falou de sua admiração pela arte contestadora de Banksy e explicou que sua iniciativa de recriação em terceira dimensão de alguns dos grafites mais conhecidos do artista surgiu em 2011, durante a série de violentas manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas de Londres, sua cidade natal. A ideia, segundo Stern, veio por acaso e foi logo colocada em prática, aproveitando a popularidade dos grafites de Banksy entre a maior parte do público de seu país.

Eu estava cobrindo as manifestações em Londres e, em determinado momento, fotografei um jovem usando capuz que lançava uma pedra contra os policiais. Aquilo me lembrou imediatamente daquele grafite de Banksy em que um manifestante atira não pedras ou bombas, mas um buquê de flores”, recordou Stern. “Então eu pensei que seria um projeto interessante se eu recriasse uma cena de tumulto com as pessoas atirando flores em vez de coquetéis molotov. Essa ideia evoluiu depois para as recriações que fiz de alguns dos grafites de Banksy”.









A imitação de Banksy: o beijo às
escondidas dos policiais, registro de
Banksy em Brighton, Inglaterra, e
a versão fotográfica de Nick Stern.

Abaixo, duas cenas irônicas e indiscretas:
o soldado da Guarda Real Britânica
fazendo xixi sem cerimônia e os 
dois militares pegos em flagrante
 enquanto grafitavam o símbolo da
Paz – na versão original criada por
Banksy e na releitura de Stern














Observando as recriações dos grafites polêmicos pelas fotografias de Nick Stern e a proliferação de postagens sobre o mais misterioso dos grafiteiros no Facebook, no Twitter e em tantos sites na Internet, fiquei pensando na repercussão das homenagens – e na dimensão globalizada da popularidade crescente que a obra contestadora de Banksy alcança entre as pessoas comuns e entre outros artistas, incluindo os famosos e os anônimos.

A influência de Banksy, afinal, confirma que o grafite deixou de ser uma atividade proibida, improvisada nas ruas, registrada às escondidas em muros e fachadas, para ganhar cada vez mais prestígio e destaque. Com tudo isso, a grande vantagem é que a arte do grafite deixa de ser confundida pelos leigos com pichação e vandalismo e vai conquistando mais espaço para, quem sabe, mudar as pessoas e a atitude que elas têm diante da vida e do mundo ao redor.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. A imitação de Banksy. In: Blog Semióticas, 7 de março de 2015. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2015/03/a-imitacao-de-banksy.html (acessado em .../.../...).









Para visitar o site oficial de Banksy,  clique aqui.












A imitação de Banksy: acima, as
obras de Arte & Política estampadas
nos grafites originais de Banksy e nas
versões fotográficas de Nick Stern
para A menina e o soldado e para
a denúncia de tortura comandada
oficialmente pelo governo dos EUA
em O prisioneiro de Guantánamo.

Abaixo, a recriação de Nick Stern para
Slave Labour, denúncia de Banksy sobre
o trabalho escravo e o trabalho infantil
explorado por fábricas terceirizadas que
produziram enfeites e lembranças para as
Olimpíadas realizadas em 2012 em Londres






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