5 de janeiro de 2014

Tribos do fim do mundo









O inglês Jimmy Nelson apresentou ao público em livro e em seu site na Internet um acervo fascinante: centenas de fotografias que registram as tribos mais remotas nos cinco continentes do Planeta Terra. São imagens estranhas e belíssimas do projeto “Before They Pass Away” (Antes que desapareçam), iniciado pelo fotógrafo com a meta de visitar tribos e povos isolados nos confins que mantêm suas tradições com pouco ou nenhum contato com a “civilização” do resto do mundo.
Em 2009 eu decidi colocar em prática um antigo sonho de visitar as tribos mais isoladas em todos os continentes para registrar cenas de suas vidas cotidianas, suas tradições milenares, participar de seus rituais e alertar para o perigo de que o mundo 'civilizado' pode levar muito em breve todos estes povos indígenas e suas maravilhosas culturas à extinção”, relata o fotógrafo na apresentação do projeto.

As belas e surpreendentes fotografias da primeira etapa de "Before They Pass Away", registro das 13 excursões de Jimmy Nelson e sua equipe às tribos mais isoladas em 44 países, foram reunidas por ele em um site aberto ao público e em um livro – na verdade um luxuoso catálogo fotográfico de 464 páginas, 500 imagens e textos em inglês, alemão e francês. O livro está à venda exclusivamente na Amazon e no site do fotógrafo (veja links no final deste texto). A próxima etapa do projeto, segundo Jimmy Nelson, é transformar os registros em um documentário para cinema.














                                 




Tribos do fim do mundo segundo
o fotógrafo Jimmy Nelson: no alto,
guerreiro da tribo Masai na Tanzânia.
Acima, o fotógrafo em ação, no
território da tribo Huli, em Papua,
Nova Guiné; dois irmãos da tribo Huli;
a capa do primeiro catálogo e a
rota das expedições iniciadas em 2009
por Jimmy Nelson por 44 países, com os
 pontos de partida para territórios isolados.

Abaixo, os guardiões do povo Ngalop, no
Reino do Butão, sul da Ásia, extremo leste
dos Himalaias; guerreiros da tribo Samburu,
no Quênia, África; e guerreiros da tribo Yali,
na Indonésia, em fotografia de 2010



    


 


                                 
         
 

Histórico de massacres



Meu objetivo, desde o início do projeto, foi criar através das fotografias um documento estético ambicioso que pudesse resistir ao teste do tempo. O resultado é que acabei por reunir um grande acervo de registros insubstituíveis de um mundo que está desaparecendo muito rapidamente”, explica o fotógrafo. Desde o início de 2009, Jimmy Nelson e sua equipe de poucas pessoas passaram períodos de pelo menos duas semanas em cada uma das diferentes tribos fotografadas e o projeto prossegue em novas etapas, sem previsão para ser concluído..

A meta inicial do fotógrafo para esta primeira parte do projeto era registrar 31 tribos, mas no total foram visitadas 29. Duas das tribos, situadas na Amazônia do Brasil, por causa da legislação em vigor não puderam ser visitadas pelo fotógrafo e sua equipe: elas estão localizadas no Vale do Javari, uma extensa região de mata fechada e de difícil acesso onde se concentra o maior número de tribos isoladas do mundo, incluindo um número não identificado de povos que nunca tiveram nenhum contato com não-indígenas. Em cada uma das tribos contactadas nos 44 países, as fotos de Jimmy Nelson revelam belezas e surpresas que incluem os cenários naturais incomuns e as antigas tradições pouco conhecidas – como os elementos culturais de vestimentas, animais exóticos domesticados, alimentação, cerimônias festivas e rituais religiosos. 











Tribos do fim do mundo: no alto,
guerreiros da tribo Vanuatu nas
pequenas ilhas do arquipélo da
Melanésia, no Oceano Pacífico,
seguidos por guerreiros da tribo
Samburu, no Quênia, África, e pela 
tribo Kalam em Papua, Nova Guiné.

Abaixo, guerreiros nômades da tribo
Masai no Parque Nacional de Seringeti,
ao norte da Tanzânia, África, com extensas
planícies que abrigam a maior migração
de mamíferos do planeta Terra; e um
chefe e seus dois filhos do povo Mursi,
nas montanhas isoladas ao sudoeste
da Etiópia, na África










 
O fotógrafo explica que ninguém sabe ao certo quantas tribos isoladas ainda existem atualmente no Planeta Terra. Os informes oficiais indicam que há pelo menos 150 – a maioria delas situada em regiões inacessíveis da Amazônia no Brasil e nas centenas de ilhas pouco conhecidas dos oceanos Índico e Pacífico, especialmente na região de Nova Guiné. Também há registros de tribos isoladas no Peru e em todos os países da área da floresta amazônica, assim como nas regiões de montanhas mais distantes de áreas urbanas da Índia, da Malásia e da África Central.
No Brasil, os levantamentos oficiais da Funai (Fundação Nacional do Índio) identificaram nos últimos anos pelo menos 114 povos indígenas isolados nas regiões Norte e Centro-Oeste, sendo que apenas 28 foram contactados e identificados. Entre os restantes, está uma maioria de povos não-contactados, realmente desconhecidos de qualquer estudo ou de missões de reconhecimento de território, e também os “isolados voluntariamente”, aqueles que resistem a qualquer aproximação devido a contatos violentos no passado que resultaram em massacres de tribos inteiras. Pouco se sabe sobre estes grupos isolados: não é possível estimar os números da população de cada tribo nem a qual grupo linguístico pertencem, e sua existência tem apenas registros de objetos encontrados ou de raros avistamentos.

 







 
           




Registros de Jimmy Nelson sobre
as tribos do fim do mundo: no alto,
mulheres Maori, tribo que há muitos
séculos habita a Nova Zelândia.
Acima, os Dropka, tribo da Índia,
e a tribo Bana, na Etiópia. Abaixo,
tribo Iatmul em Papua, Nova Guiné;
tribo Nduga, das ilhas na Indonésia;
e os guerreiros Samburu no Quênia









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O perigo mortal do contato


Mas nem só de elogios foi a recepção do projeto de Jimmy Nelson. Entidades como a Survival Internacional, que tem sede em Londres e atua na defesa dos direitos das populações indígenas, alertam que os contatos com as tribos isoladas sempre representam um perigo mortal, pela violência do próprio contato ou por consequências imprevisíveis como a propagação de doenças “civilizadas”: um simples vírus que provoca uma gripe sem gravidade pode dizimar tribos inteiras em poucos dias.  
Há também quem acuse Jimmy Nelson de buscar promoção pessoal repetindo o trabalho já realizado por outros fotógrafos, como o brasileiro Sebastião Salgado. As críticas partem de um argumento que pode ser facilmente constatado, porque os mesmos povos e as mesmas regiões isoladas do planeta que Sebastião Salgado vem fotografando há mais de uma década para o projeto Gênesis, em impecável preto-e-branco, agora surgem fotografados em cores vibrantes no projeto de Jimmy Nelson.
 




                                  



                                  





O fotógrafo Jimmy Nelson em 2010,
fotografado no Tibete; em 2009, com
crianças da tribo Goroka, na Indonésia;
e em 2012, em uma das tribos no Sudão

Abaixo: 1) e 2) nativos das Ilhas Marquesas,
um dos cinco arquipélagos da Polinésia
Francesa, em áreas remotas do Oceano
Pacífico; 3) nativos do arquipélago de
Vanuatu
, na Melanésia, região do Oceano
Pacífico situada ao nordeste da Austrália;
4) o fotógrafo em ação, na África,
acompanhando mulheres da tribo
Himba no deserto da Namíbia;
5) e 6) meninos brincando e um
casal da tribo Karo, habitantes do
vale arqueológico do Omo, na Etiópia;
7) a família de esquimós da tribo
Nenets, povo nômade das regiões
remotas da Sibéria, ao norte da Rússia




    















Alheio a todas as críticas e às polêmicas, Jimmy Nelson anuncia em seu site que o projeto "Before They Pass Away" vai continuar e que já estão sendo planejadas novas expedições às regiões mais inóspitas da Terra. Um detalhe interessante é o equipamento usado por Jimmy Nelson: uma antiga câmera 4 X 5 e negativos de grande formato que estão há décadas fora do mercado e que a maioria dos profissionais considera obsoletos.  
“O ser humano é muito parecido em qualquer lugar, nas cidades, nas montanhas, nos campos de gelo, na selva, ao longo dos rios e nos vales silenciosos que se perdem de vista no horizonte”, explica o fotógrafo, relatando que em muitos casos ele sabia que estava diante dos últimos membros de cada tribo. “Meu trabalho pode contribuir para que o mundo nunca esqueça no futuro a forma como as coisas eram”, conclui.


por José Antônio Orlando.


Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Tribos do fim do mundo. In: Blog Semióticas, 15 de janeiro de 2014. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2014/01/tribos-do-fim-do-mundo.html (acessado em .../.../...).



Para visitar o site oficial do fotógrafo  Jimmy Nelson,  clique aqui.


Para comprar o catálogo fotográfico  Before They Pass Away,  clique aqui.





















14 comentários:

  1. Denise de Alba Magalhães6 de janeiro de 2014 às 12:37

    Lindo demais. Até marquei como favorito. Contraste interessante com o preto e branco do Sebastião Salgado. Você disse tudo, como sempre. Sou fã. Parabéns demais, Semióticas!

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  2. Muito bom mesmo. Parabéns pelo alto nível de todas as matérias do blog.
    Selma Moreira

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  3. Cara, esse blog Semióticas é um espetáculo. Cada matéria melhor que a outra. Eu, que acho que sou exigente até demais, admito que virei seu fã. Parabéns!

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  4. Muito lindo e muito triste. Fico pensando que estas belas imagens deixam estas tribos ainda mais expostas e desprotegidas. Fora isso, seu blog é um show completo. Maravilhoso. Sou mais uma fã.

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  5. Realmente é uma violência ter contato com povos tão frágeis...e o Sebastião Salgado tem a preferência por preto e branco, outras imagens são também, belas e nos questionam e emocionam ...Um belo trabalho, Mestre !!!

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  6. Muito bom. Texto sofisticado e imagens lindas em todos os posts. Semióticas, você é o máximo. Sou sua fã.

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  7. Rodrigo Gonçalo Costa13 de março de 2014 às 15:22

    José, sei que outros disseram o mesmo aqui nos comentários, mas acho que merece o registro: seu blog é sensacional. Sou leitor e vivo elogiando cada post seu. Parabéns demais.

    Rodrigo

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  8. Parabéns, Semióticas. Realmente este site é muito bom. Um dos melhores que já visitei, se não for o melhor de todos. Ganhou mais uma fã.

    Bárbara Magaldo

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  9. Obrigada meu querido amigo pela partilha preciosa! Incríveis imagens! Parabéns a todos que compõem a obra prima e parabéns a você por este valioso olhar! Não sei o que seria deste mundo sem você José Orlando! beijos

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  10. Dulcinea de Oliveira Costa28 de agosto de 2021 às 15:34

    Fiquei muito impressionada e encantada com tanta beleza e sabedoria e com o seu cuidado com as informações do texto e com cada imagem. Aqui e em todas as postagens que tenho visitado neste maravilhoso blog Semióticas. Só agradeço. Parabéns de novo.

    Dulcinea de Oliveira Costa

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  11. Imagens maravilhosas e reportagem perfeita.
    Show de blog, Semióticas!

    Felipe Araújo

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